Capítulo 0056: O caminho certo
A primeira noite foi curta, mas muito bem-vinda. Siegfried montou acampamento em uma pequena clareira que encontrou e seus homens desabaram exaustos tão logo os cavalos foram alimentados. Não podia culpá-los, a maioria estava acordada desde o ataque na noite anterior.
Quando acordaram na manhã seguinte, a nevasca tinha finalmente cessado, por isso puderam acelerar um pouco mais o ritmo.
Uma decisão que se provou terrivelmente errada.
A neve havia transformado o chão da floresta em algodão e os rebeldes escolheram muito bem o local para a emboscada. As árvores ali eram mais esparsas, com poucas raízes e pedras; quase uma trilha natural que se estendia por mais de vinte metros.
Um caminho irresistível demais para qualquer cavaleiro, especialmente aqueles com pressa para chegar ao seu destino.
O rapaz só notou as armadilhas de urso quando já estava bem em cima delas. Puxou as rédeas, esporeou o cavalo e de algum modo conseguiu fazê-lo saltar por cima em segurança, mas nem seus homens, nem as suas montarias eram tão experientes.
Os dois primeiros vinham logo atrás dele e caíram direto nas armações, que se fecharam com dentes de ferro e esmagaram as patas dos pobres animais com tal violência que decepou os cascos de um deles.
Os cavalos relincharam de agonia, despencando no chão e arrastando os seus cavaleiros em uma confusão de carne. Ouviu-se um som seco assim que atingiram o chão e seus corpos fecharam a retaguarda, criando uma parede de carne que separava o vice-capitão dos seus homens no fim da coluna.
Outros dois viram o que aconteceu e puxaram as rédeas com força, a tempo de parar as montarias. Funcionou, mas a parada abrupta fez com que os guardas perdessem o equilíbrio. Um dos cavalos tinha um mau temperamento e tentou fugir, mas tudo o que conseguiu foi cair por cima da perna do seu dono e esmagá-la.
O grito do soldado ecoou pela floresta silenciosa e esse foi o sinal; seis rebeldes montados saíram das sombras e fecharam o cerco ao redor deles.
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— Espadas! — gritou Siegfried, sacando a sua, mas apenas um dos três guardas caídos se levantou e obedeceu.
— Capitão! — chamou o quarto homem do grupo. O único além dele que tinha conseguido controlar a montaria. Então o quinto e último guarda chegou e parou ao seu lado, mas estavam do outro lado da parede de carne e não seriam de qualquer ajuda.
Estava sozinho.
Cinco garotas se aproximaram de Siegfried com as espadas em riste, algumas mais velhas, outras mais novas. Não eram guerreiras, isso se notava pelos braços magros e a forma desleixada como empunhavam as armas, mas estavam em maior número e fizeram uma boa armadilha; isso deve tê-las deixado confiantes.
Uma delas avançou montada em um velho cavalo de tração e brandiu uma espada meio enferrujada que passou tão perto do seu rosto que chegou a arrancar alguns fios de cabelo. Siegfried retribuiu o favor decepando seu braço até o cotovelo.
A pele macia rasgou, jorrando sangue e deixando o bretão marrom da garota em pânico, fugindo da luta de imediato.
Ela mal tinha atingido o chão quando sua amiga se aproximou por trás dele com um grito que fez o coração do rapaz disparar. Se tivesse tido o bom-senso de ficar calada, talvez o pegasse de surpresa, embora seu garrano fizesse tanto barulho ao cavalgar que isso era pouco provável.
Quando o rapaz virou a montaria, o cavalo dela se assustou com o cheiro de sangue e lutou para fugir do campo de batalha, forçando a garota a segurar as rédeas com ambas as mãos para controlar o animal; uma decisão que lhe custou a cabeça.
O sangue respingou nele e Siegfried pôde sentir o gosto metálico em sua boca. Tão doce quanto vinho e hidromel. Por um momento, parou e teve de apreciá-lo.
— Deuses — deixou escapar —, como eu senti falta disso.
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Seu coração pulsava de entusiasmo com o calor da batalha. Não pôde apreciar tanto quando teve de defender o Salão dos Poucos; sua cabeça não estava nos inimigos naquela hora, mas em seus deveres.
“Esse é o meu lugar!”
— N-não tenham medo! — disse uma mulher loira de 25 anos e armadura de couro. Era a que estava mais afastada da batalha. A sexta e última rebelde. — Estamos em maior número. Se lembrem pelo que estão lutando!
Restavam três garotas ainda montadas e todas elas pararam, primeiro olhando Siegfried, então para a amiga decapitada e a outra sem o braço, gritando de dor no chão.
— N-não tem como… — sussurrou uma delas.
— Rendam-se! — ordenou Siegfried e a proposta pairou no ar por um momento, tão tentadora quanto uma cama quente e macia.
— Nunca! — disse a líder rebelde, por fim. — Já vimos o que fazem com seus prisioneiros. Se vamos morrer, levaremos você junto!
Ela soltou um grito de guerra e avançou, passando pelas subordinadas que permaneciam congeladas em seus lugares.
Aço encontrou aço quando o rapaz bloqueou o ataque dela e quase a derrubou, mas o cavalo passou direto e a mulher se manteve montada.
Seu ataque deu um novo fôlego de esperança às garotas, que investiram juntas contra Siegfried.
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O rapaz fez o mesmo e seu cavalo esbarrou em uma garota ruiva à esquerda, que caiu no chão enquanto a sua montaria fugia do combate. Uma garota loira à direita tentou brandir a espada, mas ele a abriu do ombro ao umbigo antes que tivesse a chance; o cadáver caiu da sela, mas o seu pé ficou preso nos estribos e o cavalo a arrastou para longe da batalha.
A ruiva estava agora atrás dele, se levantando de espada na mão e com a boca ensanguentada da queda. Siegfried esporeou a montaria levemente e então ouviu-se um estalo abafado quando o coice esmagou o rosto da garota, que caiu para trás em convulsão por um momento, antes de finalmente parar de se mexer.
A terceira rebelde parou, olhando para a amiga morta com lágrimas nos olhos, ergueu a espada e gritou de raiva, mas não atacou. Apenas ficou ali, o encarando. Quando o rapaz incentivou o animal um passo à frente, ela soltou a lâmina, se virou e fugiu.
Um cavalo relinchou e Siegfried virou a montaria na direção do barulho, já esperando pelo ataque da líder rebelde, mas ele nunca chegou.
Um dos seus guardas, o único a pé, a derrubou e montou em cima dela, segurando seu braço com uma mão. A mulher resistiu, lutou, tentou escapar e, quando nada disso funcionou, gritou:
— E-eu me rendo! Eu me rendo!
De nada adiantou. O soldado puxou a espada e a enfiou no estômago da líder rebelde usando a mão livre, de novo e de novo.
— N-não! — A voz dela saiu quase como um sussurro, enquanto se contorcia com os olhos cheios de lágrimas, tentando se libertar. — N-não… R-rendo… M-me rendo…
Se o homem a ouviu, não se importou. A lâmina atravessou o corpo dela, uma vez e mais outra, cada vez mais fundo, até que sua mão e o cabo da espada desaparecessem dentro dela. A essa altura, a mulher já tinha parado de gritar e se mover.
Foi só quando Siegfried se aproximou dizendo a ele para parar, que entendeu o motivo de tanta selvageria.
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“Ele tá cego.”
Assim que tocou em seu ombro, o guarda virou e apontou a espada para ele. Os seus olhos tinham perdido a cor e sangravam, enquanto ele virava o rosto em todas as direções, procurando. Quando não encontrou nada, começou a rosnar e cortar o ar.
— Abaixe a espada, soldado! — ordenou. — A batalha acabou.
— Capitão!? Aquelas vadias. Elas–
— Eu sei.
Infelizmente, aquela não foi a única baixa. Tinha perdido mais dois homens; um dos guardas teve a perna esmagada quando caiu do cavalo e outro quebrou o pescoço.
Não importava.
Era o Forte dos Demônios. Tinha de ser. Por que mais teriam montado uma emboscada logo ali, se não para atrasá-los? Estavam chegando perto e podia sentir isso.
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