Capítulo 0061: Ratinha esperta
Brynna deixou o quarto tão logo terminou de pôr o vestido. Suas pernas ainda estavam bambas, por isso cada passo parecia ser um desafio para a garota e ela fez o trajeto inteiro, da cama até a porta, olhando para o chão e puxando a seda que grudava em suas coxas molhadas.
— Então, o cachorrinho perdeu a sua dona?! — zombou Elenor, quando ficaram sozinhos.
Ela não esperou por uma resposta e Siegfried não fez menção de lhe dar nenhuma, enquanto a observava pegar sua túnica pendurada em um gancho na parede e se sentar na beirada da cama, com as pernas cruzadas.
De alguma forma, conseguia parecer mais indecente com uma túnica de veludo do que nua.
Por um breve momento, nenhum deles falou ou se moveu, e o quarto foi tomado por um silêncio incômodo, até que Elenor finalmente disse:
— Na verdade, a Gwen passou aqui há umas duas semanas. Logo depois do conde partir pro norte.
— Ela tá aqui!?
O rapaz tentou manter a calma, mas seu tom de voz o traiu e a mulher deu uma pausa, sorrindo cheia de desdém para ele, antes de continuar:
— Oh! Assustado? Ela é realmente uma jovem muito bonita. E exótica. Teria feito muito sucesso aqui, sabe? Filas e mais filas de homens. Talvez até algumas mulheres.
— …
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— Nossa, relaxa. Eu tô só brincando, não tem que fazer essa cara. Eu não ousaria tocar um dedo sequer na namorada do vice-capitão. Sou uma mulher de princípios. Não cuspo no prato em que como.
— Então, o que ela veio fazer aqui?
— Ora, o que todas as garotas da idade dela vêm fazer. Desabafar.
— … Quê!?
— Por que acha que eu tenho tantas garotas? A igreja tem os seus orfanatos, eu tenho o meu. Já perdi a conta de quantas das minhas meninas vieram até mim depois de fugirem desse ou daquele abuso. Pais violentos, maridos bêbados. Todo mundo precisa de um ombro amigo de vez em quando. Por que acha que elas me chamam de ‘mãe’?
— E do que ela veio reclamar?
— De você, é claro. Partiu o coração da pobre garota. Embora não tenha sido exatamente a primeira, não é mesmo?
— …
— Pra ser sincera, eu não entendi bem o que cê fez. A boca daquela garota é um túmulo, mas tem alguma coisa a ver com você ser um cabeça-dura e ela ter se apaixonado por você.
— …
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— Capitão?
— …
— Sieg!?
— O quê?
— Cê tá bem?
— … Cadê ela!?
— Não faço a menor ideia. Ofereci um lugar pra dormir, mas quando acordei, ela já tinha sumido e nem se deu ao trabalho de se despedir. Só pegou o que queria e foi embora. Francamente! Acho que vocês dois são perfeitos um pro outro.
— Eu preciso achá-la!
— Bom, vou ver o que posso fazer. Ah! Parando pra pensar, ela já deve tá aqui a essa hora.
— A Gwen!? Mas você disse–
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— Não ela, a Letya! Ela vem visitar a irmã de vez em quando.
— E daí?
— Como assim ‘e daí’? Ela é a espiã da Gwen. Aposto que as duas ainda têm se falado.
Siegfried não esperava por isso.
Emelia. Letya. Quem mais?
“Ela teceu uma teia de conspirações bem debaixo do meu nariz”, só de pensar nisso ficava irritado, mas se Elenor notou, não deixou transparecer.
A mulher se limitou a levantar da cama e levá-lo até o seu escritório, onde encontraram Brynna penteando os cabelos castanhos da irmã mais nova aos risinhos, enquanto cochichava algo em seu ouvido.
Da última vez que Siegfried viu Letya, a garotinha não passava de uma ratinha de rua, suja dos pés a cabeça, vestindo trapos velhos e com o cabelo tão duro e embaraçado que bem poderia ter servido de ninho para um bando de passarinhos. Agora parecia mais feminina do que Mirabel.
Usava um longo vestido azul, um pouco grande demais para ela, e seu rosto não tinha uma única mancha de sujeira. Até o cheiro era melhor; rosas, assim como o das rameiras lá embaixo, mas nem um traço de suor ou sêmen, apenas rosas.
— Mãe! — gritou Brynna de sobressalto ao vê-los entrar. — J-já tá na hora? Eu tô quase terminando.
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— Pode continuar — disse Elenor. — O capitão só queria falar com a Letya rapidinho.
Siegfried se aproximou e a garotinha o encarou com olhos afiados. Podia parecer uma donzela, mas ainda era uma ratinha…
“Não. Agora ela é uma gata, assim como a Gwen.”
— Lembra de mim? — perguntou o rapaz.
— Lembro — ela respondeu, com o mesmo tom desgostoso que a condessa. — Cê é o babaca que faz a minha irmã chorar.
— Letya! — sussurrou Brynna no ouvido da irmã, em tom de censura. Um pouco alto demais. Não que a pequena tenha lhe dado ouvidos.
— Eu preciso achar a Gwen!
— É, ela tá bem irritada contigo. Cê estragou o plano… Ela disse que cê tá com o conde, agora.
— … Quero que você marque um encontro.
— Ela não vai te ver.
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— Isso é problema meu!
— E se eu não quiser?
“Ela tá me testando”, percebeu. “Uma garotinha de cinco anos tá me testando.”
Em qualquer outra situação, aquilo poderia ter sido até engraçado, mas Siegfried não riu.
— Traição ainda é crime — disse. — E abrigar traidores também.
Ninguém falou.
As janelas estavam fechadas e as paredes eram grossas, feitas para manter o quarto aquecido ao pior do inverno, mas a sala pareceu esfriar depois de dizer as palavras.
Não foi preciso mais do que isso.
— Vou falar com ela… Senhor — garantiu Letya, quase em um sussurro.
O rapaz partiu logo em seguida, sem dizer mais nada. Tão rápido quanto era capaz de se mover, antes de precisar correr; desceu as escadas dois degraus por vez, atravessou o salão esbarrando em algumas pessoas e montou em seu cavalo, voltando a galope para o Salão dos Poucos.
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Tinha acabado de pôr uma faca na garganta de todas elas. Aquilo o fez se sentir sujo. Não tinha realmente a intenção de machucá-las, é claro, mas precisava encontrar Gwen, mesmo que isso significasse dar um susto em pessoas de quem gostava. Ainda assim…
Dormiu mal naquela noite.
E também na seguinte.
E na próxima.
Letya não apareceu.
Não se atrevia a voltar até o bordel depois do que tinha feito, mas seus homens insistiam que Elenor continuava lá e os negócios permaneciam os mesmos, embora algumas das rameiras tenham reclamado sobre um certo vice-capitão que estava tirando o sono da ‘mãe’ delas.
— Você devia dar doces pra ela — aconselhou Mirabel, depois de ouvir os boatos. — Quando a minha mãe brigava comigo, ela me dava doces pra fazer as pazes. Funciona.
Mas não precisou de doces.
Na terceira noite, ela finalmente veio.
Siegfried acordou de sobressalto e agarrou a mão de Letya, quando a garota tocou em seu rosto e tomou um susto.
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— Como entrou aqui!?
— Tá me machucando — ela sussurrou, engolindo a dor, e o rapaz a soltou, deixando uma marca vermelha em seu pulso.
Dara se mexeu um pouco por baixo do cobertor de lã, jogando a perna por cima dele, enquanto enroscava seu corpo ao do rapaz. Contrariando as ordens da condessa, a garota tinha vindo até ele todas as noites desde o sequestro e jurava que só assim conseguia dormir.
— Sua próxima vítima? — perguntou Letya, em tom de censura. — Não sei o que elas veem em você, mas espero não ser tão burra quando for mais velha.
— Achou ela!?
— É… Achei… E ela quer falar contigo.
— Quando?
— Amanhã à noite. No Saqueador Paciente… Eu cumpri a minha parte do acordo. Você prometeu–
— Eu não vou tocar em você, nem na sua irmã, na Elenor e em nenhuma das garotas.
Ela não pareceu convencida, mas pouca diferença fez.
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— É melhor lembrar disso! — disse e então foi embora.
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