Capítulo 0066: O cão louco do conde
Siegfried sentiu o seu braço tremer e os ouvidos ressoarem quando a espada do conde atingiu o seu escudo.
Lascas de madeira voaram e o impacto quebrou a sua postura em um instante. Mal teve tempo de firmar os pés e voltar a erguer sua defesa, quando foi atingido por outro golpe, e depois outro, e outro; cada um deles vindo mais rápido que o anterior, não lhe dando tempo de contra-atacar.
— É só isso o que tem!? — rugiu o conde, sem interromper seus ataques nem por um segundo. — A gente mal começou e você já tá tremendo!
Não que Siegfried pudesse respondê-lo; tinha a boca tão seca, que seus lábios já começavam a rachar e sua voz não era mais que um suspiro.
Até mesmo sua visão já dava sinais de falha. Quando olhou para o lorde, sua armadura negra parecia brilhante demais e, ao seu redor, tudo estava um pouco embaçado, como se olhasse diretamente para o sol.
Estava exausto e sabia disso.
Fazia anos desde a última vez que usou uma armadura completa e já tinha se esquecido de como eram parentes próximas das fornalhas; abafadas, pesadas e completamente lacradas, negando-lhe até mesmo a menor brisa da primavera.
Mas o conde não parecia ter problema algum com a sua; se movia com fluidez pelo terreno enlameado e, se estava cansado, não o demonstrava de forma alguma:
— Sua técnica é desajeitada — gritou. — Seus ataques, fracos. E você já tá cansado. Cadê o guerreiro que conheci nas ruínas!? Meio ano longe do campo de batalha e é isso o que ele se tornou!? Eradan vai te esfolar como a um porco!
De repente seus ataques ficaram mais agressivos, mas o ritmo diminuiu e o intervalo entre eles aumentou; não mais que uma pequena fração de segundos, mas o bastante.
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
Siegfried esperou o momento certo e, quando viu a lâmina vindo em sua direção, deslizou por baixo dela. Foi a primeira vez que conseguiu pegá-lo de guarda baixa e não deixou a oportunidade passar: atingiu o conde logo abaixo das axilas…
E não valeu a pena.
Não fez mais do que riscar a placa de metal, mas o esforço cobrou seu preço da mesma forma; ele perdeu o equilíbrio e cambaleou para a frente. Na mesma hora, uma sombra se projetou pelas suas costas, engolindo toda a luz.
Siegfried não precisava ver para saber o que era; quase não conseguiu se virar a tempo de erguer o escudo para receber o impacto. Não que isso lhe tenha sido muito útil.
A madeira se estilhaçou em mil pedaços e lascas voaram em seu rosto quando a espada do conde o atravessou sem qualquer dificuldade e atingiu o seu braço com tanta força que deu para ouvir os ossos estalando por baixo da armadura.
O rapaz lutou para se manter de pé quando suas pernas começaram a tremer, mas era impossível; ele cedeu e caiu com um joelho no chão, usando a própria espada de apoio para sustentar seu peso.
Nem viu o chute chegando.
Seu pescoço virou para o lado com tal violência, que bem poderia ter sido quebrado, mas quando sua cabeça atingiu o chão, ainda estava vivo e com a boca cheia de sangue.
Por um momento, se sentiu como uma marionete que teve as cordas cortadas. O seu corpo estava um pouco mole demais, leve demais… Cansado demais. Nem percebeu quando fechou os olhos.
Estavam lutando desde a alvorada, não seria pedir muito por uma pausa, seria?
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
Apenas um cochilo…
“Levanta!”, ouviu uma garota gritar e seu coração disparou. De bom grado a teria mandado calar a boca e ir beijar a bunda de Maldrek, mas o susto já tinha espantado o sono e não conseguia mais voltar a pregar os olhos. “De pé!”
— Tá legal, porra — disse, apenas um tom acima do sussurro. — Já entendi… Para de gritar, cacete!
Então começou a se mexer, lutando com o peso da própria armadura, enquanto se virava de bruços; seus braços tremendo a cada tentativa de buscar apoio na lama escorregadia.
Podia ouvir alguém falando com ele, mas a voz parecia abafada e distante, como se tivessem enfiado algodão em seus ouvidos. E era difícil escutar com aquele zumbido irritante.
Mas conseguiu distinguir os aplausos.
A fortaleza inteira tinha parado para assistir ao duelo dos dois. Ou melhor: pararam para ver o conde esmagar seu escudeiro com facilidade.
Sem armaduras, Siegfried até poderia ter alguma chance de vitória, mas esse não era o caso. Não que alguém se importasse; estavam ali apenas pelo espetáculo.
Pouca coisa de interessante aconteceu no Salão desde que assassinou seu vice-capitão; e isso já fazia cinco semanas.
A essa altura, o inverno havia terminado, um novo ano começou e uma ave chegou de Vila da Truta com a resposta do barão Dalton que, sem surpresa, prometeu liderar suas tropas contra Eradan, em apoio ao seu lorde.
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
Todos os preparativos para a guerra já estavam prontos; partiriam em três dias, por isso o conde insistiu em testá-lo antes disso.
— Eradan é jovem, mas ainda assim um cavaleiro. Se terei de matá-lo pessoalmente ou posso confiar em você para a tarefa, descobrirei nessa luta.
Foi o que disse quando lhe entregou a sua nova armadura, feita sob medida pelo melhor ferreiro da região e trabalhada em metal negro opaco, tal como a dele.
Era a sua chance de mostrar algum valor, mas ao invés disso, estava lutando para se levantar, com os braços cedendo repetidamente; às vezes pela exaustão, outras por causa da lama escorregadia.
Mas estava se levantando.
— Você amoleceu — disse o conde, circulando o seu escudeiro caído como um lobo selvagem ao redor da sua presa. — Passou tempo demais brincando de casinha. Seus golpes ficaram suaves. Seus movimentos, previsíveis. Se isso fosse uma luta de verdade, eu já teria te matado cinco vezes, e isso só nos últimos cinco minutos.
“Vai se fuder!”, era o que Siegfried queria dizer, mas tudo o que saiu foi um grunhido rouco.
Já estava quase de pé quando o conde avançou. Dois metros de puro músculo em uma armadura de metal, vindo em sua direção.
Siegfried segurou a espada com as duas mãos e se lançou contra o lorde; só então percebeu que a sua vista ainda estava um pouco embaçada e via tudo dobrado.
Um clarão o deixou cego por um instante e então, quando deu por si, estava no chão novamente, mas não sentia dor, por isso não fazia ideia de onde tinha sido atingido.
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
“Levanta!”, disse a garota.
— Eu sei, porra…
Desta vez se levantou mais depressa e pegou o conde ainda descansado. Finalmente a exaustão o tinha pego também; isso fez seu sangue ferver.
Deu um grito de guerra e avançou mais rápido do que podia acreditar, lançando golpe atrás de golpe e fazendo o lorde recuar.
Até que ele atingiu sua cabeça com um estrondo que o deixou surdo por um instante.
Nem notou o que tinha acontecido até que sentiu o sangue escorrer pela sua testa, forçando ele a fechar o olho esquerdo. Não lembrava de ter caído outra vez, mas deve ter acontecido.
Depois disso, sua mente deu um branco.
Tinha perdido a espada, por isso não teve outra opção senão trocar socos com o conde. E deve ter sido nocauteado em algum momento, porque lembrava de ter visto o chão se mover, quando duas pessoas o arrastaram para longe e começaram a remover sua armadura.
Quando uma delas retirou o seu elmo, precisou cerrar os olhos por causa da luz forte em seu rosto, por isso não enxergava direito, mas reconheceu o cabelo loiro:
— Dara…
Este conteúdo está disponível no Illusia. Se estiver lendo em outro lugar, acesse https://illusia.com.br/ para uma melhor qualidade e maior velocidade.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.