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    — E essa? — perguntou Dara, passando a mão por uma de suas cicatrizes.

    — O conde — respondeu Siegfried. — Quando nos conhecemos no Forte dos Demônios.

    Ela o acariciou e então aninhou a cabeça em seu peito, passando os dedos gentilmente por cada uma de suas cicatrizes. Algumas tão antigas que já nem se lembrava mais como tinha conseguido.

    — São muitas — ela disse.

    — Cê tá fazendo de novo.

    — O quê?

    — Se preocupando.

    — …

    — Dara, eu não vou morrer.

    — E tenho certeza que é o que todas as garotas do vilarejo estão ouvindo essa noite, mas quando vocês voltarem da guerra…

    — Não vai ter guerra nenhuma. É só um cerco. Tudo que vamos fazer é levantar acampamento e construir escadas que nunca serão usadas. Nem dá pra chamar isso de guerra. Duvido até que vai haver uma batalha. Não dou dois meses antes de Eradan e seus homens se renderem.

    — E-então me promete…

    — Hum?

    Ela rolou para cima dele. Pele com pele. Peito com peito. Uma expressão séria em seu rosto:

    — Promete que você vai voltar! E que não vai fazer nada estúpido. Que se vocês lutarem e o Eradan, ou quem quer que seja, te derrotar, você vai se render!

    — Se eu fizer isso, eles me matam.

    — Mentiroso! Quando um cavaleiro se rende, ele é preso e pode comprar sua liberdade depois que a guerra termina. Acha que não sei disso só porque sou uma garota!?

    — Tá legal. — Ele sorriu. — Eu prometo.

    Então enrolou os braços em volta dela e a beijou. A boca de Dara se abriu para deixar sua língua entrar e, antes que se desse conta, estava dentro dela novamente.

    Foi como passaram o resto da noite.

    Nenhum dos dois conseguiu voltar a dormir, não desde que Siegfried prometeu que se casariam.

    — Entendo de política — ela tinha dito. — Posso te dar muito mais que um filho. Posso fortalecer a sua posição. O nome Essel existe há mais de setecentos anos e pode traçar suas origens até Theron Greenguard, um dos Três Santos. Terá uma das casas mais antigas de Thedrit ao seu lado. Seremos imbatíveis. Nós dois. Juntos. O que me diz?

    O que mais poderia dizer?

    Ela não aceitaria um não como resposta e ele estava bêbado de luxúria; mal conseguia tirar as mãos dela.

    Antes que a manhã chegasse, não havia sequer uma parte do corpo da jovem que Siegfried não tivesse tocado, beijado ou penetrado.

    Já tinha perdido as contas de quantas vezes gozou dentro dela, quando Dara se aninhou nele e os dois passaram o resto da noite deitados, apenas esperando que amanhecesse.

    Ela foi a primeira a se levantar.

    Assim que ouviram a primeira serva acordar no meio da escuridão, Dara se apressou em pôr o vestido pela cabeça, beijou Siegfried na bochecha, sorriu e disse:

    — Vou tomar um banho. Amo o seu cheiro, mas acho que a minha tia não vai gostar de sentir ele em mim. 

    Ainda tinha as pernas meio bambas quando se levantou, por isso perdeu o equilíbrio algumas vezes e quase caiu enquanto caminhava até a porta; o sêmen dele escorrendo pelas suas coxas e deixando para trás um rastro, conforme pingava no chão.

    Foi só depois que a jovem sumiu de vista, que o rapaz vestiu suas roupas, ainda sujas onde Dara tinha gozado quando cavalgou em cima dele, e se pôs de pé.

    As servas começaram a se levantar não muito depois. Primeiro aos poucos, então aos montes. Todas correndo para preparar o desjejum.

    Siegfried as ignorou, passou por alguns guardas acordando outros com pontapés e foi até o pátio de treinamento.

    Estava afiando sua espada, quando três servas o encontraram e se apressaram em levá-lo até a casa de banho, mas Dara já havia partido quando chegaram. Limparam-no, cortaram seu cabelo e lhe deram roupas novas, apesar de todos os seus protestos.

    — Vamos passar as próximas duas semanas em uma sela — explicou —, vou estar sujo de poeira e fedendo a cavalo antes do dia terminar.

    — Ordens da condessa — disse uma delas.

    Não foi preciso mais.

    Quando terminaram, mal teve tempo de comer duas fatias de pão de alho e tomar um copo de leite fresco para molhar a garganta, antes que fosse chamado até o pátio.

    Encontrou o conde esperando por ele em frente aos portões, enquanto alguns guardas o ajudavam a terminar de pôr sua armadura, por isso quem o cumprimentou foram Sam e Mirabel, que vieram correndo e quase o derrubaram quando abraçaram suas pernas:

    — A gente também quer ir! — disse Sam.

    — Somos seus escudeiros! — disse Mirabel. — Devíamos ir com você!

    Siegfried sorriu e afagou a cabeça de ambos:

    — Cês iam ficar entediados. Além disso, preciso de alguém aqui pra proteger o Salão enquanto estiver fora.

    — É o que todo mundo diz — reclamou Sam. — Já matei um homem, posso ir pra guerra!

    — E eu não sou mais uma garotinha indefesa! — disse Mirabel, irritada.

    No fim, as crianças reclamaram um pouco, então se entediaram e foram embora correndo.

    Quando finalmente se dirigiu ao conde, ele já tinha terminado de vestir a armadura e lhe deu três cavalos: um corcel negro para a batalha, um palafrém marrom para servir de montaria durante a viagem e uma mula para carregar sua armadura e equipamentos.

    Então partiram, sem cerimônias.

    Já estava atravessando o portão, quando viu Dara. Os dois trocaram sorrisos discretos entre si e foi apenas isso.

    Coube ao conde liderar a marcha colina abaixo.

    Alguns guardas tinham sido enviados para descer até o vilarejo horas antes e limpar as ruas, por isso não encontraram ninguém em seu caminho e a tropa de soldados esqueletos avançou livre de obstáculos, fazendo o chão tremer e erguendo uma pequena cortina de poeira com sua marcha perfeitamente sincronizada.

    Mas não eram os mortos-vivos que os plebeus queriam ver.

    Mulheres e crianças espreitavam por janelas abertas, sorrindo e apontando para o conde, que cavalgava à frente da tropa em seu andaluz branco, vestindo sua armadura negra por baixo da capa vermelha de lã; régio e poderoso como um líder devia ser.

    Algumas até olhavam para Siegfried, que ia à direita do lorde, com sua brigantina e calças de couro negro. Tão limpo que nem tinha cheiro.

    Foi só então que o rapaz entendeu o motivo do banho e das roupas. Era um espetáculo. Uma demonstração de força. Podia até ouvir a voz da condessa dizendo:

    “Cavalgará ao lado do meu marido e deve parecer régio quando o fizer. Não vou permitir que o envergonhe andando por aí como um vagabundo.”

    E não envergonhou.

    Quando passaram pelo bordel, Elenor e Brynna estavam lá, esperando para acenar, mas não eram as únicas.

    De repente se tornou estranhamente consciente de que as garotas da sua idade o olhavam com bastante interesse. Não apenas entre as prostitutas, mas também entre as filhas dos plebeus; donzelas direitas, talvez noivas ou à espera de um noivado. Todas aos risinhos. As mais atrevidas até pediam que voltasse para elas, apesar de nunca tê-las visto antes.

    Foi entre elas que viu.

    Espreitando pela janela no segundo andar de um estabelecimento qualquer, ao lado de garçonetes vestindo saias curtas…

    Uma guerreira anã.

    Tinha cabelos loiros, vestida dos pés à cabeça em uma armadura branca de placas, com uma capa de lã azul pendendo dos seus ombros e um machado de dois gumes na mão. Em seu peito exibia duas asas douradas abertas, como se fossem levantar voo; o brasão das Irmãs Serenas, as servas de Dragoslav.

    Durou apenas um piscar de olhos.

    Quando voltou a procurá-la, não estava mais lá e ninguém parecia sentir sua falta, como se nem a tivessem visto.

    Poderia haver pior agouro do que ver um anjo da morte a caminho do campo de batalha?

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