Capítulo 0095: Morta
Siegfried abriu os olhos e sentiu a cabeça latejar, como se alguém lhe acertasse com uma marreta a cada sacolejada. Estava deitado, mas se movia vagarosamente.
“Uma carroça”, compreendeu. Acima dele, tudo o que via era o céu azul; a luz repentina fez o rapaz cerrar os olhos e virar o rosto para o lado, fugindo do sol. “Alguém me tirou da floresta.”
Sua vista ainda estava embaçada e não podia ver mais que o topo das cabeças de pessoas que passavam ao lado da carroça, mas ainda conseguia escutar o zumbido; vozes à sua volta.
“A tropa”, lembrou. “Estamos indo pro norte.”
Sentiu a boca seca e a garganta doendo como se tivesse engolido vidro quebrado, mas mesmo assim forçou a voz a sair. Queria chamar alguém, mas quem? O barão Kessel teria mais o que fazer e não era provável que estivesse por perto. Talvez tenha ordenado aos seus homens que o informassem se Siegfried morresse, mas fora isso…
Então quem?
Os soldados que conversaram com ele durante a marcha eram menos do que conhecidos e Adrien Dalton era o único que conhecia pelo nome, mas estavam longe de serem amigos; e desde o duelo com Eradan, Adrien parecia mais hostil do que de costume.
Sam, Mirabel, Brynna, Elenor… Dara. Todos que poderiam se importar com ele estavam no sul e a semanas de distância. Não havia amigos ali. Então lembrou:
— I-Izzie…
Sentiu alguém tocar em seu rosto, afastando as mechas de cabelo grudadas à testa suada. Uma mão pequena e macia. Uma mão de garota.
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Siegfried abriu os olhos e a viu ao seu lado, mas estava claro demais. Tudo era um borrão ao seu redor e, quando tentou ver o rosto dela, foi como se olhasse diretamente para o sol, então voltou a fechar os olhos e a garota soltou um risinho:
— Meu herói.
— Q-quem…?
— Ora, já se esqueceu de mim? Vou tentar não ficar muito magoada.
— Izzie…?
— A puta? Hahaha. Não. Essa aí tá morta e sabe disso. Você a matou.
— Não…
— Sim! Pobre garota. Tudo o que queria era uma noite com você. Um abraço, algumas palavras gentis… Um beijo. Ao invés disso, deixou que a humilhassem. Que rissem dela. Deixou que fosse embora em lágrimas e nem se incomodou de ir atrás.
— E-eu fui…
— Por você, não por ela. Sentiu vergonha, não? Vergonha do verme desprezível que é.
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— E-essa voz…
— Oh? Lembrou de mim?
Siegfried se forçou a abrir os olhos. Tinha que ter certeza. Levou quase dois minutos inteiros até se acostumar com a claridade; nessa altura já tinha a vista molhada de tanto lacrimejar, mas lá estava ela, sentada ao seu lado.
Devia ter dezesseis anos e usava um vestido reto e negro, ajustado à cintura por uma fina corda de cânhamo dourado. Por cima, um manto negro de capuz, embora não usasse o capuz. Era pequena e magra, com longos cabelos loiros que caíam até os ombros.
Quando seus olhos se encontraram, ela sorriu e Siegfried sentiu seu sangue ferver ao ver a bruxa da floresta:
— Lili! C-como…?
— Shhhhh. Não tenta se mexer, cê ainda tá bem ferrado, sabe?
— E-era você! Na minha cabeça… A-a voz…
— Isso foi uma pergunta?
— P-por quê?
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— Eu te fiz uma promessa, lembra? Você pode ser um perjuro, mas eu não.
Ela se inclinou para a frente e Siegfried sentiu os lábios dela tocarem a sua testa. Quentes como o beijo suave de uma vela. E então a garota já não estava mais lá.
“Não! Volta! Desgraçada!”
Precisou de todas as suas forças para se sentar. Cada pequeno movimento martelando pregos em brasa no seu crânio, até sentir o gosto de bílis lhe subir à garganta. Tinha a cabeça girando e todo o corpo tremendo quando finalmente conseguiu ver a Floresta das Aranhas se distanciando e a tropa marchando ao seu redor…
Mas nenhum sinal de Lili.
De repente sua vista ficou embaçada e deu por si caindo de costas na carroça novamente. Quando sua cabeça atingiu a madeira, sentiu como se um prego tivesse lhe perfurado e desmaiou.
Quando voltou a acordar, já era de noite e sentia a cabeça mole e meio molhada, como se tivesse dormido na lama. Foi então que viu o médico ao seu lado, grisalho e de mãos trêmulas. Tinha um jarro de vidro nas mãos, cheio de sanguessugas que o velho tirava uma por uma e depois punha no pescoço de Siegfried. Ao reparar que o rapaz tinha os olhos abertos, parou e disse:
— Não se mexa. Não sei o que fez, mas abriu o corte na sua cabeça e tive que fechar de novo. Seu corpo ainda está muito fraco por causa do veneno. Se precisar de algo–
— I-Izzie… O que aconteceu…?
— Desculpe, não a conheço. É uma amiga sua? Quer que eu a chame?
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— A floresta… E-eu estava… A-atrás… Atrás… D-dela…
— Na floresta?! E-eu… Entendo. Acho melhor deixar você descansar.
— Não! O-onde…?
— …
— Onde!?
— Você foi o único que trouxeram de volta. Não sei o que aconteceu à sua amiga. Elyon é bom e rezo para que a tenha levado em segurança para casa, mas se deixou a trilha… Bem, Elyon é bom, mas também justo. Uma garota não devia andar sozinha naquele lugar.
“Você a matou”, sussurrou Lili em seu ouvido.
Os próximos três dias foram muito parecidos uns com os outros. Pouco se movia e o médico era o único que falava com ele; trazia um mingau sem gosto duas vezes por dia, durante o almoço e no jantar; depois de cada refeição era sangrado para retirar o veneno que poderia ainda estar em seu corpo e então conversavam.
Aparentemente foi Adrien e mais alguns soldados que o resgataram. O velho contou a história mais de uma vez:
— Sua graça, o lorde Kessel, queria falar com o senhor, mas ninguém conseguia achá-lo. Então começamos a ouvir histórias de que você tinha se deixado ficar para trás durante a marcha, por isso formaram uma equipe de buscas. Dizem que foi o próprio jovem lorde quem o carregou de volta nas costas. Um rapaz tão dedicado.
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Siegfried nada tinha a dizer sobre isso. Passava a maior parte do tempo dormitando, lutando para se manter acordado.
Lutando para não sonhar com a Izzie.
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