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    A mansão do barão Kessel era a construção mais suntuosa da Vila do Lobo. Erguida com pau-ferro, a construção tinha dois andares e era espaçosa o bastante para rivalizar com o salão de um nobre.

    Como não haviam muros, dois guardas protegiam a entrada, enquanto outras três duplas faziam a segurança do perímetro.

    Tão logo reconheceram Siegfried, os homens se apressaram em abrir a porta e uma escrava que esperava lá dentro o recebeu com um sorriso no rosto. Gentil, mas falso.

    A coleira em seu pescoço era folheada a prata e tinha a parte interna forrada em uma fina camada de pele para não machucar seu pescoço. Talhado minuciosamente na parte externa, estava o nome do seu mestre: Ragnar Kessel, com uma cruz em cada lado.

    “Uma das escravas de cama.”

    Aparentemente ele tinha cinco, escolhidas entre as mais belas de todo o vilarejo.

    Aquela devia ter 22 anos, com os cabelos negros presos em uma coroa de tranças e grandes olhos castanhos. Usava um vestido cotehardie de seda azul que se ajustava bem ao seu corpo, com uma gola quadrada que lhe desnudava o pescoço de cisne e um cinto decorativo. Mesmo sem corpete, seus seios eram grandes, sua cintura fina e o seu quadril largo.

    Não era difícil entender o porquê do barão Kessel tê-la escolhido.

    — Milorde, que bom que pôde vir. Por aqui.

    O primeiro andar era ricamente decorado com as tapeçarias e quadros mais extravagantes que um lorde tinha direito, com belas cenas das batalhas ancestrais do continente. O assoalho era polido e perfeito. Uma mesa retangular com vinte lugares estava posta no centro do salão; tanto ela como as suas cadeiras talhadas minuciosamente para o deleite dos convidados.

    Havia também duas portas, uma que dava para a cozinha e a outra para o porão, mas Siegfried foi conduzido escada acima, seguindo a garota pelo longo corredor. Já tinha vindo à mansão do lorde várias vezes para entregar seus relatórios, mas era a primeira vez que subia ao segundo andar.

    Quando chegaram ao final do corredor, a escrava abriu uma porta à direita e esperou que Siegfried entrasse antes de dizer:

    — Sua graça virá em breve. Sintam-se à vontade.

    Então foi embora.

    A sala de reuniões era tão extravagante quanto o salão, com uma mesa de carvalho e seis lugares, com cadeiras simples, mas confortáveis. A janela dupla era alta e estreita, com cortinas de veludo e bastante luz natural. Uma estante cheia de livros; a cabeça de um veado empalhado na parede; e o quadro de um jovem cavaleiro de olhos azuis.

    Além dele, havia apenas uma pessoa na sala.

    — Adrien.

    — Siegfried.

    Nunca tinha sido bom com outros soldados, mas Adrien era notoriamente difícil; apesar de ter sido salvo por ele na Floresta das Aranhas, era pouco mais do que um conhecido para o jovem fidalgo.

    O barão Whitefield e seu sobrinho, Hunter, vieram juntos meia-hora depois.

    O lorde Kessel chegou quinze minutos mais tarde e ocupou seu assento na ponta mais distante da mesa, com o barão Whitefield à direita e Adrien à esquerda; Hunter ocupava a cadeira logo à direita do tio e Siegfried à esquerda de Adrien.

    Então a reunião começou.

    Como era de se esperar, passaram a maior parte do tempo comparando relatórios e falando sobre questões administrativas incrivelmente chatas. As coisas estavam todas nos conformes.

    Após uma hora de conversa, o barão Kessel deu início às questões realmente importantes:

    — Muito bem, está na hora de falar da guerra.

    — Meus homens estão prontos para a batalha! — disse Adrien.

    — Não vai haver batalha! Não se eu puder evitar. O barão Silvergraft é um covarde e um fraco. Não tenho intenção de perder homens dando combate a alguém assim. Existem métodos melhores de se lidar com ele.

    A partir de agora, a guerra seria psicológica.

    Não eram poucos os escravos que morriam todos os dias devido às condições em que viviam. Calor extremo, desnutrição e doenças provocadas pela falta de higiene eram as causas mais comuns; os suicídios e assassinatos eram outra.

    Para resolver o problema, uma vala comum havia sido escavada fora do vilarejo, transbordando de cadáveres apodrecidos e inchados.

    — Acho que já está na hora de devolvermos eles para o seu lorde — declarou o barão Kessel.

    Com isso, Hunter Whitefield ficou encarregado de usar as catapultas que construiu para atormentar os inimigos. Apenas uma das suas muitas táticas de intimidação.

    O barão Whitefield recebeu a missão de assaltar os muros do castelo todas as noites. Claro que o objetivo não era realmente tomá-lo, apenas usar simulações noturnas diariamente para manter os guardas do lorde Silvergraft em alerta e privá-los de qualquer descanso.

    Também enviariam um escravo todas as manhãs com os termos de rendição:

    “Fica determinado, por meio desta, que caso o castelo se renda, todos os homens servindo atualmente em suas muralhas serão poupados e receberão a oportunidade de expiar seus crimes servindo na vanguarda de sua graça, o barão Kessel.

    Ao traidor, Lloyd Silvergraft, e seu primogênito, Dedric Silvergraft, por terem se rebelado contra o seu legítimo rei e se aliado ao igualmente traidor, príncipe Helmut Graylock. A pena por seus crimes é a morte por decapitação.

    À Elisa Silvergraft, por sua condição de mulher, é concedido o perdão total pelos crimes de sua casa e o direito de manter as terras de sua família, sob a condição inegociável de ser desposada por um homem da escolha de sua graça, o barão Ragnar Kessel, lorde do Salão Solitário.

    Com testemunho do barão Zander Whitefield, lorde do Salão Branco.”

    — Não acho que ele vá aceitar esses termos — Siegfried deixou escapar.

    — Não espero que aceite — disse o lorde Kessel. — Quero ele paranoico. Assustado. Quero que se mantenha acordado todas as noites, vasculhando cada canto em busca de assassinos. Quero que mande seus homens dobrarem os turnos e continuarem em seus postos até caírem de exaustão. É isso o que quero.

    Já era de noite quando a reunião terminou.

    Por dez dias, a rotina permaneceu exatamente a mesma. Toda manhã enviavam um escravo até o castelo com os termos de rendição, então faziam chover cadáveres sobre o barão Silvergraft e sua guarnição até o anoitecer. De madrugada, o lorde Whitefield iniciava suas simulações. O sol nascia, um escravo era enviado e o ciclo se repetia.

    A partir do terceiro dia, os guardas começaram a atirar flechas no mensageiro. No quinto, acharam melhor convidá-lo para dentro do castelo e então exibir sua cabeça em uma estaca acima do muro, como aviso; não que isso tenha feito diferença, já que podiam simplesmente mandar outro escravo qualquer. A partir do nono dia, decidiram apenas ignorá-los.

    No décimo dia, o barão Kessel voltou a reunir os seus comandantes e anunciou:

    — Será em três dias!

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