Capítulo 0110: Os herdeiros Silvergraft
Tudo aconteceu em um instante.
Siegfried arrombou a porta da torre com um chute e então foi atingido por uma flechada.
Apesar de ter conseguido erguer o seu escudo a tempo, estava a pouco mais de quatro metros do arqueiro e a flecha trespassou a madeira com um ‘tump’ seco. Teria também atravessado seu braço, se não fosse o antebraçal da armadura.
O rapaz sorriu e avançou.
O primeiro andar era um grande salão vazio, com uma porta à direita e uma escada à esquerda que levava aos andares superiores. Os móveis tinham sido todos retirados, transformando o cômodo em uma pequena arena com seis guardas esperando por ele; todos vestindo cota de malha e com uma espada curta na mão — exceto o único arqueiro.
Dois soldados se moveram para trás de Siegfried e bloquearam a entrada. Mais um à sua esquerda e outro à direita, com o arqueiro e mais um sexto soldado à sua frente. Estava cercado.
Mas eram eles que estavam assustados.
Por um breve instante, observaram sua armadura e trocaram olhares ansiosos. Apenas um idiota se colocaria no caminho de um cavaleiro — não que Siegfried fosse um, mas eles não sabiam disso.
— Renda-se! — ordenou um dos guardas. — Nós estamos em maior número!
Ao invés disso, Siegfried posicionou o escudo na sua frente, preparou a espada e esperou.
O guarda à sua direita foi o primeiro a avançar. O idiota deu um grito de guerra e fez um movimento largo demais com a espada. Tudo o que Siegfried precisou fazer foi acertar a lâmina dele com a sua e o impacto fez o guarda perder todo o equilíbrio, cambaleando para trás.
Bem a tempo de bloquear o guarda da esquerda.
A lâmina do segundo soldado arrancou lascas de madeira do seu escudo, mas não atravessou. Um homem de armas de verdade teria recuado assim que o ataque falhou, se apressando em aumentar a distância para assumir uma postura defensiva e preparar outra investida. Não foi isso que o idiota fez.
O covarde congelou.
Bastou apenas um golpe para Siegfried quebrar a clavícula do guarda com a sua espada e deixá-lo de joelhos, agonizando. Na verdade, pretendia ter aberto ele ao meio, do ombro ao umbigo, mas a cota de malha se provou mais resistente do que esperava.
De repente, Siegfried sentiu uma batida nas suas costas, tal como se tivesse sido atingido por uma pedra do tamanho do seu punho. Não doeu, mas sabia o que aquilo significava.
“Espada.”
O rapaz se virou a tempo de decapitar o homem que o atacou por trás, mas agora todos estavam se movendo. Cada um preparando o seu próprio ataque.
Um deles veio correndo em sua direção, então o atingiu no rosto com o escudo e o guarda perdeu o equilíbrio, cambaleando para trás e fugindo do seu alcance. Ao invés de persegui-lo, Siegfried se virou para o soldado com o ombro quebrado, que não parava de chorar.
Enquanto arrancava o topo da cabeça do soldado chorão com um movimento da sua espada, outro tentou se aproximar por trás, mas Siegfried girou e acertou o escudo no seu nariz. Uma. Duas. Três vezes. Não era uma forma muito efetiva de matá-lo, mas esse não era o objetivo.
Estava se divertindo.
Quando o soldado caiu no chão, com o seu rosto vermelho cheio de sangue, Siegfried ergueu bem a espada e girou para ver os homens que ainda estavam vivos.
Quatro.
O idiota com o nariz quebrado, um na entrada, o arqueiro e seu colega. Todos covardes. Nenhum deles se aproximou. Isso pôs um sorriso em seu rosto:
— Vamos lá. O que aconteceu? Vocês ainda estão em maior número, não é?
Podia ver a raiva nos olhos deles, mas se tinham alguma esperança de derrotá-lo, ela morreu junto dos seus dois colegas mais azarados. Não era só uma questão de habilidade. A armadura dele não deixava brechas e Siegfried precisava de poucos segundos para matar qualquer um deles.
Como ninguém caiu na sua provocação, o rapaz caminhou até o soldado caído no chão. Seu nariz tinha sido quebrado em dois lugares, com sangue escorrendo pela boca e o queixo. Quando viu que Siegfried se aproximava, levantou a mão direita e começou a chorar:
— R-rendo… E-eu me ren–
Primeiro arrancou a sua mão com um movimento rápido da espada, tirando ela do caminho. Depois aproveitou que o soldado estava em posição fetal no chão, chorando enquanto segurava o toco em que terminava o seu braço direito, e atravessou o pescoço dele com a ponta da lâmina.
O soldado estremeceu, se contorceu e engasgou no próprio sangue por quase oito segundos antes de morrer.
Seus colegas nada fizeram além de assistir.
Depois que acabou, o arqueiro encontrou alguma coragem e disparou outra flecha, mas ela apenas passou de raspão pelo seu ombro. Praticamente uma picada de mosquito.
Então Siegfried foi até eles.
O guarda com a espada tomou a dianteira com o braço bem esticado, tentando manter a distância, mas por algum motivo não fez nada quando viu o rapaz se aproximar. Siegfried ignorou a lâmina e parou a trinta centímetros do guarda. Devia ter a sua idade, mas parecia jovem demais.
— P-por fav–
Antes que o guarda terminasse as suas palavras, Siegfried abriu seu estômago com um movimento rápido e o soldado caiu de joelhos. As suas tripas escorrendo para fora como areia em um saco de pano rasgado.
Então se virou para o arqueiro, que tinha recuado até a parede e agora se atrapalhava tentando pôr outra flecha no arco enquanto os dedos tremiam.
Cortou a sua garganta com um golpe.
Só então notou que o sexto e último guarda havia escapulido pela saída que estava protegendo. De pouco lhe serviria, uma vez que o castelo já tinha sido tomado. Ele seria simplesmente morto pelos soldados lá fora.
Sem mais inimigos no primeiro andar, Siegfried se dirigiu ao segundo, onde ficava o salão de jantar, com uma longa mesa de doze lugares e um trono na parte mais distante, abaixo da tapeçaria com o brasão da casa Silvergraft: um raio verde em um fundo negro. Não encontrou nada ali.
O terceiro andar era destinado à capela da torre, mas também estava vazio, então se dirigiu até o quarto e último andar da torre. O único trancado. Quebrar a fechadura foi a parte fácil, mas depois precisou empurrar a porta com ainda mais força para arrastar os móveis que tinham sido usados para barrar a entrada.
Quando finalmente conseguiu entrar, as garotas começaram a gritar.
Haviam três servas no local, todas elas de cabelo negro e vestidos cinzentos, com vinte, dezessete e quinze anos. Mas estava mais interessado nas crianças que elas estavam protegendo.
Um garoto de quatorze anos e uma garotinha de seis. Ambos tinham cabelo loiro-acastanhado e sardas no rosto, mas os olhos dele eram verdes, enquanto os dela eram castanhos.
Quando Siegfried tentou se aproximar dos dois, a serva mais velha se colocou entre eles, tremendo e gaguejando:
— V-você sabe quem eles são, não é? Queremos falar com o seu líder. O jovem mestre Dedric é o herdeiro desta casa. Exigimos um tratamento que seja adequado a sua posição. E-e para lady Elisa também.
— Mas é claro, venham.

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