Capítulo 0116: Minha autoridade
Quando Siegfried deixou a tenda, foi encontrar as garotas em pânico do lado de fora. Assim que se aproximou, entendeu o motivo.
Elsa estava de joelhos, chorando descontrolada e embalando o corpo mole de Will em seus braços.
O garoto quase parecia estar dormindo. Os olhos fechados em uma expressão tranquila. Mas tinha os cabelos molhados de sangue — ora vermelho, ora negro, mudando de acordo com a fogueira ao seu lado, que tremeluzia e crepitava, lutando para se manter acesa diante das rajadas de vento.
— Seu desgraçado! — gritou Allane, acertando a cabeça de um soldado com uma pedra que tinha na mão. — Filho da puta!
A garota se abaixou para pegar outra, mas antes que tivesse a chance de atirá-la também, viu três soldados tomarem a dianteira com suas espadas em mãos:
— Larga essa pedra! — ordenou um deles. — Ou eu faço você engolir ela!
Allane hesitou. Ethel correu para cuidar de Will. E Siegfried avançou, se colocando entre as garotas e os soldados:
— O que tá acontecendo aqui!?
— Ele tentou matar o Will! — gritou Allane.
— Mentira! — respondeu o soldado com um corte na testa da pedrada que levou. Um rapaz de vinte e poucos anos, cabelos negros e rosto comum. O típico soldado raso. — Aquele fedelho que tentou me matar! Eu só me defendi!
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— Não é verdade! Eu vi você atacando a Elsa!
— Agora passar a mão na bunda de uma garota é ‘atacar’!? Ela é só uma escrava!
— Ela é a minha escrava! — corrigiu Siegfried. — Então foi isso que aconteceu?
Ninguém respondeu.
Os soldados trocaram olhares entre si e o idiota recuou; só então Siegfried notou que ele estava coxo e tinha a perna direita coberta de sangue.
— Algum problema aqui? — perguntou Ermin, se aproximando calmamente dos soldados. A forma como os homens sorriram ao vê-lo deixou claro a quem pertencia a lealdade deles.
— Capitão — disse o idiota ferido. — Foi aquele fedelho. Ele tentou me matar!
Allane voltou a chamá-lo de ‘mentiroso’, mas logo se calou ao ver o olhar reprovador de Ermin, que escutou em silêncio a história dos seus homens. Da forma que falavam, parecia até que Will havia se transformado em um dragão e tentado devorar todos eles, antes de ser corajosamente derrotado em um combate singular.
— Entendo. — Ermin se virou para Siegfried. — Ao que parece, tudo já foi resolvido. Nada além de um pequeno mal-entendido e uma briga. Não concorda, comandante?
— Não. Eu não concordo!
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— …
— Ele atacou uma das minhas escravas e tentou matar o meu escudeiro. Certamente não espera que eu deixe isso passar impune.
— Como eu disse, um mal-entendido. Mas talvez o senhor tenha razão. Uma punição é necessária. Afinal, o seu ‘escudeiro’ feriu meu soldado. Posso estar enganado, mas se não me falha a memória, o garoto ainda é um escravo. E qualquer escravo que levante a mão contra um homem-livre recebe a forca.
O sorriso de satisfação no rosto de Ermin…
“Ele tá tentando passar por cima de mim.”
Isso só deixou Siegfried ainda mais irritado.
— Já que a sua memória é tão boa, por que não me lembra qual é a punição pra um soldado que tente roubar do seu comandante!?
— R-roubo!? — O soldado idiota empalideceu. — E-eu nunca… M-mal toquei nela, juro.
— Sua cara não parece muito boa. Acho melhor enfaixar essa perna, antes de perder muito sangue. Cuido de você amanhã.
Então se virou e foi até Will.
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A essa altura, Ethel já tinha limpado o sangue na testa do garoto, encontrado o corte e enfaixado a sua cabeça. Se ela havia ou não usado magia, o rapaz não sabia dizer. Mas Will respirava, embora ainda estivesse desacordado.
Siegfried carregou o garoto até a tenda de Ethel e o deixou lá, para que a sacerdotisa cuidasse dele até o amanhecer. Elsa e Allane insistiram em ficar para ajudar, mas Lavina estava preocupada com outra coisa:
— Eu não sou cega! Vi como olharam pro senhor, depois que virou as costas. Não confio neles! Em nenhum deles! S-se não me deixa dormir com o senhor na sua tenda, tudo bem. Então eu durmo do lado de fora!
E foi exatamente o que fez.
A princípio, pensou que a reação exagerada dela fosse apenas uma atitude infantil.
“Ela vai desistir daqui a pouco.”
Mas isso não aconteceu. Depois de uma hora no frio, Lavina continuava lá. Imóvel feito um cão de guarda. Sem outras opções, o rapaz a chamou para entrar.
“Não vai acontecer nada”, garantiu a si mesmo.
Mas aconteceu.
Antes que se desse conta, já estavam dividindo o mesmo cobertor. Siegfried enrolou o braço direito em volta da cintura da garota e a puxou mais para perto, se aninhando atrás dela. Um misto de suor, álcool e amêndoa no ar. Podia senti-la tremendo em seus braços, encolhida sobre si mesma.
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Pensou que fosse medo, até que Lavina pôs uma mão em cima da sua. Tão fria que bem podia ser feita de gelo.
“Não devia ter deixado ela ficar lá fora tanto tempo.”
Então a abraçou com mais força, passando uma perna por cima dela até que seus corpos fossem um só. E adormeceram de conchinha.
Foi a melhor noite que teve em muito tempo.
A manhã seguinte foi menos agradável.
Will havia finalmente acordado, então Siegfried o chamou para dar a sua própria versão da história. Depois Elsa, Ethel, Allane e os soldados. Ouviu a versão de cada um.
— Ele tentou estuprar ela — diziam as garotas.
— Ela tentou seduzir ele — rebatiam os soldados.
A única coisa em que pareciam concordar, era na forma como a confusão começou. Elsa estava ao lado da fogueira, terminando de jantar ou fazendo gestos obscenos para chamar atenção; então um dos soldados se aproximou, tentando rasgar suas roupas ou apenas conversar; Will estava perto dos dois e puxou uma faca, para proteger Elsa ou em um ato de loucura.
Acabava sempre do mesmo jeito: o soldado caído pegava uma pedra e acertava a cabeça de Will.
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— Comandante — disse Ermin, avançando sem ser chamado. — Se me permite, não me parece que possamos chegar a uma resposta para esse incidente. Ambas as partes sofreram e creio que temos questões mais urgentes a tratar. Pode ser melhor darmos o assunto por encerrado e–
— Concordo — disse Siegfried. — Temos coisas mais importantes pra fazer. Além disso, o soldado já admitiu a própria culpa ontem. Um escravo é a propriedade de seu mestre e ele tentou roubar a minha.
— N-não. — O soldado idiota caiu de joelhos. — P-por favor, comandante. F-foi o álcool. Não quis atacá-la. Juro.
— Se pretende lavar seus crimes, eu recomendo água benta, não álcool. Normalmente, a punição para o roubo seria uma mão. Mas o barão Kessel atestou o valor de vocês e tenho de levar isso em consideração. Dessa vez, ficarei com apenas um dedo. Mas se isso voltar a acontecer, da próxima vez será a sua cabeça!
O assunto estava encerrado.
O próprio soldado parecia bastante aliviado para alguém prestes a perder um dedo. Talvez porque pensasse que Siegfried fosse executá-lo. De fato a ideia passou pela sua cabeça, mas ainda assim não podia se dar ao luxo de ficar com um homem a menos. Na verdade, esse foi o principal motivo para não lhe cortar uma mão; um soldado maneta seria menos que inútil em batalha.
Era para ter acabado aí.
Mas o Ermin não estava satisfeito.
— E o escravo!? — perguntou irritado. — Qual será a punição dele?
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