Índice de Capítulo

    O alojamento das servas era pequeno e humilde, com paredes de madeira finas que pouco faziam para manter o frio longe, um velho baú onde elas guardavam suas roupas e outros pertences, uma mesa redonda com quatro cadeiras e um espelho de mão.

    A melhor parte era a cama. Havia apenas uma no local. Seu colchão era recheado de palha e pouco aconchegante, mas tinha as suas vantagens.

    Siegfried deslizou uma mão por baixo dos lençóis e abraçou Lavina por trás, puxando a garota mais para perto. Já vinham dividindo a mesma cama a duas semanas, desde que Will foi atacado. Noite após noite. Sempre na mesma posição.

    Ela parecia preferir dormir de conchinha. Não que o rapaz tivesse qualquer crítica a esse respeito. O seu problema era outro.

    “Não devia estar fazendo isso.”

    Como lorde temporário do Salão Branco, não era certo que dormisse no chão duro do salão, lado a lado com os outros soldados; isso o faria parecer um líder fraco. Precisava de um lugar apenas seu e de mais ninguém. O quarto do barão Whitefield já estava ocupado com as garotas e o alojamento das servas era uma opção tão boa como qualquer outra.

    Mas devia ter rejeitado a Lavina.

    Bastou apenas um momento de fraqueza e agora já não conseguia mais ficar longe dela. Dia após dia, noite após noite, a jovem estava sempre ao seu lado; e quando não estava, era como se algo lhe faltasse.

    “O conde sempre disse que eu era fraco por um rabo de saia.”

    Mas o que havia de errado nisso?

    O próprio conde dormiu com algumas seguidoras de acampamento quando estavam à caminho da Torre da Justiça, mesmo já sendo casado e tendo três filhos. Os barões Kessel e Whitefield também não eram muito melhores com as suas escravas de cama.

    E não era apenas em Thedrit.

    O mesmo acontecia entre os bandos mercenários e os Guerreiros de Qaredia. O próprio Thrarim foi responsável por gerar dúzias de bastardos e teria feito ainda mais, se os anões fossem capazes de se reproduzir com orcs e elfos.

    Por que ele não podia fazer o mesmo?

    “Eles não fizeram um voto, você sim”, respondeu a voz em sua cabeça e o rapaz ficou irritado.

    “De que adianta se manter fiel a um voto que já foi quebrado mais de uma vez?”

    Jurou se deitar com apenas uma mulher em sua vida, mas já havia tomado duas. Primeiro a Dara,  depois a Anna. Que diferença fazia uma terceira?

    Um voto quebrado é um voto quebrado.

    Siegfried deslizou a mão pela barriga de Lavina e continuou descendo suavemente, usando a ponta dos dedos para traçar caminho até a parte interna das suas coxas. A garota estremeceu e começou a ofegar, mas foi só quando a tocou lá embaixo que seus lábios deixaram escapar o gemido que vinha tentando segurar esse tempo todo.

    — M-milorde — ela sussurrou, mas não chegou a abrir os olhos.

    Era sempre a mesma coisa. Não importava o que fizesse, ela nunca acordava… Mesmo quando era bem óbvio que estava apenas fingindo dormir.

    Por que não podia tomá-la?

    Qual era o problema de querer uma garota ao seu lado?

    Não podia ter a Dara, nem a Lura… Nem a Gwen. Mas por que não podia ter a Lavina?

    Ela não era ninguém. Apenas uma escrava. Sua escrava. Podia tê-la se quisesse. Era seu direito. O direito dos vencedores. Ajudou a conquistar a Vila do Lobo, pôs abaixo os portões do Castelo Silvergraft e agora rendeu o Salão Branco.

    Então por que era o único que não podia reivindicar os espólios?

    Qual era o sentido de se manter fiel a juramentos quebrados?

    Desprezava perjuros e traidores, mas de alguma forma havia se tornado as duas coisas. Quebrou o seu contrato com Eradan em favor do conde e matou com desonra mais homens do que se deu ao trabalho de contar.

    Os Guerreiros de Qaredia o ensinaram que matar pessoas indefesas era coisa de covarde. Que um homem de verdade olha nos olhos do seu inimigo quando tira a sua vida. Que o lugar da morte era no campo de batalha, onde o destino de cada um é decidido com base na própria força e coragem.

    “O que pensariam se descobrissem o que eu fiz?”

    Também prometeu casar com Dara, mas agora a sua mão valia o condado de Essel. Algum fidalgo qualquer a desposaria e havia bem pouco que se pudesse fazer a esse respeito — o barão Kessel deixou isso bem claro.

    “Pode não ser o Draco, mas ela se casará com alguém. E não será você!”

    Podia cavalgar de volta para o Salão dos Poucos. Tomá-la em seus braços e fugir para alguma terra distante. Então, além de um traidor e um perjuro, seria também um covarde por abandonar os seus próprios aliados no campo de batalha.

    Não podia trair a memória do conde Gaelor dessa forma. Nem a confiança do barão Kessel.

    Mas isso significava esquecê-la.

    Sua pretensão era fraca, para dizer o mínimo. O fato de ser um mercenário estrangeiro era pouco menos do que nada, perto do real problema: não tinha exércitos, terras ou títulos. Mesmo que eles dois se casassem, não poderia protegê-la.

    “Foi uma promessa infantil…”

    De repente, Lavina agarrou seu braço.

    O rapaz estava tão imerso em pensamentos, que quase não notou quando a garota gozou e deixou seus dedos pegajosos. As coxas dela prenderam sua mão onde estava e os dois ficaram assim por quase cinco minutos.

    Quando ela terminou, Siegfried a beijou na nuca e sussurrou em seu ouvido:

    — Até quando vai fingir que ainda tá dormindo?

    — …

    — Se você não gostou, então é melhor a gente parar por aqui–

    — Não!

    Quando tentou se afastar, Lavina agarrou a sua mão e a pôs em volta da cintura. Então estavam outra vez abraçados.

    — Tem certeza disso?

    A garota não respondeu, por isso subiu em cima dela. Nunca tinha reparado como era linda. Seus olhos castanhos brilhavam com medo, inocência e luxúria. O rosto corado de vergonha e os seios aparecendo por baixo do tecido fino de seda.

    O vestido de chemise tinha se enrolado com toda a agitação, deixando ela completamente despida da cintura para baixo. Os pelos loiros lá embaixo, encharcados; a visão lembrou-lhe Dara e o rapaz sorriu.

    — M-milorde?

    — Se quer que eu pare, diga agora.

    — …

    — Então eu não vou mais me segurar.

    Siegfried se inclinou para a frente e a beijou. Não haviam palavras para descrever o quão bom era. Tinha sentido falta disso. Dos lábios carnudos de uma garota; o gosto da sua saliva; a sensação de ter a língua dela na sua.

    Dara o teria abraçado, enterrado as unhas nele e rasgado as suas costas, lutando para controlar os gemidos. Lavina era mais tímida; fechou os olhos e retribuiu o beijo com vontade, mas não o tocou. As mãos dela agarravam os lençóis da cama com força, enquanto suas pernas tremiam e os pés se contorciam. Lutando para não se mexer.

    Ela também o queria, mas não ousava pegá-lo.

    “Vai me entregar tudo o que eu pedir, mas não é corajosa o bastante pra pegar ela mesma.”

    Siegfried afastou a sua boca da dela, mas Lavina não parecia satisfeita. A garota lambeu os lábios e o esperou, até que finalmente se deu conta de que o beijo havia terminado e abriu os olhos.

    Nessa altura, o rapaz já tinha tirado a camisa.

    “Faça!”, sussurrou uma voz em sua cabeça.

    E teria feito, se não tivessem batido na porta bem quando estava desamarrando as calças.

    — O que foi!? — perguntou irritado.

    — Comandante — respondeu o soldado do outro lado da porta —, acho que o senhor vai querer ver isso.

    — Então volte quando tiver certeza!

    — …

    — Puta que pariu. Eu mereço. O que é!?

    — Refugiados, senhor. Dezenas deles.

    — Estão nos atacando?

    — Não, senhor.

    — Então qual é a porra do problema!?

    — Eles estão vindo da Vila do Lobo, senhor.

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