Capítulo 0124: Respeito
As portas do salão se abriram com um rangido e todos prenderam a respiração quando Siegfried chegou com seus novos soldados.
Muitos testemunharam o seu espetáculo naquela tarde e agora não se falava de outra coisa senão a luta interna por poder que todos julgavam estar prestes a acontecer… E talvez tivessem razão. A sua inimizade com Ermin não era segredo algum, mas até hoje, todos pensavam que Siegfried teria perdido se o enfrentasse.
— Ninguém pode derrotar dez homens sozinho! — diziam.
Siegfried não estava tão certo disso.
Se tivesse tempo de pôr a sua armadura, poderia derrubar cada um deles, especialmente ali dentro do salão, onde havia pouco espaço para que eles andassem em círculos ao seu redor até cansá-lo. Não seria fácil, mas venceria no final.
“E agora tenho os meus próprios homens.”
Mesmo que ninguém acreditasse que Siegfried poderia derrotar dez inimigos sozinho, não tinham tanta certeza assim agora que eram quatro contra dez. De repente, os números pararam de importar e a questão passou a ser: qual dos dois se provaria o melhor comandante?
Pouco se sabia de Ermin. Tinha vinte e três anos, mas ninguém nunca o viu lutar pessoalmente, tão pouco se ouvia histórias de suas batalhas.
— Mas o barão Kessel confiava nele, né?! Então deve ser um ótimo líder — era tudo o que tinham a dizer em seu favor.
Mas o mesmo não podia ser dito de Siegfried. As histórias de seus feitos se espalharam pelo Salão Branco feito um incêndio, embora tais relatos não tenham demorado muito antes de tomarem uma forma mais… Teatral.
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Falava-se de como Siegfried derrotou Eradan em combate singular no topo de uma torre com mais de cem metros de altura. Ou de como pôs abaixo os portões do Castelo Silvergraft e rendeu toda a sua guarnição com meia-dúzia de soldados. Uma ou outra história de sua época como mercenário também foi inventada, sempre envolvendo algum monstro ou feiticeiro élfico maligno.
Mesmo os seus guardas conquistaram uma certa reputação depois dos seus respectivos duelos.
Gelo, Fantasma e Carrasco não exibiam qualquer talento marcial digno de nota. A bem da verdade, Siegfried estava confiante de que poderia matar o trio sozinho e sem muita dificuldade. Mas não era o que os outros pensavam.
“Os três Mantos Negros”, foi como os chamaram. Em parte pela forma como haviam executado os seus antigos colegas, em parte por causa de sua nova vestimenta…
Os mantos que os soldados Whitefield recebiam eram tipicamente cinzas, mas eles decidiram por tingir os seus de negro para sinalizar a sua nova lealdade. O que também lhe garantiu um apelido pouco criativo de Siegfried, o Negro.
Some-se a isso o seu passado misterioso como um mercenário nas Terras Verdes e o fato de ter sido escudeiro do conde Gaelor. Todos pareciam mais do que certos de que haveria uma carnificina naquela noite e a cabeça de Ermin amanheceria em um espeto no dia seguinte.
“Acham que eu sou algum tipo de animal. Bom!”
Nada se ouvia além do ranger do piso de madeira, conforme Siegfried seguia com os Mantos Negros até o seu assento.
Alguns guardas sentados à mesa desceram suas mãos trêmulas até o cinto da espada, preparados para a batalha, enquanto as servas que traziam a comida congelaram onde estavam. Os demais se limitaram a observá-lo apreensivos. Todos menos a baronesa Whitefield com a sua postura digna e Lavina, que sorriu timidamente para ele.
O rapaz também sorriu.
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A balança de poder havia se inclinado a seu favor e já não era sem tempo.
Siegfried tomou o seu lugar de direito na ponta da longa mesa, com seus Mantos Negros de pé atrás dele, a jovem condessa Alethra Gaelor sentada à sua direita e a baronesa Whitefield à esquerda.
Foi só depois de Siegfried estar sentado e provar o primeiro prato, que os outros entenderam que o perigo havia passado e o jantar pôde recomeçar. Primeiro de forma tímida e sem conversa, mas os cochichos não demoraram a surgir e logo todos já estavam falando abertamente outra vez.
Ermin sentava à esquerda da baronesa Whitefield e foi o primeiro a lhe dirigir a palavra:
— E então? Quando irá partir, senhor?
Siegfried deu não mais que um breve relance no sorriso arrogante do seu rival e conversou com o idiota enquanto cortava um pedaço de galinha no seu prato:
— O que quer dizer?
— Ora! A Vila do Lobo, é claro! Nossos amigos e aliados estão sob cerco neste instante. Temos de ajudá-los. Todos aqui estão ansiosos para ouvir o seu grande plano de ação.
— Não há plano! O Salão Branco é uma posição estratégica e deve ser protegido. Essas foram as minhas ordens.
— Então pretende abandonar o barão Kessel?
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— Se ele quisesse a minha ajuda, teria dito!
— Como!? Está sob cerco! Até onde sabemos, o conde Essel pode estar abatendo suas aves. Foi o que fizemos quando chegamos à Vila do Lobo pela primeira vez.
— Temos dúzias de refugiados atravessando as planícies agora mesmo. Alguns que começaram a fugir antes mesmo do conde Essel chegar com suas tropas. Se o barão Kessel quisesse, poderia ter enviado um soldado a cavalo.
— E como sabe que ele não enviou?! Como sabe que os batedores do conde não o pegaram antes que chegasse aqui?! Pra mim, parece mais é que você tá com medo!
Siegfried pôs os talheres na mesa e finalmente se dignou a prestar atenção em Ermin. A esta altura, os truques dele já não lhe eram estranhos. A sua língua era a sua espada e aquela mesa era o seu campo de batalha.
“Não pode me derrotar em combate, então vai me enfrentar com palavras?!”
Um ano atrás, poderia ter deixado as sutilezas de lado e enfiado uma faca no seu olho, pondo fim à discussão. Mas não foi isso que o conde Gaelor o ensinou. Se queria ser um rei, tinha de começar a agir como um rei.
— Não me lembro de ter pedido a sua opinião! Talvez tenha se esquecido, mas sou eu que estou no comando aqui, não você!
— Então comece a agir como tal!
— É melhor controlar a sua língua!
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— Ou o quê!?
— Arranco ela e dou de comida pros ratos!
— Ha! Queria ver você tentar.
A baronesa Whitefield estava sentada entre eles, por isso Siegfried precisou se levantar da cadeira para chegar até Ermin. Mesmo assim, foi rápido o bastante para arrancá-lo da sua cadeira antes de seus homens terem tempo de fazer algo.
As garotas gritaram, algumas bandejas caíram no chão e de repente ouviu-se o som de aço.
Ermin somava sete guardas presentes no jantar, contra os três Mantos Negros de Siegfried. Mas nenhum deles deu batalha. Tinham ouvido todas as histórias e alguns testemunharam os duelos.
Ninguém interferiu.
Siegfried quebrou o nariz de Ermin já no primeiro soco, fazendo o sangue fluir e manchar os lábios rachados do idiota. No segundo soco, o corpo de Ermin ficou imóvel — estava acordado, mas não parecia lembrar como se mover. No terceiro, foi a mão de Siegfried que começou a formigar.
Mais um soco e então outro.
Podia ver os olhos de Ermin perdendo a cor.
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Aquele era o seu estado natural. Aquilo era certo. A violência também cabia perfeitamente a um rei. Talvez não a um rei de leite, fraco e nascido entre bajuladores, mas certamente a um rei mercenário forjado no campo de batalha.
Não era certo negar isso.
Sentia seu sangue ferver, o coração pulsar. Quente como o abraço de uma garota gentil, sussurrando em seu ouvido:
“Isso. Isso. Não para!”
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