Após saltar da arquibancada, Zac aterrissou bem no centro do coliseu e acabou levantando bastante poeira, o que dificultou a visualização dos demais. Quando a poeira baixou, todos os presentes naquele lugar conseguiram observar uma fumaça negra saindo do olho direito de Zac. Logo em seguida, sua pupila começou a dilatar e, de repente, seu grimório saiu de sua bolsa e ficou flutuando bem ao seu lado direito.

    O rapaz que tinha acabado de cometer o assassinato ficou abismado com a cena que estava vendo, e sua feição mudou drasticamente. O seu olhar, que outrora era muito confiante, deu origem a um semblante de medo e nervosismo.

    — Garoto, volte para onde você estava. Recue, pois você não sabe onde está se metendo.

    Zac já não conseguia ouvir mais nada. Ele só seguiu a vontade da sua alma. Ele apenas foi em direção ao corpo caído, se agachou e com sua mão acariciou o rosto daquele jovem. Logo depois, ele conferiu o pulso e confirmou que realmente estava morto.

    — Como pode? Você se julga capaz de tirar uma vida? Quem é você? — Zac questionou o assassino. Em seguida, olhou para o corpo estirado no chão. — Pode ficar tranquila, pobre alma, ele vai pagar pelo que fez.

    Zac abaixou as pálpebras daquele jovem, se levantou e partiu em direção ao seu alvo. Um sentimento de sede de sangue inundou aquele coliseu, e os alunos ficaram apavorados. Até mesmo Lacer se encontrou travado em seu lugar. Quando, inesperadamente, ouviu-se uma voz.

    — ZAC, não faça isso! — Dionísio gritou repetidas vezes, enquanto descia as escadas.

    Dionísio começou a chorar, pois imaginava que, se seu amigo perdesse a cabeça, provavelmente seria expulso, não só da academia, mas de todo Urano.

    O Grimório começou a liberar uma fumaça muito densa ao seu redor. Zac andou vagarosamente na direção do assassino. Enquanto caminhava, seu livro liberava ainda mais fumaça, e a mana liberada pelo grimório foi até o rosto de Zac, afetando seu globo ocular. Então, surgiu um símbolo azul claro, bem no local de sua íris.

    Durante seu caminhar, duas massas de fumaça se condensaram, uma ao seu lado direito e a outra ao seu lado esquerdo. Ambas deram origem aos lobos, com Jack à esquerda e Holly à direita. No entanto, os lobos estavam com um olhar totalmente diferente de antes. Mais adiante, o assassino puxou sua espada e se preparou para receber o ataque.

    — Jovem, tenha calma, eu vou explicar tudo. Peço que volte ao seu lugar.

    — Agora já é tarde demais. Pode ficar tranquilo, não te matarei. Apenas farei você sofrer pelo que fez.

    Zac fez um movimento simples com a mão e seus lobos partiram em direção ao homicida. Holly avançou pela direita e Jack pela esquerda, mas no meio do caminho eles alternaram suas trajetórias. Jack e Holly formaram uma espécie de X e, com isso, foram em direção um ao outro, pois precisavam cruzar um único ponto. Entretanto, devido a essa mudança, os lobos iam se chocar no ponto de intersecção. Porém, no momento em que os lobos iam colidir, eles se transformaram em fumaça e passaram um por dentro do outro.

    Logo em seguida, eles se solidificaram e continuaram correndo em direção ao seu alvo. Só que agora, Holly avançava pela esquerda e Jack pela direita.

    No meio desse movimento, o rapaz se colocou em posição de defesa, arrastando o pé direito um pouco para trás, demonstrando grande técnica. Com essa posição, ele estendeu a mão, o que facilitou maior mobilidade para sua espada.

    Ele fechou os olhos. De repente, uma mana de coloração amarelada fluiu de dentro do seu corpo e foi em direção à espada que estava em sua mão. Inesperadamente, a mana começou a entalhar algumas escritas na lâmina. A própria mana fez pressão na cadeia carbônica e alterou sua constituição, formando os seguintes símbolos: “טווח גדול יותר, נזק גדול יותר ופחות משקל”, que pulsaram em amarelo por toda a extensão da lâmina.

    Uma espada simples de combate havia se transformado em uma arma letal. De alguma forma, as escritas funcionavam como um tipo de encantamento, pois era aparente que a espada havia ficado um pouco maior. Provavelmente, algo havia acontecido com o material que compunha a espada.

    — Parece que este ano as coisas serão mais interessantes — disse o rapaz, que logo em seguida partiu em direção às feras.

    Usando seu pé de apoio para projetar o corpo para frente, ele passou entre os dois animais e foi em direção a Zac. Surpreendendo a todos no Coliseu, Zac também agiu rapidamente, estendendo a mão em direção ao rapaz e fazendo com que seu corvo mergulhasse em direção ao seu inimigo.

    O assassino, indo em direção ao seu alvo, observou um grande pássaro de coloração negra vindo em sua direção. Rapidamente, ele trocou a posição de empunhadura, a fim de se proteger do possível ataque vindo dos céus. O pássaro negro desceu, ganhando muita velocidade, e gerou um barulho de vento sendo dilacerado que ecoou por todo o ambiente. Porém, antes de alcançar seu alvo, ele inclinou totalmente o seu corpo em um ângulo de 45º.

    A ave, ao assumir outra angulação, fez com que o assassino mudasse novamente sua empunhadura. No entanto, não foi só isso: com sua terceira perna, que ficava um pouco mais atrás das outras duas, ele desferiu um golpe na jugular do indivíduo. A mudança na angulação foi fundamental para alcançar a veia. No entanto, ao usar o pomo da espada para se defender do ataque do corvo, o rapaz conseguiu sair ileso.

    Ao perceber que a situação estava ficando mais séria, visto que o animal mirou em um canal de transporte sanguíneo vital, ele assumiu outra posição de combate e se propôs a terminar o combate com um único golpe. Mas, enquanto se concentrava para desferir o golpe, ele sentiu uma pressão em sua perna direita. Ao olhar, percebeu que o lobo estava cravando suas presas em sua perna.

    Ele gritou de dor, sem entender como não havia sentido a presença daquele lobo, pois o tempo todo ele estava sentindo duas presenças bem distantes. Ao olhar para trás, percebeu que um dos lobos estendeu seu corpo usando as sombras, deixando suas extremidades bem distantes uma da outra, fazendo com que ele pensasse que os lobos estavam parados. Tudo isso para que o outro lobo se movimentasse como sombra até alcançar sua perna.

    — Muito perspicaz da sua parte pensar nessa estratégia. Aliás, como um jovem como você tem todo esse domínio de luta? Argh — exclamou, sentindo os caninos cortando sua pele, enquanto a pressão da mordida esmagava seus ossos. Um calor emergiu de sua perna devido à pressão exercida.

    Ele contraiu o músculo gastrocnêmio, localizado na panturrilha, e logo em seguida, usando o pomo da sua espada, desferiu um golpe bem no crânio do animal. O animal soltou a mordida e se desfazendo em meio ao vento antes do ataque o acertar. Logo em seguida, o lobo que estava mais atrás pulou, mirando as costas do inimigo. O rapaz, por sua vez, girou rapidamente o eixo de seu corpo e segurou a Holly pela garganta.

    O semblante de Zac mudou. Ele engoliu a saliva e correu em direção ao assassino. Nesse mesmo instante, o rapaz pressionou a garganta do lobo, e com um olhar medonho, observou o animal tentando respirar. Holly então começou a se debater de um lado para o outro, tentando sair.

    Uma peculiaridade das sombras é que elas possuíam a habilidade de se dissolver, porém não podiam ativar essa habilidade caso estivessem em contato com um organismo vivo. Tanto no caso da mordida que acabara de acontecer, quanto no caso do corredor em que Zac e Dionísio caíram, os lobos se afastaram dos corpos antes de usar essa individualidade.

    Aos poucos, ele foi aumentando sua força, até o animal começar a chorar. Lágrimas começaram a cair no chão. Jack, sem receber nenhum comando, pulou desesperadamente, tentando salvar sua companheira.

    Jack conseguiu alcançar a mão do assassino e enfiar suas presas nele. O lobo então começou a chacoalhar o seu corpo para todos os lados. Porém, sem esboçar nenhuma reação, o rapaz continuou apertando a garganta de Holly. Holly, que por sua vez, já não possuía força alguma, acabou cedendo, e a única coisa que ela conseguiu fazer foi liberar um choro abafado pela pressão exercida em sua garganta.

    Entretanto, no mesmo momento em que Jack pulava, Zac começou a emanar fumaças negras em suas mãos, e de repente, o corvo deu um novo rasante. Só que dessa vez, ele desceu próximo de Zac e foi em direção ao rapaz que estava com Holly em suas mãos. Zac pulou e usou sua mão esquerda para segurar as garras de seu corvo.

    Ele usou sua ave para ganhar impulso e altura, a fim de alcançar o agressor. Chegando perto do seu alvo, Zac soltou seu animal, que estava a cerca de 3 metros de diferença do solo, e com sua mão direita coberta por uma fumaça negra e densa, desferiu um soco no crânio de seu adversário, usando toda a sua força e colocando todo o seu sentimento nesse golpe.

    O impacto do soco foi muito forte, porém o rapaz permaneceu de pé. No entanto, não demonstrava estar consciente. O que Zac não sabia, era que, no momento em que ele disparou na direção de seu oponente, o assassino já havia mudado sua postura para conseguir absorver o dano. No chão, era possível ver que seus pés perfuraram o solo, e, devido a esse apoio, ele conseguiu se manter de pé. Porém, completamente apagado e sem controle sobre seus músculos, ele acabou soltando o lobo no chão.

    Após desferir o soco, Zac caiu de cara no chão. Ele não pensou na melhor forma de atacar, ou qual seria o melhor ângulo. Zac apenas correu e agiu seguindo seu coração. Contudo, durante a queda, acabou caindo sobre seu braço, o mesmo que usou para atacar seu inimigo.

    A poeira cobriu a visão de Zac, que já não conseguia ver mais nada. Quando, subitamente, ele sentiu uma dor muito forte em seu braço, pois todo o impacto gerado pelo soco e pela queda acabou deslocando seu braço.

    Em meio à dor, Zac ouviu um barulho de algo caindo no solo. Imediatamente, esqueceu toda a dor e começou a se arrastar até o que ele achava ser seu lobo.

    — HOLLY, HOOOOLLLLLYY, vai ficar tudo bem — Enquanto se aproximava, ele ouviu o barulho de um animal se debatendo.

    — HOLLY, sou eu, o Zac, não precisa ficar com medo, não — Ele começou a lembrar de uma cena em uma caverna. Zac se esforçou para ver o que havia dentro, mas não conseguiu. De repente, ouviu o barulho de dois animais chorando, vindo da direção de um pequeno arbusto. Decidiu se aproximar e viu uma das cenas mais tristes de sua vida: duas ossadas de pequenos lobos que já haviam passado pelo processo de decomposição.

    Porém, Zac se encontrava inconformado, sem entender o porquê de ter ouvido os animais, sendo que eram apenas ossos jogados no chão.

    Zac viu uma fumaça de cor preta surgindo no meio dos ossos. Mesmo sendo apenas um garoto de 6 anos naquela época, ele não teve medo e encostou na fumaça de coloração negra. No momento em que ele a tocou, seu livro começou a pulsar e a sugar toda a fumaça para dentro.

    — Quem é você? Como conseguiu trazer meus filhos de volta? Eu consigo sentir que eles estão vivos, só que dentro de você. — Uma voz feminina ecoou de dentro da caverna.

    — Quem está aí? — respondeu Zac.

    — Eu fui uma péssima mãe, eu errei. Eles morreram por minha culpa, e eu sei disso.

    — Estou ficando com medo, me fala logo quem é você.

    — Você é fraco, não vejo nada de forte em você. Como conseguiu fazer isso? Você não será capaz de protegê-los.

    — Proteger quem? — O pequeno Zac começou a se distanciar da caverna.

    — Mesmo sendo fraco, eu tenho uma dívida enorme com você. Não precisa se afastar, pois a péssima mãe que fui no passado acabou de morrer nesse instante. — Uma fumaça gigantesca começou a fluir da caverna e se direcionou para o grimório de Zac, fazendo com que seu corpo caísse no chão.

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