Capítulo 4: À Luz da Infância
Após o desaparecimento repentino de seu professor, Zac ficou um tanto confuso, sem entender o que aconteceu, e por alguns segundos permaneceu parado, olhando para o vazio.
Dionísio percebeu que Zac não estava mais ao seu lado e, ao olhar para a porta da sala de aula, viu seu amigo parado, com uma expressão assustada.
— Vamos logo, Zac, para de enrolar. — Dionísio acenou impacientemente para seu amigo.
Ao sair da sala, Zac continuou com várias perguntas borbulhando em sua mente. Por um instante, ele se viu na perspectiva de um pássaro, voando pelos céus, e, de repente, o pássaro deu um rasante em direção à academia, quebrando o vitral. O vitral, com um fundo azul e uma árvore verde bem no centro, se estilhaçou.
No meio de seus pensamentos, Dionísio encostou no ombro de Zac e estalou um dos dedos bem na cara de seu amigo.
— Ei, Zac? Tá aí? Parece meio distante, hein, cara? Acorda aí. Aliás, me responda uma coisa: já decidiu qual vai ser sua aula extracurricular? Precisamos nos inscrever o mais rápido possível.
Zac voltou abruptamente de seu devaneio. Depois de se recuperar, olhou para Dio e retirou a mão dele de seu ombro.
— Pô, vai ficar se apoiando mesmo? E quanto à parada da aula, eu nem sei quais são as matérias, quem dirá como me inscrever nelas.
— Você tá aonde? Não prestou atenção na aula? A menina que falou sobre esse tema provavelmente pode nos ajudar.
— Menina? Não lembro de nenhuma menina não.
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— Você prestou atenção na aula? A presidente do corpo estudantil foi quem falou sobre as atividades. Você não viu nada disso?
Dionísio, com um olhar de descontentamento, balançou a cabeça de um lado para o outro.
— Fico desapontado com sua falta de atenção. Enfim, cara, me tira uma duvida aqui: o que exatamente você ficou fazendo durante a aula?
— Sei lá, Dio, acho que só desenhei e ouvi o professor falar algumas coisas. Não sei o porquê, mas não estou me sentindo muito bem hoje. Parece que minha memória não tá muito legal, é como se tivesse esquecido de algo que aconteceu… Me desculpa aí.
— Tudo tranquilo, Zac. Só tenta, por favor, prestar mais atenção nas coisas, tá? Eu não lembro de todas as atividades, mas acho que sei quem pode nos ajudar.
— Vou tentar melhorar nessa parte, Dio. Tu sabe quando parece que a gente tá distante… deixa pra lá. Já que você sabe quem pode ajudar, vou te seguir, pois não conheço nada. Ou seja, onde você me levar, eu tô indo.
— Ah, eu acho que a Clarice pode nos ajudar, e creio que provavelmente ela deva estar na sala do conselho.
Enquanto caminhavam pelo corredor, Zac ficou surpreso por Dio conhecer uma garota e, atônito, o questionou:
— Quem é essa Clarice? Nem passa os contatos, hein, Dio? Que amigão você é. Então quer dizer que você é famoso em Urano, hein? Bom saber.
— Para de bobeira. Clarice é a presidente do conselho estudantil, ela estava na nossa sala hoje e falou sobre as atividades. Eu sei o nome dela porque fomos criados juntos, quando criança. Meu pai me colocou numa classe com um dos maiores healers do reino e lá eu e ela estudávamos juntos.
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— Ah, sim, então vocês estudaram juntos. Mas calma aí, você não tinha falado que ela é a presidente do 1º ano? Sendo que as aulas começaram ontem, teve alguma votação que eu perdi ou algo assim?
— Não esqueceu de votar não, Zac, só esqueceu de ler mesmo. Kkk, a academia enviou um comunicado dizendo que o conselho seria formado por três jovens e que eles seriam classificados pelo seu nível de poder, indicação e histórico individual.
— Então ela deve ser bem forte mesmo, para um healer estar à frente do conselho estudantil. Além do mais, você sabe qual tipo de poder ela possui? Porque deve ser algo muito interessante.
— Ela é sim, ela usa magia de luz e consegue manipular alguns espíritos livres. Ah, e Zac, ela é a irmã mais nova do rapaz que encontramos agora pouco, aquele que lançou uma magia em nossa direção e quase nos deixou em apuros.
— Tinha quase me esquecido dessa parte. Eu tenho que fazer esse garoto pagar por quase ter tirado meus lobos de mim. Naquele momento, eu só queria que eles ficassem bem e por isso acabei usando tudo que tinha para proteger aqueles que são importantes para mim.
— Ei, Zac, se acalme. Tudo no seu tempo. Eu sei que você vai conseguir conversar com ele depois. Ademais, peço que você tenha cuidado, pois ele é um dos mais fortes manipuladores de luz de Urano.
— Em momento nenhum eu falei que vou conversar com eles. Eles têm sorte do professor ter chegado naquele momento, porque se demorasse mais um pouco, iam se ver comigo, Dio.
— Você é muito engraçado, Zac. — Dionísio deu um sorriso de canto de boca e suspirou.
— Não tô brincando não. Jack e Holly são tudo para mim, eles são minha família, e ele quase os matou. Não quero nem saber como vai ser, só sei que ele vai pagar.
— Jack e Holly? Como assim? Isso é nome de lobo, por acaso, Zac?
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— Algo contra? Você é fiscal de nome agora? Me poupe, Dio, eu dei esses nomes porque quando encontrei os dois na floresta, também achei uma revista toda rasgada que estava escrito “Jack e Holly”.
— Só perguntei porque achei interessante. E não tá mais aqui quem falou, tá? Aliás, gostei desses nomes. Só gostaria de saber que revista é essa que você mencionou, porque nunca ouvi falar.
— Também nunca ouvi, só achei interessante porque estava perto deles e achei os nomes bonitos. Só lembro que na capa tinha um menino usando um capuz verde e uma garota com chapéu marrom.
— Nunca vi nada parecido, mas acredito em você.
Enquanto caminhavam pelos corredores, eles passaram por um pátio localizado no centro da academia, onde uma flora exuberante emoldurava uma fonte de água doce, situada bem no meio do lugar. Algumas árvores formavam uma clareira, e era possível ver alguns jovens deitados entre as gramíneas, enquanto espíritos de luz passeiavam suavemente entre os galhos.
O canto etéreo de uma melodia encantadora ecoou no ar, e ambos se deixaram envolver por aquele ambiente mágico.
Ao atravessar o pátio, eles seguiram para um corredor repleto de salas. Zac observava com curiosidade, aproveitando para conhecer um pouco mais sobre a academia. Seus olhos se fixaram em uma escadaria de mármore branco, trabalhada com detalhes em ouro puro, que seguia em ziguezague até o alto.
Ao lado da escada, uma entrada de banheiro chamou sua atenção, mas o que realmente lhe chamou a atenção foi um vulto que se movia rapidamente à distância. Mais uma vez, ele sentiu a presença de ser observado. Desta vez, um som distante de uma gaita começou a ser ouvido, cortando o ar com sua melodia suave e melancólica.
— Dio, você está ouvindo esse som? Parece de uma gaita. — Zac perguntou, sua voz estava carregada de confusão.
— Não estou ouvindo nada, Zac. — Dionísio olhou para ele com um olhar de deboche. — Oh, Zac, dormir naquela praça não está te fazendo bem, não?
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— Muito engraçado você, hein. Não tem nada a ver com a praça não. — Zac balançou a cabeça negativamente, tentando processar o que acabou de ouvir. Ele começou a pensar que talvez tivesse confundido o som do canto dos espíritos com o som da gaita. Mas a sensação de ser observado persistiu, e a dúvida não desapareceu facilmente.
Com uma sensação de estranheza ainda pairando no ar, Zac se perguntou se tudo aquilo era apenas fruto de sua imaginação ou se havia algo mais acontecendo, algo que ele ainda não conseguia entender completamente.
Dio olhou para Zac e apontou em direção à sala.
— A sala do Conselho é aquela ali.
— Muito obrigado, Dionísio, e nem estava escrito “Conselho estudantil”, né? Você é muito esperto, cara. Tu merece um prêmio.
— Te ajudo e é assim que você retribui? Deve ser por isso que você não tem amigos.
— Valeu, Dio, não precisava disso não. É só uma brincadeira. — Zac fingiu limpar as lágrimas nos olhos, ainda sorrindo.
Os dois se aproximaram da porta e pararam bem em frente a ela. Dionísio ficou pensativo, como se fosse difícil tomar a iniciativa depois de tanto tempo sem falar diretamente com Clarice.
Ele então contraiu os músculos, ajeitou o cabelo e endireitou a postura. A mente de Dio começou a se encher de dúvidas — deveria bater na porta ou chamar por Clarice? Ele ensaiava uma leve batida e então decidiu, com um suspiro, chamar pela amiga.
— Clari…
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Zac, impaciente, de rompante bateu na porta e chamou pelo nome da jovem.
A musculatura de Dio relaxa. A postura que ele havia ajustado desapareceu, e ele engoliu a saliva, um olhar triste caiu sobre seu rosto. Ele olhou para Zac desanimado e perguntou, quase em um suspiro, por que ele fez aquilo.
A porta se abriu lentamente, e uma voz meiga e suave preencheu o ar.
— Quem está aí? Faz muito tempo que não me chamam dessa forma…
Na porta, uma jovem de cabelos lisos e dourados apareceu, com as pontas quase cinzas. Seus cabelos longos se moviam lentamente ao serondar da porta. Ela usava a roupa da academia, mas ao contrário de Zac, estava impecavelmente arrumada, quase perfeita. Além disso, como membro do conselho, ela vestia uma jaqueta azul e uma boina da mesma cor, com uma estrela branca no canto superior direito.
Ela olhou para Zac e disse, com um sorriso divertido:
— Você é o colega do Dionísio, né? O menino que apareceu com ele hoje na sala. Foi bem engraçado a cara de vocês dois, especialmente a cara do Dionísio.
Clarice observou Zac e notou que sua roupa estava toda amarrotada, mal colocada. Isso a incomodou de alguma forma, mas, disfarçando, ela abriu um sorriso leve e desconfortável.
Quando olhou melhor, percebeu Dionísio do outro lado da porta, acenando para ela. Clarice esboçou um sorriso genuíno ao ver o velho amigo.
— Que saudade, Dionísio. Te vi hoje na sala, mas não te reconheci. Faz muito tempo que não te vejo. Se não me engano, a última vez foi durante a nossa infância, né? Você tem andado bem sumido e nunca mais tivemos contato. Fiquei muito feliz ao ver seu nome na listagem da academia. Quero muito ver como você progrediu como healer.
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— Verdade, Clarice, faz muito tempo mesmo. E se não me engano, foi durante as nossas aulas, sim. Depois que me mudei, não consegui ver mais ninguém e fiquei distante até da minha própria família. Eu evoluí bastante, Clarice. Também estou ansioso para ver como você progrediu.
Zac observou seu amigo e percebeu que ele parecia desconfortável. Até o tom de voz de Dionísio havia mudado, e ele estava constantemente limpando a testa, suando em excesso. Algo no ar parecia tenso, e Zac sentiu que havia muito mais em jogo do que ele poderia entender naquele momento.
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