Capítulo 1 – A Ruína da Humanidade

Belo Horizonte, 31 de dezembro de 2021. Em meio a um vasto galpão, a luz mal conseguia atravessar as janelas quebradas, criando um ambiente sombrio e claustrofóbico.
Os portões estavam firmemente bloqueados por barris e caixotes, que pareciam formar uma fortaleza improvisada contra o mundo exterior.
Um jovem estava sentado em uma cadeira, sua figura curvada e desolada refletia uma tristeza profunda. Seu rosto, uma tela em branco, exibia a completa ausência de emoções, como se estivesse preso em um labirinto de pensamentos sombrios.
De repente, um som perturbador interrompeu o silêncio: os barris e caixotes começaram a tremer violentamente, como se algo estivesse batendo impetuosamente nos portões.
A atmosfera pesada se tornava cada vez mais insuportável. O que poderia estar lá fora? A resposta era clara e aterradora: os mortos. Aqueles que haviam cruzado o limite da vida e da morte, agora vagando sem consciência, guiados apenas pelo instinto voraz de devorar tudo que encontrassem pela frente.
Tudo começou há cerca de um mês, nesse tempo aquele jovem era um estudante de dezesseis anos como qualquer outro.
Pela manhã, ele acordou com o despertador do seu celular, se aprontou, pegou sua mochila e desceu as escadas de sua casa para tomar o seu café da manhã.
Chegando na cozinha, ele se surpreendeu, deixando sua mochila escorregar de seu braço e cair no chão. Ele mal podia acreditar no que seus olhos viam.
Sua mãe estava caída no chão toda ensanguentada, com diversas feridas pelo corpo, ela não demonstrava qualquer sinal de vida, mas a expressão em seu rosto deixava nítido toda dor que ela havia sentindo, com seus olhos e boca abertos ao máximo.
Para piorar a situação, seu pai estava sobre ela, devorando-a. O sangue manchava suas roupas, mãos e rosto; seus olhos estavam brancos, sem vestígios de consciência.
O jovem ficou em choque diante da cena horrenda. Suas pernas tremiam enquanto seu instinto o levava a recuar lentamente, sem conseguir desviar o olhar do que presenciava. Ao tentar se afastar, tropeçou em uma cadeira e caiu.
Seu pai ergueu o olhar até se encontrar com os do jovem, gritou e começou a engatinhar em sua direção.
Em desespero, o jovem arrastou-se para trás, gritando:
— Sai! Não chegue perto de mim!
Mas não adiantou; seu pai continuou a avançar loucamente O jovem se viu encurralado pela parede, sentindo que sua morte se aproximava. Fechou os olhos e usou os braços para proteger a cabeça enquanto encolhia o corpo.
Foi então que ouviu um barulho de algo quebrando e sentiu algo pingar em seu rosto. Abrindo os olhos, viu seu pai com o crânio esmagado aos seus pés.
Atrás dele estava uma jovem garota vestida com roupas esportivas, segurando um pé de cabra ensanguentado. O jovem estava atordoado e confuso diante da cena caótica.
O jovem estava atordoado e confuso diante da situação caótica.
Com um sorriso confiante, a garota estendeu a mão e disse:
— Venha comigo se quiser viver.
Com os olhos encharcados, o jovem segurou em sua mão.
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Assim, minutos se passaram desde que o jovem conheceu a garota que se apresentou como Stefany. Juntos, eles fecharam as portas da casa e se esconderam em seu quarto.
Com um olhar sério e determinado, ela revelou ao jovem uma terrível verdade: o mundo havia sido contaminado por uma praga, transformando pessoas em criaturas sem consciência, guiadas por instintos carnívoros.
A voz do jovem tremia enquanto ele tentava processar a informação:
— Então a minha, ela..
— Lamento — interrompeu Stefany, com um tom direto e frio. — Uma vez que você contrai o vírus, não há volta. Eles não são mais quem eram.
As palavras de Stefany foram como um soco na barriga. A tristeza o envolveu como uma névoa densa; ele pensava nos seus pais e na vida que conheceu. Sabia que se continuasse assim, teria o mesmo destino deles.
Stefany olhou bem para ele e respirou fundo. Ela se virou de costas e disse:
— Fique aqui. Vou te dar um tempo para processar tudo isso.
— Me ensine — sussurrou Derek ao se levantar.
Stefany parou de se mover e virou o rosto levemente para o lado.
— Como disse? — perguntou Stefany.
O jovem apertou os punhos.
— Me ensine a sobreviver! — gritou e hiperventilou.
Stefany se virou para trás rapidamente pronta para adverti-lo, pois o som poderia atrair as criaturas de fora, mas, foi surpreendida ao ver seus olhos que transbordavam um forte desejo de viver.
Após um breve silêncio, assentiu.
— Tudo bem, vou te ensinar
O jovem estava prestes a sorrir, mas foi surpreendido por um soco na barriga, seguido pela mão de Stefany tampando sua boca.
— E aqui está sua primeira lição, garoto: não grite. Todos esses mortos-vivos podem nos ouvir — sussurrou Stefany na orelha do jovem.
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Para poder treinar o jovem, Stefany invadiu uma casa maior, murada e com mais recursos que havia sido abandonada. Ela eliminou todos os mortos-vivos que estavam lá.
Enquanto Stefany fazia com que o jovem treinasse o corpo, ela explicou a ele como sabia dessas coisas.
Tudo isso era por conta de seu pai. Ele vinha se preparando para uma situação como essa há anos, e ela sempre achou que fosse paranoia dele.
No entanto, aprendeu tudo o que ele mandava ela aprender. Acabou que ele estava certo sobre tudo.
— E onde seu pai está agora? — perguntou o jovem treinando com um bastão
— Bem, já faz um tempo que o vejo. A última vez foi há algumas semanas, ele foi fazer algumas pesquisas e me deixou na casa dos meus avós — disse Stefany monitorando a rua pelo terraço.
E assim, alguns dias haviam se passado. O jovem aprendeu muitas coisas nesse tempo, desde fazer fogueiras até mesmo como matar essas criaturas, embora não tenha conseguido matar nenhuma delas. Não por falta de força ou habilidade, e sim por pensar nelas como pessoas comuns.
— Ah, já disse e repito. Elas já não são mais pessoas, deixaram de ser no momentos que foram mordidas. Para elas, somos apenas ração e nada mais. Para você conseguir sobreviver nessa merda de mundo, terá que se livrar desse seu lado chorão, senão vai ser game over para você — disse Stefany descontente.
Dois dias depois. Todos os suprimentos da casa acabaram e os mortos estavam bastante movimentados naquela área. Já estava na hora de mudarem de local.
Enquanto se arriscavam sendo sorrateiros e comendo o que achavam, incluindo alimentos do lixo, encontraram um galpão de uma fábrica abandonada.
O lugar era enorme, as janelas ficavam bem no alto, havia vários geradores de energia em cima do telhado, além de grandes portões de aço reforçado.
Verificaram que não havia nenhum morto-vivo sequer. Havia vários caixotes e barris empoeirados por todo canto. Após abrirem, encontram enlatados, arames e sucatas de metal. Tudo isso os beneficia.
No dia seguinte, perceberam que as criaturas estavam se juntando em pequenos bandos. Pareciam sentir que humanos estavam por perto. Com isso em mente, decidiram criar barricadas usando as ferragens do galpão. Dessa forma, a segurança do lugar aumentou.
Nesse tempo, a relação dos dois se aprofundou, com Stefany o considerando como um irmão mais novo e sendo até menos rígida com ele. E o jovem considerando ela como algo a mais do que simples irmãos. Mas essa paz estava prestes a acabar.
Stefany recebeu um comunicado por um hand-talk que ela guardava. Segundo ela, era chamado de código morse, isso era feito de várias maneiras, desde ligar e desligar uma lanterna até mesmo ruídos coordenados, que era o caso.
Sendo ela, a frequência usada foi uma criada por seu pai, que a ensinou para situações onde o rastreio é possível. E segundo ela, o código dizia: ‘Stefany, vá ao ponto G’.
Um lugar onde somente os dois sabiam a localização, Stefany começou a se preparar para o encontro. O jovem tentou argumentar para que ela não fosse, mas não adiantou.
— Eu sinto sua preocupação, mas mesmo assim não posso ficar. Meu pai está me chamando, e tenho certeza que é por ter descoberto algo importante. — disse Stefany organizando sua mochila.
— Então me leve junto, sei que consigo te ajudar de algum jeito. Além disso, ir sozinho, a essa hora da noite é praticamente suicidio! — gritou o jovem preocupado.
Stefany começou a chiar enquanto seu dedo silenciava o jovem. Ela riu com um sorriso casual com os lábios perante a preocupação do jovem.
— Veja bem, se eu for sozinha, tenho certeza de conseguir me mover sorrateiramente sem que me notem, mas não iria conseguir com você junto, ao invés disso ficaria preocupada o tempo todo com seu bem estar. Você entende? — sorriu Stefany acariciando o rosto do jovem — Não confia nas minhas habilidades? — brincou apertando as bochechas dele, o fazendo rir.
O rosto do jovem corou, relutantemente, a deixou ir.
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Os dias foram se passando, duas, três semanas e nada dela aparecer. Como ele não tinha coragem para matar as criaturas, seus números multiplicaram drasticamente, bloqueando as entradas aos montes.
Estavam conseguindo amassar as portas. Com medo, ele as bloqueou com caixotes e barris, mas isso não iria segurar os portões por muito tempo.
Como haviam se passado muitos dias desde a saída de Stefany, o jovem perdeu a esperança que ela estivesse viva, o que o deixou abalado.
“Entendo. Então você não conseguiu.”, pensou o jovem com os olhos lacrimejantes.
Olhando pelo alto das janelas, ele viu os carniceiros, um empurrando o outro, seus olhos brancos e sem vida, sedentos por seu corpo. Sentindo que teria uma morte brutal se fosse pego por eles, o jovem decidiu colocar um fim em sua vida.
Usando uma corrente que estava presa no teto, ele a enrolou em seu pescoço, e aguardou que o relógio em seu pulso apitasse, iniciando um novo ano.
No momento em que o relógio apitou, duas coisas aconteceram: os mortos-vivos arrombaram os portões e ele pulou lá do alto, se enforcando.
Enquanto pendurado, o jovem conseguiu sentir sua cabeça a ponto de explodir por cortar o fluxo do sangue, as criaturas mordendo suas pernas e o puxando para baixo e sua mente se esvaziando.
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