Mais tarde, as duas mulheres desfrutavam de um banho em uma ampla banheira. O ambiente era iluminado por uma luz suave, enquanto a água estava fria, já que a energia gerada pelas placas solares não era suficiente para aquecer os chuveiros.

    Ambas estavam nuas. A mulher lavava as costas de Fernanda com delicadeza, usando uma generosa quantidade de sabão, enquanto Fernanda desabafava sobre a complicada situação que enfrentavam.

    — Nossa! Isso é ainda pior do que eu imaginava! — exclamou a mulher, surpresa.

    Fernanda suspirou, seu tom carregado de melancolia.

    — Sim, agora não sei o que fazer daqui para frente. Me pergunto se este mundo realmente precisa de mim. — disse Fernanda, olhando para baixo, com um sorriso sem emoção.

    A mulher a abraçou, afundando a cabeça entre seus seios e disse, com preocupação:

    — Por favor, não diga isso. Você é extremamente importante, tanto para mim quanto para todos aqui. — ela fez uma pausa, respirou fundo e mudou sua expressão para um sorriso carinhoso enquanto olhava para Fernanda. — Você é gentil, amorosa e extremamente competente quando necessário. Além disso, é a pessoa que eu mais amo e admiro neste mundo.

    Fernanda sorriu serenamente e se levantou, puxando a mulher para seu colo e envolvendo-a pela cintura.

    Olhando nos olhos dela, disse com carinho:

    — Eu deveria ser a grata aqui. Não sei o que seria de mim sem você e nossa filha.

    Surpresa, a mulher sentiu as bochechas corarem. Sem palavras, sorriu e elevou a mão até o rosto de Fernanda, acariciando-o suavemente até as orelhas.

    Em seguida, aproximou-se e a beijou. Tomada pela emoção, Fernanda elevou as mãos até os seios da mulher, acariciando os mamilos e fazendo-a gemer de prazer. Rapidamente trocaram de posição, com Fernanda por cima, e começaram a se esfregar suavemente uma na outra.

    Elas chupavam os seios uma da outra com delicadeza, trocando beijos longos e molhados, entregando-se ao prazer que as envolvia.

    ✥—————✥—————✥

    Na casa de Derek, seu corpo jazia no chão, inerte. Ele se sentia cada vez mais próximo do vazio, mergulhando em um abismo sem fim. Nesse estado, percebeu que nada havia mudado ao seu redor e começou a pensar que talvez a morte fosse isso: permanecer eternamente nesse limbo de pensamentos.

    De repente, um cheiro inusitado invadiu suas narinas, surpreendendo-o, pois desde que se tornou um morto-vivo, nunca mais havia sentido nada. À medida que o aroma se intensificava, tornava-se cada vez mais familiar. 

    Uma memória começou a emergir em sua mente: sua mãe preparando sua comida favorita. Movido por essa lembrança, ele se levantou e decidiu seguir o cheiro que o guiava.

    Logo encontrou uma mesa onde estava seu prato preferido. Embora a cena lhe parecesse estranha, seu olhar revelava um desejo inegável; aquilo parecia delicioso. Ele se lembrou de que não tinha paladar, mas mesmo assim sentiu o aroma vibrante da comida. Com um impulso quase instintivo, encostou o dedo na iguaria e levou-o à boca.

    Para sua surpresa, seu paladar havia retornado. Pensou que talvez essa fosse sua última refeição antes de cruzar para o pós-morte. Como um animal selvagem, abaixou o rosto em direção ao prato e começou a comer.

    “O que eu estou fazendo? Por que estou comendo assim? Ah, tanto faz! Isso está bom demais!”, refletiu enquanto devorava a comida.

    Quando abriu os olhos novamente, sentiu um sobressalto e recuou: ele havia voltado ao mundo real. O que estava comendo era o cérebro da morta-viva; todo aquele olfato e paladar eram apenas criações de sua própria imaginação.

     “Eu fiz de novo.”, pensou Derek, abalado. Sentindo-se um monstro, percebeu que era a segunda vez que comia algo desse tipo. Intrigado, começou a se perguntar se não teria algum fetiche oculto.

    Com as mãos sobre o rosto, tentou não encarar o que havia feito. De repente, surpreendeu-se ao afastar as mãos e lembrar que antes um dos braços estava quebrado e ele mal conseguia movê-lo. Agora, no entanto, percebeu que estava parcialmente curado; não completamente, mas o suficiente para se mover.

    Confuso com tudo isso, Derek se levantou e notou que seu movimento era levemente mais ágil do que antes. Ao puxar a calça para cima, viu que sua perna também apresentava sinais de cura. A confusão aumentou; ele não conseguia entender essa recuperação inexplicável.

    Uma memória repentina invadiu sua mente: o momento em que chegou a esse novo mundo e devorou uma humana. Ele começou a refletir sobre como talvez sua cura estivesse ligada ao ato de consumir humanos ou mortos-vivos. 

    Embora essa ideia lhe parecesse absurda, havia uma lógica inquietante por trás dela. Se comer mortos-vivos pudesse ajudá-lo a recuperar parte do que era antes — ou algo próximo disso — talvez valesse a pena considerar essa possibilidade.

    Ao olhar para o cérebro exposto da morta-viva parcialmente devorada, ele questionou essa ideia. Era repugnante e errada, mas um pensamento persistia: 

    “E se fosse realmente possível?”

     Nervoso e enojado, ele se sentou perto da morta-viva. Com hesitação e pequenos recuos, levou a mão até o cérebro dela. Arrancou um pedaço e levou até a boca, convencido de que esse seria o único jeito de encontrar uma solução.

    Esperando que o sabor fosse tão agradável quanto antes, decepcionou-se ao perceber que não sentiu nada: nem gosto nem textura; apenas um profundo nojo. Ele engoliu o pedaço sem notar qualquer efeito imediato. Pensando que talvez precisasse comer mais para sentir algo, acabou devorando todo o cérebro.

    Após longos momentos esperando por resultados, nada aconteceu. Confuso, começou a se sentir mal por sua decisão. Uma nova dúvida surgiu em sua mente: 

    “E se a cura só fosse possível após consumir o cérebro de uma criatura especial?” 

    Embora essa teoria parecesse improvável, Derek estava cada vez mais convencido dela.

    Por enquanto, algo muito mais importante precisava ser feito. Na cozinha, Derek viu sua mãe daquela maneira; memórias felizes e seu lindo sorriso passaram rapidamente pela sua mente, trazendo uma mistura de sentimentos conflitantes.

    Aproveitando-se daquela determinação temporária e da piedade momentânea, ele pegou a faca que estava no chão e usou contra sua mãe.

    ✥—————✥—————✥

    Derek não se sentiu mal pela escolha tomada; ao contrário, ele sentiu como se um grande peso tivesse sido removido de seus ombros. Em uma civilidade humana comum, isso seria inadmissível, mas já não estavam em uma civilidade humana comum, e sua situação não se encaixava no que seria considerado 𝙝𝙪𝙢𝙖𝙣𝙤. Derek estava confiante de que sua mãe havia encontrado paz onde quer que estivesse.

    Mais tarde, sentado no sofá da sala, ele se viu pensando no que viria a seguir. No meio desses pensamentos, ele pensou: 

    “Será que devo testar minha teoria?”

    Uma onda de pensamentos sombrios preencheu sua mente, sugerindo que ele matasse pessoas e criaturas e devorasse seus cérebros, assim podendo recuperar seu corpo e curá-lo por completo. Ele se perguntou sobre o destino que o aguardava e como sua mente ficaria se seguisse esse caminho.

    Com isso em mente, Derek pensou de forma esperançosa: 

    “Mas se isso for realmente possível, talvez eu deva…”, seu olhar se voltou para trás, onde viu o corpo de sua mãe. 

    As inúmeras dúvidas cessaram com um forte pensamento vindo do fundo de sua mente:

    “Não!”

    Isso o fez ficar em choque, questionando-se se, na verdade, ele já não teria se tornado um monstro por completo, de corpo e alma. Derek sentiu que talvez fosse o lugar onde estava, sua casa. O lugar cheirava a morte e tinha um ar melancólico. Para tentar se livrar desses pensamentos impuros, ele decidiu sair um pouco de casa.

    Um longo tempo de caminhada havia se passado, chegando próximo à hora dourada. Independentemente de onde fosse, não havia sinal de qualquer ser vivo. O que antes era um local vibrante e animado se transformou em um velho cemitério abandonado; plantas saíam das rachaduras do asfalto, casas estavam com vidros quebrados, portas arrombadas e algumas tinham tábuas de madeira tapando as janelas.

    Em vez das pessoas e animais que andavam pelas ruas, havia poucos mortos-vivos perambulando pelas ruas e fundos de casas. Em vários lugares, notavam-se os restos mortais de animais e pessoas jogados nas ruas. Naquele momento, tudo que Derek mais desejava era fechar seus olhos para escapar dessa paisagem horrenda, mas nem isso era capaz, já que suas pálpebras haviam se deteriorado por completo.

    Em desespero, ele se jogou no chão e encolheu-se, cobrindo a cabeça com os braços, tentando ignorar os horrores ao seu redor. Esvaziar a mente se tornou algo difícil. Um turbilhão de pensamentos caóticos dominava sua mente. Ele sentiu que viver já não tinha mais sentido, porque mesmo se sobrevivesse, tudo o que um dia ele amou já não existia mais.

    Seu objetivo de recuperar seu corpo estava sendo esmagado por uma escuridão, fazendo-o entrar em transe. Em meio a todo o desespero, um forte choramingo ressoou misturado aos ventos e chegou aos ouvidos de Derek, fazendo com que a escuridão que o consumia parasse. 

    “O que?”, pensou espantado.

    Os choramingos não cessaram. Isso chamou a atenção de Derek, que se levantou e seguiu o som. Quanto mais próximo, mais alto o som se tornava.

    ✥—————✥—————✥

    Derek chegou ao local de onde vinham os choramingos. Ele encontrou um cachorro ferido, atacado por um morto-vivo. A cena era brutal: o animal se arrastava no chão, ferido e desesperado, tentando afastar o ser sem vida que não recuava.

    Ele não ficou surpreso. Aquela situação já se tornava uma parte natural de sua realidade. Derek sabia que, independentemente do que fizesse, o animal acabaria morrendo. Mesmo com o som angustiante do cachorro ecoando em seus ouvidos, ele decidiu ignorar e se virou para voltar para casa.

    Nesse momento, uma voz forte e direta, surpreendentemente semelhante à sua, ecoou em sua mente: 

    “Covarde!”

    Derek parou e olhou para trás, mas não havia ninguém ali. Ele pensou que talvez estivesse ficando louco. Como a voz não se repetiu, decidiu continuar seu caminho.

    “Medroso!”, a voz ressoou novamente, agora em um tom mais alto.

    Ele olhou novamente para trás, mas a solidão persistia. A voz parecia insistir que ele voltasse para ajudar o animal ferido. Derek se sentia impotente, tomado pelo medo e um pouco de desespero. Queria ignorar essa voz e seguir com seu caminho solitário e triste.

    No entanto, o lamento do cachorro ressoava mais alto que seus próprios pensamentos. Ao observar a cena com clareza, Derek viu o animal lutando pela vida, mesmo prestes a sucumbir. Antes que pudesse pensar em ajudar, seu corpo começou a se mover sozinho. Sua compaixão e coragem superaram seu medo e desespero. Sem hesitar mais, ele caminhou em direção ao morto-vivo com uma determinação renovada.

    “Sim. Pelo menos ele eu consigo salvar.”, pensou Derek, motivado.

    Com isso em mente, ele agarrou o morto-vivo pelas costas, tentando segurá-lo para proteger o cachorro. Mas a diferença de forças era evidente: enquanto Derek parecia estar em processo de decomposição há meses ou até anos, o morto-vivo aparentava ter sido transformado há poucos dias.

    Ainda assim, Derek não desistiu. Para compensar sua falta de força, ele se jogou para trás e caiu no chão, levando o morto-vivo consigo. Aproveitando a oportunidade, o cachorro começou a se arrastar lentamente para longe da cena macabra, deixando um rastro de sangue pelo chão.

    O morto-vivo se debatia furiosamente. Derek envolveu seu peito com um braço e segurou o pescoço da criatura com o outro. Apesar da luta intensa, ele conseguia contê-lo. Enquanto lutava contra a criatura sem vida, o corpo do morto-vivo virou levemente seu rosto para o lado, e Derek finalmente viu quem era.

    Nesse instante, ele paralisou. O morto-vivo era um dos seus antigos algozes. Embora estivesse se tornando um deles agora, era inegável que aquele ser já havia sido humano — um humano que causou sofrimento a Derek no passado.

    “Não… Você… Alexandre!”, pensou Derek desesperado.

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