Na horda, com o tempo, o número de mortos-vivos diminuiu bastante. A maioria seguiu marchando em direção ao leste da cidade, enquanto outros poucos ficaram dispersos sem rumo.

    Isso facilitou o caminho para Derek, que agora podia se mover mais tranquilamente. Ele percebeu que os sons de disparos haviam parado, então seguiu mais aliviado, sem medo de ser atingido.

    Ao chegar perto de um dos prédios gêmeos, Derek viu um dos snipers caído entre uma pilha de mortos-vivos e vidro. Olhando para cima, logo teve uma ideia do que teria acontecido.

    “É, mais sorte em sua próxima vida, amigo” Pensou Derek com um leve sorriso.

    Derek continuou sua caminhada. Com o passar do tempo, ele percebeu que talvez seria muito mais difícil conseguir sua cura do que imaginava. Estava praticamente impossível encontrar um morto-vivo especial. Todos pareciam comuns. Além disso, ele ainda tinha mais um problema: a falta de um braço.

    Alguns dias atrás, antes de sair de casa, Derek tentou recolocar seu braço de diversas formas: fita, cola, amarrando com um pano, mas nada funcionou. Ele ficou desesperado, sabendo que isso tornaria sua caçada por especiais ainda mais problemática.

    Não tinha o que pudesse fazer, mas suas esperanças não morreram. Ele pegou o braço e o amarrou com uma corda, trazendo-o junto com a esperança de que, ao encontrar a cura, conseguisse recolocá-lo e se curar.

    Derek já estava ficando preocupado. Não sabia por que os mortos-vivos se deterioravam mais devagar que um cadáver comum. Pelo estado do mundo, era nítido que anos haviam se passado, e por isso não só ele, como sua mãe e os outros mortos-vivos ainda se mantinham de pé.

    Mas seu braço arrancado era diferente. Em pouco tempo, o processo de deterioração havia acelerado, seus músculos apodrecidos estavam se desfazendo rapidamente, e se não conseguisse a cura logo, talvez perdesse seu braço para sempre.

    O que o fazia temer. A vida já era difícil, mas ficar aleijado seria ainda pior. Com isso em mente, Derek aumentou sua velocidade de procura, buscando de dia e de noite.

    Mesmo no escuro e esbarrando em tudo e todos, ele continuava sua busca. Após longos três dias de procura, suas esperanças estavam quase zeradas. Sem muito o que fazer, entrou em um velho restaurante abandonado à procura. O lugar estava tenebroso, coberto de poeira e com uma atmosfera de dar arrepios.

    Nas mesas havia alguns mortos-vivos, alguns com roupas que pareciam ser chiques, com joias enferrujadas e cobertas de sangue e poeira. E tinha até um morto-vivo vestido de garçom, segurando uma bandeja sobre o braço. Mesmo com medo, Derek achou um pouco engraçada a situação.

    “Uau. É o primeiro restaurante de mortos-vivos que vejo. O cardápio de hoje é o que? Bife-podrê?” Pensou Derek rindo.

    Andando devagar, ele chegou à cozinha. Com uma faca na mão, avançou tentando vencer seu medo. Ao colocar a mão na porta, pensou brevemente em recuar, mas lembrou-se daquele ser obscuro que não deu as caras desde aquela vez. Lembrando de suas motivações, Derek acumulou determinação para abrir a porta.

    Ao fazer isso, centenas de ratos saíram correndo da cozinha de uma só vez. O coração de Derek quase voltou a bater com tamanho susto. Os mortos-vivos dentro do restaurante viram os ratos correrem para fora e, de forma selvagem, foram atrás deles, se arrastando e caminhando.

    O garçom deixou a bandeja cair, fazendo barulho, e seguiu com os outros. Após todos saírem, Derek continuou seu caminho e entrou na cozinha. Ela estava coberta por um manto de poeira, com panelas jogadas por todos os lados, manchas de sangue que pareciam ter sido deixadas há anos.

    No chão, havia fezes de ratos e baratas, e até diversos ratos mortos que pareciam ter prendido as caudas uns nas outras e se mordido até a morte. Embora Derek tenha se sentido decepcionado por não encontrar o que buscava, também se sentiu aliviado, sabendo que fosse pego de surpresa por uma variante de novo, não teria chance alguma.

    Quando se virou para sair, um forte som de panelas caindo ecoou na cozinha. Derek virou-se rapidamente com a faca apontada para frente, pensando que era um inimigo. Mas logo viu que era só um dos ratos entre as vasilhas, sentindo-se incrédulo.

    “Sua ratazana desgraçada!” Pensou Derek irritado. 

    Derek se dirigiu para fora do restaurante. Ele ainda não sabia o que fazer, mas quando estava prestes a seguir andando, do outro lado da rua, na laje de uma pequena loja, um morto-vivo se encontrava. Ambos trocaram olhares.

    Com essa fixação nos olhos, Derek logo percebeu do que se tratava. Ele se colocou em posição de luta, segurando a faca como se fosse uma adaga. O morto-vivo gritou lá do alto e pulou, caindo no chão. Derek se desesperou, pois um morto-vivo pular assim tão alto só significava que ele era forte.

    Mas não era bem o caso. Ao cair no chão, o morto-vivo quebrou os ossos do corpo, não conseguindo se mover. Derek ficou pasmo, sem acreditar. Ao se aproximar, viu que, mesmo com os ossos quebrados, o morto-vivo ainda continuava a abocanhar, e seus olhos estavam bastante arregalados.

    Sem hesitar, Derek travou a faca nos olhos do morto-vivo e fez força para empurrar, perfurando o cérebro. 

    “É isso aí, boa.” Pensou Derek animado, mas, em um instante, seu humor acabou. “Eu vou comer… isso?” Pensou enojado.

    Os poucos mortos-vivos em volta estavam agitados, como se sentissem comida por perto. 

    “Se eu conseguir me curar comendo isso, talvez eles também consigam.” Pensou Derek, observando o comportamento dos outros. “Melhor eu me apressar.”

    Usando a faca, Derek cortou o pescoço do morto-vivo e carregou a cabeça para dentro do restaurante, com o sangue escorrendo pelo chão. Derek entrou, fechou as portas e colocou a cabeça sobre uma mesa, andando e pensando no que faria agora.

    “Eu só como assim do nada? É para testar a teoria, mas… comer assim do nada?” Pensou Derek desesperado. Embora não estivesse preparado, seu tempo era pouco. Mortos-vivos se juntaram às portas do restaurante e começaram a tentar passar, empurrando cada vez mais.

    Percebendo isso, Derek resolveu agir, apostando tudo em sua teoria. Agarrou a faca, abriu o crânio e arrancou o cérebro de lá. Rapidamente, ele jogou a faca para longe e começou a comer. 

    “Nojento.” Pensou Derek na primeira mordida. Embora não sentisse dor, cheiro ou gosto, só de ver ele já sentia nojo por tudo aquilo.

    À medida que foi comendo, a memória de uma comida veio à mente: era de quando ele comeu espaguete em um restaurante italiano quando pequeno, lembrando até do gosto. Isso ajudou a se livrar brevemente da sensação nojenta.

    Após algumas mordidas, a sensação calorosa voltou ao seu corpo. Sua teoria estava certa, o que o deixou contente. Derek rapidamente pegou seu braço, que estava amarrado, e engatou-o. Ao fazer isso, enquanto comia, ligamentos, tendões, músculos e pele se formaram, e o braço voltou.

    Segundos se passaram. Derek parou de comer por um momento e abriu e fechou a mão. Seus olhos se arregalaram em um misto de incredulidade e horror. Ele percebeu que havia colocado o braço de maneira errada, o que permitia movê-lo livremente pelas costas, como se estivesse na parte da frente. A visão grotesca só intensificava o cenário sombrio ao seu redor.

    Mas Derek não se deixou abater. Aproveitando que seu corpo estava envolto em uma sensação de calmaria e calor, ele agarrou o braço com força. Sentiu uma angústia esmagadora enquanto torcia o membro, até ouvir o som sinistro dos ossos se encaixando corretamente.

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