Derek estava paralisado pelo medo. As palavras daquela criatura ecoavam em sua mente, misturando-se à confusão que o dominava. O terror o esmagava, tornando difícil distinguir se aquilo tudo era real. Estava em choque, incapaz de mover um músculo, enquanto sua mente lutava para processar o que estava acontecendo.

    Os minutos arrastavam-se, até que a lua, antes oculta por densas nuvens, enfim se revelou, banhando a cidade com sua luz prateada. O brilho suave parecia quase surreal, como se o céu estivesse tentando oferecer algum consolo em meio ao caos.

    A escuridão que envolvia a noite começou a ceder lentamente diante do brilho lunar. A claridade revelava, pouco a pouco, o horror ao redor. Os mortos-vivos haviam retomado sua marcha, movendo-se de forma sinistra pela paisagem iluminada. Seus passos arrastados e grunhidos baixos criavam uma sinfonia macabra que ecoava pelas ruas desertas.

    Com a luz prateada se espalhando ao seu redor e a lua brilhando majestosa no céu, Derek ergueu os olhos para contemplá-la. Por um breve instante, seus pensamentos turbulentos desapareceram, como se aquela visão trouxesse um momento de paz em meio ao caos. Majestosa e reluzente, a lua parecia oferecer uma nova luz de esperança.

    Com o reflexo do brilho lunar em seus olhos mortos, Derek pensou, com determinação renovada:  

    “É isso. Não posso continuar assim. Minha jornada está apenas começando. Não vou deixa que ele me derrube. Não de novo. Preciso avançar.”

    Sem hesitar, ele caminhou em direção à luz do luar, determinado a enfrentar seu medo. Cada passo parecia mais firme, como se a luz da lua estivesse guiando-o para um destino que ele ainda não compreendia completamente.

    ✥—————✥—————✥

    Enquanto isso, no hospital, os corredores escuros revelavam paredes e chão manchados de sangue, testemunhas silenciosas de um massacre recente. O cheiro metálico impregnava o ar, misturado ao odor pútrido dos mortos-vivos que vagavam pelas sombras.

    Um grupo de sobreviventes lutava desesperadamente contra os mortos-vivos que surgiam das sombras. Seus equipamentos improvisados denunciavam a falta de preparo: alguns usavam proteções que mais pareciam feitas de materiais recicláveis, enquanto a maioria vestia apenas suas roupas do dia a dia. Armados com ferramentas adaptadas: lanças com lâminas de faca amarradas na ponta, facões, machados e pés de cabra. E iluminados por lanternas, eles tentavam manter a linha de defesa.

    O som de grunhidos e o tilintar das armas preenchia o ar pesado e sombrio. A cada movimento, a adrenalina pulsava em suas veias, enquanto lutavam para sobreviver. Gerald, o líder do grupo, mantinha-se à frente, seus olhos atentos a cada movimento nas sombras.

    — À direita! Cuidado! — gritou Gerald, desferindo um golpe certeiro no pescoço de uma criatura com seu facão, enquanto seu revólver permanecia preso à cintura. O sangue escuro da criatura espirrou, manchando sua camisa já suja.

    Os mortos-vivos aumentavam em número, e a escuridão tornava cada vez mais difícil enfrentá-los, mesmo com as lanternas. No meio da confusão, uma jovem mulher chutou uma porta, iluminou rapidamente o interior e, ao verificar que estava limpa, gritou:

    — Venham, por aqui! — acenou desesperada, sua voz tremendo de medo.

    Imediatamente, o grupo correu em direção à sala vazia. Mas um dos sobreviventes, que estava mais afastado, tentou alcançar a sala e foi atacado por algo que surgiu das sombras, abocanhando seu calcanhar e o derrubando no chão.

    — Tio Lúcio! — gritou a jovem, tentando avançar até ele, mas Gerald a agarrou e a empurrou para dentro da sala, escoltando os demais.

    O homem ferido começou a se arrastar, mas, ao se aproximar da porta, Gerald o chutou, fazendo-o cair para trás.

    — Irmão… por quê? — murmurou o homem, com sangue escorrendo do nariz e da boca.

    Gerald, com o olhar carregado de dor, respondeu enquanto fechava a porta:  

    — Eu sinto muito.

    Assim que a porta se fechou, os mortos-vivos se lançaram sobre o homem. Em seus últimos segundos de vida, ele viu sua mão ensanguentada tentando alcançar a porta, enquanto o brilho de seus olhos se apagava e os mortos o devoravam.

    Dentro da sala, Gerald permaneceu parado diante da porta, ouvindo os gemidos de seu irmão desaparecerem e o som da carne sendo dilacerada. Os sobreviventes ficaram em silêncio, lamentando a perda de Lúcio e de tantos outros. 

    A jovem, encolhida e com lágrimas nos olhos, murmurou:

    — Você o matou… Ele está morto agora…

    Gerald, de costas para o grupo, limpou as lágrimas que escorriam pelo rosto. Ele suspirou profundamente e disse:  

    — Foi necessário. Ele estava infectado.

    — E daí?! Se tivéssemos cortado a perna dele, ele… — começou a jovem, elevando o tom de voz, misturando fúria e tristeza.

    Gerald se virou rapidamente, seus olhos carregados de culpa e remorso, e gritou: 

    — Você acha que eu queria fazer isso?! Como ele sobreviveria nesse estado, perdendo sangue constantemente?! Ele era o meu irmão! — sua voz ecoou pela sala, misturando-se ao som abafado dos mortos-vivos do lado de fora. 

    Ele apertou os punhos com força, como se tentasse conter a dor que o consumia, enquanto seu peito subia e descia em respirações pesadas.

    Por um momento, o silêncio tomou conta da sala. A jovem, ainda encolhida no canto, olhou para Gerald com olhos marejados, incapaz de responder. As palavras dele haviam atingido um ponto sensível, e ela sentiu o peso da culpa e da tristeza se misturarem em seu coração.

    Gerald desviou o olhar, fixando-o no chão ensanguentado. Ele parecia perdido em seus próprios pensamentos, como se estivesse revivendo cada momento que o levou àquela decisão. 

    — Eu não tive escolha… — murmurou, quase para si mesmo. — Se eu hesitasse, todos nós estaríamos mortos agora.

    A jovem, ainda lutando contra as lágrimas, tentou falar, mas sua voz saiu trêmula: 

    — Mas ele… ele poderia ter tido uma chance… — ela abaixou a cabeça, incapaz de sustentar o olhar de Gerald.

    Gerald deu um passo à frente, sua postura firme, mas seus olhos revelavam a dor que ele tentava esconder. 

    — Uma chance? — ele balançou a cabeça, incrédulo. — Você viu o que aconteceu lá fora. Eles não dão chances! Eles não esperam! E eu não podia arriscar a vida de todos por uma esperança que não existia!

    O som dos mortos-vivos do lado de fora parecia aumentar, como se estivessem atraídos pela tensão dentro da sala. Gerald olhou para a porta, sua expressão endurecendo. Ele se virou para a jovem e se ajoelhou proximo a ela e disse:

     — Eu sinto muito, Amanda. Mas eu faria de novo, se fosse necessário. — ele colocou a mão no ombro dela, tentando transmitir alguma forma de conforto. — Não se esqueça do motivo pelo qual estamos aqui. Prometi à minha irmã e ao seu pai que te protegeria. E eu vou cumprir essa promessa, custe o que custar.

    Amanda levantou o olhar para Gerald, vendo a determinação em seus olhos. Apesar da dor, ela sabia que ele estava fazendo o que acreditava ser certo. Ela assentiu lentamente, embora seu coração ainda estivesse pesado.

    Gerald virou-se para o grupo, que permanecia em silêncio, cada um perdido em seus próprios pensamentos. 

    — Transformem essa tristeza em força. Não podemos nos dar ao luxo de lamentar agora. Precisamos sobreviver. — ele olhou para cada um deles, sua voz firme. — Descansem. Sairemos em breve. E desliguem as lanternas. Elas estão atraindo muitos deles.

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