Capítulo 18 - Hospitais Nunca São Seguros
Derek parou em frente ao hospital, encarando uma pequena escada com cinco degraus desgastados. Ele hesitou por um instante, sentindo a dúvida apertar em seu peito. A ideia de recuar passou pela sua mente, mas ele sabia que não havia outra escolha. Respirou fundo e começou a subir, embora cada passo parecesse intensificar sua inquietação. Ao chegar ao topo, as portas de vidro destruídas confirmavam o abandono do lugar.
Vasos de flores quebrados ladeavam a entrada, agora tomados por vinhas que se agarravam às paredes. Derek apertou os punhos com força, tentando reunir coragem para seguir adiante. Cada passo era lento e calculado, o som de seus pés ecoando sobre o chão cheio de estilhaços. Reflexos distorcidos de sua imagem nos pedaços de vidro faziam com que ele se sentisse desconectado, quase irreconhecível.
Ao entrar, encontrou a sala de recepção envolta em uma luz fraca que lutava para atravessar as fendas nas paredes. Papeis amarelados e objetos estavam espalhados pelo chão coberto de poeira. Num canto, havia um sofá rasgado, suas almofadas largadas ao redor. O balcão de recepção estava marcado por arranhões e repleto de pilhas desordenadas de papeis e canetas quebradas.
As paredes estavam descascadas, sujas, decoradas com quadros tortos, seus vidros perigosamente quebrados. Próximo ao centro da sala, um vaso jogado deixava claro que as flores já estavam mortas há muito tempo. Ao lado dele, uma cadeira de rodas com uma das rodas completamente entortada se destacava.
No meio do caos, os corpos eram a visão mais perturbadora. Roupas rasgadas e vermes moviam-se entre os ossos expostos, enquanto o cheiro de decomposição tomava o lugar. Manchas de sangue seco se espalhavam pelo chão e pelas paredes. Derek observava tudo em silêncio, enquanto sua mente tentava processar o horror.
Para aliviar a tensão, ele brincou consigo mesmo.
“Hum… Lugarzinho bom para curar minhas feridas.”
Foi quando um som agudo ecoou inesperadamente, paralisando Derek no mesmo instante. Ele congelou, incapaz de reagir por alguns segundos. Tremendo, puxou a faca do bolso e segurou firme com as duas mãos. Movendo-se cautelosamente pela recepção, tentou localizar a origem do som.
Finalmente encontrou: gotas de água pingavam do musgo que cobria o teto, formando uma pequena poça no chão empoeirado. Ele olhou incrédulo para aquilo e se agachou, cobrindo o rosto com as mãos.
“Porra, cara. Todo esse espanto por causa de uma gota d’água? Sinceramente, você já foi melhor…” pensou Derek com um misto de alívio e frustração.
Sabendo que não podia ficar parado, Derek respirou fundo e ergueu-se. Avaliou os arredores e percebeu que havia dois corredores à sua frente: um à esquerda, outro à direita. Ambos eram envoltos pela escuridão, e suas paredes exibiam manchas de sangue que tornavam a escolha ainda mais difícil.
Entre eles, havia um elevador envelhecido. Ele caminhou até o aparelho e tentou apertar o botão. A poeira e a ferrugem acumuladas indicavam que estava inutilizável. Ainda assim, Derek pressionou repetidamente, como se sua insistência pudesse fazer o mecanismo funcionar. Quando nada aconteceu, ele desviou sua atenção de volta aos corredores.
Depois de alguns segundos de reflexão, ele olhou para o corredor à direita.
“Que seja. Vamos ver o que tem nessa bagaça.”, pensou Derek decidido, avançando para o corredor.
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O corredor escuro parecia engolir qualquer vestígio de luz, forçando os olhos de Derek a se ajustarem à escuridão absoluta. Ele tentava avançar com cuidado, mas cada passo parecia traiçoeiro. Não demorou muito para que tropeçasse em algo invisível no chão e caísse de forma desajeitada. Irritado, ele se levantou e começou a caminhar com as mãos encostadas nas paredes, buscando uma estabilidade precária enquanto tocava no escuro.
Foi então que algo inesperado chamou sua atenção: pontos esbranquiçados começaram a brilhar à frente, como pequenos farois na escuridão. Derek fixou o olhar neles e rapidamente percebeu que não eram reflexos aleatórios, mas olhos que pareciam observá-lo. Por um momento, pensou em recuar, mas antes que pudesse dar meia-volta, um som baixo e arrastado ecoou pelo corredor. Ele congelou. Era um gemido, familiar e inconfundível. Mortos-vivos.
Um misto de alívio e tensão o percorreu. Ainda que fossem perigosos, pelo menos eram algo que ele já conhecia. Ajustando a postura, Derek continuou avançando, mas o caminho permanecia traiçoeiro. Objetos espalhados pelo chão o faziam tropeçar constantemente, mesmo com todo o cuidado. Quando menos esperava, o pé prendeu novamente em algo, e ele caiu com força no chão.
“Merda.”, pensou Derek, irritado.
Ao tentar se levantar, sentiu algo estranho debaixo de si. Seus olhos se fixaram em um cadáver que estava ali, inerte. O choque inicial fez com que ele se afastasse rapidamente, mas logo percebeu que não havia motivo para tanto alarde.
“Sério, cara? Assustado com um simples cadáver?”, pensou Derek, tentando recuperar o foco.
Ele voltou a observar o corpo com mais atenção. Algo parecia diferente. Ao contrário dos outros cadáveres que havia visto, aquele parecia fresco, sem os sinais habituais de podridão. Intrigado, começou a vasculhar o corpo em busca de algo útil. Seus dedos deslizaram pelas roupas até que pressionaram algo sólido. De repente, uma luz fraca se acendeu. Era uma lanterna.
Um pequeno sorriso de alívio surgiu em seu rosto. Finalmente, algo que poderia ajudar. Ele segurou a lanterna firmemente, iluminando ao redor. O que a luz revelou, no entanto, não era nada animador: o chão estava coberto por manchas de sangue, objetos abandonados e mais cadáveres espalhados de forma desordenada. O cheiro de morte e putrefação parecia ainda mais intenso agora que ele podia enxergar os detalhes.
“Era melhor ter continuado no escuro.”, pensou Derek, em tom de sarcasmo.
Quando voltou sua atenção para o cadáver, notou algo familiar. Era um dos sobreviventes que haviam passado pelo hospital dias antes. Apesar disso, não encontrou nenhum sinal de arma ou pistas sobre o som dos disparos que ouvira antes. Suspirando, ele percebeu que ainda tinha muito a descobrir.
Com a lanterna em mãos, Derek iluminou o caminho por onde tinha vindo, mas já não conseguia ver a entrada. A combinação de curvas e escuridão havia apagado qualquer referência. Virar para trás seria perda de tempo. Com um último ajuste na lanterna, ele apontou o feixe de luz para a frente e seguiu em frente. Porém, antes mesmo de dar alguns passos, a lanterna piscou, um aviso claro de que a bateria estava chegando ao fim.
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