Capitulo 2 – Ressurreição
Muito tempo se passou. Em meio a uma grande escuridão que não se conseguia ver nada além do seu próprio corpo, o jovem estava deitado, adormecido.
De repente, sentiu um arrepio ao ouvir uma voz familiar ecoar em sua mente:
— Desperte… Derek!
Derek, esse era o nome do jovem, e a voz que o chamava era claramente a de Stefany. Ao abrir os olhos, ele ficou surpreso e levantou lentamente.
— Então, esse é o pós-vida? — ele murmurou, sentindo o chão frio e liso sob seus pés enquanto olhava em volta, boquiaberto.
A escuridão parecia não ter fim, como se estivesse preso em um lugar sem luz. Mas algo não fazia sentido. A voz que o chamava era definitivamente a de Stefany.
Com o coração batendo forte, Derek começou a correr, gritando pelo nome dela com todas as suas forças.
— Stefany!!! Onde você está? — ele chamou repetidas vezes, com sua voz ecoando na solidão em volta.
Tudo havia sido em vão; tudo que podia ouvir era o eco de sua voz ressoando pela escuridão densa. Derek sentiu que isso era um castigo de Deus, uma punição cruel e sem fim.
Muitas vezes ele havia pensado no que viria após a morte, mas não chegou a imaginar que enfrentaria um vazio profundo e sufocante.
Sentado no chão, suas memórias começaram a passar diante de seus olhos enquanto refletia sobre sua vida. Incontáveis perguntas lhe ocorreram durante esse momento solitário de reflexão.
— Vivi minha vida sem descobrir seu verdadeiro sentido; qual será ele? — perguntou, com a angústia apertando seu coração.
E então, outra dúvida surgiu:
— Será que meus pais estão por aqui?
A solidão parecia pesada, como se cada pergunta ecoasse na escuridão à sua volta. Depois de muito pensar, Derek começou a se lamentar e a chorar.
Até esse momento, ele não fazia ideia de quantas horas tinham se passado. Nem dormir ele estava conseguindo.
Ele já não aguentava mais estar naquele lugar. Levantando-se, gritou em desespero, mas não adiantou.
Depois de tanto choramingar, assim como na luta para sobreviver no mundo dos mortos, ele teve que aceitar seu destino.
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Para não sucumbir à loucura, Derek fez tudo que era possível para se entreter, desde memorizar tudo que já aprendeu na vida até conversar sozinho.
A essa altura, ele nem sabia o tempo que havia se passado. Bem, não era como se ele pudesse contar, afinal, nesse lugar não havia nada, nem mesmo roupas. Derek estava completamente nu.
Mesmo se concentrando o máximo possível com brincadeiras e estudos, a loucura vinha aos poucos. Começou com vozes desconhecidas; logo parecia que ele estava sendo perseguido por seres invisíveis.
Chegando em um ponto em que não aguentava mais, enquanto tremia e chorava de medo no chão, ele se ergueu e gritou usando todas forças que acumulou:
— Eu quero sair daqui!!! – sua mente enfraquecida fez com que seu corpo caísse no chão.
Não lhe restava mais nada; toda esperança que um dia ele teve de poder sair se foi. Permaneceu em um estado vegetativo por um longo tempo. Não pensava e nem se movia; era como se apenas a casca estivesse ali e a sua alma estivesse sendo apagada da existência.
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Em meio a densa escuridão em que permaneceu imóvel, uma pequena luz no formato circular formou-se. Seus olhos, que estavam abertos e fixados em nada, refletiram essa luz. No fundo de sua mente, algo que ele não sentia há muito tempo voltou a se erguer: a esperança.
Pôde tomar seus sentidos de volta e, sem medo, se arrastou pelo chão até esse círculo de luz brilhante. Ergueu sua mão até ele; foi quando a luz se expandiu e iluminou tudo em volta. Seus olhos brilharam como nunca, e seu rosto, que antes era sombrio e sem vida, sorriu como nunca antes.
Enquanto Derek era lentamente guiado pela luz, no fundo do vazio, cinco silhuetas o observavam e sorriam.
A luz desapareceu, e sua visão estava turva. Conforme sua visão se ajustava, ele começou a olhar em volta e se deparou com uma cidade em ruínas: pequenas plantas e raízes saíam do asfalto, carros com a pintura envelhecida e vidros quebrados estavam em um engarrafamento, e prédios cobertos por plantas e musgo. Era como se décadas tivessem se passado.
Não querendo acreditar no que seus olhos viam, Derek abaixou a cabeça. Ao fazer isso, viu um rosto parcialmente destruído, sem pele e olhos, bem abaixo de si. Apavorado, ele se jogou para trás e caiu de costas no chão.
Derek ficou espantado; a imagem do que viu se prendeu em sua mente, assombrando-o.
Ele podia ouvir o som de passos se aproximando. Derek olhou para trás para ver quem era, mas o sol estava bem atrás dessa figura, tornando impossível identificá-la. Vendo que não estava sozinho, Derek se acalmou e estava prestes a pedir ajuda, mas o sol se escondeu atrás das nuvens, revelando que aquela figura não era bem uma pessoa, e sim um morto-vivo.
Sabendo que não conseguiria fazer nada, Derek esperou sua morte enquanto encarava a criatura nos olhos. Felizmente, a criatura parecia não se importar com ele e seguiu andando. Derek ficou aliviado, mas ainda estava com medo.
Ele tentou se levantar para se esconder. Ao tentar, ouviu o som de algo se quebrando; era o som de um dos seus braços. Por instinto, Derek tentou gritar, porém só saiu um gemido forçado.
Passaram alguns segundos, e Derek percebeu que não estava doendo; a dor era psicológica. Ele não havia entendido o porquê disso. Ao olhar melhor para o seu braço, percebeu que sua pele estava cinzenta e havia feridas.
Derek se assustou e, em desespero, procurou algo ao seu redor que pudesse refletir sua imagem. Não muito distante, havia uma loja cuja vidraça poderia refletir sua imagem. Juntando forças, ele se arrastou até lá.
Apoiando-se sobre a parede da frente da loja, conseguiu se erguer e ficar de pé. Com isso, ele se viu com clareza.
O que viu era algo grotesco: sua pele estava cinzenta e necrosada, parte de seu cabelo havia caído, seus dentes, que eram brancos, estavam amarelos e pretos, e por todo seu corpo havia sinais de mordidas e feridas enormes. Seus olhos, que antes eram castanhos, haviam ficado verdes. Estava nítido para ele que havia se tornado um deles, um morto-vivo.
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