Capítulo 20 - Hospitais Nunca São Seguros - Parte 3
Ele continuou a caminhar. Porém, a iluminação do sol durou pouco — já estava no entardecer.
Conforme a luz era ofuscada pelas sombras, Derek se desesperava e o medo voltava a consumi-lo ao se imaginar na escuridão total novamente.
Ele se apressou a fim de encontrar um lugar tranquilo onde poderia ficar sem muito se assustar.
Ele olhou de quarto em quarto. Aqueles que pareciam tranquilos, estavam trancados e os abertos estavam cheios de morte.
Passando por curvas e saindo do alcance do que restava da luz do dia após passar em um corredor onde não tinha janelas.
Já na escuridão, o medo vinha abraçado a Derek.
O lugar estava bem quieto, com o único som dos baixos gemidos dos mortos-vivos.
Derek tentou manter seus pensamentos em outro lugar. Ele reviveu em sua mente os dias que passou com Stefany e imagina o reencontro com ela.
De repente, o som estridente de um trovão o fez sair desse mundo de ilusão, trazendo de volta a realidade.
Lá fora, o vento soprava forte, balançando as árvores. Os clarões iluminavam rapidamente as nuvens carregadas.
E enfim, pequenas gotas caiam do céu. A chuva começou cair, limpando a poeira e o sangue das ruas.
Derek conseguia escutar o som da chuva batendo no chão de dentro do hospital. Se fosse em outro momento, ele iria amar pensar enquanto ouvia o som dela.
Mas nesse momento, ele odiou. Além de atrapalhar sua bela ilusão, no lugar onde estava, junto da chuva e de trovões, isso causava um medo ainda maior.
Com isso em mente, ele se apressou a fim de encontrar um quarto seguro.
Como não sentia o toque, ele caminhou enquanto batia na parede, fazendo barulho, assim saberia quando encontrar um quarto.
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Muito tempo se passou, e os trovões cessaram e a chuva diminuiu.
A busca de um lugar para ficar estava indo mal. Todas as portas que ele encontrou estavam trancadas.
Mesmo se ele ficasse parado esperando o dia chegar, não adiantaria, a luz não alcançava aquele lugar, ele estava prestes a surtar.
Antes que perdesse a cabeça por completo, uma luz vermelha refletiu em seus olhos.
Um pouco a frente tinha uma porta e a luz vermelha atravessava por baixo e pela fechadura.
Derek se alegrou.
Ficando em frente a porta, ele se imaginou entrando e acenando para os sobreviventes como se fosse parte dele, e de imediato, apontaram armas para sua cara e começaram a disparar.
Só de pensar nisso, deu um passo para trás. Logo, ergueu a mão e, com pequenos recuos, bateu três vezes.
Feito isso, ele caminhou mais rápido que conseguiu com medo de que realmente tivesse alguém.
Aguardou por dois minutos. Ninguém chegou a abrir.
Assim, deduzindo que não havia ninguém, ou que estivessem todos mortos.
Derek abriu a maçaneta devagar, permitindo que a luz atravessasse e iluminasse seu rosto. Dentro do quarto, viu macas vazias e um armário de metal.
Ele entrou.
A luz vinha de uma lâmpada vermelha fixada em uma das paredes, conferindo ao ambiente um aspecto assustador. Derek se perguntou o que era aquele lugar e como havia luz.
Sem que ele soubesse, o hospital contava com placas solares no teto. Muitos quartos e salas tiveram seus fios cortados por ratos ou as lâmpadas queimaram com o tempo, por isso o restante do local estava sem energia. Aquela sala, no entanto, teve a sorte de manter uma lâmpada tão resistente.
O lugar era frio. Mesmo sem sentir, Derek percebeu isso ao observar as macas metálicas.
No armário, Derek notou algo que parecia uma neblina. Era possivelmente de lá que vinha o frio.
Embora fosse o único lugar iluminado ao seu alcance, ele estava apavorado. Tudo ali era aterrorizante.
Pensou que talvez fosse uma geladeira para armazenar alimentos hospitalares, mas estava muito enganado.
Decidiu abrir uma das portas. Assim que fez isso, uma neblina gelada escapuliu, dificultando a visão do interior.
Enquanto a neblina se dispersava, um de seus olhos começou a congelar. Ele viu brevemente a visão embaçar e rapidamente tapou o rosto com um braço, afastando-se.
Quando a neblina se dissipou, Derek percebeu que não se tratava de uma geladeira de alimentos; eram as câmaras mortuárias do necrotério.
Ele avistou um corpo nu de um homem coberto por feridas e queimaduras. Uma possível vítima de incêndio. O corpo estava pálido e não exalava odor ou qualquer sinal do vírus.
Derek sentiu uma onda de decepção; estava farto de encontrar corpos.
Ao olhar mais de perto, notou uma etiqueta presa ao polegar do cadáver. Ao se aproximar, viu que havia um número acompanhado de uma letra. Ele puxou a etiqueta e observou com atenção.
Foi então que lembrou de um episódio de uma série em que essas etiquetas estavam relacionadas à pertences e resultados de autópsias.
Derek olhou ao redor e avistou um pequeno armário. Quando se aproximou para abrir, percebeu que as portas estavam trancadas.
“Ah, que saco.” Pensou desapontado.
Mas não se deixou vencer pela frustração. Pegou suas facas e começou a bater na fechadura, tentando quebrá-la.
O som das lâminas ressoava pelo necrotério e pelos corredores escuros. Foi então que, em algum lugar sem iluminação, um par de olhos se abriu, despertos pelo barulho.
Após repetidas batidas, a fechadura finalmente se quebrou. Derek deu um pulo de emoção e olhou por cima do armário, onde avistou um chaveiro com várias chaves.
Incrédulo, pegou uma das chaves e a fechadura quebrada, segurando-as em cada mão. Aproximou a chave da fechadura.
“Não pode ser a mesma. Não teria como deixarem as chaves aí”, pensou enquanto a chave se encaixava perfeitamente na fechadura “de cima…”
Apesar da adrenalina não deixar transparecer o cansaço, Derek sentiu uma leve irritação. Apertando os dentes, pensou:
“Se controla. Se controla.”
Tentando esquecer sua frustração, ele abriu o armário.
Dentro, encontrou cestos com etiquetas semelhantes àquela que tinha encontrado antes. Vasculhando-os, encontrou objetos como fotos, cordões e celulares ainda com bateria suficiente para usar suas lanternas.
Havia também pranchetas detalhando as mortes de cada um das câmaras mortuárias.
Uma mulher que se suicidou pulando de um prédio; uma criança mordida até a morte pelos pais; um idoso com parada cardíaca…
Dentre todos os itens, Derek encontrou a cesta correspondente à etiqueta. O nome do homem era Jorge Mateus; ele era bombeiro e havia morrido em um incêndio.
Ao levantar uma das folhas da prancheta, viu uma folha de jornal que trazia uma matéria sobre o bombeiro.
A matéria falava sobre um incêndio que ocorreu em 2021, quando um ataque terrorista em um hotel se espalhou rapidamente, atingindo diversos quartos.
Segundo testemunhas, o incidente aconteceu por volta das 21h. Muitas pessoas se feriram nas ruas devido às explosões que estilhaçaram as janelas e atingiram pedestres.
O local estava em completo caos. Era possível ouvir os gritos das pessoas em chamas dentro do hotel.
As chamas estavam densas, impossibilitando a entrada dos bombeiros. Foi então que Jorge, um jovem bombeiro recém-contratado, ficou indignado por não conseguir ajudar e decidiu entrar, desobedecendo às ordens de retirada de seus superiores.
Assim que ele entrou, uma explosão ocorreu na entrada. Todos pensaram que ele havia morrido ali, mas estavam enganados.
Menos de dez minutos depois de sua entrada, Jorge saiu carregando uma criança em seu ombro. A criança estava coberta pela roupa de proteção do bombeiro.
Após entregar a criança às autoridades, Jorge, ofegante e cheio de queimaduras pelo corpo exposto, caiu no chão. Ele foi levado rapidamente para o hospital, mas infelizmente não sobreviveu.
Embora muitas vidas tenham sido perdidas naquele incêndio, uma delas foi salva graças a ele.
A matéria terminava com a mensagem: “Nasce um Herói”.
Derek ficou impressionado com a coragem desse homem, que arriscou sua vida por alguém que nem conhecia.
“Esse cara… Eu me lembro dele.” Pensou Derek ao lembrar que tinha lido sobre o caso em seu celular. Na época, todos falavam sobre isso; a bravura dele era assunto nas redes sociais.
Enquanto olhava para o jornal, ainda admirado com a atitude de Jorge, um forte barulho vindo de uma das câmaras mortuárias o surpreendeu, fazendo com que deixasse a prancheta cair no chão.
O barulho continuou e Derek começou a ficar nervoso, imaginando se aquilo poderia ser assombrações. Afinal, não era como se o vírus dos mortos-vivos pudesse sobreviver a temperaturas tão baixas por tanto tempo… Ou poderia?
Derek se aproximou da câmara mortuária e o som cessou. Ele colocou a mão na porta e puxou devagar.
Ao abrir, uma névoa fria se dissipou. Preparado, Derek levantou o braço para proteger os olhos.
Enquanto a neblina se dissipava entre seus dedos, ele viu dois olhos brancos brilhando na escuridão da câmara.
De repente, algo saiu de dentro e acertou sua barriga, fazendo-o perder o equilíbrio e cair no chão.
“Mas o que foi isso?” Pensou Derek enquanto estava no chão.
Ainda deitado, viu uma sombra refletida nas câmaras; algo se aproximava. Ele inclinou a cabeça para cima e viu um bebê morto-vivo engatinhando em sua direção. Sua pele era pálida e gélida; seus olhos pareciam saber o que buscava e sua boca exibia pequenos dentes com baba escorrendo.
“Mas que porra é essa?” Pensou Derek incrédulo.
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