O lugar estava envolto em uma escuridão assustadora, com móveis velhos e empoeirados. Derek tentou acender a luz, mas já sabia que não conseguiria.

    O medo do que poderia encontrar o consumia. Da porta da sala, ele avistou a parede onde seu pai o havia encurralado. Ao se aproximar, ficou paralisado ao ver o corpo já decomposto, restando apenas os ossos.

    Uma vontade intensa de chorar surgiu, mas as lágrimas não vinham. No fundo, por trás de toda aquela tristeza, Derek sentiu um alívio ao perceber que seu pai não havia se transformado em um morto-vivo.

    Enquanto olhava ao redor, memórias felizes começaram a preencher sua mente, trazendo uma sensação de conforto por estar em casa novamente.

    Mas mesmo com esse aconchego, faltava alguém especial para Derek: sua mãe, a pessoa que sempre o acolheu sob suas asas. 

    Derek estava tomado pelo medo de vê-la e se recusou a ir à cozinha. Ele queria reunir coragem para se despedir da mãe, mas, em vez disso, subiu as velhas escadas. A cada passo, os degraus rangiam como se estivessem protestando contra sua presença. Ele passou pelo corredor escuro e entrou em seu quarto.

    A luz entrava pela janela, iluminando tudo. Exceto pela poeira que se acumulava, o quarto estava exatamente como ele havia deixado: a cama desarrumada e vários livros e jogos de videogame espalhados pelo chão. Estranhamente, mesmo com toda a bagunça, ele se sentiu acolhido ali.

    Ele caminhou até a cama e se deitou, sentindo o cheiro familiar do lugar. Na cabeceira, havia um espelho. Ao olhar para seu reflexo, ficou chocado ao ver o quanto estava sujo.

    “Jesus! Será que eu rolei em bosta?” Pensou, rindo da própria situação. 

    Uma lembrança de sua mãe o chamando a atenção por estar sujo na cama surgiu em sua mente. Naquele dia, ele se sentiu irritado com ela, mas agora, ao recordar, um calor nostálgico tomou conta dele. 

    “Como eu gostaria de ouvir ela me chamar de novo. Se minha mãe estivesse viva, com certeza ela ia querer que eu estivesse limpo.” 

    O desejo de agradá-la o atingiu como uma onda. Decidido a fazer algo a respeito, ele se levantou e foi em direção ao banheiro. 

    Ao abrir a torneira da pia, a água jorrou com força. Era um alívio ver que ainda havia água na casa; mesmo com os serviços parados após o fechamento das indústrias, a caixa d’água ainda estava cheia. Ele começou a encher a banheira e não pôde deixar de pensar que esse pequeno luxo era um presente do passado.

    Derek lutou para se despir. A camisa foi a parte mais difícil, pois seu corpo estava fraco, como o de um velho, e seu braço quebrado não ajudava em nada. Ao abaixar a calça, ela se desfez, deixando seu corpo exposto. Ele percebeu que estava descalço; seus tênis e meias provavelmente se perderam ou se desgastaram com o tempo que passou andando.

    Agora completamente nu, Derek olhou para seu corpo marcado por feridas. A boa notícia era que sua barriga estava intacta, sem arranhões ou mordidas. Ele se sentiu aliviado; seria horrível se algo estivesse vazando.

    Com muito esforço, ele conseguiu entrar na banheira. A água estava fria, mas Derek não sentiu a temperatura ou mesmo a sensação da água ao seu redor. Se não estivesse vendo, nem perceberia que estava ali.

    A banheira não era nem desconfortável nem confortável. A falta de tato significava muito para ele; na verdade, até sentia falta da dor. Memórias começaram a surgir em sua mente. Ele se lembrou de sua infância, do vento batendo em seu rosto enquanto corria, da temperatura das coisas ao seu redor e do simples toque dos dedos em diferentes superfícies.

    Conforme Derek passava o sabonete em seu corpo, a água escurecida descia pelo ralo da banheira, enquanto sua pele começava a ficar mais clara.

    ✥—————✥—————✥

    Derek saiu da banheira e se posicionou em frente ao espelho. Seu corpo, embora mais claro, ainda estava pálido e bastante necrosado. Mesmo sem sentir, o banheiro exalava um cheiro podre, resultado do estado de seu corpo. 

    Ao olhar no espelho, por um breve instante, Derek viu seu antigo corpo refletido. Não era o melhor dos corpos; era magro e fraco. Mas, de alguma forma, isso o fez se sentir bem.

    Já no quarto, Derek abriu o guarda-roupa e encontrou suas roupas bem conservadas. Ele vestiu peças que pareciam duráveis e calçou os tênis, tudo com extrema dificuldade por causa do braço lesionado. Ao se olhar novamente no espelho, um sentimento de vida pulsava dentro dele.

    Com o passar do tempo e ao entardecer, Derek finalmente reuniu coragem para ver sua mãe. Quando chegou à escada, parou abruptamente; o ambiente parecia muito mais sinistro. A casa tinha uma aura assombrada e gemidos ecoavam ao seu redor, aumentando seu medo.

    Os rangidos da escada eram horripilantes. A cada degrau que descia, a vontade de voltar correndo para o quarto crescia ainda mais.

    Ao chegar na cozinha, Derek não pôde esconder a surpresa; até mesmo seu rosto, que não costumava fazer expressões, demonstrava espanto.

    Ali, no chão, estava sua mãe, mas de uma forma totalmente diferente do que ele esperava. Ela havia se transformado em um morto-vivo. Derek caiu de joelhos, incapaz de acreditar no que via. Os olhos de sua mãe haviam sido devorados por larvas, e seu corpo estava 70% deteriorado.

    As lembranças do dia em que o surto de mortos-vivos começou invadiram sua mente. Seu pai não havia chegado a devorar o cérebro dela, permitindo que ela se tornasse aquilo.

    Derek se perguntou por que ela havia permanecido ali, imóvel; o tórax e os ossos da coluna dela estavam quebrados, impossibilitando qualquer movimento.

    Mesmo abalado, Derek não queria deixar sua mãe naquele estado. Ele pegou uma faca do armário da cozinha, ergueu-a acima da cabeça e tentou golpeá-la. No último instante, ele hesitou e curvou a lâmina, cravando-a no chão ao lado da cabeça de sua mãe.

    Mesmo em seu estado deplorável, Derek não conseguiu acabar com a vida dela. Para ele, ela ainda era sua mãe. Deprimido e derrotado, largou a faca ali e voltou para seu quarto.

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