Capítulo 6 - Perigo
As horas estavam se passando. Derek ainda permanecia em seu quarto, angustiado e com remorso por sua mãe. Vê-la naquele estado o fez teme-la; ele não conseguia nem mesmo sair do seu quarto.
No fundo, Derek sabia que teria de sair e mostrar misericórdia para sua mãe, mas ainda não era a hora.
Essa decisão o corroía por dentro; os sentimentos de dor, compaixão e amor se misturavam em sua cabeça, deixando-o louco. Para tentar cessar os inúmeros pensamentos, Derek se levantou da cama e foi até a janela olhar o céu.
Mesmo com o mundo em caos, o céu permanecia o mesmo: limpo de nuvens e com um sol radiante. Pássaros voavam em bandos. Comparados ao período antes do apocalipse, quando eram constantemente caçados e mortos pela poluição, agora eles tinham muito mais liberdade.
Apreciando essa vista, Derek conseguiu se esquecer de todos os problemas e preocupações que vinham se acumulando em sua nova vida.
O tempo passou voando, até chegar ao amanhecer do dia seguinte. Enquanto observava a rua e tentava bolar um jeito de encarar sua mãe, a morta-viva que o encarava antes, estava caminhando pelas ruas do seu bairro, chegando a parar em frente à casa de Derek.
Ela parecia ter sido infectada há pouco tempo; não havia sinal algum de podridão. Derek a notou e a observou enquanto ela permanecia parada por um longo tempo.
Derek estava ficando curioso. Quando estava prestes a se afastar da janela, a morta-viva moveu lentamente o rosto em direção à sua casa e ergueu o olhar até onde ele estava.
Derek achou estranho; os olhos brancos dela pareciam estar olhando diretamente para ele. Embora fosse estranho, pensou que ela poderia ter algum tipo de anomalia, assim como ele. Empolgado, criou coragem para sair do seu quarto e desceu para o primeiro andar.
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No primeiro andar, Derek escutou os baixos gemidos de sua mãe, o que o deixou triste. Ele passou apressado pela cozinha, tentando evitar a tristeza de olhar para os lados.
Finalmente, chegou à porta da sala. Por dentro, estava empolgado com a possibilidade de conhecer outro ser como ele.
Derek abriu a porta e foi surpreendido. A morta-viva estava bem em frente à porta. Sem tempo para reagir, ela deu um grito selvagem e avançou, atacando-o.
Espantado com tal ação, Derek tentou se manter em pé enquanto tentava afastar a morta-viva usando seu único braço bom. No entanto, devido ao seu corpo fraco, acabou sendo empurrado para trás.
Sem entender o porquê daquela agressividade, Derek buscou uma forma de escapar, mas a morta-viva não permitia que ele fugisse. Ela se jogou sobre ele, derrubando-o em cima de uma pequena mesa de vidro na sala de estar, quebrando-a.
Desesperado, Derek tentou se arrastar pelo chão para escapar. A morta-viva agarrou suas pernas e começou a escalar seu corpo. Seus olhos brancos demonstravam fúria; era como se ela sentisse raiva dele.
Ela mordeu suas costas, arrancando um pedaço. Derek não sentiu dor, mas se desesperou como se realmente estivesse sentindo.
No meio do desespero, lamentou o fato de viver tão pouco. Logo quando decidiu que queria viver, alguém veio para tirar sua vida. Ele parou de se debater e esperou calmamente pelo seu fim.
A morta-viva continuou mordendo suas costas em direção à sua cabeça de maneira selvagem. Derek lembrou da promessa que fez a si mesmo após lutar com aquele ser no vazio; de não deixar que tire seus sonhos e objetivos.
Uma chama ardente despertou forças dentro dele, fazendo-o tentar fugir mais uma vez, mas a morta-viva dificultava essa fuga. Ele avistou o corpo do seu pai logo à sua frente. Pensou que poderia usar os ossos para atordoá-la e escapar.
Esticou o braço tentando alcançá-los, mas estava longe. Faltando poucos centímetros para conseguir, a morta-viva escalou seu corpo e chegou até sua cabeça.
Olhando pelo canto do olho, Derek percebeu que aquele poderia ser seu fim.
“Merda!” Pensou Derek desesperado.
A morta-viva abriu a boca e mordeu sua cabeça, arrancando alguns de seus cabelos. Seu cérebro ficou exposto.
Ela viu e tentou abocanhar, mas no último segundo parou. Derek conseguiu alcançar os ossos e fincou um deles em um de seus olhos, atingindo seu cérebro e a matando.
Em desespero, ele se arrastou para sair debaixo dela e se encostou na parede, com sangue escorrendo de sua cabeça.
“Mas que merda foi essa?” Derek se sentiu confuso e com muito medo; recusou-se a se aproximar, pensando que ela poderia se reerguer e atacá-lo novamente.
Olhando a morta-viva de longe, viu que em sua boca havia cabelo e carne. Imediatamente levou a mão até a própria cabeça, encostando no cérebro exposto.
Sem comando algum, perdeu forças e caiu no chão. Ele havia tocado um nervo que controla os membros do corpo.
Com isso, Derek percebeu que seu cérebro estava à mostra. Ele não sabia o que fazer; antes já era difícil viver como um morto-vivo, mas agora um simples toque em seu cérebro poderia acabar de vez com sua vida.
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Vendo que a morta-viva não estava se movendo ou demonstrando qualquer sinal de vida, Derek se arrastou pelo chão até chegar nela.
Durante o percurso, sua visão ficou turva; parecia que ele estava perdendo a consciência. Ele se sentou próximo a ela e a observou.
Pela primeira vez, Derek não se sentiu culpado por matar um morto-vivo. Com essa nova experiência, ele soube que era matar ou morrer.
Olhando o corpo da morta-viva, percebeu que ela parecia normal; fisicamente, era parecida com qualquer outro morto-vivo.
Derek percebeu que, de fato, havia muita coisa que ele não sabia e que talvez existissem outros mortos-vivos como ela.
A visão de Derek começou a escurecer, levando-o para o vazio. A essa altura, ele percebeu que talvez essa fosse sua única chance por lá.
Sua morte era inevitável; afinal, nenhuma criatura conseguiria sobreviver com o cérebro à mostra.
Derek não se desesperou; ele já estava farto disso. Dessa vez, manteve-se calmo, aguardando sua morte. Seu único arrependimento era não ter dado misericórdia à sua mãe.
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Na horda, inúmeros mortos-vivos invadiram um dos prédios onde um dos snipers estava. Subiram as escadas e chegaram ao andar em que o sniper se encontrava. Ele se assustou; estava tão focado em acabar com os mortos-vivos à distância que nem percebeu quando eles entraram no prédio.
Em desespero, largou seu rifle de precisão e pegou um de assalto. Inúmeros projéteis foram disparados.
Porém, havia muitos mortos-vivos. O rifle de assalto ficou sem munição e, sem ter tempo de recarregar, os mortos-vivos o alcançaram e começaram a se juntar aos montes, pressionando-o contra a janela.
Por causa da roupa que ele estava usando, os mortos-vivos não conseguiam mordê-lo; mas devido ao grande número deles, o vidro da janela acabou cedendo e todos os mortos-vivos junto com aquele homem caíram do prédio.
No prédio ao lado, o segundo sniper que viu tudo pisou no chão com força, demonstrando raiva.
“Droga, Thiago!” Pensou o homem com raiva.
Ele abaixou a máscara e pegou um Hand-Talk que estava preso a um cinto na cintura. Pressionou o botão e disse:
– Atenção! Carlos na linha! Solicitando a permissão para cancelar a missão. O Thiago foi pego por eles! A missão de limpeza falhou! Repito: a missão falhou! – disse o homem chamado Carlos com as mãos trêmulas e com um misto de raiva e nervosismo.
Poucos segundos se passaram e o homem obteve resposta:
– Entendido, Carlos! Estamos enviando um helicóptero para te buscar. Vá para o topo do prédio!
Ouvindo as novas ordens, ele guardou seu equipamento e armas na bolsa e subiu as escadas.
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