Assim que entraram no escritório, a atmosfera mudou. O espaço era um salão amplo, mas envolto em sombras, com apenas algumas luzes fracas iluminando o ambiente.

    No centro, uma mesa oval dominava o local, ocupando um espaço que poderia facilmente acomodar dez pessoas. No entanto, a mesa estava desordenada, coberta por uma pilha de papéis amarelados e mapas detalhados do acampamento e das áreas circunvizinhas.

    Fernanda caminhou até a mesa e afastou alguns papéis, fazendo espaço para se sentar. Ela olhou para Damon, que permanecia em pé, no outro lado da mesa, com seu sorriso sarcástico.

    — Então — ela começou, sua voz soando firme apesar da luz fraca que projetava sombras em seu rosto — o que é tão urgente que não pode ser discutido na presença da equipe?

    — Nossa, você é direta. Nem mesmo me ofereceu um café. Vou levar pro coração. — disse Damon com tom irônico. — Que seja. Resumindo a situação: estamos fudidos! — disse com um tom mais sério.

    Um silêncio tomou conta da sala, com ambos calados, encarando um ao outro. O único som que se escutava era o das batidas de ferramentas que estavam do lado de fora.

    Damon respirou fundo, preparando-se para compartilhar seu relatório.

    — Fernanda, os recursos estão cada vez mais difíceis de conseguir. As coisas mudaram… e tivemos que fazer escolhas que não são exatamente humanas para garantir nossa sobrevivência.

    A líder franziu a testa, uma expressão de preocupação se formando em seu rosto.

    — O que você quer dizer com isso? O que exatamente vocês fizeram?

    Um sorriso maléfico surgiu nos lábios de Damon, como se ele estivesse saboreando o impacto de suas palavras.

    — Digamos que brincamos de piratas com eles.

    Fernanda olhou para ele, confusa.

    — Não… eu não entendi.

    Damon soltou uma leve risada, sua voz carregada de ironia e disse:

    — Feh, minha querida Feh. Você realmente vai se fingir de desentendida? — ele começou a se mover lentamente em volta da mesa, seus passos suaves como um predador em busca de sua presa.

    Fernanda o observava com olhos fixos, sem desviar o olhar.

    — Deixe-me ser claro — ele continuou, passando por trás da cadeira da líder — nós os matamos e tomamos seus recursos.

    As palavras cortaram o ar como uma lâmina afiada. Os olhos de Fernanda se arregalaram de surpresa, seu coração disparando à medida que a gravidade da situação se instalava. O choque a deixou paralisada por um momento, enquanto Damon continuava a falar.

    Sua voz carregada de um tom que misturava desprezo e satisfação.

    — Quer dizer, até tentamos conversar, mas eles se recusaram a nos ouvir. Um deles até apontou uma arma para mim. — ele fez um gesto dramático, se fazendo de coitado, como se estivesse revivendo o momento. — Aí eu não tive outra escolha. Foram todos fuzilados.

    Ele ergueu a mão aberta, olhando para ela com um brilho quase insano nos olhos antes de apertá-la em um punho fechado. A expressão em seu rosto mudou, e ele começou a fazer uma cara de prazer ao lembrar-se da cena.

    — Você tinha que estar lá, os gritos… Ai, aquilo me fez sentir tão bem. As pessoas pedindo clemência enquanto eram fuziladas, aquilo era—

    — Já chega! — exclamou Fernanda, interrompendo Damon com um tom firme e autoritário. O choque na voz dela ecoou pela sala, interrompendo o deleite dele com uma realidade que parecia distante.

    Ela se levantou da cadeira, encarando Damon com uma mistura de fúria e incredulidade.

    — Você não pode simplesmente falar sobre isso como se fosse um jogo! Essas são vidas que você está desprezando!

    Damon sorriu, mas havia uma frieza em seus olhos que contrastava com a indignação dela.

    — Ah, mas você não entende, Feh. No nosso mundo, ou você come ou é comido. E eu prefiro ser o predador.

    Fernanda sentiu um nó se formar em seu estômago ao ouvir isso. Ela sabia que eles estavam em uma situação desesperadora, mas a maneira como Damon falava sobre a morte e o sofrimento a deixava enojada.

    — Isso não é quem nós somos. — ela disse firmemente, sua voz tremendo de emoção. — Se nós perdermos nossa humanidade nesse processo, então já estamos condenados.

    Damon deu um passo à frente, desafiando-a.

    — Então você acha que podemos ser diferentes? Olhe ao nosso redor! O mundo não nos permite essa opção.

    O silêncio na sala era quase visível, como se o ar tivesse se tornado denso com a tensão entre eles. Fernanda, com uma expressão séria e postura firme, virou-se de costas para Damon e declarou:

    — A partir de agora, você está fora do cargo.

    Damon olhou para ela, surpreso, suas mãos apoiadas na mesa enquanto seus olhos se fixavam no tampo de madeira. O que deveria ser uma reação de indignação se transformou em uma risada incontrolável que escapou de seus lábios. Ele começou a gargalhar, o som ecoando pela sala com uma intensidade que beirava o desespero.

    — Minha querida Feh — ele disse, tentando controlar a risada — acho que finalmente estamos chegando a um impasse aqui. — Seus olhos brilhavam de malícia enquanto ele a observava.

    — Impasse? Não me venha com essa. Eu não lhe devo nada, seu verme! — Fernanda respondeu, sua fúria transparecendo em cada palavra.

    — E quem está falando de dever? Isso tá mais para saber. — Damon retrucou, passando perto dela enquanto voltava para a mesa. Ele se aproximou e sussurrou em seu ouvido — Winderson.

    Os olhos de Fernanda se arregalaram em choque. Ela se virou rapidamente, pronta para dar uma cotovelada em Damon, mas ele já havia se afastado, rindo da situação.

    — Você… Como sabe esse nome?! — ela exclamou, seu olhar fulminante enquanto apertava os punhos.

    Damon sorriu de forma provocativa.

    — Ho, hou! Então minhas fontes estavam certas. O negócio vai ser o seguinte: você vai continuar a fazer o que sempre faz, e eu também. Tudo pelo bem do acampamento, o que me diz? — ele ergueu a mão como se esperasse um cumprimento.

    Fernanda desviou o olhar para baixo, sentindo um profundo desgosto por toda aquela situação.

    Damon fez uma expressão curiosa e sorriu novamente.

    — Vou encarar isso como um sim. Relaxe, vamos fingir que essa conversa nunca aconteceu. — com isso, ele se virou para sair.

    Enquanto caminhava em direção à saída, seus olhos caíram sobre um maço de cigarros em cima da mesa. Ele o pegou com um sorriso triunfante.

    — Vou ficar com isso também! Ha ha!

    Mas antes que pudesse sair completamente da sala, uma ligação vinda de um hand talker que estava embaixo dos papéis da mesa começou a chamar:

    — Atenção! Carlos na linha! Solicitando a permissão para cancelar a missão. O Thiago foi pego por eles! A missão de limpeza falhou! Repito: a missão falhou!

    Damon olhou para Fernanda e percebeu o ódio estampado em seu olhar. Ignorando completamente a fúria dela, ele pegou o dispositivo e atendeu à chamada.

    — Entendido, Carlos! Estamos enviando um helicóptero para te buscar. Vá para o topo do prédio! — disse Damon enquanto olhava para Fernanda.

    Damon, com um sorriso satisfeito no rosto, terminou de atender a chamada e, antes de sair, lançou um olhar provocativo para Fernanda.

    — Agora é com você! — ele disse, fechando a porta lentamente.

    O som do clique da fechadura ecoou na sala, deixando Fernanda sozinha em meio à sua frustração.

    Assim que a porta se fechou, a raiva tomou conta de Fernanda. Ela agarrou o hand talker da mesa com tanta força que suas unhas quase cravaram no dispositivo. Com um movimento brusco, lançou o aparelho contra a porta com toda a sua força.

    O impacto ressoou pela sala, e o hand talker caiu no chão, emitindo um leve chiado.

    Fazendo força com a mandíbula e com o coração acelerado, ela gritou:

    — Seu filho da puta!!! — sua voz reverberou na sala vazia, carregada de indignação e desespero.

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