Capítulo 04 — Pedido Estranho
— Fuh! —Arthur soltou um forte suspiro enquanto segurava seus quadris. Olhando para o sol acima de sua cabeça, sua boca se abriu: — Finalmente terminei as entregas de hoje.
Desde que entregou a encomenda para Dolores, ele passou horas indo e voltando de sua oficina, entregando os pedidos para seus donos.
Para Arthur, foi um trabalho mentalmente exaustivo, pois precisou desviar o olhar do porta-retrato de sua infância todas as vezes em que entrou no armazém.
“Bom, vamos deixar isso de lado por enquanto.”
Enquanto relaxava, descansando das intermináveis horas de trabalho finalmente finalizadas, uma pessoa se aproximou dele.
Arthur, como um caçador experiente, poderia notar facilmente a presença de pessoas comuns, mas só percebeu a figura quando ela estava ao seu lado.
— Arthur — disse uma voz inexpressiva. O tom que carregava poderia congelar um mar de lava de tão frio que soou aos ouvidos dele. — O que você está fazendo?
Virando-se surpreso para a origem da voz, ele encontrou uma mulher deslumbrante parada, apenas o encarando. Suas pupilas cinzas o fitavam, enquanto ela inclinava a cabeça.
“Eu nem percebi ela, de novo.”
— Ah, senhorita Aurora? — Arthur perguntou atordoado ao ver ela.
Notando a surpresa de seu discípulo, Aurora perguntou em voz baixa: — Discípulo, você esqueceu do treino, outra vez?
Mesmo que sua voz soasse calma, os anos de vivência com aquela mulher lhe disseram que ela estava começando a se irritar.
Querendo evitar isso, Arthur rapidamente tentou explicar sua situação.
— Não, não, não! Eu só não vi o tempo passar, achei que poderia descansar um pouco! — disse, enquanto balançava seus braços em negação.
Para ele, mesmo o Mosteiro de Deus não era tão perigoso quanto uma Aurora furiosa, pois sempre que isso acontecia, seus treinos se tornavam nada mais que pura tortura.
“Só de pensar nisso, já sinto dores pelo meu corpo”, pensou.
Ao ver seu discípulo tentando se explicar, Aurora acenou com a cabeça, se virando de costas. — Então, vamos logo.
— Sim, senhora!
Assim, ambos começaram a andar em direção ao campo de treino. A rua da cidade logo se transformou em um bosque, à medida que adentravam a floresta de Veldoren.
A pequena cidade era relativamente afastada de qualquer outra civilização, dificultando a comunicação com outras cidades.
Mas o maior problema era a enorme floresta pálida pelo inverno que cercava o lugar. Enormes árvores de pinheiro erguiam-se imponentemente, impossibilitando que alguém pudesse enxergar o céu.
Conforme eles andavam, seus pés afundavam em neve fofa. Arthur, estando apenas na média da altura para um homem, rapidamente teve toda sua canela coberta.
“Eu realmente não gosto dessa estação…”
Finalmente, após batalhas árduas contra neves que ousavam entrar em seu caminho, ele finalmente chegou ao campo de treinamento.
O lugar era relativamente grande, com bonecos de palha e alvos espalhados por aí. De forma surpreendente, o campo não possuía neve alguma.
Se virando para sua mestra, Arthur perguntou: — Senhorita Aurora, você quem limpou aqui?
Em resposta, ela apenas acenou com a cabeça enquanto ia até um grupo de espadas de madeira empilhadas no canto do lugar.
— Ehh, senhorita Aurora, eu tenho algo a dizer, na verdade… — de repente, Arthur disse. Aurora, que agora segurava uma espada, o olhou.
Uma das coisas que ainda o perturbava era como agiu na guilda quando descobriu sobre o culto. Ele se contorcia de vergonha sempre que lembrava disso.
Ele correu como uma criança, deixando seus amigos para trás enquanto se fechava em ilusões e medos. Mas justamente com Aurora ele se sentia horrível.
“Eu tenho que me desculpar!”, firmou-se em sua mente.
Para Arthur, sua mestra não era apenas uma figura de respeito que o ensinou todas as suas habilidades, mas também como um suporte.
Quando estava abandonado nas ruas depois de escapar do mosteiro, foi ela quem o abordou e o tratou como se o conhecesse a tempos.
— Eu sinto muito pela forma como agi ontem! Mesmo depois de tanto tempo, quando ouvi aquele nome, lidei com aquilo de forma impulsiva. Por isso, sinto muito!
Vendo Arthur ser tão sincero com seus sentimentos, um sorriso pequeno surgiu no rosto de Aurora. Infelizmente para Arthur, ele não percebeu, pois havia se curvado.
— Não se preocupe muito, Arthur, eu entendo como você se sente. Aqui. — No momento em que terminou de falar, Aurora jogou uma espada para Arthur.
Pegando o objeto por reflexo, Arthur se endireitou. O toque áspero da madeira em sua pele e o peso da espada despertaram os instintos do rapaz.
Cautelosamente, ele olhou para Aurora, que o encarava com sua expressão habitual.
— Senhorita Aurora… receio ter que perguntar, mas qual seria o treino de hoje? — perguntou com receio da resposta.
Infelizmente para ele, Aurora confirmou suas suspeitas: — Hoje, praticaremos através do Sparring.
Ao ver isso, Arthur solta um suspiro cansado: — Entendo.
Alguns instantes depois, ambos se moveram para cantos opostos do campo de treinamento.
O olhar em seus rostos era resoluto, analisando seu oponente em busca de aberturas. Mas um dos dois logo se moveu.
Com um disparo, Aurora mergulhou contra Arthur, tentando esmagar ele com um pesado golpe de espada.
Conhecendo sua mestra, ele já esperava por um ataque direto, mas foi incapaz de a evitar completamente mesmo assim.
O golpe era tão forte que, mesmo o bloqueando, quase cedeu ali mesmo.
Arthur logo percebeu mais uma coisa, influenciado pelas lutas anteriores com sua mestra: “Desde o início, ela quer me deixar na defensiva para me neutralizar…”
— Mas ela é impressionante… — um elogio escapou de sua boca sem que o próprio percebesse.
Mesmo com os intermináveis ataques brutais de sua mestra, sua mente apenas apreciava-a.
Os ataques de Aurora eram como desastres naturais, com cada defesa de Arthur custando um pouco de seus braços.
Quando tentou reverter a situação desferindo um ataque poderoso, ele foi facilmente repelido para longe.
Aproveitando para recuperar o fôlego, ele olhou para Aurora, ficando incrédulo com o que viu.
Independente de quantas vezes ela tenha atacado e defendido, nem sequer uma única gota de suor escorria de seu rosto.
Pelo contrário, sua respiração era ridiculamente estável enquanto mantia uma postura perfeita de luta.
“Não importa o quanto eu veja ela lutando, ainda é difícil de acreditar o quão resistente ela é”, pensou Arthur enquanto lutava para de recompor.
Ele inclinou seu corpo para frente, firmando o aperto sobre a espada de madeira. Então, com força excedente, partiu em direção a Aurora.
O fio de sua espada traçou uma linha horizontal no ar, visando a cabeça de sua mestra. Contudo, ela rapidamente deu um passo para o lado.
Tentando aproveitar a brecha de seu discípulo, ela desferiu um golpe traiçoeiro nas pernas dele, mas Arthur não se permitiu ser acertado, desviando por centímetros.
Neste ponto da luta, ele já havia percebido uma verdade sólida: era incapaz de vencer Aurora em força bruta. Por conta disso, mudou seu plano de ação.
“Se não posso vencer em força, devo compensar em velocidade!”, concluiu.
Com o flanco de Aurora exposto devido ao ataque falho, Arthur brandiu sua espada. Mas quando sua espada se aproximou da costela dela, algo aconteceu.
Usando apenas uma mão, ela agarrou a lâmina afiada da madeira.
— O quê…? — Antes que Arthur pudesse expressar sua confusão devidamente, um forte impacto o enviou até o chão.
Pow!
Aurora o havia socado bem no rosto.
Caído no chão duro, a visão de Arthur ficou embaçada, um zunido tomando seus ouvidos.
— Você está bem, Arthur? — perguntou Aurora, mas sem demonstrar preocupação em seu rosto.
— Aham… Eu, eu estou sim… — respondeu ele sem conseguir se erguer direito.
— Então, acho que já podemos concluir nossa luta simulada.
“Luta simulada? Eu tinha certeza que ela ia me matar ali…”, pensou Arthur enquanto se relembrava do golpe final dela. “Ela realmente está em outro nível.”
Mesmo em frangalhos e derrotado no chão, Arthur esboçou um pequeno sorriso com as habilidades de sua mestra. Se o mundo fosse tão vasto quanto cruel, existiriam outras pessoas como ela?
Arthur não se considerava fraco. Na verdade, pela sua experiência contra monstros e em missões pela guilda, apenas o contrário foi provado.
Ele era forte. Muito forte.
Mas mesmo assim, ainda era incapaz de vencer Aurora em um duelo.
“E ela nem estava usando mana… Mesmo que ela diga que é para equilibrar com minha deficiência, às vezes parece humilhante”, soltou uma risada leve com isso.
Enquanto Aurora se movia para guardar a espada que carregava, Arthur se levantou do chão, batendo em sua roupa para tirar a poeira com a espada ainda em mãos.
“Espero que quando meus amados filhos crescerem, possam ser como você.”
“É irônico que Dolores torça para seus filhos serem como eu quando quero ser como minha mestra.”
No mesmo instante em que pensou sobre a mulher, o sorriso em seu rosto se apagou lentamente. Focando em Aurora, Arthur pensou sobre a conversa de mais cedo no dia.
Mesmo que não quisesse, não conseguia parar de comparar os medos dela com os seus.
Ela pedia tão desesperadamente que alguém melhorasse o mundo para que seus filhos possam crescer em paz, mas Arthur, mesmo com sua força, ignorava esses apelos.
Ele havia se prendido em um casulo construído por medo e receios de falhas. Ele temia, acima de sua morte, não ter ninguém.
Mas agora, olhando para sua mestra, ele percebeu algo que tinha ignorado todo esse tempo: ele não precisava fazer tudo sozinho.
Na verdade, se Aurora estivesse ao seu lado, ele sentia que poderia enfrentar o mundo com um sorriso no rosto.
— Senhorita Aurora — Arthur a chamou, sua voz saindo mais fraca do que gostaria. Contudo, ela ainda o ouviu, virando-se para ele — preciso falar com você sobre algo…
— ….? — Aurora o olhou, sem entender o que podia ser.
Mas no instante seguinte, Arthur disse algo que arregalou os olhos da mulher: — Eu gostaria de enfrentar o Mosteiro de Deus… com você!
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