Capítulo 14 — Um Conto Secreto (1)
— Acho que finalmente despistei ela — disse Arthur ao olhar para os lados.
Felizmente, por mais que procurasse naquele mar de pessoas, Kaedra não estava por perto. Ele havia conseguido se livrar dela com sucesso.
Com a confirmação, o cansaço tomou cada centímetro de seu corpo suado, sua respiração se tornando mais ofegante enquanto o peito lutava por ar.
Após alguns segundos de luta contra o ar frio da noite, Arthur encontrou um banco para se sentar. O medo de ser localizado por Kaedra existia, mas a exaustão falou mais alto.
Se sentando com o corpo e mente desgastados, Arthur se lembrou da forma com que Kaedra o abordou, mal disfarçando sua tentativa de interrogatório.
“Nossa, aquele sorriso…”, Arthur tremeu ao se lembrar.
O sorriso gélido da mulher, mesmo com seu rosto bonito, provavelmente causaria pesadelos no jovem por semanas. Felizmente, ela não sorriu muito.
“Mas ainda é estranho que ela tenha reagido daquela forma. Ela disse algo sobre não sentir a minha presença… Tenho que descobrir sobre isso mais tarde, mas não agora.”
Decidindo deixar aquele assunto para depois, Arthur relaxou no banco. Ele não era tão confortável, até mesmo áspero nos apoios de mão, mas serviria.
Os olhos azuis de Arthur se fecharam, apagando qualquer imagem do festival. Aos poucos, os sons a sua volta morreram, dando lugar a um silêncio cômodo.
O vento frio da noite soprava pelos cabelos e rosto descobertos do rapaz, como pequenas agulhas, mas ele não se importou muito.
As batidas agitadas de seu peito se acalmaram, dando lugar a um subir e descer controlado. Acima do jovem, as estrelas continuaram a se mover.
Sem que percebesse, outros bons minutos passaram. Àquele ponto, o mundo já teria se afogado na escuridão, mas as tochas e lâmpadas do festival impediram isso.
Enquanto Arthur descansava no banco, inúmeras pessoas passaram por ele, empolgadas com o evento. Não havia o menor indício de cansaço em seus rosto.
Porém, em meio aquela vasta quantidade de transeuntes, uma figura feminina surgiu. Seus passos lentos e sorrateiros a levaram até Arthur, que não percebeu sua presença.
Sem que Arthur pudesse revidar, as mãos finas da mulher cobriram seu rosto rapidamente. O jovem coureiro despertou de seu sono no mesmo instante.
Paralisado pela surpresa, Arthur tentou compreender sua situação. Mas antes que o pudesse fazer, uma voz familiar roubou seus ouvidos.
— Adivinha quem é? Hihi — a voz perguntou, soltando pequenas risadas.
Arthur ficou confuso pela pergunta, esperando alguma ameaça de morte ou coisa parecida.
“Será que isso é uma armadilha? Mas essa voz…”
— Hã… Lya, é você? — respondeu cautelosamente.
— Plim! Certa resposta, haha! — Lya se jogou por cima dos ombros de Arthur, abraçando seu pescoço enquanto ria.
Surpreendido pelas ações de Lya, Arthur voltou sua atenção para ela, mas a única coisa que encontrou foi uma alegria pura e contagiante em sua face.
“Agora que penso sobre, eu não senti a presença dela. Na verdade, também não notei a presença de Kaedra… Talvez Aurora saiba o porquê.”
A garota de cabelos flamejantes se moveu para ficar de frente para Arthur, seu sorriso deslumbrante ainda pairando em seu rosto como uma pintura.
“Talvez algo bom tenha acontecido com ela?”, se perguntou.
Mas antes que Arthur pudesse se expressar em voz alta, Lya agarrou um de seus braços e o puxou em sua direção, o levantando abruptamente do banco.
— O que você está fazendo, Lya?
— Como assim? Vamos aproveitar o festival, obviamente! — disse, o puxando para a primeira barraca que viu. — Você está me devendo, não se lembra?
Um riso incrédulo escapou da boca de Arthur quando a viu agindo de forma tão agitada.
— Claro, claro, mas você nem me cumprimentou primeiro.
— Cumprimentos podem esperar! Eu estou com tanta fome depois de cuidar de Lysa e levar bronca — respondeu com as orelhas vermelhas de vergonha.
“Teve até mesmo bronca? Deve ter sido difícil”, pensou Arthur ao se lembrar da mãe de Lya. “Até hoje tenho medo daquela mulher…”
— Por mim tudo bem. Então, você quer ir naquela barraca mesmo? — Apontou para a barraca a qual Lya o puxava.
— Hm… Acho que não, na verdade. Vamos explorar o evento primeiro!
No mesmo instante, Lya o puxou para a direção contrária da barraca, seguindo a rua. O olhar da garota percorria com afinco cada produto.
Assim, Arthur foi arrastado por uma busca interminável pelo festival. Minutos se passaram sem que Lya se mostrasse satisfeita com suas descobertas.
Contudo, enquanto eles passeavam pelo lugar, Arthur notou uma movimentação estranha à sua volta. Seus olhos se estreitaram conforme ele observava os arredores.
“Então é isso”, concluiu quando viu uma figura de armadura parada na esquina.
Mas ela não era a única. Em cada esquina que Arthur e Lya passeavam, mais daquelas pessoas em armaduras surgiam, como se protegessem as barracas.
“São guardas, e dos bem equipados.”
Posicionados em duplas, os guardas se dispersaram em pontos cegos dos transeuntes. Mesmo Arthur só os percebeu por sorte.
Mais uma vez, ele não conseguiu sentir a presença de outras pessoas à sua volta. Uma sensação quente de preocupação tomou seu peito.
“Não posso desviar do assunto agora”, balançou a cabeça antes de olhar ao redor mais uma vez. “Devo aproveitar a situação e juntar algumas informações.”
Os guardas não pareciam relativamente fortes, apenas bem equipados. Mas a quantidade deles era abundante demais para se ignorar.
Como não desejavam chamar a atenção, suas armaduras eram negras como o véu da noite, muito semelhante ao que Kaedra usou mais cedo no dia.
— Arthur, o que você está fazendo? — uma voz o tirou de seus pensamentos.
Olhando para a origem daquela voz, Arthur encontrou Lya o encarando, confusão estampada em sua face delicada.
— Você começou a ficar estranho do nada, aconteceu algo? — perguntou a garota.
— Não foi nada, perdão, apenas me perdi em pensamentos.
— Tem certeza? —
Não acreditando nas palavras de Arthur, Lya olhou ao redor em busca do que o havia deixado tão quieto, quando percebeu os guardas.
Escondidos em cantos onde a luz não chegava, foi assustador a imagem de pessoas em armaduras encarando a rua. Imediatamente, Lya olhou para Arthur.
— O que eles são, guardas?
— Então você notou. Sim, eles provavelmente são sim — respondeu o jovem sem esconder a verdade. — Percebi eles a pouco tempo.
— Sério? Por que não me disse nada? É tão estranho ser observada por eles… — Lya segurou seus ombros trêmulos.
Arthur riu baixo com a cena, observando o ato exagerado da garota.
— Não precisa se preocupar tanto, eles provavelmente não farão nada… Por enquanto.
— Por enquanto? Lembre-se de não arrumar confusão antes da sua missão. Você não quer que a Aurora te castigue e te deixe aqui, certo?
— É óbvio que não! — Arthur respondeu rapidamente para negar, chamando a atenção das pessoas que passavam por perto.
Envergonhado, ele desviou o olhar de Lya, que o encarava com um sorriso engraçado no rosto.
— Coff, Coff! Eu só estou juntando um pouco de informações para mais tarde — Arthur disse em tom comedido.
— É sério isso? Deixa isso um pouco de lado e aproveita mais o festival comigo!
Se virando para frente, Lya retoma seu rumo enquanto puxa Arthur pelo braço. Seu aperto sobre o pulso do rapaz aumentou por um momento, antes de relaxar novamente.
— Sabe, Arthur… Minha vida era bem entediante sem você, sabia? — ela falou, seus olhos refletindo os brilhos das luzes enquanto se lembravam do passado.
— O que é isso do nada? — Arthur ficou confuso, mas logo foi interrompido.
— Me escuta um pouco, tá? — Ela virou sua cabeça para ele, o deixando surpreso com a visão. — Quero te contar um pequeno segredo meu.
No rosto de Lya, um sorriso divino brilhava em inocência.
×××
O vento frio da cidade batia contra os cabelos ruivos de uma jovem garota. Em seus olhos azuis, apenas o monótono azul acinzentado do céu refletia.
Fuah—
Um suspiro escapou de sua boca enquanto ela se debruçava na janela de seu quarto. Ao seu redor, o cheiro de madeira velha tomava o ar.
Apenas o silêncio tomava conta do cômodo, sendo quebrado ocasionalmente por uma pisar forte no andar de baixo ou o choro de sua irmãzinha.
— Quando será que algo interessante vai acontecer nesse lugar? — disse em aborrecimento. — Mamãe me disse que, seu eu esperasse, algo bom viria…
Pelas palavras de sua mãe, ela lutou contra aquela vida sem graça, sempre repetindo sua rotina sem nada significante acontecendo.
A ideia de que algo aparecesse e mudasse sua vida era uma cenoura apetitosa demais para não fisgar, mas nada aconteceu por anos.
Até mesmo ela não poderia esperar para sempre.
— Oh, é a mulher assustadora da casa ao lado — disse a jovem ao notar a mulher de cabelos pretos e longos.
Ela havia aparecido naquela cidade alguns anos antes, mas nunca interagiu de forma significativa com alguém. No máximo, realizava algumas tarefas.
Mas algo mais chamou a atenção da ruiva no parapeito.
— Aquilo é um garoto?
Atrás daquela mulher sempre solitária, uma figura jovem se escondia. Os ombros trêmulos e cabeça baixa acusavam medo no jovem.
Sob seus cabelos pretos e sujos, seu rosto belo como uma jade tinha olhos azuis tão bonitos, mas que insistiam em olhar com temor para os lados.
“Eu acho que nunca vi ele por aqui”, pensou, se pondo com a postura mais ereta que antes.
Por um breve momento, os olhos do garoto pousaram na garota. E naquele mesmo instante, o coração dela pulou uma batida.
Como se não pudessem desviar o olhar um do outro, ambos se encaram sem dizer uma única palavra.
— Ah, hum… Olá? — a jovem tentou iniciar a conversa.
Mas ao invés de uma resposta, o jovem pulou para trás da mulher assustadora, se escondendo atrás de suas costas enquanto agarrava o agasalho dela.
“Eu fiz algo?”, a jovem se perguntou.
Enquanto ela pensava sobre aquela interação bizarra, no entanto, os olhos cinzentos da mulher assustadora se voltaram para ela, a paralisando por um momento.
Sem saber o que fazer, ela se agachou atrás do parapeito de madeira, fugindo do olhar frio. Minutos se passaram e ela continuou escondida.
Finalmente, quando seus joelhos começaram a doer, ela se ergueu lentamente. Seu olhar espreitava cuidadosamente o exterior à procura de algo.
Mas quando olhou para a rua, qualquer sinal da mulher e do jovem havia sumido. Nem mesmo suas pegadas eram visíveis no chão de terra, como se tivessem desaparecido.
— Quem era aquele garoto? — perguntou para ninguém em específico.
Os olhos trêmulos e sem vontade que pareciam ansiosamente procurar por algo, seu cabelo e roupas sujas — tudo nele era tão estranho, tão…
“Tão interessante. Talvez seja ele que…”
— Lya! Desce aqui ajudar a sua irmã, por favor! — a mãe da jovem interrompeu seus devaneios. Ao fundo, o choro inconfundível de sua irmãzinha foi ouvido.
Após olhar uma última vez para a rua deserta, Lya andou em direção a porta de sua casa, ainda pensando no jovem estranho.
— Já vou! — respondeu.
“Acho que devo procurar por ele amanhã.”
×××
Prazer, me chamo Druman Alencar, e sou o escritor deste romance.
Como é perceptível através dos registros da página inicial de “As Cinzas de Arthur”, novos capítulos têm sido postados de forma irregular, com grandes espaços de tempos.
Por isso, peço desculpas.
Estou focado em alguns projetos extras, como contos e questões privadas, e eles têm roubado todo meu tempo.
Essa nota no final do capítulo têm como objetivo avisá-los de que será lançado apenas 1 (um) capítulo por semana até que tudo esteja resolvido.
Mais uma vez, peço perdão e prometo melhorar.

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