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    Depois de almoçar, Leonard decidiu sair para andar. O peso das dúvidas o seguia como uma sombra persistente, cada pensamento um mais fundo em um labirinto sem saída. Ele queria aprender mais sobre o lugar, mas o que poderia realmente descobrir em um vilarejo onde as respostas pareciam evaporar no ar frio antes mesmo de serem pronunciadas?

    “Investigar… é realmente uma coisa difícil de se fazer. Esse vilarejo… nada faz sentido aqui.”

    A neve caía com suavidade, mas o frio o cortava como uma lâmina fria, e o jovem puxou o casaco para mais perto do corpo. Enquanto andava, seus olhos varriam o cenário com atenção, mas também com uma inquietação latente. As casas de madeira pareciam inclinadas para frente, como se quisessem sussurrar segredos. Os moradores, envoltos em rotinas silenciosas, carregavam uma tranquilidade que lhe parecia teatral, forçada demais, como um palco onde cada um sabia exatamente seu papel.

    “Desde que chegamos aqui… aquela visão… aquela porta que me chamava…”

    Ele balançou a cabeça, tentando afastar os pensamentos. Mas não adiantava. As lembranças daquela porta estranha no corredor apagado eram como uma marca d’água em sua mente, sempre visível sob a superfície. Uma atração inexplicável o incomodava, como se houvesse algo esperando por ele ali, algo que ele sabia que não deveria descobrir, mas não conseguia ignorar.

    Leonard parou por um momento, observando a rua à sua frente. Um pouco mais adiante, algo captou sua atenção: uma construção alta e antiga, destacando-se contra o céu acinzentado. Uma cruz de metal, enferrujada pelo tempo e com os sinais da neve, adornava o topo da fachada.

    “Uma igreja? Bom, faz sentido…”

    O pensamento veio e passou como um sussurro na tempestade. Ele não tinha certeza. A estrutura branquicento parecia mais sombria do que sagrada, com suas janelas arqueadas refletindo a luz fraca do dia, como olhos fechados e indiferentes. Ainda assim, ele sentiu uma estranha atração em seus pés, como se eles soubessem algo que em sua mente ainda não compreendia.

    Ele continuou andando, seus passos afundavam na neve, mas os pensamentos afundaram ainda mais fundo nas incertezas. Cada pergunta que fazia à situação mesmo parecia gerar duas novas. Damian. Grande Ceia. Awain. A neve persistente. Era como tentar resolver um quebra-cabeça cujas peças pareciam estar vivas, mudando de forma quando ele achava que as havia entendido.

    “Será que…?”

    Leonard não completou o pensamento. A dúvida tinha uma textura própria, algo que ele sentia nos ossos agora. Ao se aproximar da igreja, percebeu um movimento. Uma figura encapuzada saiu pela porta principal e aos poucos fechava a porta.

    — Com licença? — Leonardo falou com hesitação, como se o ar à sua volta tivesse ficado denso e o som de sua própria voz parecesse abafado. Mas ele sabia que a figura encapuzada não era um espectro ou algo do tipo. Ainda assim, algo em sua postura o deixava inquieto.

    A figura se virou lentamente. A capa branca deslizou com suavidade, revelando uma mulher de cabelos negros como a noite e pele clara, quase translúcida à luz pálida do céu cinzento. O rosto dela era sereno, e os olhos, embora calmos, pareciam conter algo inquietante. Leonard sentiu uma estranha familiaridade. Um lampejo de memória brotou em sua mente. Alisha. Esse era o nome que vinha à mente, mas ele não conseguia ter certeza. No dia em que a viu pela primeira vez, seu rosto estava obscurecido pelas sombras e pela pressa.

    — O que foi, Damian? — perguntou a mulher, e o sorriso que acompanhava a pergunta era desconcertante. Não havia malícia, mas também não havia conforto. Apenas uma neutralidade desconcertante.

    — Ah, me desculpe… É que eu… esqueci seu nome. Espera, eu vou lembrar… — Ele se atrapalhou nas palavras, tentando soar o mais casual possível, mas sua voz tremeu levemente.

    A mulher inclinou a cabeça ligeiramente, como um pássaro curioso. O sorriso permaneceu, mas seus olhos pareciam avaliar algo além do que Leonard estava dizendo.

    — Isso acontece, haha… — disse ela, com uma risada breve desconcertada. — Chloe.

    Leonard forçou um sorriso animado, mas sentia o suor frio escorrendo pela nuca.

    “Chloe, então.”, ele murmurou para si mesmo.

    — Isso! Chloe! — O jovem enfatizou o nome, como se isso pudesse dissipar a estranheza de suas palavras. — Você viu a Morgan? Ela disse que iria ajudar nos preparativos para a Grande Ceia, mas depois desapareceu.

    Chloe franziu levemente a testa e levou o dedo indicador ao queixo.

    — Morgan? — repetiu ela. Então, balançou a cabeça suavemente. — Pelo que me lembro, ela saiu há pouco mais de uma hora para ajudar os pais. Mas… é bom que tenha vindo procurá-la. — Ela fez uma pausa, inclinando-se levemente na direção de Leonard. — Estávamos precisando de mais uma pessoa para os três cavaleiros.

    “Três cavaleiros?”

    O silêncio parecia crescer ao redor deles, espesso e carregado com uma pitada de expectativa. Leonard sentia o peso das palavras de Chloe como uma pedra sendo jogada em águas profundas.

    — Três cavaleiros? — Ele repetiu, tentando forçar a voz soar casual, mas falhando miseravelmente.

    Chloe inclinou a cabeça novamente, num gesto tão sereno quanto inquietante. O sorriso dela permaneceu, mas os olhos pareciam analisá-lo.

    — Sim — respondeu, com a voz baixa, quase um sussurro. — É a tradição, afinal. Três cavaleiros para a ceia. Três para conduzir. Três para… — Chloe parou, como se estivesse prestes a dizer algo importante, mas mudou de tom. — Bem, você saberá em breve, temos os quatorze dias antes dela.

    “Quatorze dias… algo como uma quinzena? Mas o que a define?”

    Leonard tentou manter a calma, mas seu coração martelava no peito. O que significava “conduzir”? E por que ela falava com aquela familiaridade desconcertante, como se ele já fosse um dos três? O jovem deu um passo para trás, afastando-se instintivamente da mulher, mas Chloe pareceu perceber.

    — Está tudo bem, Damian — disse ela, sua voz agora carregando um tom gentil, mas quase condescendente. — Enfim, pode me ajudar com algumas coisas? 

    “Não pareça estranho, não pareça estranho…”

    — Posso, sim, o que a senhora precisa?

    — Encontre a Morgan e apenas diga a ela que agora os quatro papéis foram decididos.

    Bom final de arte, eu ainda estou aqui! Lembrem de comentar se possível, isso ajuda muito kkkkk…

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