Índice de Capítulo

    Olá, segue a Central de Ajuda ao Leitor Lendário, também conhecida como C.A.L.L! Aqui, deixarei registradas dicas para melhor entendimento da leitura: 

    Travessão ( — ), é a indicação de diálogos entre os personagens ou eles mesmos;
    Aspas com itálico ( “” ), indicam pensamentos do personagem central em seu POV;
    Aspas finas ( ‘’ ), servem para o entendimento de falas internas dentro da mente do personagem central do POV, mas não significa que é um pensamento dele mesmo;
    Itálico no texto, indica onomatopeias, palavras-chave para subverter um conceito, dentre outras possíveis utilidades;
    Colchetes ( [] ), serão utilizados para as mais diversas finalidades, seja no telefone, televisão, etc;
    Por fim, não esqueça, se divirta, seja feliz e que os mistérios lhe acompanhem!

    Às vezes, as escolhas mais difíceis são aquelas que temos certeza. Me sinto como Perseu, marcado pela vontade de outros, refém de uma falsa esperança.

    Leonard soltou o lápis. A brisa do outono em Mont Tremblant, na mesma medida que reconfortante, dava-lhe calafrios. Virando o rosto, percebeu seus dois irmãos, deitados, ainda dormindo, enquanto por trás das cortinas, o dia pouco a pouco começava. 

    “Não sei se conseguirei pagar as contas deste mês e sobrará algo… A energia terá um reajuste no valor, ficando mais cara…”

    Ele se levantou, com os pés descalços, se esgueirou em silêncio para fora do quarto, tomando o maior cuidado possível para não acordar seus dois irmãos. Afinal, seu conhecimento era óbvio: Calli tinha um sono leve, muitas vezes murmurava coisas dormindo, já James, mesmo que o mundo fosse destruído, ele estaria dormindo… Claro, desconsiderando a ausência do seu irmão mais velho. 

    O corredor à sua frente — familiar — era pintado em um tom azul-celeste, agora desbotado, extremamente curto, mas era sua casa, definitivamente era. Logo, Leonard começou a escutar ruídos, como um despertador matutino em eterno ciclo. 

    — A calefação está dando problema de novo… — sussurrou e suspirou, virando-se para a porta entreaberta do banheiro. — Mais tarde vejo se consigo fazer algo sobre isso.

    Ao se aproximar, ele conseguiu distinguir melhor o entorno do banheiro, simples, modesto e funcional. Uma pia, um vaso, um box e alguns acessórios pendurados por um pequeno gancho na parede. A tintura cinza desgastada nas paredes lembrava-o de sua condição a todo instante. 

    — Agora vem a parte mais difícil do dia — sibilou, estreitando os olhos, normalmente esse momento era a causa da desgraça do dia a dia, seja pegando resfriado ou atacando sua enxaqueca. 

    Ao abrir o registro do chuveiro, deu rapidamente um passo para trás. Dessa forma, escapou da primeira provação infernal e, dito e feito, um líquido marrom caia devido à ferrugem dos canos velhos. Aproveitando-se, Leonard começou a se despir, trazendo à tona sua pele tão branca quanto a neve. 

    Depois de um minuto, a água finalmente voltou ao normal, límpida e transparente, e assim, entrou debaixo do chuveiro. A torrente, ainda falhava, deixando a temperatura mais baixa do que deveria, mas ele não conseguiria fazer nada para mudar isso.

    “Hoje não me lembro se há algo importante… Só que essa sonolência ainda continua debaixo da água. Pelo visto as poucas horas dormidas na última semana estejam tendo efeito.”

    Nos últimos dias, sem pular nenhum, em todos eles, seus sonhos se tornavam estranhos, tão reais, mas ao mesmo tempo tão macabros… E reveladores. Certa vez, ainda na infância, Leonard se recordava de sonhar com o momento da correção da prova de ciências no dia seguinte. Naquela vez, seus sonhos acabaram ajudando ele a não reprovar de ano. 

    Outra vez, agora em seus dezoito anos, em uma noite, soube que conseguiria uma vaga de trabalho em uma biblioteca chamada de “Central do Conhecimento”, e isso também se concretizou. 

    — Huh… 

    Ao terminar o banho, ele encarou o espelho sob a pia enquanto se secava. O reflexo demonstrava um jovem no auge de seus dezenove anos, com um cabelo preto como ébano, feições medianas e aquilo que o destacava: sua íris cinza-claro herdada de sua mãe.

    Mas dessa vez, algo mais parecia errado. A figura, a sua frente, estava mergulhada em sangue, manchada do rubro carmesim. Leonard sentiu sua respiração pesar, as pernas falharem e o bater do peito — rítmico — se descontrolar. A visão parecia atraí-lo para mais perto do espelho. 

    “Que merda é essa? Que merda é essa? O que eu faço?”

    Ele olhou para os lados e depois novamente para o espelho, mas dessa vez, já havia voltado à normalidade. Em um arfar, o peso sob os ombros, desapareceu, deixando a sensação de vertigem tomar conta e a breve confusão na estabilidade, com as pernas fraquejadas. 

    “Maldita paranoia. Daqui a pouco vou ter que começar a comprar remédios receitados se essas coisas continuarem…”

    Ao fim do curto devaneio, Leonard já havia terminado de se arrumar e saiu do banheiro. De volta ao quarto, encontrou as três camas separadas. Calli, o irmão do meio, dormia à esquerda, enquanto James, o mais novo, ocupava a cama oposta. No centro, estava a cama dele. 

    “Vamos ver, o que eu deveria vestir?”

    Na frente da sua cama, havia uma pilha de roupas e calçados, ele pegou um par de botas pretas e as calçou. Vestiu uma camisa de manga longa vermelha com o símbolo de três azaleias brancas no canto esquerdo do peito, uma jaqueta comum, calça marrom surrada e um cachecol carmesim velho e esfarrapado.

    “Acho que dá para o gasto…”

    Virando-se, ele saiu do quarto, desceu as escadas e, nesse momento, passou por uma estante com cinco porta-retratos ali, cada um repousava há muito tempo, mas nunca empoeirados. 

    — Já vou indo, vovó… — sussurrou.

    ***

    No caminho matinal até a biblioteca onde trabalhava. Leonard tomava extremo cuidado por onde pisava para não fazer mais alguma dívida. Ali, na mesma esquina de sempre, passou por uma loja de móveis da redondeza, onde as televisões, já ligadas, exibiam notícias.

    [Agora são 7h23. No jornal hoje de Mont Tremblant, conheça a nova organização de investigadores que se estabeleceu em Ottawa…]

    Passando reto, embora ignorasse, essas notícias eram frequentes e cada vez mais aumentavam. Claro, ele não tinha o direito de desacreditar dos casos sobrenaturais relatados por essas organizações, afinal, seus sonhos também não eram nada normais.

    “Não posso me atrasar… Esses tais investigadores, vivem como nos filmes? Não, Leonard pare de pensar assim, ser um investigador paranormal é a porta para a morte certa!”

    Estreitando os olhos, notou mais à frente, o novo proprietário da padaria Blackthorn, que abria o local. Por algum motivo, sentia uma sensação ruim em relação àquele lugar, que mudara de dono três vezes só neste ano.

    Ao virar a esquina, viu a fachada iluminada da Central do Conhecimento, biblioteca e livraria onde trabalhava. Esta mesma biblioteca atualmente era uma das maiores responsáveis por conseguir bancar as contas de casa.

    “Enfim, cheguei…”

    Ao mover a porta, o sino familiar tocava e o despertava novamente de uma breve recaída do sono. No caixa à direita, Theo fazia anotações, enquanto Liam, seu melhor amigo, iniciava os sistemas dos computadores.

    — Bom dia, pessoal. — Leonard tentou parecer animado, mas não conseguiu disfarçar o cansaço.

    — Bom dia, Leo. Como está? — perguntou Liam.

    — Bem… Só com sono, mas acho que isso já é normal para mim… Eu acho.

    — Deve ser, hoje você vai ficar encarregado de verificar os novos livros usados que recebemos, chegaram bastante ontem… Assim que você terminar, pode vir atender os clientes junto a Emma e Aria. 

    — Certo… Vou indo… 

    Leonard dirigiu-se à área dos fundos, onde pegou um avental, bloco de notas e uma caneta, guardando tudo nos bolsos. Preparado, atravessou o labirinto de estantes até chegar a um armazém pequeno e empoeirado.

    Lá, naquele minúsculo espaço, havia pilhas de livros, esperando que ele os verificasse para poderem ir à venda.

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