Capítulo 100 — Banquete de Sombras
Atenção: dos capítulos 96 a 100, estamos passando por histórias paralelas e futuras do mundo de ASDI, por conta disso até mesmo a forma narrada, pode acabar sendo alterada para primeira pessoa, não estranhem.
Damian entrou na tumba desconhecida, não entendia direito o motivo de Louis ter decidido que fosse sozinho para essa missão. Mas, como foi solicitado, caminhou sozinho pelo campo esquisito.
Suas vestes eram simples—um sobretudo preto e uma espada negra, semelhante a uma odachi, repousava na bainha no quadril. Usava botas pretas, táticas militares. Olhos escuros como a noite e cabelos loiros claros destacavam sua figura na surdina taciturna do local.
— Preciso acabar com isso logo.
“Por que Louis me enviou aqui sozinho? Ele sabe que algo está errado.”
O ar dentro da tumba era denso, carregado de um silêncio que parecia ecoar. Cada passo que dava reverberava nas paredes úmidas, como se algo—ou alguém—estivesse observando.
— Se houver algo aqui, melhor se mostrar antes que eu vá até você.
Nenhuma resposta. Apenas o som distante de água gotejando em algum lugar nas profundezas.
“Talvez eu esteja sendo paranoico.”
Mas então, uma brisa gelada cortou o ar — algo que não deveria existir em um lugar selado há séculos. Damian parou, a mão pousando no cabo de sua espada.
— Quem está aí?
Desta vez, o silêncio foi quebrado por um sussurro — quase inaudível, mas impossível de ignorar.
— Você não deveria ter vindo…
Damian apertou os dedos em torno da empunhadura da espada, os músculos dos dedos brancos de tensão. O sussurro ecoou novamente, vindo de todas as direções ao mesmo tempo—como se as próprias paredes estivessem falando.
— Você não deveria ter vindo…
Ele forçou a respiração a se manter estável, os olhos escaneando as sombras.
— Mostre-se. Não tenho tempo para joguinhos.
Uma risada baixa, quase infantil, flutuou pelo ar. Então, um vulto esbranquiçado deslizou de trás de uma coluna desgastada — uma figura pequena, de traços andróginos, pele pálida como a lua e olhos vazios, sem pupilas.
— Não te avisaram? — A voz era suave, quase cantante.
Damian cerrou os maxilares.
— Avisou sobre o quê?
A criatura inclinou a cabeça, um sorriso largo se abrindo lentamente — demasiado largo, até as orelhas.
— Que essa tumba não é para invasores… é para convidados.
Damian puxou a espada num movimento fluido, a lâmina negra sibilando no ar.
— Então me considere mal-educado.
A figura riu de novo, mas agora o som estava diferente — distorcido, como se várias vozes se misturassem numa só.
— Tolo. Você já está dentro dela.
E as paredes começaram a sangrar.
Damian sentiu o cheiro de ferro antes mesmo de ver o sangue escorrendo pelas pedras antigas, engrossando em riachos escuros que se arrastavam em direção a seus pés. Sua espada permaneceu erguida, imóvel, mas seus olhos negros dilataram por um instante.
— Dela?
A criatura esticou os braços, como quem se espreguiça depois de um longo sono. Seus dedos eram finos, quase ossudos, terminando em unhas curvas e negras.
— A tumba não é um lugar, caçador. É ela. E ela está com fome.
Um tremor percorreu o chão, seguido por um som baixo e úmido — como algo enorme engolindo em seco. As poças de sangue começaram a borbulhar.
Damian recuou um passo, instinto gritando para que ele fugisse, mas sua disciplina o manteve firme.
— Se é uma maldição, pode poupar o teatro. Já vi demônios mais assustadores em pesadelos de criança.
O sorriso da criatura desapareceu. Seus olhos vazios estreitaram.
— Você não foi enviado para matar. Foi enviado para alimentar.
O ar atrás dela se distorceu, como se algo invisível estivesse se contorcendo—e então, as sombras nas paredes começaram a se mover por conta própria, alongando-se, escorregando em sua direção com fome.
Damian respirou fundo.
— Tudo bem. — A lâmina negra girou em seu punho, cortando o ar com um assobio frio. — Mas eu não vou ser o jantar.
Damian sentiu o frio das sombras se enrolando em seu corpo como serpentes de puro vazio. O riso da criatura ecoava dentro de seu crânio, agulhadas de loucura furando sua mente. Mas ele não era um novato—já enfrentara pesadelos antes.
Com um rugido, seu corpo explodiu em movimento. A odachi negra cortou o ar em um golpe horizontal, seguido por um vertical em cruz — “Kurozange”, a técnica que dividia até mesmo espíritos.
As sombras gritaram.
O sangue coagulado no chão se retorceu, evaporando em névoa pútrida. A criatura de olhos vazios recuou, seu sorriso agora uma linha tensa.
— Você… não é como os outros.
Damian não respondeu. Seus pés se moveram em padrões calculados, pisando nos únicos pontos ainda não contaminados pelo sangue — os selos de contenção desbotados no chão. Ele notara desde o início: esta não era uma tumba. Era uma prisão.
E ele estava no coração dela.
As paredes pulsaram. Pedras antigas se contraíram como músculos, expelindo um líquido âmbar que fervia ao tocar o chão. De fissuras no teto, coisas caíram—corpos embrulhados em bandagens escuras, seus membros se contorcendo de forma não humana.
— Os Primeiros Convidados, sussurrou a criatura, agora pairando acima do chão. — Eles duraram mais que você.
Damian observou os cadáveres se levantarem. Seis. Sete. Talvez mais nas sombras. Todos com marcas familiares — emblemas da Ordem de Lys, a mesma que Louis um dia liderou.
Seu estômago gelou, mas sua lâmina permaneceu firme.
— Então é isso. — Ele cuspiu no chão, limpando a boca com o antebraço. — Não é uma missão. É uma purga.
A criatura riu, mas desta vez havia hesitação. Damian aproveitou.
O Preço do Sangue
Seus dedos desenharam um símbolo no ar — três linhas cruzadas, o sinal que Louis lhe ensinara em segredo anos atrás. As bandagens nos cadáveres pegaram fogo de repente, chamas negras que os consumiram em segundos.
A criatura gritou, cobrindo o rosto.
— Isso é impossível! Você não tem autoridade para—
— Eu tenho isso, — Damian cortou o ar com a espada, e o mundo desabou.
O chão se abriu. As paredes sangraram pedras. E do abismo emergiu Ela — a verdadeira dona da tumba.
Era um esqueleto colossal vestido em trapos de rainha, seus ossos negros como obsidiana. Em suas órbitas vazias, estrelas mortas cintilavam.
— Caçador, sua voz era o som de mil corvos sendo esmagados.
Damian sorriu, sangue escorrendo de seu nariz.
— Só mais um monstro.
Ele saltou.
A lâmina negra encontrou osso negro. O mundo explodiu em luz e trevas.
E então…
Silêncio.
…
Damian acordou do lado de fora da tumba, agora apenas ruínas comuns. Seu corpo estava intacto, exceto por uma marca nova na palma da mão — um símbolo antigo que latejava suavemente.
Ele olhou para o horizonte, onde o sol nascia.
— Estou mais próximo de avançar?
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