Índice de Capítulo

    Recomendo que leiam este capítulo escutando a música The Line – Twenty One Pilots!

    Dando mais alguns passos, chegou a quase cair se não tivesse se apoiado na espada fragmentada. 

    “Quase…” 

    Sentia-se triste por estar manchando o longo campo branco com a sua sujeira.

    Embora quisesse estar ali, por outro lado, renegava o desejo de manchar com a própria sujeira aquelas inúmeras flores brancas.

    Não lembrando ao certo, Leonard tinha uma certa impressão de que essas flores um dia fizeram parte de sua vida e ele parecia finalmente receber um entendimento sobre. 

    Eram azaleias brancas, as mesmas que um dia estiveram no vaso colocado sob a janela do quarto do hospital de sua avó Morgiana, as mesmas flores que acompanharam de perto a morte dela. 

    — Não pode ser… Vovó… — Leonard caia de joelhos em meio às flores, arrancou algumas do chão e aproximou-as das narinas. 

    Lágrimas corriam lentamente pelo rosto desengonçado do jovem, enquanto se sentia triste, mas também feliz, mesmo que não fosse o motivo pelo qual esse lugar existia. Sentia que homenageava sua avó. 

    Claro que isso sequer fazia sentido, mas que sentido existe em toda essa vida? Virando-se para a lua cheia lá no céu, Leonard se sentia estranho, era como se em casa, não uma casa material, pelo contrário, uma casa que nem mesmo as barreiras materiais compunham. Uma casa sentimental

    — Vó, saiba que você para mim foi tudo. Eu e Calli ficamos arrasados desde a sua morte… 

    Ele ficou cabisbaixo, agora sentado sob as próprias pernas, ainda com os joelhos raspando em inúmeras pétalas. Não era o momento certo, mas ainda, sim, esse talvez seriam seus últimos momentos em que sentiria um lugar belo, semelhante ao sorriso de Morgiana e à própria presença dela.

    — Desde que Sophie desapareceu, poucos anos após você ir, venho tomando conta dos dois. — Em meio aos prantos e soluços, o nariz de Leonard escorria, passando o carpo da mão para limpar. 

    — Tudo tem sido tão difícil ultimamente… Eles crescem tão rápido, eu estou ficando exausto, vovó… Às vezes, sinto só vontade de gritar para o mundo inteiro tudo o que sinto, mas desisto, desde que ela ficou grávida do James… 

    Seu choro era purificador, pois se sentia sendo visto pela própria avó, mesmo sem conseguir vê-la, sabia que ela estaria o observando, sabe-se lá onde esteja.

    — Eu fui fraco esse tempo todo… Fugindo, me esgueirando para não ser visto pelos outros, com medo de ser confrontado… Eu fui totalmente o que a senhora me mostrou, apenas um medroso foi o que me tornei… — Com o braço esquerdo, tentava limpar as lágrimas no rosto, o rio em meio aos soluços não deixaria tão fácil. 

    — Desde que a senhora se foi, o Calli se tornou mais frio… Aquele sorriso, eu pagaria tudo para ver um sorriso genuíno como aquele novamente em seu rosto, mas você ter ido, tornou tudo tão difícil. 

    Faltavam palavras para descrever tudo que sentia, mas Leonard continuaria, afinal, estava exausto, todas as informações das últimas horas o lembrava de todo o tormento. 

    — Não entendo todo esse maldito fardo que o mundo continua a jogar em cima de mim, vó… Estive tendo que mentir para o James que Sophie apenas foi viajar por um longo período de tempo, com medo da reação dele, quando descobrisse que nesse tempo todo ela só havia nos abandonado sem dizer um mísero “a”. 

    A luz da lua iluminava-o mais a cada instante, o céu, sabe-se lá que horas eram, estava já sem suas nuvens, substituídas por um breu total se não fosse a luz da lua resplandecente. 

    — Esse fardo todo, vim para esse maldito lugar sem saber o porquê, enfrentei humilhações atrás de humilhações, já era para estar morto. Cada mísero lugar dessa terra de merda foi uma provação que me levaria à morte certamente. Por quê? Me diga por que vovó? Por que parece que o mundo inteiro está contra mim? — Lançava o olhar novamente à lua, enquanto algumas pétalas das flores voavam ao céu, formavam uma bela dança. 

    — Seria culpa daquele maldito livro? Que simplesmente desapareceu sem deixar rastros? Por que apenas comigo? O que eu fiz para carregar esse fardo? 

    Colocava ambas as mãos no rosto, cobrindo-o e tentava desesperadamente retirar todo o seu lamento de lágrimas.

    — Seriam a culpa desses malditos olhos? Se eu os arrancasse, acabaria com todo esse tormento de merda?! 

    Batia o rosto no chão a partir de uma cabeçada, as lágrimas, pétalas e a testa de Leonard foram tingidas com um vermelho-escuro, manchando a beleza daquele campo. Mas não foi em vão, levantou o próprio rosto que agora se manchava de sangue, sentia uma mão etérea tocar seu rosto, especificamente abaixo de seu olho esquerdo, limpava as lágrimas. 

    Era a mesma textura que lembrava o toque de sua avó, o corpo inteiro de Leonard se sentia calmo instantaneamente. Embora fosse um singelo toque para limpar suas lágrimas, lembrava-se da sensação de, enquanto criança, ficar deitado em seu colo aconchegante e carinhoso… 

    — Vovó, você realmente está aqui? Tudo está sendo tão… Difícil sem o seu sorriso.

    O que parecia tocar se revelou apenas uma pétala daquela linda flor que simboliza tanto a ele que manchou de sangue e caiu em sua frente. 

    — Cada uma dessas… Todas me lembram você, se eu pudesse… Se eu pudesse, eu ficaria aqui eternamente com você… 

    Abatido sob a luz pálida da lua, esquecia cada uma das vezes em que se sentia inútil, preenchido por uma inquietante sensação de eternidade. O momento, pelo menos em sua mente, se tornaria uma eternidade sem precedentes e ele sabia bem disso. 

    — Você ficará para sempre na minha memória, vovó… Mas é hora de acabar com isso. — Leonard retirava a espada das flores e realizou um corte à frente, revelando aquilo que realmente estava próximo de acontecer. 

    A imagem se fragmentava e revelava uma lua vermelha no alto do céu, tingida de um vermelho escarlate, semelhante ao próprio sangue que escorria da testa de Leonard. Se não fosse a visão eterna, talvez estaria morto neste exato segundo.

    Em frente a Leonard, agora um pouco mais afastado, havia um ser semelhante a um esqueleto, vestido com uma túnica preta, embora o resto do corpo fosse visível, seu rosto era obscurecido pelo capuz, mas o que realmente se destacava, era a enorme foice em suas mãos, quase duas vezes maior que o próprio espectro da morte.

    Nos vemos novamente no sábado!

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