Índice de Capítulo

    Olá, segue a Central de Ajuda ao Leitor Lendário, também conhecida como C.A.L.L! Aqui, deixarei registradas dicas para melhor entendimento da leitura: 

    Travessão ( — ), é a indicação de diálogos entre os personagens ou eles mesmos;
    Aspas com itálico ( “” ), indicam pensamentos do personagem central em seu POV;
    Aspas finas ( ‘’ ), servem para o entendimento de falas internas dentro da mente do personagem central do POV, mas não significa que é um pensamento dele mesmo;
    Itálico no texto, indica onomatopeias, palavras-chave para subverter um conceito, dentre outras possíveis utilidades;
    Colchetes ( [] ), serão utilizados para as mais diversas finalidades, seja no telefone, televisão, etc;
    Por fim, não esqueça, se divirta, seja feliz e que os mistérios lhe acompanhem!

    Uma hora havia se passado desde que Cedric deixou o quarto. As velas ardiam em combustão lenta, lançando sombras inquietas sobre as paredes de pedra. Lá embaixo, no grande salão, os sons da festa se espalhavam como uma onda distante — risadas, o tilintar de taças, o rumor abafado das vozes que se confundiam num emaranhado indistinguível. 

    O tempo parecia se mover de forma estranha, arrastado e, ao mesmo tempo, fugidio. 

    Então, um ruído suave rompeu a quietude. A porta abriu-se, revelando a silhueta esguia de uma mulher.

    Elizabeth Greyfull entrou com a graça de quem já estava acostumada a ser o centro de todos os olhares. O vestido vinho escuro fluía ao seu redor como o próprio crepúsculo, e suas luvas negras, feitas de um tecido finíssimo, abraçavam-lhe as mãos com a mesma precisão com que segurava as rédeas do império. Ao redor do pescoço, um pingente de ouro reluzia sob a luz bruxuleante, segurando uma gota perfeita de safira, azul como os mares do sul.

    Seus olhos cinzentos, frios e perspicazes, pousaram sobre Calius.

    — Está na hora. Todos os convidados já chegaram. — A voz era calma, mas firme, uma melodia de doçura ensaiada e aço subjacente.

    Calius ergueu-se da cama, finalmente fitando sua mãe de frente.

    Ela era diferente dele e, ao mesmo tempo, parecida de um jeito desconcertante. Enquanto a pele de Calius era pálida como mármore, Elizabeth tinha um tom mais moreno, aquecido pelo sol das terras de Newham. Os cabelos, um castanho-claro acobreado, caíam em ondas suaves, entrelaçados em uma coroa de azaleias brancas e trançados duplos que lhe davam um ar etéreo. Mesmo sendo alguns centímetros menor que o filho, seus saltos lhe concediam uma presença maior, mais imponente.

    Mas não era isso que a destacava.

    Era o olhar.

    Olhos cinzentos, tão semelhantes aos dele, mas desprovidos da hesitação que o atormentava. Os dela eram resolutos, lapidados como lâminas afiadas ao longo dos anos.

    Calius suspirou e sorriu de leve.

    — Você está bela, como a luz do sol, mamãe.

    Elizabeth ergueu uma sobrancelha, um fantasma de sorriso brincando em seus lábios. — Meu caro Calli… Meu lindo filho, a quem carreguei no ventre por tanto tempo, e que agora está à beira de se tornar um verdadeiro homem. — Sua mão tocou de leve o rosto do filho, um gesto raro, quase perdido no tempo. — Eu e seu pai estamos felizes por você e Richard. Ambos serão os pilares do futuro de Eldor. A promessa que todos aguardam.

    Calius desviou o olhar, e sua voz veio seca, controlada.

    — Se comparado a Richard, sou apenas um grão na ampulheta. Enquanto ele existir, existirei na sombra.

    Elizabeth inclinou a cabeça levemente, avaliando-o. 

    — Não diga isso. Ao se casar com Asher, você será o duque de Newham e governará todo o oeste do império.

    — E de que há de servir? — Ele bufou, caminhando até a lareira, onde uma única vela tremulava ao lado de uma taça de vinho intocada. — Newham não é Eldor. Tampouco se compara à grandeza de Richard. O oeste não passa de um punhado de vilarejos carregados de arautos das espadas, homens devotos de Valtherus, mas inúteis quando se trata de poder real.

    Elizabeth estreitou os olhos, mas sua voz permaneceu serena.

    — Newham tem o maior número de peregrinos de todo o império. Se há uma força capaz de rivalizar com a dos magos de Sirescenter, é a deles.

    Calius riu, balançando a cabeça.

    — Realmente, nunca consigo vencer você em uma discussão.

    Elizabeth esboçou um sorriso, pequeno e triunfante.

    — Você cresceu tanto… Mas não se esqueça, meu filho: você deve ser um pilar para Richard. Ele será imperador, mas cada império precisa de sombras fortes o suficiente para sustentá-lo. Alguns o chamam de louco, outros o veem como alguém perspicaz… Mas acima de tudo, todos o reverenciam como o segundo príncipe.

    Ela hesitou por um momento, depois acrescentou:

    — E como a sombra de Johann.

    O nome pairou no ar entre eles.

    Calius ficou em silêncio por um instante antes de se aproximar e abraçá-la. Elizabeth retribuiu sem hesitação, envolvendo-o com os braços num aperto firme, mas breve.

    Quando se afastaram, ele sorriu de lado.

    — Me concederia a primeira dança, mãe?

    Ela ergueu o queixo, orgulhosa.

    — Se assim deseja, concederei. Vamos agora, filho.

    — Certo.

    Juntos, saíram do quarto e adentraram o corredor principal do palácio.

    Os grandes vitrais refletiam a luz das velas sobre os pisos de mármore, pintando sombras retorcidas no chão. As colunas escuras erguiam-se até o teto, ornadas com alegorias góticas e detalhes dourados. O negro e o cinza predominavam na decoração, combinando perfeitamente com as vestes de Calius — e com a sensação inescapável de que, por mais bela que fosse a noite, algo nela já estava destinado a ruir.

    Os passos de Calius ecoavam pelo corredor de pedra fria, cada som ricocheteando nas paredes altas, como se anunciando sua presença aos fantasmas que talvez habitassem aquele lugar. À direita, imponentes vitrais contavam histórias do passado glorioso de Eldor, tingidos de ouro, carmesim e azul. A luz filtrada pelo vidro projetava padrões ondulantes no chão, enquanto abaixo, longas vidraças revelavam os campos distantes, salpicados de azaleias brancas que ondulavam suavemente ao vento. Símbolos de uma paz tão efêmera quanto o brilho de uma vela em um aposento aberto.

    — As flores em seu cabelo vieram dos Campos Elísios? Ou dos Campos de Asfódelos? — Calius quebrou o silêncio, a voz hesitante, mas carregada de curiosidade. — Cheiram muito bem.

    Elizabeth não precisou olhar para ele para responder.

    — Campos Elísios. Colhidas há poucas horas pelos serviçais.

    — Entendi… — Ele murmurou, seus olhos vagando pelas azaleias além do vidro. — São belas, como a senhora.

    Elizabeth soltou uma risada baixa, um som mais de ironia do que de afeição.

    — Não diga isso. Hoje você estará oficialmente junto de sua futura esposa, prometidos mutuamente desde antes de nascerem. É ela quem deve ocupar seus pensamentos e seu coração.

    Calius suspirou, o peso daquelas palavras pressionando-o ainda mais contra o chão que já parecia tão distante.

    — Se fosse algo tão simples… — Ele disse, a voz tingida de uma melancolia amarga. — Existem destinos que nem mesmo alguém da realeza consegue escapar. Talvez o próprio destino seja singular, fixo, sem bifurcações. Mas sinto que hoje… será diferente.

    Elizabeth parou por um momento, fitando-o com aqueles olhos cinzentos e implacáveis que tanto o perturbavam.

    — Hum… O que você tanto conversou com Cedric mais cedo? — A pergunta veio casual, mas Calius conhecia bem o tom inquisitivo por trás. — O pequeno oráculo abençoado por Valtherus fala raramente por falar. Ele disse algo importante, não foi?

    — Falamos de coisas triviais. — Ele mentiu, mas a firmeza em sua voz traiu a verdade. — Colocamos nossos assuntos em dia. Faz muito tempo desde que pudemos conversar livremente, desde que a igreja tomou interesse por suas dádivas… e desde que começaram a me chamar de Príncipe Louco.

    Elizabeth franziu levemente o cenho, mas não demonstrou surpresa.

    — Como podem? — Ela disse, seu tom impregnado de desdém. — Alguém tão perspicaz… tão claro em sua visão, ser chamado de louco? As pessoas são cegas por natureza. Incapazes de enxergar a verdade, mesmo quando ela lhe roça o rosto. Preferem abraçar opiniões que outros despejam sobre elas, como cães atrás de migalhas.

    Calius não respondeu, mas o canto de sua boca ergueu-se em algo próximo de um sorriso amargo.

    Ao final do corredor, as grandes escadarias de pedra esperavam, espirais que desciam em direção ao salão principal. Lá embaixo, as vozes e risadas eram inconfundíveis. Nobres festejavam com um entusiasmo que beirava o hedonismo.

    Cada passo que Calius dava descendo aquelas escadas, era como carregar um peso maior. A sensação de que algo se firmava em seus ombros, algo que talvez jamais pudesse tirar.

    As luzes dos candelabros dourados finalmente alcançaram seu rosto, revelando o salão. Ali estavam eles: condes, marqueses, viscondes e barões, divididos em círculos de conversa, tramando e rindo ao mesmo tempo. Próximo ao centro, o rei Johann destacava-se como o sol no sistema que ele próprio criara.

    Ao lado dele estavam os quatro duques do império, as fortalezas humanas que guardavam cada extremidade de Eldor. Alexander Rucandel, o imponente tio materno de Calius, já o notara. Com quase dois metros de altura, sua presença era tão grande quanto sua figura, trajando roupas refinadas de um tom marrom-claro que contrastava com sua pele morena e seus olhos castanhos escuros.

    E ao lado de Alexander, Roland Raylegh, conde de Newham e futuro sogro de Calius. Sua veste azul reluzia sob a luz, mas o que chamava atenção era seu cabelo loiro, agora misturado ao cinza da idade. Para muitos, Roland era o mais fiel amigo de Johann. Mas Calius sabia a verdade.

    “Dois homens, dois segundos filhos, jurando casamento entre seus descendentes apenas para evitar uma guerra… Dois hipócritas cuidando de seus próprios interesses.”

    O salão ficou em silêncio quando Elizabeth e Calius chegaram ao centro das escadas. Todos os olhares se voltaram para eles, e Johann ergueu sua taça dourada.

    Ele esperou apenas o suficiente para que o peso do momento recaísse sobre Calius antes de falar, sua voz grave preenchendo o salão.

    — Sob os olhos de todos, meu segundo filho não é mais um jovem. Hoje, ele dá um passo à frente, mais próximo da glória que cabe aos homens da nobreza. Um brinde a Calius, e à grandeza que ele alcançará!

    As taças se ergueram ao céu, como espadas prontas para um juramento.

    Calius ficou imóvel, seus olhos vagando pela multidão. Ele não ouviu os vivas, nem o som do vinho sendo sorvido. Tudo ao seu redor parecia congelado, menos a visão que lhe surgiu naquele instante.

    Bom dia, nos vemos novamente na quinta!

    Apoie-me

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 98.18% (11 votos)

    Nota