Capítulo 26 — Juramento Quebrado

Quando a porta se abriu, Leonard sentia-se desapontado, esperava uma vista incrível, mas foi recebido com um cômodo empoeirado e cheio de tranqueiras.

O fio prateado que viu anteriormente tomava uma coloração mais forte, ao decorrer que o jovem seguia caminho abaixo com Dante e os outros. Pelo visto, havia algo ali que valia a pena. Embora esperasse algo espetacular, o local de onde se originou o fio era bem sujo…

“Essa poeira toda… Bem pior do que aquele lugar, não consigo parar de espirrar.”

Leonard soltava espirros sequenciais, enquanto iria atrás do fio, deixando Liam e Claire para trás. 

Atim!!!

Andando com dificuldade, o jovem finalmente chegou àquilo que originava o fio, era uma espada prateada aparentemente comum, mas por algum motivo o fio se enrolava em inúmeros outros em uma parte próxima ao cabo da lâmina.

— Te achei… — Sussurrou para si.

À primeira vista, outras pessoas deveriam pensar que é apenas uma espada comum, mas para Leonard era diferente, a visão eterna da loucura clamava por ela e sentia-se bem vendo a espada…

“Ela é semelhante com aquela espada.”

Se lembrou da espada que o acompanhou em todo aquele inferno, na qual foi fraturada durante o combate, semelhante às linhas que o destino entrelaçou.

As costas da mão do garoto estavam quentes, enquanto um fino fluxo fantasmagórico saía dele e adentrava no cabo da espada

“Vamos lá…”

Segurou o cabo com a mão direita firmemente, enquanto com sua mão esquerda, sentindo cada músculo do braço direito estremecer, apertou firme o punho, cada veia do corpo de Leonard parecia saltitar com um impulso sinistro.

A própria visão embaçou e o corpo sentia-se caído no chão.

Como um baque, a mente turva de Leonard, começou a contrair e extrair inúmeras visões, o mundo inteiro parecia se fragmentar, enquanto correntes prendiam o próprio.

“O-onde eu estou?”

A própria mente do jovem, parecia mais lenta, como se sua capacidade de raciocínio estivesse limitada. 

Restaurando a visão, Leonard se via, preso em inúmeras correntes, este seria um fardo? 

Na frente, semelhante a uma pedra, havia em cima aquela mesma espada, mas dessa vez, mais bela, parecia completa e passava uma aura triste… O mundo inteiro, uma grande prisão, o próprio céu cinzento, as correntes que saem da lâmina se prendiam no mesmo.

— Este é o destino de um escravo, compreende-o? 

— Ei que merda você tá falando, eu não sou escravo nenhum!

“Primeiro me tratam como uma formiga, depois dizem que eu sou descendente de um imperador e agora escravo? Que porra que tá acontecendo?”

— Todos nós somos escravos, alguns mais elevados do que os outros, mas escravos de diversas coisas.

— Quê?

A voz parecia vir de dentro dele mesmo, não, eram iguais, mas tão diferentes.

— Somos escravos daquilo que o destino deseja, das promessas e juramentos que fazemos. — Lentamente, uma figura começou a se formar na frente de Leonard.

Mas acabou sendo apenas uma impressão, não havia nada além da espada enfiada na pedra.

— Você não irá revelar sua verdadeira forma?

— Já tive uma, hoje? Sou apenas um fracasso, um espírito fragmentado em seis partes…

“Isso é algum tipo de charada?”

Levantando, o tilintar das correntes ecoava por todo o espaço. Leonard sentia principalmente dificuldade pelo peso de todas aquelas correntes. Com toda a força que tinha, conseguiu dar três passos, antes de cair novamente esgotado.

“Parece que essas correntes estão prendendo algo dentro de mim, mas não consigo dizer o motivo.”

As próprias correntes não tinham um lugar propriamente dito, que se prendiam no corpo do jovem, não notoriamente, embora todos os caminhos se divergissem, todos levavam a um só ponto.

O coração de Leonard, serpenteado por seis correntes vermelho vivo.

— Ei, garoto.

— O que foi?

— Você deseja a liberdade? Ser livre de todos os fardos tidos como inevitáveis.

Embora à primeira vista, Leonard gostaria apenas de responder que sim e fugir de tudo aquilo que lhe foi destinado. Mas, por algum motivo, estava tentado em continuar, impedir que o mundo e tudo que há nele se manche na loucura que o recebeu.

— Não. Não desejo a minha liberdade, desejo proteger tudo o que eu considero importante.

— Jure. — A voz permaneceu fria.

— Eu juro!

Nada havia acontecido, o jovem havia aparentemente falhado, no fundo, de sua consciência, parecia ter o juramento verdadeiro, um juramento que cada célula de seu corpo buscaria concretizar, um desejo e juramento hipócrita.

— Eu juro proteger acima de tudo James e Calli, independente do que aconteça! — Todo o ar em seus pulmões parecia queimar, enquanto juntava forças para falar alto e claro.

A espada presa à pedra, aos poucos, começava a tremer e se tornar translúcida, enquanto as próprias correntes aparentavam não pesar mais tanto, igual anteriormente.

Reunindo forças, Leonard tentou se levantar novamente, dessa vez, não parecia mais tão oprimido pelas correntes, embora, estas, ainda existissem e o lembrassem a cada momento.

Caminhou até a lâmina e a segurou com ambas as mãos no cabo, torcendo e entrelaçando os dedos, por algum motivo, o aperto parecia perfeito. Sem dificuldades, o garoto puxou a espada para fora da pedra.

Era magnífica, a mais bela das lâminas cinzentas que já viu, mas a visão perfeita se fragmentou em um mundo cinzento, a espada, levantada para sua frente, se fragmentou em seis pedaços etéreos na lâmina, tornando-a incompleta.

— Como eu posso me dirigir a você?

— Juramento Quebrado, a espada fraturada.

“Juramento Quebrado…”

Sem tempo para descansar, ainda em meio a todos aqueles pedaços despedaçados do espaço, o olho esquerdo de Leonard começou a se dissolver com inúmeras larvas, o corpo próprio parecia derreter como se fosse cera.

Era cruel e extremamente doloroso, a parte esquerda do corpo, inteiramente, mexia cada centímetro de maneira diferente, sua carne estava sendo consumida por inúmeros vermes, enquanto a própria consciência se fragmentava.

Perdendo a capacidade de sequer raciocinar em meio aos ecos de dor, o corpo parecia aos poucos quente em níveis absurdos, a própria alma de Leonard parecia queimar.

Paft! Paft! Paft! Paft! Paft!

O mundo inteiro parecia entrar em colapso em meio a uma cacofonia horrível, junto a consciência do jovem.

Paft! Paft! Paft!

Sua mente se despedaçou, sentia um forte impulso para vomitar, mas o corpo não reagia ao instinto desesperado.

A cabeça de Leonard rachou, abrindo e expondo seus miolos, antes de explodir e todo seu corpo virar inúmeros fragmentos de carne viva semelhante a vermes.

…

“Eu, eu, nunca saí do inferno!”

Leonard arfava o peito violentamente, enquanto tentava abastecer seu oxigênio, o mundo aos poucos se tornou distante, toda aquela loucura se dissolveu em milésimos, tudo parecia normal, mas ainda, sim, a dor no olho esquerdo era extrema, como se fosse uma dor que ultrapassava o próprio sentido físico.

“O nome ‘Visão Eterna da Loucura’ está correto, todos que a utilizam, estão fadados à loucura por esses momentos!”

Quando se deu conta, o mundo parecia normal com a espada em suas mãos, apenas um forte zumbido o ensurdecia. 

Com a mente ainda nublada, focalizou sua visão em um único ponto, enquanto tudo parecia se esvair, a lâmina em suas mãos.

A espada fragmentada, junto às inúmeras correntes que se estendiam por todo mundo, aos poucos ganhava cores, o cinza predominante se tornou mais vivo, aos poucos a própria espada se dissolvia de suas mãos, projetando partículas etéreas cinzas.

Quando percebeu, Leonard já havia voltado ao cômodo empoeirado, mas não havia sinais do juramento quebrado se não fosse a marca prateada reluzente na mão direita de uma lâmina quebrada magnífica e a grande tatuagem de correntes negras que entrelaçavam o braço do mesmo.

— Acabou? — Se virou para os lados, percebendo ser o único que ainda restava ali.

Decidindo ainda atormentado pela visão, buscou a saída, encontrando Liam, Claire, Dante e Katherine parados na entrada, enquanto Dante observava o relógio, Claire e Katherine estavam discutindo algo e Katherine buscava amenizar.

— Ei, não fale assim do Leo, ele só é alguém quieto! 

— Não muda que ele parece estranho, sempre perdido. 

Leonard ponderou por alguns segundos, pensando no que falar, mas de fato não havia palavras apropriadas e disse em um tom melancólico.

— Eu estou ouvindo…

A garota olhou para trás incrédula, seus fios de cabelo avermelhados pareciam desapontados, no momento que a mesma deixou vazar um simples “oh”.

…