Capítulo 29 — A Fotografia (3)

No centro da sala, estava um homem mais alto que Leonard de cabelos grisalhos, uma barba fechada, vestindo uma camisa florida roxa, cabelo liso todo jogado para trás em penteado e algumas rugas no rosto e um par de óculos de sol. 

Sem sombra de dúvidas, este era Louis Solomon, o líder de todo o Pendular da Noite, o investigador mais forte que o mesmo conhecia e que irradiava uma sensação estranha.

— Vocês estão atrasados. — Sussurrou Claire, após ambos ficarem ao lado dela.

Agora, vendo de frente, o porte físico, embora deteriorado pela perda do auge, ainda se mostrava ser alguém extremamente forte, não perdendo nem um pouco para o quadro atrás dele, um forte sinal de longevidade e a força humana.

— Agora podemos iniciar.

Estranhamente, a voz rouca do senhor fazia com que os três novatos sentissem uma enorme pressão nas pernas, mas se esforçavam para permanecer em pé.

“Outro efeito da energia espiritual?”

— Magnífico Dante, os três são joias a serem lapidadas, mas você soube trazer talentos.

— Sim, pai.

“Pai? Espera, o Dante é filho do chefe?”

Observando os outros, notou que apenas Liam, Claire e ele se mostraram surpresos, enquanto cogitava algo, retornou a observar o senhor.

— Acho que isso não será mais necessário… As crianças crescem tão rápido, bem vindos à família os três. — Louis soltou um sorriso.

Instantaneamente, toda a pressão que exercia contra os mesmos desapareceu. 

— Hã? — Os três reagiram da mesma maneira, perdidos.

“Espera, o quê?”

Katherine não conseguia segurar a risada, percebendo que os três ainda não haviam entendido o que estava acontecendo.

Aparentemente, não foi apenas ela, um após o outro percebia o que havia acontecido nas entrelinhas.

“Todos se veem como uma grande família?”

Leonard parecia ter obtido uma explicação sobre o porquê estavam rindo, percebeu Louis indo até os três, um após o outro, e colocando a mão no ombro.

— Sinto muito pelo que houve. — Disse a Claire, dando um abraço na mesma. 

Após isso, a figura paterna da organização foi até Liam, apertou a mão do mesmo e disse palavras baixas que Leonard, estando do outro lado, não conseguiu ouvir.

Finalmente, Louis estava em frente a Leonard, ambos encarando o olho um do outro. Quando o homem tocou em seu ombro e começou a falar, o mundo inteiro parecia se distanciar ao longo do horizonte e, mais uma vez, a consciência de Leonard foi transferida.

…

As mãos de Louis seguravam firmemente os ombros de Leonard, seu rosto metade desfigurado e a outra parte com um breu total, havia perdido seu olho e próximo à cruel morte. 

— Escute Leonard, quando tudo cair, você… Apenas você conseguirá reerguer a humanidade. Continue… Lute por… — O corpo, já sem vida, caiu em frente, quase levando o jovem junto. 

… 

Recobrando-se da própria consciência, demorou instantes para compreender tudo o que estava acontecendo, escutando apenas as últimas palavras do homem.

— Cuidaremos desta parte faltante de sua alma, pode ter certeza, filho.

Ainda imóvel e reorganizando os pensamentos, Louis o abraçou firmemente e Leonard retribuiu enquanto estava em prantos.

— Não precisa chorar, garoto.

Esta foi a primeira vez que teve a oportunidade de chamar alguém de pai e, ainda por cima, a familiaridade da visão só apontava uma conexão muito além do material que ambos tinham.

“Eu não consegui te proteger daquela vez, tio…”

Depois de toda recepção, cada um dos novatos se dividiram. Liam foi para um dos dois dojos da casa junto a Dante, ambos iriam treinar algo separadamente.

O outro esquadrão ocupou o outro. Claire, Katherine e Kassandra foram para o segundo andar novamente, provavelmente para aprender algo envolvendo a teoria da energia espiritual.

…

Sentados em cadeiras um ao lado do outro, Leonard não sabia o porquê de Louis o ter escolhido diretamente para treinar durante essa tarde, mas pelo menos, ambos tinham uma certa sensação de familiaridade.

— Como você fez toda essa bagunça com a sua alma?

— Eu sinceramente não sei…

Leonard olhava para o jardim, sentindo-se um pouco triste, essa sensação lembrava-o os tempos com sua avó — Morgiana.

— Então começarei desde o início, com uma pequena história, tem algum problema, Leo?

— Não…

“Uma história?”

— Durante o século perdido, existiam seres humanos peculiares que ao longo do tempo foram chamados de “Os Destinados” por um motivo em particular. Estes conseguiam materializar a essência da própria alma por meio de fenômenos sobrenaturais, poderes desconhecidos que não eram disponibilizados pelas relíquias que usamos ou coisas do gênero, são técnicas inatas de cada um de nós, entende?

— Algo que veio desde o início…

— Bom, continuando… — Pigarreou. — Nos tempos antigos, chamavam essas pessoas de portadores de legados ocultos, cada legado é singular e único, remetendo à própria essência da alma que cada um porta.

“Singularidade de cada um…”

— Hoje em dia, chamamos essa maldita capacidade de estigmas, por deixar marcas na nossa própria alma para sempre, uns veem como benção, outros como uma maldição.

Louis continuou sem uma pausa. — Existem dois tipos de estigmas, os primeiros e mais comuns, são as “Heranças Malditas”, estas que se tratam de um estigma passado de geração em geração, para pessoas que têm ou não ligações sanguíneas com o último usuário.

“Herança maldita… A Visão Eterna da Loucura seria dessa classificação?”

Louis hesitou alguns instantes em continuar falando, mas logo decidiu continuar a explicação, averiguando que Leonard não tinha nenhuma dúvida no momento.

— Exemplos desse tipo são Dante e a garota Claire, embora ela não tenha herdado totalmente. Já o segundo tipo é diferente, chamados de técnicas inatas, como exemplo, sou eu, Rose e agora você.

“Técnica inata? Mas eu tenho quase certeza de que herdei do príncipe…”

— Usuários de técnica inata são pessoas irregulares que conseguiram por conta própria expandir a essência da alma, mas isso tem um grande preço. — Fez uma pequena pausa. — Estes que passam pelo despertar da técnica inata já estão marcados pela própria morte, um dia, cada um de nós nos tornaremos aberrações ocultas.

Leonard sentiu um frio percorrer sua própria espinha, as palavras utilizadas por Louis eram o suficiente para destruir toda a paz que havia em seu ser.

— Pode-se dizer que somos miseráveis, em troca de mais poder, nos entregamos ao eventual destino de morrer. A pessoa que hoje pode ser seu pilar de apoio, amanhã pode ser uma aberração que ou você matará, ou ela irá te matar. Anote bem isso, garoto, essas são as rédeas que permeiam esse mundo louco.

Engolindo seco, toda essa conversa o fez sentir ainda mais medo do fardo em que foi posto a ele.

“Isso tudo é uma merda, já não sei mais o que o destino me aguarda…”

Um abismo abria nos olhos antes iluminados de Leonard, seu entendimento o parecia ter jogado de um penhasco ao ver Louis, se mantendo sério.

Todos vamos morrer, inclusive eu, essa foi a visão que a visão eterna sempre o avisou.