Olá, segue a Central de Ajuda ao Leitor Lendário, também conhecida como C.A.L.L! Aqui, deixarei registradas dicas para melhor entendimento da leitura:
Travessão ( — ), é a indicação de diálogos entre os personagens ou eles mesmos;
Aspas com itálico ( “” ), indicam pensamentos do personagem central em seu POV;
Aspas finas ( ‘’ ), servem para o entendimento de falas internas dentro da mente do personagem central do POV, mas não significa que é um pensamento dele mesmo;
Itálico no texto, indica onomatopeias, palavras-chave para subverter um conceito, dentre outras possíveis utilidades;
Colchetes ( [] ), serão utilizados para as mais diversas finalidades, seja no telefone, televisão, etc;
Por fim, não esqueça, se divirta, seja feliz e que os mistérios lhe acompanhem!
Capítulo 3 — Devaneios
Leonard despertou em um sobressalto, o coração disparado e a respiração entrecortada. O tremor que o acordara parecia ressoar pelo corpo, como se cada fibra de seu ser tentasse negar a realidade ao redor.
— Que merda é essa? Onde eu estou? Cada vez meus sonhos estão ficando piores! Como posso dormir com uma situação de merda como essa?
Ele levou a mão em direção ao peito, tentando acalmar com o coração tempestuoso que martelava descontroladamente. Foi então que percebeu algo ainda mais estranho. Este não era o seu quarto. As paredes familiares haviam desaparecido, substituídas por uma vastidão estranha, impregnada novamente pela inquietação desconhecida.
Algo lhe incomodava profundamente, como uma memória distante de um sonho esquecido, uma visão que o aterrorizava na infância… mas desta vez, tudo era ainda mais real. Um desfiladeiro colossal se estendia até os confins da visão de Leonard.
As rochas manchadas de vermelho em diferentes tons brilhavam sob uma estrela negra que iluminava como o sol — uma espécie de calamidade. Era como se o próprio céu conspirasse contra sua sanidade.
— Mas que porra é essa?!
Apertou o próprio braço com força, na esperança de acordar de um possível pesadelo. Mas a dor só confirmou o que já temia: ele estava acordado. Erguendo-se, o rapaz observou o chão ao redor.
— Essas horas eu deveria estar dormindo e não em um lugar macabro como esse, tenho que trabalhar amanhã, isso não me ajudará em nada… — sussurrou.
Pequenas flores estranhas, murchas e de tonalidade roxa, estavam aqui e ali, lembrando-lhe vagamente das flores de crisântemos — uma memória que lembrava Sophie, que o ensinara sobre flores. Ele não teve tempo de aprofundar os pensamentos; sua intuição gritou. Jogou-se instintivamente para o lado, escapando por pouco de algo que emergira de uma das flores.
“Preciso sair daqui!”
Era uma criatura bizarra, semelhante a um chicote de carne com uma boca na ponta. Ao cair de mau jeito, sentiu o impacto no ombro, mas não parou para lamentar. Levantou-se e correu para longe daquele desfiladeiro maldito.
Conforme avançava, o cenário aos poucos se transformava. As paredes rochosas começaram a dar lugar a montanhas escarlates, formando uma paisagem tão majestosa quanto ameaçadora.
“O-o que é isso…”
No alto, entre nuvens pesadas, um castelo colossal pairava sobre um pico distante. Só de olhar para ele, sentia como se o peso do mundo caísse sobre seus ombros. O ar parecia rarefeito, o peito enjaulado em uma gaiola.
— Não… não consigo respirar… — tentou falar, enquanto agarrava o peito. Cada detalhe do castelo exalava uma sensação de imenso desespero.
Faltavam palavras, como se na presença do castelo, com seus altos torreões, nada mais prevalecesse além do puro… desespero. Agarrando a mão direita no próprio peito, tossia enquanto olhava para o chão, seu coração a mil, sentia muitas dores, todo corpo gritava por socorro.
Aterrorizado, Leonard percebeu um tremor no chão. Tentáculos imensos emergiram, acompanhados por uma massa disforme e negra, com um olho central. A criatura, uma abominação impossível, se arrastava pelo terreno, buscando sua próxima vítima. Um frio percorreu a espinha dele, e se escondeu rapidamente em uma fenda estreita na parede.
“Porra, merda, merda… Que merda é essa, é contra essas coisas que os investigadores lutam? Isso tudo só pode ser um pesadelo, certo? Isso é realmente um pesadelo, não é?”
O olho colossal vasculhava o desfiladeiro, sua luz rubra atravessando as rochas e expondo tudo em seu caminho. Ele mal conseguia respirar, temendo que qualquer movimento revelasse a sua presença. Quando a criatura finalmente se afastou, e os tremores no chão pararam, ele caiu no chão, ofegante, com o corpo tremendo.
“Tudo acabou, né? Passou… Logo eu vou acordar, sim, de fato, agora eu acordarei, certo?”
Mas ao contrário do que pensava, não havia alívio. Ao lado dele, algo que antes passara despercebido, havia um cadáver em estado de decomposição. Larvas rastejavam pela superfície da carne apodrecida, enquanto o tórax estava grotescamente aberto. O estômago de Leonard revirou e, não aguentando, ele vomitou. Tudo aquilo era demais para ele.
— BLERRH! — Enquanto vomitava no chão com o resto de suas forças, caiu e bateu o rosto na terra. Um pouco do líquido que despejara acabou atingindo seu rosto, mas, reunindo a pouca força que restava, conseguiu esfregar e retirá-lo.
Rastejando para longe do corpo, encostou-se no lado oposto do cadáver e do seu vômito. A mente, à beira do colapso, se segurava na linha tênue das lembranças com seus irmãos, que o mantinham consciente. Eles não podiam estar ali, não podiam enfrentar um inferno como este. E, pela primeira vez, após tanto tempo, Leonard chorou.
As lágrimas vieram como uma torrente, trazendo um alívio amargo. O corpo dolorido, o estômago revirado e o gosto excruciante do próprio vômito na boca. Tentou juntar saliva para cuspir e aliviar-se da sensação nojenta, mas a garganta seca e arranhada não permitiu.
“Eu só queria… me livrar de tudo isso… O que eu fiz de errado? Que pecado estou pagando?”
O jovem se sentia incrivelmente só! Pensava nos irmãos, na pequena felicidade que sempre compartilhavam apesar das dificuldades que enfrentavam. Sentia um misto entre querer seus irmãos por perto, mas também o horror de imaginá-los passando por esse mesmo sofrimento.
E, exausto, ele caiu em um sono sem sonhos.
***
Passou-se uma hora, um dia, uma semana, Leonard não sabia mensurar quanto tempo se foi 1. Mas finalmente se sentia melhor, com uma notável maciez às suas costas. Ele quase chegou a pensar que tinha finalmente acordado do pesadelo e estava em casa. Quase.
Ao recuperar a consciência completamente, ficou alerta. Sua última lembrança era o corpo em decomposição à sua esquerda, mas ao contrário do que pensava, não havia corpo nenhum lá. Era como se nunca tivesse tido um corpo naquele lugar.
“O que aconteceu?”
Juntando o pouco de força que ainda tinha, levantou-se e caminhou, apoiando-se nas paredes para fora do esguio vão da fenda. Novamente, aquele desfiladeiro com diferentes tons em vermelho se desdobrava à sua frente.
“Para onde eu vou?”
Caminhou na direção oposta à que viera tempos atrás. Embora com dificuldade, a cada passo, seu coração se preenchia de esperança. Ainda que longe, Leonard ouvia o som de água a pingar, e isso o ajudava a recobrar a consciência muitas vezes enquanto se sentia confuso e sem rumo.
Perdurou por dez, vinte minutos ou até mesmo mais, até as enormes paredes que antes o sufocavam por sua imponência diminuírem até se tornarem singelos pedregulhos. À frente, uma região que se assemelhava a uma planície, mas também a um planalto, surgiu.
“Finalmente… Água…”
O som de água pingando encheu seus ouvidos, com a renovação da fagulha de esperança. Ele continuou cambaleando, seguiu na direção do som, apenas para descobrir a origem do gotejar…
Poças de água misturadas à grama alaranjada. A grama demonstrava ainda mais uma sensação de irrealidade, mas Leonard se lembrava da cruel verdade de que tudo isso não era um sonho… Essa era a realidade, nua e crua, com suas encruzilhadas diante do futuro.
“Não… é… possível…”
Ele caiu de joelhos, estava exausto. O mundo ao redor parecia se deleitar de sua miséria. Tudo era surreal, e ao mesmo tempo, tudo era cruelmente real. O vermelho ao redor, era mais do que uma cor, era o tom da própria desesperança. E naquele, sucumbiu ao desespero.
“Foda-se.”
Vendo a poça de água na grama úmida, ele não resistiu ao cheiro nauseante de terra molhada e cedeu à sua necessidade desesperada. Curvando-se, enfiou o rosto naquela água barrenta e tentou beber o pouco que encontrou ali.
A água salobra tinha um gosto apodrecido, revirando seu estômago. Ele tentou engolir, mas o sabor era insuportável. Cuspiu o líquido com nojo, o sabor piorou ainda mais quando uma criatura semelhante a uma centopeia emergiu daquela gosma de água, terra e saliva.
“Puta que pariu, esse lugar fica pior a cada momento. Sério, esse será o meu fim!”
Os olhos de Leonard seguiram a centopeia, fascinados. Apesar de pequena, ela parecia se mover rápido demais para um bichinho tão diminuto. A grama, úmida como se uma tempestade recente tivesse passado, dificultava ainda mais manter o foco nela.
O ambiente insalubre aumentava a sensação de perigo. Sabia que precisava tomar cuidado com buracos escondidos pela vegetação encharcada. Ele não sabia dizer se era curiosidade, instinto ou puro desespero, mas algo o fez seguir o ser rastejante. Talvez fosse a necessidade de se apegar a algo, qualquer coisa, para não enlouquecer.
“Talvez… Talvez ela conheça algum caminho melhor… Talvez eu consiga encontrar algo… Que sede e fome… faz tempo que não me alimento direito…”
Seu estômago roncava, um som seco e persistente. Tentou ignorá-lo, mas sua mente já começava a divagar, pensando em seus irmãos. Estariam procurando por ele? Notaram seu desaparecimento?
“Se existe algum tipo de saída, eu devo encontrar…”
O caminho íngreme o levou ao que parecia ser um ninho, mas era mais do que isso, era como um santuário de putrefação. Lá estavam outras quatro centopeias, algumas tão finas quanto seus dedos, outras espessas como salsichas podres, todas com suas patas infinitas ondulando em um ritmo nauseante.
No centro, um amontoado pulsante de carcaças em decomposição que Leonard não conseguia identificar totalmente. Não era um pássaro, não era um roedor… a forma era estranhamente alongada, com protuberâncias ósseas pontiagudas e uma pelagem que parecia se desfazer em pústulas, exalando um odor adocicado e pútrido que grudava na parte de trás de sua garganta.
— Ugh!
O nojo tomou conta dele, subindo como bile, ao imaginar comer aquela carne em putrefação. Mas algo em sua memória, um estalo de fome primordial, o fez hesitar.
“Centopeias… Têm carne, não é? E também líquido… O seu sangue…”
Seu delírio o guiou, não para a sanidade, mas para um abismo mais profundo na insanidade. Em um ato de desespero desprezível, Leonard agarrou uma das centopeias mais gordas. Sentiu as patas finas e farpadas arranharem a palma de suas mãos, uma sensação de formigamento asqueroso que o fez arrepiar.
A criatura se contorceu, seus múltiplos segmentos chocando-se uns contra os outros. Ele a apertou com a força do medo e da fome. Fechou os olhos, prendendo a respiração, e a enfiou na boca.
Crack!
O som foi abafado pela carne e exoesqueleto esmagados contra seus dentes, uma explosão de amargor e seiva viscosa. O veneno da criatura desceu pela garganta como um punhal líquido e incandescente, queimando com uma intensidade sufocante. Não apenas queimava, mas parecia rasgar cada tecido de pele, cada fibra muscular, desfazendo-o de dentro para fora.
Era um lembrete horrível, agonizante, de sua decisão tola, e a dor parecia pulsar em cada vaso sanguíneo, cada nervo, como mil agulhas incandescentes. Ele sentiu o gosto amargo do desespero misturado ao veneno, e o arrependimento o afogou, mas já era tarde demais.
— Socorro…
Uma sensação horrível emergiu em seu estômago, como se algo vivo — talvez a própria centopeia, fragmentada, mas ainda consciente, rastejasse, se revirasse e tentasse perfurar seus órgãos.
Sua garganta começou a inchar, fechando-se progressivamente, obstruindo o ar, enquanto uma dor latejante e excruciante irradiava pelo pescoço e subia até seus tímpanos, como se o veneno estivesse se ramificando, corroendo qualquer resistência.
— So-co… COUGH. — Tossiu violentamente, cada espasmo, um choque que o fazia ver estrelas.
A cada tosse, os restos viscosos do inseto, como os pedaços de patas, antenas, fragmentos do corpo ainda se debatendo de alguma forma horrível, voltavam à sua boca, grudando em sua língua e gengivas, uma persistência grotesca que se recusava a ser expelida.
Desesperado, Leonard tentou cuspi-los, suas mãos agarrando o próprio pescoço em uma tentativa instintiva e inútil de arrancar o invasor. Sentia-se à beira de perder a razão. O mundo rodopiava, seus próprios pensamentos se tornando pouco a pouco fragmentados.
A pressão no peito, a garganta fechando, e a sensação de algo rastejando por suas entranhas ameaçavam romper o frágil fio que ainda o mantinha consciente. Engasgando e arquejando, lutava contra a crescente escuridão em sua visão.
— Eu-eu preciso voltar para… casa… cough.— Cada palavra era semelhante a um grito abafado contra o vazio, um desejo insano que o mantinha minimamente lúcido.
Mas seus movimentos tornaram-se descoordenados, suas pernas tropeçando em si mesmas como marionetes quebradas enquanto tentava fugir. Seus olhos embaçados mal registravam o caminho.
Leonard correu sem direção, o mundo ao redor girando em uma dança frenética de luzes distorcidas e sombras ameaçadoras. Não viu a poça funda à sua frente, um espelho turvo de lama e escuridão.
Seu pé escorregou naquela lama traiçoeira e ele caiu com um impacto violento que ecoou por todo o seu corpo. Sua cabeça bateu no chão com um baque surdo e úmido, e a dor explodiu em sua mente como um trovão distante, um flash branco que devorou sua visão.
Deitado de lado, o gosto ácido e ferroso do vômito misturado ao veneno ainda impregnava sua boca, uma pasta quente e repulsiva. O cheiro acre de terra molhada, de carne deteriorada e do seu próprio suor frio era nauseante, asfixiante.
Pouco a pouco, a mente de Leonard começou a vacilar. O mundo ao redor se tornou um borrão indistinto, como se uma cortina negra, pesada e pegajosa, estivesse sendo puxada sobre seus olhos.
“So… co… rro…”
Antes de perder completamente a consciência, sua visão turva apontou para o que parecia ser a silhueta contorcida do inseto despedaçado ao seu lado. Seus restos ainda exalavam uma podridão que parecia zombar de sua miséria, e ele jurou que as minúsculas patas ainda se contraíam em um último espasmo macabro.
E então, tudo se apagou.
***
Quando acordou, o som de trovões ecoava à distância, e a chuva começava a cair. Pingos gelados atingiram seu rosto enquanto se levantava com dificuldade. Ao olhar ao redor, viu os restos da centopeia ao seu lado. Sentiu o estômago embrulhar, virou-se e viu o fim do pantanal que antes parecia interminável.
“Eu… eu só queria desaparecer… sumir, parar de existir…”
Delirando, Leonard pensou ter ouvido a voz de James. Vultos de seus irmãos passavam por sua visão, mas ele sabia que eram apenas ilusões. Mesmo assim, esses devaneios o mantinham firme.
Seguindo em frente, enfrentando o vento e o prelúdio da chuva crescente, ele avistou uma grande árvore. Decidiu abrigar-se sob ela, usando o tronco robusto como proteção contra as rajadas.
Sentado ali, abraçou-se para se aquecer e, de repente, sentiu algo tocar seu pé. Uma maçã vermelha, tão viva quanto sangue, rolara até ele, caída de um dos galhos mais altos. Sem pensar duas vezes, ele a pegou e deu uma mordida.
“Comida de verdade!”
O sabor doce e refrescante o surpreendeu. O suco da fruta parecia percorrer sua garganta como uma poção, daquelas que, em jogos, recuperavam toda a vida, revigorando-o. Não era suficiente para saciar sua fome por completo, mas era o bastante para reacender sua esperança.
“Talvez ainda haja uma saída.”
Sentindo um pequeno alívio daquela fome monstruosa, começou a dar lugar para uma sensação vaga de saciedade. Leonard permanecia imóvel, exausto e encharcado de água. Cada músculo de seu corpo clamava por descanso, enquanto sua mente, um campo de batalha entre o desespero e a determinação, lutava para manter lúcida.
O pequeno alívio daquela fome monstruosa começou a dar lugar a uma sensação vaga de saciedade. Leonard permanecia imóvel, exausto e encharcado d’água. Cada músculo de seu corpo clamava por descanso, enquanto sua mente, um campo de batalha entre o desespero e a determinação, lutava para manter-se lúcida.
— Não — disse, enquanto as lágrimas do mundo molhavam o rosto.
Mesmo assim, Leonard não devia se permitir ceder completamente. Sua determinação em sobreviver ainda brilhava como uma chama trêmula em meio à tempestade. Ainda assim, seus olhos pesavam. A exaustão era uma companheira cruel, mas inescapável.
“Talvez… talvez este seja meu último destino”
Seus pensamentos se arrastavam entre o medo de sucumbir e a necessidade desesperada de se recompor. Com as costas apoiadas no tronco áspero da velha árvore, Leonard deixou a cabeça cair suavemente para trás, os olhos entreabertos enquanto observava a dança das folhas acima. A chuva que escorria por seu rosto parecia limpar parte de sua agonia, mesmo que temporariamente.
— Só… só um pouco… — sibilou para si mesmo, sua voz quase engolida pelo rugido distante do trovão.
Enquanto o cansaço o envolvia, ele decidiu que viver significava escolher lutar outro dia, mesmo que isso significasse, por ora, apenas esperar. Restava-lhe torcer para que, quando seus olhos se abrissem novamente, o mundo não fosse tão cruel quanto parecia ser naquele momento.
Passaram-se horas desde a primeira gota de chuva 2. Leonard não podia dizer quanto tempo havia transcorrido.
A fome e a sede, embora ainda presentes, já não ocupavam o topo de sua lista de preocupações. O vento, de tempos em tempos, balançava os galhos, derrubando novos frutos que aliviavam parte de seu tormento.
“E pensar que, há algumas horas, estive tão desesperado… Isso é como o paraíso, eu diria. Tirando essa chuva, tudo está melhor desde que cheguei aqui.”
Leonard estava deitado sobre as raízes do tronco, os olhos voltados para cima. A copa da velha árvore oferecia uma sensação de calmaria e paz. O movimento das folhas, provocado pela chuva, era hipnotizante, semelhante ao brilho de fagulhas ascendendo em uma fogueira.
— A essas horas, o Calli provavelmente já deve estar indo trabalhar, né? O Liam agora não deve ter ninguém para conversar durante o expediente e o James… — Fechando os olhos, sentiu uma folha avermelhada pousar sobre o rosto. A brisa fria o trouxe de volta à realidade. Depois de tantos dias perdidos naquele tormento, Leonard já havia desistido de tentar voltar para casa.
A folha que tocava sua pele se esfarelou e os fragmentos voaram com o vento, distanciando-o de seus próprios pensamentos.
— Bom, tudo aqui tem cores quentes, mas, ao contrário do que pensei, chove bastante…
Ao abrir os olhos, um trovão estremeceu o ambiente, preenchendo sua visão com um clarão branco e um enorme estrondo. A chuva continuava inabalável, sem dar sinais de trégua. Só lhe restava ele mesmo e aquela árvore solitária, que permanecia ereta enquanto todas as outras ao redor cediam ao tempo e ao vento.
— Me sinto parecido com essa árvore… se ela pudesse falar. Que merda… — suspirou, Leonard deixava-se levado por antigas memórias de sua infância. Lembrando dos dias em que a sua mãe lia histórias para ele. Eram tempos tão coloridos… contrastando sua vida agora que parecia tingida apenas por tons de cinza.
— Lembro do dia em que ela me deu esse antigo cachecol. — Puxou-o de seu pescoço para próximo às narinas. — Seu cheiro ainda perdura mesmo após tanto tempo, Sophie…
Sob essas curtas lembranças suaves, Leonard foi lentamente consumido pelo sono. E, com ele, veio finalmente um sonho.
- Sei que deixar notas não é bem a melhor escolha, pois retira totalmente a forma como o leitor imagina a obra, entretanto, notei que há algum tempo, leitores disseram sobre a falta de verossimilhança desse momento, então aqui vai à resposta: não se passou realmente tal tempo, como mostrado no texto, ele não sabe quanto tempo se foi e por isso, não consegue mensurar. Talvez tenha sido menos tempo, talvez tenha sido mais, mas é algo que ninguém saberá em uma situação assim! Haverá outros momentos como esse, então estejam cientes![↩]
- Novamente, como dito em uma nota anterior, isso é o que ele pensa.[↩]
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