Capítulo 4 — Devaneios
Leonard despertou com um sobressalto, o coração disparado e a respiração entrecortada. O tremor que o acordara parecia ecoar por seu corpo, como se cada fibra de seu ser tentasse negar a realidade ao redor.
“Aaah! Que merda foi essa? Cada vez meus sonhos estão ficando piores! Como posso dormir com isso?”
Ele levou a mão ao peito, tentando acalmar o coração que martelava descontrolado. Foi então que percebeu algo estranho. Não estava em seu quarto. As paredes familiares haviam desaparecido, substituídas por uma vastidão estranha, impregnada de uma sensação inquietante. Algo o incomodava profundamente, uma memória distante de um sonho esquecido, uma visão que o aterrorizava na infância… mas desta vez, era tudo real.
Diante dele, um desfiladeiro colossal se estendia até onde a vista alcançava. As rochas manchadas de vermelho em diferentes tons brilhavam sob uma estrela escura que iluminava como o sol. Era como se o próprio céu conspirasse contra sua sanidade.
“Mas que porra é essa?!”
Leonard apertou o próprio braço com força, na esperança de acordar do possível pesadelo. A dor confirmou o que já temia: estava acordado.
Erguendo-se, Leonard observou o chão ao redor.
“Essas horas eu deveria estar dormindo e não lúcido, tenho que trabalhar amanhã, isso não me ajudará em nada…”
Pequenas flores estranhas, murchas e de tonalidade roxa, estavam aqui e ali, lembrando-lhe vagamente das flores de crisântemos — uma memória que lembrava Sophie, que o ensinara sobre flores. Ele não teve tempo de aprofundar os pensamentos; sua intuição gritou. Jogou-se instintivamente para o lado, escapando por pouco de algo que emergira de uma das flores.
“Preciso sair daqui!”
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Era uma criatura bizarra, semelhante a um chicote de carne com uma boca na ponta. Ao cair de mau jeito, sentiu o impacto no ombro, mas não parou para lamentar. Levantou-se e correu para longe daquele desfiladeiro maldito.
Conforme avançava, o cenário aos poucos se transformava. As paredes rochosas começaram a dar lugar a montanhas escarlates, formando uma paisagem tão majestosa quanto ameaçadora.
No alto, entre nuvens pesadas, um castelo colossal pairava sobre um pico distante. Só de olhar para ele, Leonard sentiu como se o peso do mundo caísse sobre seus ombros. O ar parecia rarefeito, o peito apertado.
— Não… não consigo respirar… — tentou falar, enquanto agarrava o peito. Cada detalhe do castelo exalava uma sensação de imenso desespero.
Faltavam palavras, como se na presença do castelo, com seus altos torreões, nada mais prevalecesse além do… Desespero. Agarrando a mão direita no próprio peito, Leonard tossia enquanto olhava para o chão, seu coração a mil, sentia muitas dores, todo o seu corpo gritava por socorro.
Aterrorizado, Leonard percebeu um tremor no chão. Tentáculos imensos emergiram, acompanhados por uma massa disforme e negra, com um olho central. A criatura, uma abominação impossível, se arrastava pelo terreno, buscando sua próxima vítima. Um frio percorreu a espinha de Leonard, e ele se escondeu rapidamente em uma fenda estreita na parede.
“Porra, merda, merda… Que merda é essa, são contra essas coisas que os investigadores lutam? Isso tudo só pode ser um pesadelo, certo? Isso é realmente um pesadelo, não é?”
O olho colossal vasculhava o desfiladeiro, sua luz rubra atravessando as rochas e expondo tudo em seu caminho. Leonard mal respirava, temendo que qualquer movimento revelasse a sua presença. Quando a criatura finalmente se afastou, percebendo pelos tremores no chão, parando, ele caiu no chão, ofegante, com o corpo tremendo.
“Tudo acabou, né? Passou… Logo eu vou acordar, sim, de fato, agora eu acordarei, certo?”
Mas não havia alívio. Ao lado dele, algo que antes passou despercebido, havia um cadáver em estado de decomposição.
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Larvas rastejavam pela carne apodrecida, enquanto o tórax estava grotescamente aberto. Leonard não aguentou.
Sem conseguir conter, tudo aquilo era demais para ele, enquanto vomitava no chão com o resto de suas forças. Acabou caindo e batendo o rosto na terra, um pouco do líquido que despejou acabou pegando seu rosto, mas reunindo forças conseguiu esfregar e retirar.
Ele rastejou para longe do corpo, encostando-se no lado oposto do cadáver e seu vomito. Sua mente estava à beira do colapso, mas lembrar de seus irmãos o mantinham consciente. Eles não podiam estar ali, não podiam enfrentar aquele inferno. Pela primeira vez após tanto tempo, Leonard chorou. As lágrimas vieram como uma torrente, trazendo um alívio amargo.
Leonard sentia seu corpo dolorido, seu estômago revirado e o gosto do próprio vômito na boca. Ele tentou juntar saliva para cuspir e aliviar a sensação nojenta, mas a garganta estava seca e arranhada.
Ele se sentia incrivelmente só! Pensava nos irmãos, na pequena felicidade que compartilhavam apesar das dificuldades que enfrentavam. Um misto de querer seus irmãos por perto, mas também o horror de imaginá-los passando pelo mesmo sofrimento o deixava apreensivo…
Exausto, ele caiu em um sono sem sonhos.
Se passou uma hora, um dia, uma semana, Leonard não sabia dizer. Mas ele finalmente se sentia melhor, com uma memorável maciez nas suas costas. Ele quase chegou a pensar que tinha finalmente acordado do pesadelo e estava em casa. Quase.
Ao recuperar a consciência completamente, Leonard ficou alerta. Sua última lembrança era o corpo em decomposição à sua esquerda, mas ao contrário do que pensava, não havia corpo nenhum lá. Era como se nunca tivesse tido um corpo naquele lugar.
Juntando o pouco de força que ainda tinha, se levantou e caminhou, apoiando-se nas paredes para fora do esguio vão da parede e novamente aquele desfiladeiro com diferentes tons em vermelho se desdobrava à sua frente.
Caminhou na direção oposta à que viera tempos atrás. Embora com dificuldade, a cada passo, seu coração se preenchia de esperança, embora longe. Leonard escutava o som de água pingar, e o ajudava a recobrar a consciência muitas vezes enquanto se sentia confuso e sem rumo.
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Perdurou por dez, vinte minutos ou até mesmo mais, até as enormes paredes que antes o sufocavam por sua imponência diminuírem até se tornarem singelos pedregulhos. À frente, uma região que se assemelhava a uma planície, mas também a um planalto tomou conta.
“Finalmente… Água…”
O som de água pingando encheu seus ouvidos, renovando uma fagulha de esperança. Cambaleando, seguiu na direção do som, apenas para descobrir… poças de água misturadas à grama alaranjada.
A grama laranja dava uma sensação de irrealidade, mas Leonard se lembrava da cruel verdade de que tudo isso não era um sonho… Essa era a realidade, nua e crua, com suas encruzilhadas sob o futuro.
Ele caiu de joelhos, exausto. O mundo ao seu redor parecia rir de sua miséria. Tudo era surreal, e, ao mesmo tempo, cruelmente real. O vermelho ao seu redor era mais do que uma cor, era o tom da própria desesperança.
“Não… É… Possível…”
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