Índice de Capítulo

    — Claro que posso… — disse Leonard, com uma firmeza que contradizia a leve inquietação em seu peito. O pedido de Chloe ressoava nele de uma forma estranha, como um sino tocado ao longe.

    Acenando com a cabeça, Leonard se despediu e começou a caminhar. Não tinha certeza para onde ir, mas a lógica o levou a seguir na direção que parecia o centro do vilarejo. À sua frente, o horizonte era uma tela de nuvens cinzentas, anunciando que aos poucos mais tarde chegava e a iminente noite não era mais tão distante.

    “Chloe… ela me lembra daquela garota, se não me engano seu nome era Alisha. Poderia ser a mãe dela?” O pensamento flutuou em sua mente, apenas para ser engolido pelo vento frio que chicoteava seu rosto. 

    Os sons eram abafados pela neve que caía, mas os estalos de galhos mortos sob seus pés pareciam ensurdecedores naquele silêncio desolado. Árvores esqueléticas ladeavam o caminho, seus galhos secos como dedos apontavam para um céu que já não oferecia esperança. Nos galhos, pássaros repousavam como sombras vigilantes. Um corvo, em questão, mais ousado, o fitou diretamente.

    “Que frio…”

    Chegando ao que parecia ser o centro da vila, Leonard encontrou um cenário que era, ao mesmo tempo, comum e inquietante. Barracas improvisadas vendiam carne salgada, ferramentas rudimentares e bugigangas que ninguém realmente parecia querer. Os comerciantes conversavam entre si, todos com sorrisos no rosto, vivendo sua comum vida.

    No meio da praça, Leonard viu novamente a criança que brincava com seu cachorro magricelo. O som de suas risadas animavam ainda mais o resto da vila, era como uma flor solitária que dançava sozinha.

    Ele desviou o olhar e notou um jovem sentado próximo a uma daquelas cabanas, tremendo enquanto segurava um pedaço de papel surrado. Seus cabelos ondulados, de um castanho escuro que quase parecia preto sob a luz fraca, caíam sobre uma festa franzida. Sua pele negra brilhava levemente, um contraste marcante com o branco imaculado da neve ao redor.

    Leonard parou e observou de longe. O rapaz parecia murmurar algo para si mesmo, repetidamente. Quando Leonard chegou mais perto, as palavras ficaram claras:

    — Eu gosto de você… eu gosto de você…

    “Ele está bem?” Leonard franziu o cenho. Não era de sua natureza se envolver nos problemas alheios, mas havia algo no desespero do jovem que parecia exigir sua atenção.

    O investigador suspirou e observou momentaneamente a fumaça sair de seus lábios e voarem para o distante, decidido, caminhou até o jovem que chegava a até tremer, enquanto repetia as palavras “eu gosto de você”.

    — Ei, está tudo bem contigo?

    O rapaz olhou para ele, surpreso. Seus olhos eram grandes e expressivos, carregavam uma honestidade que parecia deslocada naquele lugar.

    — Uh, Damian, e-eu estou… — respondeu o rapaz, hesitante. Sua voz era frágil, quase quebradiça, mas não havia falsidade nela. 

    Leonard, sem querer parecer invasivo, inclinou-se um pouco para espiar o papel. O que viu o fez quase rir, mas conteve-se. Um bilhete de amor, simples e direto, escrito com letras tortas e apressadas.

    “Isso é quase engraçado…” pensou Leonard. Mas a ironia o atingiu como uma bofetada quando reconheceu o nome da destinatária sendo Morgan.

    — Quer falar algo? Talvez eu possa te ajudar — disse Leonard, sua voz cuidadosamente neutra.

    O jovem pareceu atordoado, mas havia um brilho de esperança em seu olho. Ele assentiu, como se qualquer orientação fosse melhor do que continuar sentado ali, preso em sua própria ansiedade.

    A neve caía em redemoinhos, silenciando os sons e envolvendo o vilarejo em uma melancolia própria. Leonard ficou sentado ao lado do rapaz, observando o papel tremendo em suas mãos, enquanto tentava reunir palavras que soassem encorajadoras. Mas como, se ele mesmo estava perdido?

    — Você sabe — começou Leonard, sua voz baixa, quase um murmúrio. — Falar o que sente pode ser a coisa mais difícil do mundo, mas… talvez seja também a única forma de realmente mudar alguma coisa.

    O rapaz olhou para ele, os olhos grandes e castanhos com um brilho de hesitação, parecia mais como uma vela lutando contra o vento.

    — E se ela rir de mim? — perguntou, com a voz cheia de temor.

    Leonard sorriu de leve, um sorriso cansado que parecia mais um reflexo do que um gesto de conforto.

    — Então ela ri. Mas pelo menos você saberá. E isso… — Ele apontou para o papel na mão do rapaz. — Isso aqui é coragem. Não deixe o medo matar isso antes que você tenha a chance de descobrir. Bom, conte a ela que os três cavaleiros foram decididos, se puder, isso seria o suficiente para puxar assunto.

    Por um momento, o silêncio caiu entre os dois, apenas o som do vento quebrava a quietude. O rapaz respirou fundo, como se estivesse mergulhando em águas profundas.

    — Obrigado… Damian — disse ele, com um leve sorriso que parecia iluminar um pouco do ambiente ao redor.

    Leonard se encolheu internamente ao ouvir o nome errado novamente, mas acenou a cabeça, como se fosse exatamente quem ele era.

    Após o jovem sair, ele continuou sentado ali, não sabia muito como reagir à situação, havia inicialmente vindo até aqui seguindo um fio do destino quase que invisível, mas parece que tinha valido a pena.

    Enquanto isso, a criança que brincava com o cachorro magricelo se aproximou dele. O cachecol vermelho era a única cor vibrante naquele cenário branco. Ela olhou para Leonard com um sorriso inocente, mas algo nos olhos dela o incomodava. Era como se ela estivesse olhando através dele, vendo algo que ele mesmo não conseguia enxergar.

    — Você está triste, não está? — perguntou a menina, direta, com a simplicidade que só as crianças conseguem ter.

    Leonard abriu a boca para negar, mas as palavras morreram antes de serem formadas. Ele percebeu que não havia sentido mentir para ela. Em vez disso, suspirou, o valor de sua respiração se misturando ao frio.

    — Talvez um pouco — admitiu ele. — Mas tudo bem. Estou tentando resolver pelo menos isso.

    A menina inclinou a cabeça, pensativa, e o cachorro magricelo deitou ao lado dela, como se também estivesse ponderando sobre o estado de espírito de Leonard.

    — Você vai encontrar o que está procurando? — perguntou ela.

    A pergunta foi simples, mas carregava um peso que Leonard não estava preparado para suportar. Ele olhou para ela, tentando entender se havia algo mais por trás daquelas palavras.

    — Espero que sim — respondeu ele, hesitante. — E você? O que está procurando?

    A menina deu de ombros, como se a pergunta fosse irrelevante.

    — Eu já sei onde encontrar tudo o que preciso, bom, vou indo! Nos vemos depois, Damian, espero que melhore para brincarmos logo! — dizia a garota, saindo de cena junto ao cachorro.

    Seu sorriso e cachecol, infelizmente, trazia uma dor que Leonard não conseguia suportar, estar longe de seus irmãos era realmente uma sensação cruel.

    “Eu sou realmente um miserável hahaha…”


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