Índice de Capítulo

    Olá, segue a Central de Ajuda ao Leitor Lendário, também conhecida como C.A.L.L! Aqui, deixarei registradas dicas para melhor entendimento da leitura: 

    Travessão ( — ), é a indicação de diálogos entre os personagens ou eles mesmos;
    Aspas com itálico ( “” ), indicam pensamentos do personagem central em seu POV;
    Aspas finas ( ‘’ ), servem para o entendimento de falas internas dentro da mente do personagem central do POV, mas não significa que é um pensamento dele mesmo;
    Itálico no texto, indica onomatopeias, palavras-chave para subverter um conceito, dentre outras possíveis utilidades;
    Colchetes ( [] ), serão utilizados para as mais diversas finalidades, seja no telefone, televisão, etc;
    Por fim, não esqueça, se divirta, seja feliz e que os mistérios lhe acompanhem!

    Leonard sucumbiu ao desespero. 

    Vendo a poça de água na grama úmida, ele não resistiu ao cheiro nauseante de terra molhada e cedeu à sua necessidade desesperada. Curvando-se, enfiou o rosto naquela água barrenta e tentou beber o pouco que encontrou ali.

    A água salobra tinha um gosto apodrecido, revirando seu estômago. Ele tentou engolir, mas o sabor era insuportável. Cuspiu o líquido com nojo, o sabor piorou ainda mais quando uma criatura semelhante a uma centopeia emergiu daquela gosma de água, terra e saliva.

    “Puta que pariu, esse lugar fica pior a cada momento. Sério, esse será o meu fim!”

    Os olhos de Leonard seguiram a centopeia, fascinados. Apesar de pequena, ela parecia se mover rápido demais para um bichinho tão diminuto. A grama, úmida como se uma tempestade recente tivesse passado, dificultava ainda mais manter o foco nela.

    O ambiente insalubre aumentava a sensação de perigo. Leonard sabia que precisava tomar cuidado com buracos escondidos pela vegetação encharcada.

    Ele não sabia dizer se era curiosidade, instinto ou puro desespero, mas algo o fez seguir o ser rastejante. Talvez fosse a necessidade de se apegar a algo, qualquer coisa, para não enlouquecer.

    “Talvez… Talvez ela tenha algum caminho melhor… Talvez eu consiga encontrar algo… Que sede e fome… Parece que não me alimentei direito…” 

    Seu estômago roncava, um som seco e persistente. Ele tentou ignorá-lo, mas sua mente já começava a divagar, pensando em seus irmãos. Estariam procurando por ele? Notaram seu desaparecimento?

    “Se existe algum tipo de saída, eu devo encontrar…” 

    O caminho íngreme o levou ao que parecia ser um ninho. Lá estavam outras quatro centopeias, de tamanhos variados. No centro, um amontoado de carcaça em decomposição que Leonard não conseguia identificar totalmente. Talvez fosse um pássaro, pelas penas, mas parecia pequeno demais e tinha uma forma estranhamente quadrúpede.

    O nojo tomou conta dele ao imaginar comer aquela carne, mas algo em sua memória o fez hesitar.

    “Centopeias… Têm carne, não é? E também líquido… O seu sangue…” 

    Seu delírio o guiou. Em um ato de desespero, Leonard agarrou uma das centopeias com ambas as mãos, apertando-a com força. Fechou os olhos, prendeu a respiração e a enfiou na boca, mordendo com tudo que tinha.

    O veneno da criatura desceu por sua garganta como um punhal líquido, queimando com uma intensidade sufocante. Era um lembrete horrível de sua decisão tola, e a dor parecia pulsar em cada fibra de seu ser. Leonard sentiu o gosto amargo do desespero misturado ao veneno, e o arrependimento tomou conta dele, mas já era tarde demais.

    Uma sensação horrível emergiu em seu estômago, como se algo vivo rastejasse dentro dele. Sua garganta parecia inchar, obstruindo o ar, e uma dor latejante irradiava pelo pescoço, enquanto o veneno fazia seu trabalho, corroendo qualquer resistência.

    Ele começou a tossir violentamente, cada espasmo trazendo à boca os restos viscosos do inseto que insistia em lutar contra seu destino. Desesperado, Leonard tentou cuspi-la, suas mãos agarrando o próprio pescoço em uma tentativa instintiva de expulsar o invasor.

    Sentia-se à beira de perder a razão. A pressão no peito e a sensação de algo rastejando por suas entranhas ameaçavam romper o frágil fio que ainda o mantinha consciente. Engasgando, ele lutava contra a crescente escuridão em sua visão, repetindo em sua mente entre os ofego:

    “Eu preciso voltar para… Casa…”

    Cada palavra era um grito abafado contra o vazio, um mantra que o mantinha minimamente lúcido. Mas seus movimentos tornaram-se descoordenados, suas pernas tropeçando em si mesmas enquanto tentava fugir.

    Leonard correu sem direção, o mundo ao redor girando em uma dança frenética de luz e sombras. Não viu a poça funda à sua frente. Seu pé escorregou naquela lama traiçoeira e ele caiu, o impacto ecoou por todo o seu corpo. Sua cabeça bateu no chão com um baque surdo, e a dor explodiu em sua mente como um trovão distante.

    Deitado de lado, o gosto ácido do vômito e do veneno ainda impregnavam sua boca. O cheiro acre de terra molhada e de carne deteriorada era nauseante, mas aos poucos a mente de Leonard começou a se render. O mundo ao redor se tornou um borrão indistinto, como se uma cortina negra estivesse sendo puxada sobre seus olhos.

    Antes de perder completamente a consciência, sua visão apontou ao que parecia ser a silhueta do inseto despedaçado ao seu lado, os restos de seu corpo exalando uma podridão que parecia zombar de sua miséria.

    E então, tudo se apagou.

    Quando acordou, o som de trovões ecoava à distância, e a chuva começava a cair. Pingos gelados atingiram seu rosto enquanto ele se levantava com dificuldade. Ao olhar ao redor, viu os restos da centopeia ao seu lado. Sentiu o estômago embrulhar, se virou e viu o fim do pantanal que antes parecia interminável.

    Delirando, Leonard pensou ter ouvido a voz de James. Vultos de seus irmãos passavam por sua visão, mas ele sabia que eram apenas ilusões. Mesmo assim, esses devaneios o mantinham firme.

    Seguindo em frente, enfrentando o vento e a chuva crescente, Leonard avistou uma grande árvore. Decidiu se abrigar sob ela, usando o tronco robusto como proteção contra as rajadas.

    Sentado ali, Leonard abraçou-se a si para se aquecer, de repente sentiu algo tocar seu pé. Uma maçã vermelha, tão viva quanto sangue, rolara até ele, caída de um dos galhos mais altos. Sem pensar duas vezes, ele a pegou e deu uma mordida.

    O sabor doce e refrescante o surpreendeu. O suco da fruta parecia percorrer sua garganta como um bálsamo, revigorando-o. Não era suficiente para saciar sua fome por completo, mas era o bastante para reacender uma fagulha de esperança.

    “Talvez ainda haja uma saída…” 

    Sentindo um pequeno alívio daquela fome monstruosa, começou a dar lugar para uma sensação vaga de saciedade. Leonard permanecia imóvel, exausto e encharcado de água. Cada músculo de seu corpo clamava por descanso, enquanto sua mente, um campo de batalha entre o desespero e a determinação, lutava para manter lúcida.

    Ele olhou para os céus cinzentos, onde as gotas de chuva caíam incessantes, como lágrimas de um mundo indiferente ao seu sofrimento. O som regular das gotas golpeando as folhas ao seu redor preenchia o ar, abafando qualquer outro ruído. Por um instante, aquele som parecia quase reconfortante, uma canção melancólica para um jovem à beira do colapso.

    Mesmo assim, Leonard não se permitia ceder completamente. Sua determinação em sobreviver ainda brilhava como uma chama trêmula em meio à tempestade. 

    Ainda, sim, seus olhos pesavam. A exaustão era uma companheira cruel, mas inescapável. 

    “Talvez… talvez esse seja meu último destino” 

    Enquanto seus pensamentos se arrastavam entre o medo de sucumbir e a necessidade desesperada de se recompor. Com as costas apoiadas no tronco áspero da velha árvore, Leonard deixou a cabeça cair suavemente para trás, os olhos entreabertos enquanto observava a dança das folhas acima. A chuva que escorria por seu rosto parecia limpar parte de sua agonia, mesmo que temporariamente.

    — Só… só um pouco… — sibilou para si mesmo, sua voz quase engolida pelo rugido distante do trovão.

    Enquanto o cansaço o envolvia, ele decidiu que viver significava escolher lutar outro dia, mesmo que isso significasse, por ora, apenas esperar. Restava-lhe torcer para que, quando seus olhos se abrissem novamente, o mundo não fosse tão cruel quanto parecia ser naquele momento.

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