Índice de Capítulo

    Olá, segue a Central de Ajuda ao Leitor Lendário, também conhecida como C.A.L.L! Aqui, deixarei registradas dicas para melhor entendimento da leitura: 

    Travessão ( — ), é a indicação de diálogos entre os personagens ou eles mesmos;
    Aspas com itálico ( “” ), indicam pensamentos do personagem central em seu POV;
    Aspas finas ( ‘’ ), servem para o entendimento de falas internas dentro da mente do personagem central do POV, mas não significa que é um pensamento dele mesmo;
    Itálico no texto, indica onomatopeias, palavras-chave para subverter um conceito, dentre outras possíveis utilidades;
    Colchetes ( [] ), serão utilizados para as mais diversas finalidades, seja no telefone, televisão, etc;
    Por fim, não esqueça, se divirta, seja feliz e que os mistérios lhe acompanhem!

    — Você está bem?

    A voz de Katherine reverberou do corredor até a sala, carregando uma tentativa palpável de conforto, um laço frágil lançado entre os dois na penumbra do ambiente.

    Leonard não respondeu de imediato. O silêncio se estendeu, impregnado de algo denso e quase tangível, como se palavras fossem inúteis para capturar a estranheza do que havia acabado de acontecer. Ele ainda estava ancorado naquela sensação de um perigo invisível, uma presença que desapareceu no instante exato em que Katherine cruzou a soleira.

    “Que merda de lugar é esse onde estamos?”

    Inspirou fundo, passando a mão pelo rosto, tentando dissipar o que restava do choque. Seus músculos ainda estavam tensos, mas, aos poucos, ele se obrigou a soltar o ar, como se pudesse expurgar a inquietação junto da respiração. Katherine permaneceu parada, observando-o com uma atenção discreta, sem pressioná-lo.

    Por fim, ele encontrou a própria voz. Fraca no começo, quebradiça, mas suficiente para soar:

    — Agora sim…

    Katherine lançou um olhar para o cômodo, como se buscasse resquícios do que o perturbava. Mas havia apenas a televisão desligada, o sofá ligeiramente afundado sob o peso de Leonard e o silêncio denso, quebrado apenas pelo estalar distante da madeira contra o frio.

    Sem mais questionamentos, ela se aproximou e afundou no sofá ao lado dele, como se aquele fosse um gesto tão natural quanto o próprio ato de respirar.

    — Ei — disse ela, com tamanha despreocupação.

    — O que foi? — Leonard virou-se ligeiramente para ela.

    — Me passa o controle aí.

    “É sério?”

    Ele piscou, desacreditado, mas obedeceu. Seus dedos ainda estavam levemente frios quando estenderam o controle remoto para ela.

    — Aí está…

    Katherine pegou o objeto sem cerimônia e apontou para a televisão. O clique soou pequeno, mas, naquele silêncio, reverberou como um estalo dentro da cabeça de Leonard. A tela acendeu, preenchendo a sala com uma luz suave e cintilante, lançando sombras irregulares sobre o rosto dela.

    Os dois ficaram ali, assistindo à programação sem dizer nada. A luz azulada do televisor banhava suas expressões, distorcendo os contornos, transformando cada piscadela em um movimento preguiçoso, como se o tempo estivesse desacelerando.

    “Que tranquilo…”

    Havia algo viciante naquela quietude. Um vazio confortável, um espaço onde nada precisava ser questionado, onde ele não precisava se perguntar o que o havia observado antes ou por quanto tempo aquilo estivera ali. O calor do sofá, o som abafado da televisão, a presença de Katherine ao seu lado… Tudo estava certo.

    O tempo escoava de maneira peculiar, deslizando como a neblina fina que se dissipava pela manhã. O silêncio não era mais opressor, nem carregava a ameaça espectral de minutos atrás. Agora, era apenas silêncio. Um vazio preenchido por uma estranha tranquilidade, onde as preocupações se dissolviam como o açúcar no chá.

    “Ninguém mais acordou…”

    O pensamento passou por Leonard como uma brisa leve. Não havia pressa, não havia urgência. Apenas ele e Katherine, respirando ao ritmo calmo da programação insossa na televisão.

    — Katherine?

    Ela se virou para ele com sobrancelhas arqueadas em leve curiosidade. Seu cabelo loiro caía em uma cascata lisa sobre os ombros, refletindo os tons azulados da tela. Os olhos castanhos, escuros e serenos, eram como poços fundos, sem pressa de revelar o que se escondia abaixo da superfície.

    — O que foi?

    Leonard hesitou por um instante antes de formular sua pergunta. Havia uma estranha paz no momento, e ele não queria despedaçá-la. Gesticulou levemente, como se suas mãos pudessem amaciar o peso das palavras.

    — Que horas são?

    Katherine desviou os olhos da tela por um breve segundo antes de dar de ombros.

    — Sei lá. Devem ser um pouco antes das seis ainda.

    Se virou novamente para a televisão, retomando a posição preguiçosa de quem não se incomoda com a passagem do tempo.

    “Entendi…”

    O tempo continuava a se desenrolar em um fluxo sem pressa. A sensação de inquietação anterior parecia uma lembrança distante, um sonho que desvanecia na aurora. Leonard se deixou afundar no sofá, relaxando os ombros, sentindo o estofado moldar-se ao peso de seu corpo.

    Um som indistinto saía da televisão. Uma âncora de notícias lia em tom profissional, sem emoção, um boletim sobre a cidade de Surrey. A palavra “desaparecimento” lhe chamou atenção, mas ele não se moveu de imediato.

    — Quem você acha que atraiu a atenção do Wendigo? — A pergunta saiu em um tom casual, como se discutissem algo trivial.

    Katherine piscou lentamente, ainda fitando a tela. O reflexo da luz da TV tornava sua expressão ilegível por um breve momento, como se fosse apenas uma silhueta dentro da penumbra da sala.

    A âncora continuava, falando sobre três mulheres que desapareceram misteriosamente depois de uma noite no bar “The Whisky Dinner”. Leonard escutava as palavras, mas elas chegavam como um ruído distante, perdido em meio ao peso confortável da cena diante dele.

    Por algum motivo, ele não se importava tanto.

    — Não sei, cada um de nós tem motivo, né? — comentou ela, despreocupada. 

    “Realmente, cada um de nós tem o seu motivo…”

    — Hum… Quem será que é o mais provável? 

    A programação na televisão começa a passar uma propaganda sobre a “Philip Brewery” e seus refrigerantes ginger ale. 

    — Talvez a Claire ou o Cassiano, seu estigma ainda não se revelou, então provavelmente ele não sinta isso… Bom, acho que não se revelou, o velhote não disse nada. 

    O silêncio voltou a se acomodar entre eles, não como um peso incômodo, mas como um visitante familiar. A televisão continuava seu desfile de propagandas, vozes plastificadas exaltando as virtudes de um refrigerante artesanal. Na tela, uma garrafa gelada era aberta em câmera lenta, o gás escapando em uma dança efêmera antes do líquido âmbar ser despejado em um copo de vidro. Pequenos detalhes mundanos que pareciam mais vívidos do que deviam.

    Leonard piscou, sentindo os olhos mais pesados do que o normal. O sofá, que antes parecia rígido e desconfortável, agora o envolvia com um calor sutil, quase convidativo. Katherine puxou os joelhos contra o peito, aconchegando-se sem cerimônias, o olhar fixo na tela sem realmente absorver o que via.

    — Então, Claire ou Cassiano… — murmurou ele, mais para si do que para ela.

    — É. Claire sempre teve aquela coisa de se meter onde não deve — disse Katherine, girando o controle remoto entre os dedos. — E Cassiano… bom, ele é Cassiano. Ainda acho estranho ele estar aqui.

    Leonard soltou um riso abafado pelo nariz.

    — Eu também.

    A sala se enchia de uma paz sonolenta, o tipo de tranquilidade que vinha quando se aceitava, mesmo que momentaneamente, que nada precisava ser resolvido agora. Como se tudo estivesse certo.

    A televisão agora exibia um programa matinal, daqueles que enchiam as manhãs com sorrisos forçados e conversas triviais sobre culinária e previsão do tempo. O apresentador falava sobre um novo restaurante que abrira na cidade, descrevendo seus pratos com entusiasmo exagerado.

    Katherine bocejou, esticando os braços acima da cabeça antes de afundar ainda mais no sofá.

    — Faz tempo que a gente não come direito, né? — disse a mulher, como se só agora tivesse notado isso.

    Leonard demorou um momento para responder.

    — Verdade. Acho que um café da manhã decente cairia bem.

    — Você cozinha?

    Ele riu baixo.

    — Sei fritar um ovo sem botar fogo na casa.

    Katherine sorriu, a expressão mais leve do que ele a vira em dias.

    — Impressionante. Um verdadeiro talento.

    O comentário era provocativo, mas desprovido de qualquer malícia. Leonard apenas balançou a cabeça, aceitando a brincadeira.

    — A gente devia comer alguma coisa antes que o dia comece de verdade.

    Leonard suspirou, passando a mão pelo rosto.

    — Boa ideia.

    Ela riu de verdade dessa vez, um som leve, sem pretensão.

    O tempo se desenrolava ali dentro como um novelo preguiçoso, os segundos esticando-se em uma lentidão quase confortável.

    — Devíamos ver o que tem na cozinha — Katherine sugeriu, mas sem se mover.

    Leonard olhou para ela, depois para a televisão, e percebeu que também não queria sair dali.

    Era estranho.

    Toda a tensão de antes, toda a inquietação, haviam sido dissolvidas, engolidas por aquela atmosfera calma e etérea. A casa, que antes parecia um espaço preenchido por algo invisível e faminto, agora era apenas um lar comum em uma manhã qualquer.

    — Mais cinco minutos — disse ele, sem perceber que estava sorrindo.

    Katherine assentiu, fechando os olhos por um breve instante.

    — Mais cinco minutos.

    Eram mais cinco minutos durante um longo tempo clamando novamente por mais cinco minutos.

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