Olá, segue a Central de Ajuda ao Leitor Lendário, também conhecida como C.A.L.L! Aqui, deixarei registradas dicas para melhor entendimento da leitura:
Travessão ( — ), é a indicação de diálogos entre os personagens ou eles mesmos;
Aspas com itálico ( “” ), indicam pensamentos do personagem central em seu POV;
Aspas finas ( ‘’ ), servem para o entendimento de falas internas dentro da mente do personagem central do POV, mas não significa que é um pensamento dele mesmo;
Itálico no texto, indica onomatopeias, palavras-chave para subverter um conceito, dentre outras possíveis utilidades;
Colchetes ( [] ), serão utilizados para as mais diversas finalidades, seja no telefone, televisão, etc;
Por fim, não esqueça, se divirta, seja feliz e que os mistérios lhe acompanhem!
Capítulo 6 — Calmaria
Horas se passaram desde a primeira gota de chuva. Leonard não podia dizer quanto tempo havia transcorrido. A fome e a sede, embora ainda presentes, já não ocupavam o topo de sua lista de preocupações. O vento, de tempos em tempos, balançava os galhos, derrubando novos frutos que aliviavam parte de seu tormento.
“E pensar que, há algumas horas, estive tão desesperado… Isso é como o paraíso, eu diria. Tirando essa chuva, tudo está melhor desde que cheguei aqui.”
Leonard estava deitado sobre as raízes do tronco, os olhos voltados para cima. A copa da velha árvore oferecia uma sensação de calmaria e paz. O movimento das folhas, provocado pela chuva, era hipnotizante, semelhante ao brilho de fagulhas ascendendo em uma fogueira.
— A essas horas, o Calli provavelmente já deve estar indo trabalhar, né? O Liam agora não deve ter ninguém para conversar durante o expediente e o James…
Fechando os olhos, sentiu uma folha avermelhada pousar sobre o rosto. A brisa fria o trouxe de volta à realidade. Depois de tantos dias perdidos naquele tormento, Leonard já havia desistido de tentar voltar para casa.
A folha que tocava sua pele se esfarelou e os fragmentos voaram com o vento, se distanciando de seus próprios pensamentos de Leonard.
— Bom, tudo aqui tem cores quentes, mas, ao contrário do que pensei, chove bastante…
Ao abrir os olhos, um trovão estremeceu o ambiente, preencheu sua visão com um clarão branco e um enorme estrondo. A chuva continuava inabalável, sem dar sinais de trégua. Só lhe restava a si mesmo e aquela árvore solitária, que permanecia ereta enquanto todas as outras ao redor cediam ao tempo e ao vento.
— Me sinto parecido com essa árvore… se ela pudesse falar. Que merda…
Suspirando, Leonard deixava ser levado por antigas memórias de sua infância. Lembrando dos dias em que a sua mãe lia histórias para ele. Eram tempos tão coloridos… contrastando sua vida agora que parecia tingida apenas por tons de cinza.
— Lembro do dia em que ela me deu esse antigo cachecol. — Puxava de seu pescoço para próximo às narinas. — Seu cheiro ainda perdura mesmo após tanto tempo, Sophie…
Sob essas curtas lembranças suaves, Leonard foi lentamente consumido pelo sono. E, com ele, veio um belo sonho.
…
Leonard estava sentado no sofá, assistindo à televisão em um fim de tarde de outono chuvoso.
Naquela época, Calli tinha cinco anos e Leonard, oito. Enquanto ele se distraía com o programa, Calli brincava no tapete com dois bonecos. O desenho animado que passava na TV era um de seus favoritos, “Ed, Edd n Eddy”.
“Caramba, que incrível!”
Sophie, vindo da cozinha, trazia duas canecas de chocolate quente. A mãe tinha feições inesquecíveis: pele clara, cabelos loiros e olhos cinzentos que brilhavam entre seus traços delicados.
— Meninos, está pronto. Tomem cuidado para não sujarem o sofá! E lembrem de respeitar a vovó Morgiana quando ela chegar.
— Tá bom, mamãe! — Diziam os dois um após o outro, Calli animado e Leonard em um tom de voz comum.
Após alguns goles e sopros no chocolate quente, a campainha soou. Calli largou os brinquedos e correu para a porta, deixando a caneca na mesinha de centro.
— É a vovó! É a vovó! Abre a porta, Leo! — A euforia o fazia pular de um lado ao outro na porta, aguardava ansioso seu irmão mais velho para chegar e abrir a porta, pois não chegava na fechadura da porta.
Leonard alguns segundos atrasados, finalmente chegava em frente à porta, ficando sob a ponta do pé, girou o punho e conseguiu destrancar a porta que já estava com a chave na fechadura, embora não conseguisse chegar à altura da maçaneta.
Morgiana, a avó dos dois, vestia calças floridas e uma camisa longa, igualmente colorida. As luvas pretas em suas mãos contrastavam com o sorriso caloroso que iluminava seu rosto. Leonard nunca se lembrava de vê-la sem esse sorriso.
Leonard não se lembrava do rosto de sua avó sem ser sorrindo, era uma mulher muito alegre e amigável com todo mundo. Como era Calli.
— Vovó! Como a senhora está?! — A avó apenas abraçou ambos de uma só vez, quase interrompendo a fala da criança eufórica.
— Vou bem, pequeno, mas e você, aprendeu muitas coisas hoje?
O abraço dela era quente e reconfortante. Mesmo Leonard, que parecia indiferente ao mundo, não resistiu ao calor proporcionado pelo abraço e sorriu.
— Vão me deixar entrar? Ou vamos ficar aqui fora a noite inteira? — Ainda em tom brincalhão, Morgiana disse.
Os três entraram para aquele ambiente quente e confortável novamente, após fecharem a porta. Morgiana deixou seus dois netos na sala de estar e foi para a cozinha mal iluminada. Lá, Sophie havia acabado de fazer uma torta e comia alguns pedaços antes de deixar esfriar.
— Ah… Oi, mãe.
— Como vai?
Na sala, Leonard reunia ambas as canecas, agora só com um pouco de pó achocolatado no fundo, e ia levando à cozinha, mas parou ao perceber o tom sério da conversa. Encostou-se na parede da cozinha e ficou ouvia em silêncio.
— Estou indo bem, mas você tem certeza de que continuará fazendo esse tipo de serviço, Sophie? Isso está te fazendo mal e você sabe disso…
— Mãe… — Sophie hesitou, uma expressão de desconforto atravessava o seu rosto. Sentiu um leve chute no ventre e segurou a respiração por um momento. — Está próximo de acabar… Eu só preciso de um pouco mais de dinheiro…
— Filha… Isso está te destruindo, você sabe disso… Os dois estão tão felizes agora, mas o que acontecerá depois? Sabe que isso não influencia apenas você, mas os dois também? Ou você acha que no futuro, com pessoas descobrindo isso, vão achar normal duas crianças terem pais diferentes?
— Três… São três. — Sophie desviou o olhar, quase sussurrando.
— Três? Leonard, Calli… Quem é o terceiro? Não me diga que está grávida novamente?!
— Estou, mãe.
— Não me diga que é com outro homem… É?
— Sim.
Leonard, mesmo sem entender toda a conversa, percebeu a tristeza no tom de voz da avó. Isso bastava para ele saber que algo grave estava acontecendo.
Naquele dia, após Sophie sair de casa, Calli continuou brincando no tapete. Leonard, pelo contrário, permaneceu quieto, observando Morgiana na cozinha. A avó ficou lá por muito tempo, chorando em silêncio, enquanto Leonard, impotente, não conseguia fazer nada para ajudá-la.
Nos vemos novamente na sexta-feira! Não se esqueça de pegar o cargo no servidor para acompanhar!
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