Capítulo 60 — Ecos de Determinação
Embora tenha garantido aos companheiros que encontrariam Claire, Leonard não tinha ideia de onde a garota poderia estar. A promessa que fizera fora mais uma tentativa de trazer ordem ao caos do que uma convicção real. Claro, havia suspeitas pairando em sua mente, mas eram apenas sombras de pensamentos, totalmente infundadas. Claire ter sumido do nada… Não.
Ele se lembrou dos sons daquela manhã: o ranger das mobílias e o ruído distante, quase imperceptível, de uma televisão ligada. Não era algo comum para Claire, que sempre mantinha as manhãs silenciosas como um ritual. Isso parecia mais um eco de algo deixado para trás às pressas.
“Que tipo de lugares ela poderia ter sido induzida?”
As possibilidades eram muitas, e a incerteza era um inimigo constante. Havia tantos pontos cegos, tantas lacunas que tornavam a busca quase impossível. Quais os lugares possíveis onde ela poderia ter ido? As perguntas formavam um nó em sua mente, mas ele sabia que a dúvida não era mais o problema mais urgente.
“Mas antes disso…”
Leonard se virou para observar seus três companheiros. Cada um deles parecia recobrar a consciência de maneiras únicas, e suas reações, distintas como eram, revelavam muito sobre suas personalidades.
No entanto, esse tempo gasto não seria agora.
Katherine estava claramente frustrada. Os punhos cerrados e os lábios comprimidos traíam a raiva interna por ter caído em uma ilusão. Ela era orgulhosa e resistente, e o fato de ter sido enganada ferira mais o ego do que o espírito. Leonard não a culpava. Ele próprio, mesmo tendo uma certa resistência natural a essas coisas, não estava imune.
Liam, por outro lado, era como uma rocha diante da tempestade. Sua expressão permanecia imutável, serena, quase indiferente. Talvez fosse o peso de um passado marcado por traumas semelhantes que o fazia reagir assim.
No entanto, Cassiano era o que mais despertava a curiosidade de Leonard. Sua reação era diferente de qualquer uma das anteriores.
“Esse cara sabia que estava em uma ilusão?”
Estupefato, Leonard se virou para a porta.
A chave permanecia imóvel no trinco, balançando de um lado para o outro com a brisa que passava entre as frestas do sócalo de madeira envelhecida. O som metálico parecia ecoar, criando uma sensação de vazio que contrastava com o mundo lá fora. Ele apertou os lábios.
“Só abrir… vamos, isso é definitivamente fácil.”
Quando finalmente tocou a maçaneta, o frio o fez recuar instintivamente. Era uma temperatura crua, cortante, muito além do que ele esperava para aquela manhã. Não deveria ser surpresa, e ainda assim o pegou desprevenido.
— E você sabe onde ela está? — Cassiano o observava, olhos escuros e intensos, como se tentasse desvendar segredos velados sob a expressão cansada de Leonard. Talvez houvesse, de fato, algo que ele não estava dizendo.
Leonard hesitou por um instante.
“Hum…”
Sem responder diretamente, virou a cabeça para o lado, lançando um breve sorriso por cima do ombro. Não havia malícia naquele gesto, nem ironia — apenas uma espécie de determinação calma.
— Cada um deveria poder procurá-la por si só — começou ele, com a voz baixa e firme. — Mas como todos estão em condições ruins, eu vou atrás dela.
Antes que alguém pudesse objetar, Leonard atravessou a soleira e fechou a porta atrás de si. O clique da fechadura soou mais alto do que deveria.
Ir atrás de Claire era uma escolha sua. Uma decisão que, naquele momento, parecia inevitável. Mas, agora que estava do lado de fora, o mundo parecia ainda mais frio. O vento cortava sem piedade, e as árvores se erguiam como sentinelas macabras, com galhos secos dançando em uma sinfonia melancólica.
Não eram apenas árvores comuns. A floresta à frente parecia um túnel, seus ramos entrelaçados formando arcos de raízes mortas e frágeis. O branco da neve cobria o chão, mas não conseguia apagar completamente o cinza e o marrom das folhas mortas.
Pequenos feixes de luz solar atravessavam o dossel, criando padrões irregulares sobre a paisagem congelada.
“Por onde começo?”
Olhando de um lado para o outro, Leonard viu alguns pássaros fazendo seus ninhos em meio ao frio. Suas penas estavam eriçadas, os corpos trêmulos pela exposição ao vento.
Ele se sentiu de alguma forma refletido neles — um intruso vulnerável em um mundo que não oferecia abrigo.
A neve começava a cair novamente, pequenos flocos dançando no ar como fragmentos de um passado esquecido. Leonard puxou o casaco para mais perto do corpo e deu o primeiro passo em direção ao desconhecido.
“Acho que ir até a igreja ou o centro do vilarejo seja o melhor a se fazer.”
Leonard murmurou as palavras para si mesmo, tentando dar um senso de direção ao caos interno que se aglomerava em sua mente. O frio parecia pesar em seus ombros, e o silêncio quase sobrenatural da vila o envolvia, como se as próprias pedras antigas das ruas estivessem observando seus passos cautelosos.
Enquanto caminhava, os pés afundando levemente na fina camada de neve fresca, uma lembrança inesperada o atingiu: o jovem que havia conhecido na praça. Seu rosto jovem e hesitante surgiu em sua mente com uma clareza surpreendente.
Um sorriso, quase involuntário, se formou em seus lábios.
“Será que ele conseguiu se declarar?”
A pergunta pairou no ar, trazendo um leve calor que contrastava com o frio cortante ao seu redor. Leonard riu consigo mesmo, um som baixo e solitário que logo foi engolido pela vastidão da manhã.
“Se bem que eu sequer sei o nome dele…”
A simplicidade da memória o confortou por um breve instante. Naquela manhã estranha e cheia de incertezas, havia algo de genuíno e humano naquela interação. Não era como os mistérios sombrios e os desaparecimentos inquietantes que agora moldavam seus pensamentos. Não — o jovem apenas buscava uma coragem que muitos temiam encontrar.
Leonard acelerou o passo, com os olhos fixos na torre da igreja que se erguia à distância, sua silhueta fantasmagórica recortada contra o céu pálido. No entanto, o sorriso permaneceu, e por um momento, apenas por um momento, ele se sentiu um pouco mais humano em meio às águas geladas da incerteza.
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