Capítulo 65 — Lembranças da Névoa
Eden Hollow, terceiro dia.
Ao despertar, Liam sentiu o peso do desconforto nas costas antes mesmo de abrir os olhos.
O sofá duro e estreito não era o lugar onde ele costumava dormir.
Quando finalmente abriu os olhos, a sala estava envolta em uma penumbra suave, a luz do amanhecer ainda tímida, filtrando-se pelas cortinas semiabertas.
Ele se sentou devagar, esfregando o rosto com as mãos, tentando dissipar a névoa de confusão que tomava sua mente.
— Por que eu dormi aqui? — murmurou para si mesmo, a voz rouca pelo sono.
Liam tentou reconstruir os eventos do dia anterior, mas as memórias eram fragmentadas, como pedaços de um quebra-cabeça que não se encaixavam.
Ele se lembrava de vozes, de movimentos que não eram totalmente seus, de uma sensação de estar sendo guiado, como um fantoche em mãos alheias.
Um frio percorreu sua espinha ao pensar nisso.
— Como será que os outros estão? — questionou em voz baixa, olhando ao redor.
A casa estava silenciosa, quase assustadoramente quieta.
Nenhum sinal de vida além dele. O vazio era perturbador, mas Liam não tinha tempo para se deter nisso.
A luz do sol começava a ganhar força, derramando-se pela janela e iluminando a poeira que dançava no ar. Era um novo dia, e ele precisava se recompor.
Com um suspiro, ele se levantou, esticando o corpo dolorido.
O caminho até o banheiro foi feito com passos lentos, ainda tentando sacudir a estranheza que o acompanhava.
Ao se olhar no espelho, Liam franziu o rosto. Seu cabelo estava uma bagunça, rebelde e desalinhado, como se tivesse travado uma batalha durante a noite.
— Uff… Que coisa chata de todas as manhãs — resmungou, passando os dedos pelos fios em uma tentativa inútil de domá-los.
Decidido a começar o dia, ele fez suas necessidades diárias com uma rotina quase automática. O banho quente ajudou a dissipar um pouco da tensão, mas a água não conseguiu lavar completamente a sensação de inquietação que o acompanhava.
Ao sair do banheiro, envolto em uma toalha e com o cabelo ainda pingando, Liam se dirigiu ao quarto que deveria ter sido seu refúgio na noite anterior.
O quarto estava exatamente como ele deixara, a cama intacta, as roupas ainda dobradas sobre a cadeira.
Ele se vestiu rapidamente, escolhendo roupas confortáveis, e arrumou suas coisas com um cuidado meticuloso, como se a organização externa pudesse trazer alguma ordem ao caos interno.
Enquanto dobrava uma camisa, seus olhos pousaram na janela do quarto, onde a luz do sol agora brilhava plenamente.
— Hoje vai ser um dia produtivo — disse para si mesmo, tentando se convencer.
Mas, no fundo, Liam sabia que algo estava errado.
A casa estava muito quieta, as memórias do dia anterior estavam muito turvas, e a sensação de que ele não estava totalmente no controle de si mesmo persistia.
Ele respirou fundo, tentando se concentrar no presente. Havia trabalho a ser feito, e ele não podia se dar ao luxo de hesitar.
Com um último olhar para o quarto, Liam saiu, fechando a porta atrás de si.
No corredor, Liam deparou-se com Katherine, que surgiu de seu quarto com passos vacilantes, esfregando os olhos como se tentasse afastar os últimos vestígios do sono.
— Precisa de ajuda? — perguntou ele, com um tom de voz suave, já sabendo a resposta antes mesmo de ela abrir a boca.
Katherine olhou para ele, meio desorientada, e abanou a cabeça lentamente, como se o simples gesto exigisse um esforço enorme.
— Ah, bom dia… Não preciso, obrigada — respondeu, a voz ainda rouca e pesada de sonolência.
Sem mais cerimônias, ela desviou de Liam e entrou no banheiro, fechando a porta com um clique suave.
Liam ficou parado por um momento, observando a porta fechada.
“Bom, acho que todos estão ruins mesmo…”, pensou, com um misto de preocupação e resignação.
Ele continuou pelo corredor em direção à sala, mas parou abruptamente ao avistar Claire e Cassiano sentados no sofá.
Os dois estavam conversando com a voz baixa, mas seus rostos estavam sérios, como se discutissem algo importante.
Liam franziu a testa, surpreso.
Ele não havia percebido que os dois já estavam acordados.
Claire, com seus cabelos ruivos desalinhados e uma xícara de café entre as mãos, parecia mais alerta do que Cassiano, que estava encostado no sofá, com olheiras profundas e uma expressão cansada.
A atmosfera entre eles era densa, quase palpável, e Liam hesitou por um instante, questionando se deveria se intrometer.
— Bom dia — cumprimentou, finalmente, quebrando o silêncio que pairava na sala.
Claire olhou para ele e acenou com a cabeça, enquanto Cassiano apenas murmurou um “bom dia” distante, sem tirar os olhos da xícara que segurava com as duas mãos.
Liam sentiu um desconforto crescente.
Algo estava acontecendo, algo que ele não conseguia decifrar.
A casa, que antes parecia apenas silenciosa, agora carregava uma tensão que ele não sabia nomear.
Ele se aproximou um pouco mais, tentando captar fragmentos da conversa, mas Claire e Cassiano baixaram ainda mais as vozes, como se não quisessem que ele ouvisse.
— Tudo bem por aqui? — perguntou Liam, tentando soar casual, mas a pergunta saiu mais carregada do que ele pretendia.
Claire olhou para ele e, por um breve momento, ele achou que ela ia dizer algo. Mas então ela apenas sorriu, um sorriso que não chegava aos olhos.
— Tudo sob controle — respondeu, antes de voltar a sussurrar com Cassiano.
Liam ficou parado, sem saber o que fazer.
A luz do sol agora inundava a sala, contrastando com o clima pesado que parecia pairar sobre todos.
Ele sentiu um frio na nuca, como se estivesse sendo observado, e olhou por cima do ombro, mas não havia ninguém ali. A sensação persistiu, um arrepio que parecia ecoar por toda a casa.
“O que está acontecendo aqui?”, pensou, enquanto se afastava lentamente, deixando Claire e Cassiano mergulhados em sua conversa sigilosa.
Liam se dirigiu à cozinha, onde a luz do sol batia diretamente sobre a mesa, criando um contraste quase irônico com o clima pesado que parecia pairar sobre todos.
Ele se sentou em uma das cadeiras, os dedos tamborilando levemente na superfície da mesa, enquanto tentava ignorar a sensação de que algo estava muito errado.
Os murmúrios baixos de Claire e Cassiano ainda ecoavam pela sala, mas ele não conseguia distinguir as palavras.
De vez em quando, uma pausa no diálogo fazia Liam levantar os olhos, esperando que um deles entrasse na cozinha, mas nada acontecia.
A espera era incômoda, e ele começou a se perguntar se deveria confrontá-los, perguntar o que estava acontecendo.
Mas algo o impedia — talvez o medo de descobrir que ele era o único que não sabia de algo importante.
Enquanto isso, o tempo parecia passar mais devagar na cozinha.
Liam olhou para a janela, observando o vento balançar levemente as árvores lá fora.
Era um dia bonito, mas a beleza do exterior não conseguia penetrar a estranheza que dominava o interior da casa.
Finalmente, foi possível ouvir o som de passos se aproximando. Liam se virou, esperando ver Claire ou Cassiano, mas foi Katherine quem apareceu na porta da cozinha, agora mais desperta, com o cabelo loiro ainda úmido do banho.
— Bom dia, de novo — disse ela, com um sorriso cansado. — Alguém já fez café?
Liam balançou a cabeça, se levantando da cadeira.
— Ainda não. Eu faço.
Enquanto mexia com a cafeteira, Liam sentiu o peso do silêncio entre eles.
Katherine se sentou numa cadeira próxima à mesa, olhando para as mãos, como se também estivesse evitando falar sobre o que todos pareciam estar pensando.
— Eles ainda estão lá fora? — perguntou Katherine, finalmente, com um aceno discreto em direção à sala.
— Sim — respondeu Liam, sem olhar para trás. — Parece que têm muito o que discutir.
Katherine não respondeu, mas Liam podia sentir o olhar dela fixo em suas costas, como se estivesse tentando decifrar algo.
Ele se virou, segurando duas xícaras de café, e colocou uma na frente dela.
— Obrigada — murmurou Katherine, envolvendo as mãos ao redor da xícara como se buscasse conforto no calor.
Liam se sentou novamente, olhando para ela por cima da xícara.
— Você… sentiu algo estranho hoje? — perguntou, hesitante, quase esperando que ela negasse.
Katherine parou por um momento, os dedos apertando levemente a xícara.
— Estranho como? — respondeu ela, evitando seu olhar.
Liam abriu a boca para responder, mas foi interrompido pelo som de passos rápidos na sala. Claire apareceu na porta da cozinha, seu rosto sério, quase pálido.
— Precisamos conversar — disse ela, olhando diretamente para Liam. — Todos acordados.
Liam trocou um olhar rápido com Katherine, que agora parecia tão tensa quanto ele. O café foi esquecido na mesa enquanto ele se levantou, seguindo Claire de volta para a sala.
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