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    Leonard sentiu um calafrio percorrer sua espinha, como se o próprio ar ao seu redor estivesse vivo, observando, esperando. 

    A porta diante dele parecia respirar, suas rachaduras pulsando como veias sob a pele de um gigante adormecido. 

    A luz que escapava pelas frestas era agora mais intensa, quase ofuscante, mas de uma forma que não machucava os olhos. 

    Era como se ela não pertencesse a este mundo, como se existisse além dos limites da percepção humana.

    Ele tentou mover-se novamente, mas suas pernas pareciam enraizadas no chão, como se as sombras ao seu redor tivessem se materializado em correntes invisíveis. 

    O ar pesado e úmido grudava em sua pele, e os murmúrios ao seu redor se tornaram mais claros, mais insistentes. 

    Agora, ele conseguia distinguir fragmentos de palavras, frases desconexas que pareciam vir de todas as direções ao mesmo tempo.

    — Você não pode escapar…

    — Está tudo conectado…

    — Ela está esperando…

    Leonard cerrou os punhos, sentindo as unhas cavarem nas palmas das mãos. 

    A dor era real, mas não o suficiente para tirá-lo daquele estado de paralisia. 

    Ele sabia que aquela porta era o epicentro de tudo, o ponto onde todas as linhas do tempo e do espaço convergiam. 

    E, mais do que isso, ele sabia que aquela porta não era apenas uma barreira física — era um símbolo, um portal para algo que estava além da compreensão humana.

    A luz pulsante começou a tomar formas, como se estivesse tentando se materializar em algo reconhecível. 

    Leonard viu silhuetas se movendo dentro dela, figuras indistintas que pareciam dançar em um ritmo caótico, como se estivessem presas em um ciclo infinito. 

    E então, como se respondendo a um chamado que ele não havia feito, a porta começou a se abrir.

    Um som baixo e grave ecoou pelo corredor, como o gemido de uma criatura antiga despertando de um sono milenar. 

    A madeira rangia, as dobradiças protestavam, e a luz que vazava pelas frestas se intensificou, inundando o espaço ao redor de Leonard com uma claridade quase insuportável.

    Ele tentou fechar os olhos, mas não conseguiu. 

    Algo o mantinha ali, o forçando a testemunhar o que estava por vir. 

    A porta se abriu completamente, revelando um vazio infinito, uma escuridão que engolia a luz ao invés de refleti-la. 

    E, no centro daquele vazio, algo começou a se formar.

    Era uma figura, indistinta no início, mas que rapidamente ganhou contornos mais definidos. 

    Leonard sentiu seu coração acelerar, seu instinto gritando para que ele fugisse, mas seus pés permaneceram firmes, como se pertencessem àquele lugar tanto quanto à porta e o corredor.

    A figura se aproximou, e Leonard finalmente conseguiu distinguir seus traços. 

    Era uma mulher, mas não como nenhuma mulher que ele já tinha visto. 

    Seus olhos brilhavam com a mesma luz que emanava da porta, e seu cabelo flutuava ao redor dela, como se estivesse submerso em água. 

    Ela usava um vestido que parecia feito de sombras, e cada passo que dava em sua direção fazia o chão tremer levemente.

    — Leonard — sussurrou, sua voz ecoando em sua mente como se viesse de dentro dele mesmo. — Você finalmente chegou.

    Ele tentou falar, mas as palavras não saíram. 

    Sua garganta estava seca e o ar parecia ter sido sugado do ambiente. 

    A mulher estendeu a mão e Leonard sentiu uma força irresistível o puxando em sua direção. 

    Ele não tinha controle sobre seu corpo, como se estivesse sendo guiado por uma corrente invisível.

    — Você sempre soube que este momento chegaria — continuou, sua voz suave, mas carregada de uma autoridade inquestionável. — Você sempre soube que não poderia escapar.

    Leonard sentiu uma onda de pânico subir em seu peito, mas, ao mesmo tempo, havia uma estranha sensação de familiaridade, como se ele já tivesse estado ali antes, como se aquela mulher fosse parte de algo que ele havia esquecido há muito tempo.

    — Quem… quem é você? — Ele finalmente conseguiu balbuciar, sua voz fraca e trêmula.

    A mulher sorriu, um sorriso que não chegava aos olhos.

    — Eu sou o que você deixou para trás — respondeu, sua mão agora pairando a centímetros de seu rosto. — E agora, é hora de você enfrentar o que sempre evitou.

    Antes que ele pudesse reagir, ela tocou sua testa e uma onda de energia percorreu seu corpo, o fazendo tremer violentamente. 

    A visão de Leonard se distorceu, o corredor e a porta desapareceram em um turbilhão de cores e formas. 

    Ele sentiu como se estivesse caindo, mas não havia chão para atingir, apenas um vazio infinito que o engolia.

    E então, tudo ficou escuro.

    Quando Leonard abriu os olhos, estava deitado em sua cama, com o suor escorrendo por seu rosto e colando a camisa no corpo. 

    O quarto estava mergulhado em uma penumbra quente, apenas iluminado pela luz fraca da lua que entrava pela janela entreaberta. 

    Ele respirou fundo, tentando se acalmar, mas seu coração ainda batia acelerado, como se tivesse acabado de correr uma maratona. 

    Seus músculos estavam tensos, e suas mãos tremiam levemente.

    Ele se sentou na cama, esfregando o rosto com as mãos, tentando se lembrar do que havia acontecido. 

    O sonho — se é que era um sonho — ainda estava fresco em sua mente, mas os detalhes já começavam a escapar, como areia entre os dedos. 

    Ele lembrava de uma porta, de uma luz pulsante, de uma mulher… mas tudo parecia distante, como se pertencesse a outra realidade.

    Leonard olhou ao redor do quarto, tentando se reconectar com o mundo real. 

    As paredes familiares, a escrivaninha bagunçada, o abajur quebrado no canto — tudo estava no lugar, mas ele se sentia estranhamente deslocado, como se parte dele ainda estivesse presa naquele sonho.

    Ele levantou da cama, os pés descalços tocando o chão frio, e caminhou até a janela. 

    O ar noturno era fresco e ele respirou fundo, tentando se acalmar. 

    Lá fora, a rua estava deserta, apenas algumas luzes distantes brilhando como estrelas solitárias. 

    O silêncio era quase absoluto, exceto pelo som distante dos galhos de árvores. 

    Leonard fechou os olhos, tentando se lembrar. 

    A mulher… o que ela tinha dito? Algo sobre ele não poder escapar, sobre enfrentar o que havia deixado para trás. 

    Mas o que isso significava? E por que ele se sentia tão… diferente?

    Ele abriu os olhos novamente e olhou para suas mãos. 

    Elas ainda tremiam, mas agora ele notava algo estranho. 

    Na palma de sua mão direita, havia uma marca, uma espécie de cicatriz que ele não se lembrava de ter. 

    Era pequena, quase imperceptível, mas ele podia sentir sua textura áspera ao passar o dedo sobre ela.

    — O que diabos… — murmurou para si mesmo, sua voz rouca e baixa.

    Leonard se virou e caminhou até a escrivaninha, pegou seu celular e o ligou. 

    Eram 3:17 da manhã. 

    Ele não tinha ideia de quanto tempo havia passado desde que ele… desde que ele acordou? Ou desde que ele desmaiou? Ele não conseguia se lembrar.

    Leonard se sentou na beira da cama, segurando a cabeça entre as mãos. 

    A ansiedade ainda estava lá, latejando em seu peito como uma ferida aberta. 

    Ele sabia que não conseguiria dormir de novo, não depois daquilo.

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