Capítulo 68 — Lembranças da Névoa (4)
Leonard se sentou na beira da cama, e o colchão rangeu levemente sob seu peso.
O quarto estava envolto em uma penumbra gélida, apenas iluminado pela luz fraca da lua que entrava pela janela entreaberta.
Ele olhou para o relógio do celular novamente: 3:47 da manhã.
A noite ainda era longa, e o silêncio ao seu redor parecia amplificar cada pensamento que ecoava em sua mente.
Ele sabia que não conseguiria dormir de novo, não depois daquilo.
O sonho — se é que era um sonho — ainda estava fresco em sua memória, mas os detalhes já começavam a escapar, como areia entre os dedos.
Ele lembrava de uma porta, de uma luz pulsante, de uma mulher… mas tudo parecia distante, como se pertencesse a outra realidade.
A sensação de inquietação, no entanto, persistia, latejando em seu peito como uma ferida aberta.
Leonard olhou ao redor do quarto, tentando se reconectar com o mundo real.
As paredes familiares, a escrivaninha bagunçada, o abajur quebrado no canto — tudo estava no lugar, mas ele se sentia estranhamente deslocado, como se parte dele ainda estivesse presa naquele sonho.
“Nunca havia reparado que o abajur estava quebrado…”
Ele respirou fundo, tentando se acalmar, mas o ar parecia pesado, como se o quarto estivesse cheio de perguntas sem resposta.
Ele se levantou e caminhou até a janela, olhando para o quintal escuro e cheio de neve lá fora.
A casa estava silenciosa, todos os outros ainda mergulhados em um sono profundo. Claire estava no quarto ao lado, Cassiano no fim do corredor, Liam e Katherine em seus respectivos quartos. Leonard sabia onde cada um deles estava, mas a ideia de perturbá-los nesta hora da noite parecia errada. Eles precisavam descansar, especialmente depois do dia estranho que todos haviam tido.
Ele se lembrou do dia anterior, das conversas tensas, das expressões preocupadas nos rostos de todos.
Algo estava desconexo em toda a história de Eden Hollow, e eles sabiam disso.
O vilarejo parecia envolta em uma névoa de mistério, como se cada esquina escondesse um segredo que ninguém queria revelar.
Leonard não conseguia colocar o dedo no que exatamente estava acontecendo, mas sentia estarem todos conectados de alguma forma, como peças de um quebra-cabeça que ainda não haviam sido montadas.
Ele olhou para a cicatriz em sua mão novamente.
Era pequena, quase imperceptível, mas ele podia sentir sua textura áspera ao passar o dedo sobre ela.
Como ela tinha aparecido? Ele não se lembrava de ter se machucado, mas a marca estava lá, como um lembrete silencioso de que algo havia mudado dentro dele.
Leonard se sentou na cadeira perto da escrivaninha, olhando para as anotações que havia feito antes de dormir.
Ele sempre gostou de escrever, de colocar seus pensamentos no papel, como se isso pudesse ajudá-lo a entender o que estava acontecendo em sua mente.
Agora, as páginas estavam cheias de rabiscos, palavras soltas e frases desconexas que tentavam capturar o que ele estava sentindo.
Porta. Luz. Mulher. Cicatriz.
As palavras pareciam insuficientes, mas era tudo o que ele conseguia lembrar.
Ele olhou para a cicatriz novamente, uma sensação de inquietação crescendo dentro dele.
Algo estava errado.
Algo estava muito errado.
Ele pegou uma caneta e começou a escrever, tentando colocar em palavras o que havia acontecido.
O sonho… era mais do que um sonho. Era real, de alguma forma. Eu estava lá, eu sentia. A porta… ela estava viva, pulsando, como se estivesse respirando. E a luz… ela era diferente, como se não pertencesse a este mundo. E a mulher… quem era ela? Ela me conhecia, mas eu não a reconheci. Ou será que eu a reconheci, mas não quero admitir?
Leonard parou de escrever, olhando para as palavras que havia colocado no papel.
Elas pareciam absurdas, como se pertencessem a um romance de ficção científica, não à sua vida real.
Mas ele sabia que havia algo de verdade nelas, algo que ele não poderia ignorar.
Ele se lembrou da sensação de paralisia, de não conseguir se mover, de estar preso naquele corredor infinito.
E a voz da mulher… ela ainda ecoava em sua mente, como um sussurro que ele não conseguia esquecer.
“Você sempre soube que este momento chegaria. Você sempre soube que não poderia escapar.”
O que aquilo significava?
O que ele havia deixado para trás?
Leonard tentou se lembrar, mas sua mente estava confusa, como se houvesse uma névoa cobrindo suas memórias, eram fardos deixados por Calius?
Ele sabia que havia algo, algo importante, mas não conseguia alcançá-lo.
Ele olhou para o celular em cima da escrivaninha.
A tela estava escura, mas ele sabia que talvez, se a ligasse, veria dezenas de mensagens e ligações perdidas.
Talvez Calli e James pudessem ter enviado algo… eles estavam preocupados com ele.
Ele sabia disso.
Mas como ele poderia explicar o que estava acontecendo? Como ele poderia dizer que ele não tinha controle sobre o que estava sentindo, sobre o que estava sonhando?
Leonard pegou o celular, hesitando por um momento antes de ligá-lo.
A tela acendeu, iluminando seu rosto pálido e cansado.
Várias notificações apareceram, mas ele não tinha energia para olhar.
Em vez disso, ele abriu o aplicativo de notas e começou a escrever, tentando colocar em palavras o que havia acontecido.
Sonho. Porta. Luz. Mulher. Cicatriz.
As palavras pareciam insuficientes, mas era tudo o que ele conseguia lembrar.
Ele olhou para a cicatriz em sua mão novamente, uma sensação de inquietação crescendo dentro dele.
Leonard olhou para a janela novamente, o quintal ainda envolto em escuridão.
A noite parecia interminável, mas ele sabia que o amanhecer traria novas perguntas, novas incertezas.
E, no fundo, ele sabia que a porta em seu sonho não era o fim. Era apenas o começo.
Leonard respirou fundo, tentando se preparar para o que estava por vir.
Ele não sabia o que o futuro reservava, mas uma coisa era certa: ele não poderia mais ignorar os sinais.
A porta estava lá, esperando.
E, mais cedo ou mais tarde, ele teria que enfrentar o que estivesse do outro lado.
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