Índice de Capítulo

    Horas se arrastaram como um rio lento, e o véu do amanhecer começou a se desenhar no horizonte, tingindo o céu de tons suaves de lilás e dourado. O cansaço, finalmente, venceu a batalha contra a insônia, e Leonard sentiu o peso das pálpebras se tornando irresistível. 

    — Uaaaaaah! — Um bocejo longo e profundo escapou de seus lábios, ecoando no silêncio do quarto.

    Ele se deixou cair na cama, o colchão cedeu levemente sob seu corpo cansado. 

    Se virou para o lado da janela, onde a primeira luz do dia começava a espiar por entre as cortinas. Puxou o cobertor sobre si, envolvendo-se em seu abraço quente e reconfortante. 

    Após longas e árduas horas de tormentos, pensamentos que giravam sem fim e crises que pareciam não ter fim durante a madrugada, Leonard finalmente sentiu-se envolto por aquela sensação há tanto tempo esperada: a paz.

    Nesse momento, não houve sonhos. 

    Nenhuma imagem perturbadora cruzou sua mente, nenhuma voz sussurrou segredos em seus ouvidos. 

    A escuridão que o envolveu foi suave, como um manto protetor, e o silêncio dentro dele foi completo. 

    Era apenas o descanso, puro e simples, que lhe havia sido prometido e que, finalmente, após tanta luta, chegou. O mundo exterior desapareceu e Leonard mergulhou em um sono profundo, onde nada mais importava além do repouso de que seu corpo e mente tanto precisavam.

    Os raios do meio-dia já haviam escalado o céu, banhando o quarto de Leonard com uma luz dourada e quente, quando um barulho insistente na porta o arrancou do sono profundo. 

    Ele abriu os olhos lentamente, a visão ainda turva, enquanto a mente tentava se reconectar com o mundo ao seu redor. A porta rangia suavemente, e logo a figura de Katherine apareceu, espiando para dentro do quarto com uma expressão que misturava preocupação e alívio.

    — Ei, dorminhoco — disse Katherine, com um sorriso leve nos lábios.

    Leonard piscou duas vezes, lentamente, como se o simples ato de abrir e fechar os olhos exigisse um esforço monumental. 

    A luz do dia parecia invasiva, e ele ainda sentia o peso do sono agarrado a cada fibra do seu corpo. A voz de Katherine ecoou em sua mente, mas as palavras demoraram a fazer sentido. 

    — Me deixa dormir mais um pouco… — murmurou, a voz rouca e carregada de sonolência, enquanto se virava para o lado, puxando o cobertor sobre a cabeça como um escudo contra o mundo acordado. 

    Katherine suspirou, cruzando os braços e inclinando-se levemente contra a porta. 

    — Já é meio-dia, Leonard. Você dormiu a manhã toda. Está tudo bem? — perguntou, a voz mais suave agora, mas ainda carregada de uma preocupação que ele não conseguia ignorar completamente, mesmo em seu estado grogue. 

    Ele não respondeu de imediato, preferindo o aconchego do cobertor e a promessa de mais alguns minutos de sono.

    — Se arrume, logo vamos sair para investigar mais — disse Katherine, com um tom firme, mas não impaciente, enquanto se virava e deixava o quarto, fechando a porta suavemente atrás de si. 

    O som do clique da maçaneta ecoou no silêncio do cômodo, e Leonard ficou sozinho novamente, envolto na quietude que só o início da tarde parecia trazer.

    Ele se espreguiçou lentamente, sentindo cada músculo do corpo despertar, como se estivesse saindo de um longo torpor. 

    Com movimentos ainda preguiçosos, levantou da cama e caminhou até as malas, que estavam meio abertas no canto do quarto. Escolheu uma muda de roupas simples, algo que o mantivesse confortável para o que quer que o dia ainda reservasse. 

    Ao sair do quarto, foi ao banheiro. 

    A água morna do chuveiro caiu sobre seu corpo, lavando não apenas a sonolência, mas também parte da névoa que parecia pairar sobre seus pensamentos. 

    Quando voltou ao quarto, já mais desperto, começou a organizar suas coisas com um cuidado meticuloso, como se cada objeto precisasse estar no lugar certo para que o dia fizesse sentido.

    Foi então que ele pegou um bloco de notas meio amassado, que estava escondido sob uma pilha de papéis. 

    Ao abrir, seus dedos encontraram o lápis que sempre mantinha preso na espiral. 

    Folheou algumas páginas, cheias de rabiscos, anotações e ideias soltas, até que algo chamou sua atenção. Em uma das páginas, havia um desenho peculiar: um olho envolto em espirais, como se estivesse sendo sugado para dentro de um vórtice. 

    Leonard franziu o cenho, tentando se lembrar quando e por que havia desenhado aquilo. 

    O olho parecia familiar, mas, ao mesmo tempo, distante, como algo que pertencia a um sonho ou a um momento de devaneio. 

    Ele ficou parado por um instante, observando o desenho, como se ele pudesse revelar algo mais, mas nada veio à mente. 

    Com um suspiro, ele fechou o bloco de notas e o colocou na mochila, junto ao lápis e outras coisas que considerou essenciais para o dia. O desenho ficou para trás, mas a sensação de que aquilo significava algo importante permaneceu.

    “Será que aquele olho…” 

    “Pudesse ser o meu?”

    As dúvidas surgiram como sombras na mente de Leonard, pairando sobre ele enquanto tentava decifrar o significado daquele desenho. Ele se lembrou vagamente de uma segunda-feira, mas qual segunda-feira? Havia tantas, todas se misturando em uma névoa de dias repetitivos e cansativos. O que tornava aquela diferente das outras? Ele não sabia ao certo. 

    Talvez não importasse. 

    Ou talvez importasse mais do que ele poderia imaginar, mas, por ora, não era o momento de mergulhar nesse mistério.

    Com um suspiro, Leonard abanou a cabeça, como se quisesse afastar as perguntas que insistiam em ecoar em seus pensamentos. Havia coisas mais urgentes a fazer, pessoas esperando por ele. Ele não podia se dar ao luxo de ficar preso em conjecturas, não agora.

    Em meio às dúvidas que ainda dançavam em sua mente, ele saiu do quarto, fechando a porta com um clique suave. 

    O corredor estava silencioso, mas o som de vozes distantes o guiou até onde os outros já estavam reunidos. Katherine estava lá, assim como os demais, cada um ocupado com seus preparativos, mas todos compartilhando um mesmo propósito.

    Leonard se aproximou, sentindo o peso da responsabilidade e da curiosidade se misturarem em seu peito. O dia já estava em andamento, e com ele, novas descobertas, novos desafios e, quem sabe, algumas respostas. Ele respirou fundo, ajustou a mochila nos ombros e se juntou ao grupo. 

    Um novo dia se iniciava, e com ele, a promessa de que, talvez, aquelas dúvidas encontrariam seu lugar no grande quebra-cabeça que estavam tentando montar. Por enquanto, era o suficiente.

    Apoie-me

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 100% (5 votos)

    Nota