Olá, segue a Central de Ajuda ao Leitor Lendário, também conhecida como C.A.L.L! Aqui, deixarei registradas dicas para melhor entendimento da leitura:
Travessão ( — ), é a indicação de diálogos entre os personagens ou eles mesmos;
Aspas com itálico ( “” ), indicam pensamentos do personagem central em seu POV;
Aspas finas ( ‘’ ), servem para o entendimento de falas internas dentro da mente do personagem central do POV, mas não significa que é um pensamento dele mesmo;
Itálico no texto, indica onomatopeias, palavras-chave para subverter um conceito, dentre outras possíveis utilidades;
Colchetes ( [] ), serão utilizados para as mais diversas finalidades, seja no telefone, televisão, etc;
Por fim, não esqueça, se divirta, seja feliz e que os mistérios lhe acompanhem!
Capítulo 83 — Missão
…
Sete dias depois.
O tempo, que antes arrastava-se como um rio de mel, agora fluía com uma estranha leveza. Sete dias. Sete dias desde que Calli cruzara aquela fronteira invisível entre sua vida solitária e o grupo que agora ocupava seus pensamentos.
No começo, fora apenas curiosidade. Depois, uma necessidade. Agora, algo mais profundo se enraizava em seu peito, como se finalmente tivesse encontrado um lugar onde suas peças desencaixadas se encaixassem.
Eles não eram uma família — não exatamente. Mas havia algo na maneira como Thalya sorria, como James batia em seu ombro antes de sair para a escola, como os outros o incluíam em conversas sem exigir explicações — que fazia com que, pela primeira vez em anos, Calli não se sentisse como um fardo em sua própria vida.
A rotina já estava gravada em seus músculos: acordar, vestir-se, seguir James até a esquina onde seus caminhos se separavam. Enquanto o garoto desaparecia no fluxo de estudantes uniformizados, Calli virava à esquerda, em direção ao beco que, para qualquer um que passasse, era apenas mais um vão entre prédios esquecidos.
Mas ele sabia melhor.
Ali, entre tijolos descascados e o cheiro persistente de chuva antiga, havia uma porta que não era uma porta. Uma entrada que só existia para quem sabia como olhar.
“O que será essa tal missão que querem que eu faça?”
A pergunta ecoava em sua mente desde a noite anterior, quando Thalya mencionara, de forma casual, que “amanhã seria diferente”. Calli não insistira em detalhes — não com ela, que tinha o dom de responder perguntas sem realmente responder nada — mas a expectativa formigava em suas mãos agora, enquanto seus passos ecoavam no asfalto úmido.
O beco estava particularmente silencioso hoje. Até mesmo os sons distantes da cidade pareciam abafados, como se o ar estivesse mais denso. Calli parou diante da parede final — a mesma de sempre, rachada e coberta por pichações desbotadas — e esticou a mão.
Por um instante, nada aconteceu.
Então, como sempre acontecia, a superfície do tijolo ondulou sob seus dedos, gelada e líquida.
“Se parar para pensar… eles quase parecem uma organização de investigadores, não é?”
A comparação lhe ocorrera dias atrás, quando vira Víctor decifrando um código em um pedaço de papel com a mesma facilidade com que outras pessoas liam o jornal. Ou quando Alice sumia por horas e voltava com informações que nunca deveriam estar em posse de alguém como eles.
Mas havia algo mais. Algo que não se encaixava na ideia de investigadores comuns.
Antes que pudesse refletir mais, a parede o puxou para dentro.
O mundo do outro lado era — como sempre — um contraste violento com o beco sombrio. Luz suave, filtrada por vitrais que não existiam no prédio real, pintava o chão de padrões coloridos. O ar cheirava a bebidas caras.
E lá estava Thalya, reclinada em uma cadeira de madeira entalhada, como se estivesse esperando por ele há horas.
— Bom dia — disse ela, erguendo um copo em saudação. A cicatriz que cortava em seus lábios deveria torná-la intimidante. Em vez disso, sob aquele sorriso despretensioso, parecia apenas mais um mero detalhe.
— Hoje é o dia, Calli — Thalya colocou o copo de água no balcão com um clique suave. Seus olhos lilases brilhavam sob a luz difusa, carregando uma mistura de excitação e algo mais sombrio — algo que fazia Calli questionar se aquilo era realmente antecipação ou o reflexo de um medo profundamente enterrado. — Está pronto para saber o que realmente fazemos aqui?
O silêncio que se seguiu foi cortado apenas pelo tilintar distante de vidros e pelo zumbido quase inaudível que sempre parecia pairar no ar deste lugar. Calli sentiu sua garganta apertar.
Seu coração martelava contra as costelas, mas curiosamente, não era o medo antigo que o consumia – era algo mais complexo, uma mistura de expectativa e terror sagrado.
— Estou… — Sua voz falhou, transformando a afirmação em uma dúvida. Ele fechou os olhos por um breve instante. Não, ele não estava pronto. Como poderia estar? Tudo aqui parecia desafiar as leis que ele conhecia.
Mas a vida sempre o empurrara para frente, mesmo quando ele queria ficar parado. Este era apenas mais um desses momentos. O momento em que todas as estranhas coincidências de sua vida finalmente convergiriam para… algo.
Observando Thalya mais atentamente, Calli notou as pequenas incongruências em sua postura normalmente descontraída. Seus pés batiam um ritmo frenético contra o chão, quase imperceptível, como se tentassem libertar uma energia contida. Seu copo continha apenas água, em um lugar onde garrafas de licores exóticos alinhavam-se como troféus. E aquelas cicatrizes nos lábios… pareciam pulsar levemente quando ela estava nervosa.
“Por que água?”, a pergunta ecoou em sua mente. “E por que ela evita até mesmo olhar para as garrafas?” Havia histórias não contadas ali, histórias que talvez explicassem por que alguém tão jovem carregava olhos tão antigos.
Seus pensamentos se voltaram para os outros habitantes deste lugar estranho. Eles eram todos “Desafortunados” termo que Thalya usara certa vez com um sorriso. Pessoas que, como ele, haviam feito pactos com entidades que prefeririam esquecer.
Asharoth era seu fardo pessoal, uma presença que se enrolava em sua sombra. Lytharoth pertencia a Thalya, manifestando-se nas borboletas que pulsar em uma cor violeta e que às vezes surgiam do nada. E Aurora… a quieta criança Aurora cujas mãos emitiam um brilho estranho quando ela pensava que ninguém olhava.
— Ahem. — A voz grave de Víctor cortou seus pensamentos como uma faca através de névoa.
Calli se virou para encontrar o líder do grupo, observando-o com aqueles olhos tempestuosos que pareciam pesar sua alma. O copo de uísque na mão de Víctor estava quase intacto, tão decorativo quanto funcional hoje.
— Então… o que eu preciso fazer? — Calli forçou as palavras para fora, sentindo o peso do olhar de Víctor como um peso físico.
Os olhos do homem percorreram cada centímetro de Calli antes de se desviarem para o canto mais escuro da sala, onde Kyan e Alice ocupavam seu espaço habitual. Alice, a garota de cabelos prateados, como sempre, estava imersa em um livro antigo cujas páginas pareciam mudar de cor sob certos ângulos. Kyan apenas observava, seus dedos tamborilando uma melodia desconhecida no braço da cadeira.
— Hum… — suspirou Víctor, um som que carregava o peso de incontáveis decisões difíceis. — Thalya.
O nome ecoou na sala como um veredito. Thalya se levantou tão rápido que sua cadeira quase caiu, seus olhos brilhando com uma energia infantil que contrastava fortemente com a tensão em seus ombros.
— Sim? — Sua voz soou muito alta no silêncio repentino.
Calli notou como suas mãos tremiam levemente ao ajustar a luva na mão esquerda – a mesma que ela sempre tocava quando nervosa.
“Ela sabia que seria escolhida”, ele percebeu. E então, como peças de um quebra-cabeça se encaixando: “Foi ela quem me encontrou naquele dia. Isso nunca foi um acidente.”
Víctor estudou Thalya por um longo momento, seu rosto era como uma máscara impenetrável. Quando finalmente falou, cada palavra parecia cuidadosamente medida:
— Você irá com Calli. Preparem-se. — Ele ergueu o copo como em um brinde sem alegria. — Enquanto isso, eu lhe darei… as informações necessárias.
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.