Olá, segue a Central de Ajuda ao Leitor Lendário, também conhecida como C.A.L.L! Aqui, deixarei registradas dicas para melhor entendimento da leitura:
Travessão ( — ), é a indicação de diálogos entre os personagens ou eles mesmos;
Aspas com itálico ( “” ), indicam pensamentos do personagem central em seu POV;
Aspas finas ( ‘’ ), servem para o entendimento de falas internas dentro da mente do personagem central do POV, mas não significa que é um pensamento dele mesmo;
Itálico no texto, indica onomatopeias, palavras-chave para subverter um conceito, dentre outras possíveis utilidades;
Colchetes ( [] ), serão utilizados para as mais diversas finalidades, seja no telefone, televisão, etc;
Por fim, não esqueça, se divirta, seja feliz e que os mistérios lhe acompanhem!
Capítulo 91 — Sorria! Você está sendo avaliado
A primeira criatura se lançou com um ruído que lembrava carne rasgando, sua boca descomunal se abriu em um ângulo antinatural. Thalya reagiu com reflexos felinos, sua lâmina desenhou um arco prateado no ar úmido. O metal encontrou a carne negra com um som encharcado, liberando um jorro de líquido negro e viscoso que cheirava a cobre velho e carne podre.
— Isso é nojento! — reclamou Thalya, sacudindo o braço para livrar a lâmina dos restos pegajosos. — Pior que festa universitária!
Calli engasgou, dividido entre o horror e o absurdo do comentário. Seus olhos saltaram para as outras criaturas que avançavam lentamente, seus membros se contorcendo como tentáculos, articulações se dobrando em ângulos impossíveis. O coração no centro da sala pulsava mais rápido agora, como se animado pela violência.
Uma segunda criatura se aproximou pelo lado esquerdo, seus dedos alongados raspando no chão de concreto, deixando sulcos úmidos. Calli recuou instintivamente, suas costas colidindo com a parede fria e pegajosa. Ele podia sentir a superfície se mover levemente sob seu toque, como se respirasse.
— Thalya! — gritou, apontando para a ameaça que ela não via.
Ela girou no último instante, mas não rápido o suficiente. Garras afiadas rasgaram sua jaqueta, liberando um filete de sangue vermelho-vivo que contrastava brutalmente com a luz ambiente. Thalya não gritou — apenas rosnou, como um animal ferido, e atacou com fúria renovada.
— Isso era minha jaqueta favorita, seu merda! — berrou, enfiando a lâmina no que poderia ser o peito da criatura e torcendo com força. O monstro estremeceu, soltando um guincho agudo que fez os vidros quebrados nas janelas tremerem.
Calli sentiu algo quente escorrer de seu nariz novamente — mais sangue. Quando olhou para baixo, viu com horror que gotas vermelhas caíam de seu rosto no chão, formando pequenos poços na substância negra que cobria tudo. E pior — as gotas pareciam estar sendo absorvidas, sugadas pelo próprio prédio.
O Vesúvia pulsou violentamente, como se tivesse sentido o sangue. As criaturas pararam seu avanço por um momento, suas cabeças deformadas se virando em uníssono para a fonte do cheiro. Calli sentiu o estômago gelar quando percebeu — elas estavam olhando para ele.
— Ah, ótimo — resmungou, limpando o sangue do queixo com as costas da mão. — Agora você chamou a atenção deles. Parabéns, princesa.
— Eu não fiz por querer! — Calli protestou, seu coração batendo tão forte que ele temia que as criaturas pudessem ouvir.
Thalya se posicionou novamente à sua frente, mas Calli podia ver que ela estava respirando mais pesado agora. O ferimento no ombro sangrava copiosamente, manchando o tecido rasgado de um vermelho cada vez mais escuro.
— Escuta — ela disse rapidamente, sem tirar os olhos das criaturas. — Quando eu der o sinal, você corre para aquele coração nojento e faz o que tem que fazer.
— O que?! — Calli engasgou. — Que sinal? O que eu tenho que fazer?
Thalya sorriu, um sorriso verdadeiramente assustador, cheio de dentes e promessas ruins.
— Você vai saber. E quanto ao sinal… — Ela fez uma pausa dramática enquanto as criaturas começavam a se mover novamente. — Vai ser bem óbvio.
Antes que Calli pudesse perguntar mais, Thalya se lançou para frente com um grito de guerra que não pertencia a nenhuma língua humana, sua lâmina girando em um redemoinho prateado.
O que antes era uma arma agora se tornou o guarda-chuva que ela segurava, pintado com suas borboletas caóticas. As criaturas se agitaram, reagindo à ameaça, e foi nesse momento que Calli percebeu o que ela estava fazendo — ela estava se sacrificando para dar a ele uma chance.
O Vesúvia pulsou mais uma vez, e desta vez Calli jurou que ouviu um sussurro vindo dele, palavras em uma língua antiga que ele não entendia, mas que faziam seus ossos doerem. O sangue em seu nariz escorria mais rápido agora, quase como se estivesse sendo puxado para fora dele.
Ele olhou para Thalya, que lutava como uma demônia, seu corpo já marcado por vários cortes, mas ainda de pé, ainda sorrindo. E então ele entendeu.
Ela confiava nele.
Calli respirou fundo, sentindo o cheiro de sangue, podridão e algo mais — algo elétrico, como o ar antes de uma tempestade. Suas mãos tremiam, mas ele as fechou com força até as unhas cortarem a carne das palmas. A dor o ancorou, deu-lhe foco.
“Eu só tenho uma chance.”
Ele não sabia o que estava fazendo. Não sabia como destruir aquela coisa. Mas sabia uma coisa — ele não deixaria Thalya morrer por nada.
Quando a próxima onda de criaturas se lançou sobre ela, Calli correu. Correu como nunca havia corrido antes, seus pés esmagando a substância negra no chão que tentava agarrar seus tornozelos. O coração estava agora a apenas alguns metros, pulsando freneticamente, como se soubesse que o perigo se aproximava.
Calli estendeu a mão, sem saber o que faria quando a tocasse, apenas sabendo que tinha que chegar lá. O sangue de seu nariz agora flutuava no ar, formando fios vermelhos que o ligavam ao coração.
“Eu só preciso de uma chance.”
Calli respirou fundo, tentando acalmar a mente em meio ao caos. Uma sensação estranha começa a tomar conta dele – sua consciência parece se expandir, conectando-se com o ambiente de uma forma quase orgânica. Cada rachadura no piso, cada mancha na parede, cada partícula de poeira suspensa no ar úmido parece fazer parte dele agora, como extensões de seu próprio corpo. É uma experiência vertiginosa, ao mesmo tempo, aterradora e fascinante, como se estivesse simultaneamente dentro e fora de si mesmo.
As criaturas sem rosto, antes movendo-se em movimentos desengonçados, agora se reorganizam com uma sinistra coordenação. Seus corpos deformados se contorcem, membros alongados se esticando além do possível, enquanto avançam em uníssono. A vantagem numérica é esmagadora – para cada uma que Calli pudesse enfrentar, outras três surgem das sombras.
“A espada… Sim, a espada…”
O pensamento corta sua mente como um raio.
Mais sangue escorre de seu nariz, quente e metálico, pingando no chão, onde é imediatamente absorvido pela escuridão que parece cobrir tudo.
“Mas que merda, por que isso tá acontecendo?”
A pergunta ecoou em sua cabeça sem resposta.
Com mãos trêmulas, Calli agarra o colar que carrega consigo, seus dedos encontrando o pequeno pingente em forma de espada negra. Ele fecha os olhos, mergulhando nas profundezas de sua própria mente, pescando uma memória enterrada – uma informação gravada em seu ser como uma cicatriz.
— Venha! Logo, porra! — vociferou com a voz rouca, misturada com o som de garras rasgando seu tecido muscular.
A dor explode em suas costas quando uma das criaturas o atinge, suas garras penetrando profundamente, deixando sulcos quentes e úmidos. O sangue escorre em riachos quentes pelas suas costas, mas ele não tem tempo para sentir a dor plenamente – outra criatura já se lança em sua direção.
Com um movimento desesperado, Calli cambaleia para o lado, evitando por pouco o ataque. Seus pés pisam em cacos de vidro que cortam seus tornozelos, mas a adrenalina mantém a dor à distância. Ele não pode se dar ao luxo de prestar atenção em Thalya agora — sua sobrevivência depende de cada movimento, cada decisão tomada em frações de segundo.
Finalmente, próximo ao coração pulsante, Calli balança a espada que agora brilha em suas mãos. Os símbolos dourados gravados na lâmina se acendem, pintando o ambiente com uma luz púrpura que parece dissolver as sombras ao redor. O líquido negro que cobria tudo começa a escorrer para os lados, como se repelido por uma força invisível.
As criaturas sem rosto gritam em uníssono, um som que parece rasgar o próprio ar, enquanto tentam desesperadamente alcançá-lo. Calli força ambas as mãos na empunhadura da espada, sentindo cada músculo de seu corpo queimar com o esforço. A lâmina penetra o coração, mas não o suficiente – a resistência é como tentar cortar uma montanha.
“Merda, vai logo!”
Com um último esforço, reunindo cada gota de força que lhe resta, Calli empurra a espada para frente. O metal negro finalmente atravessa completamente o órgão maligno, e por um momento, o tempo parece parar.
Tudo converge — as sombras, a umidade, o líquido negro — tudo é sugado de volta para um único ponto, como um buraco negro engolindo sua própria criação.
É nesse exato momento de triunfo que a dor explode em seu pescoço. Dentes afiados rasgam sua carne, abrindo um ferimento que jorra sangue em arcos rubros. O grito que escapa de seus lábios é mais animal do que humano, um som puro de agonia.
Enquanto os corpos das criaturas começam a se dissolver, Calli, confuso e ensanguentado, tenta limpar os olhos com as costas da mão. Sua visão turva procura por Thalya — e a encontra impecável, sem um único arranhão, suas roupas intactas como se nada tivesse acontecido.
“O que… ela fez?”
A mão direita de Calli sobe até seu pescoço, sentindo o líquido negro misturado com seu próprio sangue escorrendo entre seus dedos. Sua visão começa a escurecer nas bordas, a consciência escorregando como areia entre seus dedos.
Thalya se aproxima com passos calmos, seu rosto uma máscara de serenidade que contrasta brutalmente com a cena ao redor. O mundo de Calli gira, uma vertigem violenta tomando conta dele. Seus joelhos cedem, e ele sente o chão frio se aproximando.
O último que vê são os lábios de Thalya se movendo, formando palavras que ele não consegue ouvir. O último que escuta é um som estranho, como líquido transbordando de um recipiente cheio demais. E então, a dor excruciante que o envolve finalmente vence sua resistência, e ele cede à escuridão.
…
Enquanto isso, Thalya observa o desenrolar dos eventos com olhos calculistas. Ela havia deliberadamente atraído todas as criaturas para perto de si, esperando o momento perfeito. Quando o círculo ao seu redor ficou suficientemente apertado, ela liberou os poderes de Lytharoth.
Borboletas lilases surgem do nada em um frenesi de cores, suas asas afiadas como lâminas cortando carne e osso com precisão cirúrgica. É uma explosão controlada de violência, cada movimento coreografado em uma dança mortal que deixa apenas fragmentos das criaturas espalhados ao seu redor.
Com a ameaça imediata eliminada, seus olhos seguem Calli enquanto ele executa sua parte no plano. Ela observa, impassível, quando ele destrói finalmente o coração amaldiçoado — e até quando recebeu o golpe fatal no pescoço.
— Calli? Me responde, Calli? — Ela tinha uma nota de desespero em sua voz que Thalya mesma não esperava.
Ao se aproximar, viu o corpo fraquejar e cair. Mas é então que a espada negra em suas mãos começa a brilhar, os entalhes em sua lâmina emitindo uma luz dourada que banhou o ambiente.
Enquanto Calli agoniza, algo extraordinário acontece — seus ferimentos começam a se fechar, a carne se reconstituindo como se o tempo estivesse retrocedendo apenas para ele.
“Esse merdinha… Isso… É a habilidade da Alice e Aurora, não é?” O pensamento cruzou sua mente com uma mistura de admiração e incredulidade.
Thalya se agacha ao lado do agora inconsciente Calli, suas botas táticas pressionando levemente contra seu rosto caído no chão. Com um dedo, ela puxa suavemente sua bochecha, forçando um pequeno sorriso em seus lábios pálidos.
— Viu… Até você consegue sorrir nessas situações… Seu bobo… — Sua voz soava estranhamente suave, quase carinhosa, enquanto observa suas feições em repouso.
— Até que você dá para o gasto, mesmo sendo macho, viste.
…
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