Índice de Capítulo

    Olá, segue a Central de Ajuda ao Leitor Lendário, também conhecida como C.A.L.L! Aqui, deixarei registradas dicas para melhor entendimento da leitura: 

    Travessão ( — ), é a indicação de diálogos entre os personagens ou eles mesmos;
    Aspas com itálico ( “” ), indicam pensamentos do personagem central em seu POV;
    Aspas finas ( ‘’ ), servem para o entendimento de falas internas dentro da mente do personagem central do POV, mas não significa que é um pensamento dele mesmo;
    Itálico no texto, indica onomatopeias, palavras-chave para subverter um conceito, dentre outras possíveis utilidades;
    Colchetes ( [] ), serão utilizados para as mais diversas finalidades, seja no telefone, televisão, etc;
    Por fim, não esqueça, se divirta, seja feliz e que os mistérios lhe acompanhem!

    Leonard sentiu um frio percorrer sua espinha, não por medo, mas por algo mais profundo — uma espécie de reconhecimento ancestral, como se uma parte adormecida de si mesmo estivesse sendo desenterrada contra sua vontade. As memórias que agora vinham em fragmentos, como lampejos de um sonho esquecido, não pareciam pertencer a ele, e ainda assim eram inegavelmente suas. 

    Era como se alguém tivesse riscado partes de sua própria história e agora, aos poucos, a tinta invisível estivesse sendo revelada sob o calor de um fogo que ele não entendia. Seu coração batia mais rápido, não de ansiedade, mas de uma inquietação antiga, como se seu próprio sangue soubesse algo que sua mente ainda se recusava a aceitar.  

    Katherine observava-o com uma intensidade que beirava o desconfortável. Seus olhos, normalmente impenetráveis, pareciam carregar o peso de segredos que nem mesmo ela estava disposta a confessar. Leonard notou a maneira como ela se segurava, como se estivesse lutando contra um impulso — ou talvez contra o medo do que ele pudesse se tornar agora que essas memórias estavam voltando.  

    — Escondido de mim? — Ele repetiu as palavras dela, e sua voz soou estranha até para si mesmo, como se outra pessoa estivesse falando através dele. — Por quem? Por que?

    Katherine respirou fundo, e pela primeira vez desde que a conhecia, Leonard viu uma fissura em sua postura impecável. Algo parecido com… pena? Ou seria culpa?  

    — Algumas coisas são apagadas por uma razão, Leonard, — disse Katherine, em um tom de advertência em suas palavras, como se estivesse tentando protegê-lo da própria verdade. — Nem todas as memórias são feitas para serem revisitadas. Algumas delas… algumas delas quebram as pessoas.

    Ele sentiu um impulso súbito de raiva, não direcionada a ela, mas à situação, à névoa que sempre pareceu pairar sobre sua vida, à sensação constante de que havia algo errado, algo faltando.  

    — E quem decide isso? — Sua voz agora era mais áspera, quase um rosnado. — Quem teve o direito de escolher o que eu deveria ou não lembrar?

    Katherine não recuou, mas algo em sua expressão mudou. Seus olhos faiscaram por um segundo, e Leonard poderia jurar que viu o roxo caótico de antes retornar, como uma chama bruxuleante por trás da máscara de normalidade.  

    — Você mesmo, — respondeu, suave, mas com uma firmeza que cortou como uma lâmina. — Foi você, Leonard. Só que você não se lembra.

    O silêncio que se seguiu foi denso, carregado de algo indescritível. Leonard sentiu as palavras dela ecoarem dentro dele, como se estivessem tentando se encaixar em um quebra-cabeça que sua mente não estava pronta para montar. 

    Ele queria contestar, exigir mais respostas, mas algo o deteve — um instinto primitivo, um aviso de que algumas portas, uma vez abertas, não podem ser fechadas novamente.  

    E então, como se o universo decidisse que já havia revelado o suficiente por um dia, uma dor aguda explodiu em suas têmporas. Ele levou as mãos à cabeça, um gemido escapando de seus lábios enquanto imagens distorcidas inundavam sua visão — um lugar escuro, vozes sussurrando em uma língua que ele não conhecia mas que de alguma forma entendia, e o sentimento avassalador de que algo terrível estava prestes a acontecer.  

    Katherine se moveu rápido, segurando seus ombros com uma força que surpreendeu.  

    — Leonard! Pare. Você não está pronto para isso ainda. — Havia urgência em sua voz, quase desespero.  

    Ele tentou focar nela, mas o mundo ao seu redor girava, as cores se distorcendo, o cinza de seus olhos agora dominando completamente, pulsando como se fosse uma entidade viva.  

    — O que… o que está acontecendo comigo? — Ele conseguiu murmurar, antes de a escuridão finalmente engoli-lo, levando consigo não apenas sua consciência, mas também as últimas barreiras que separavam Leonard da verdade que ele mesmo havia tentado apagar.

    Leonard afundou.  

    Não era como desmaiar, nem como adormecer. Era como ser puxado para dentro de si mesmo, como se seu corpo fosse apenas uma casca vazia e sua verdadeira essência estivesse sendo arrastada para um abismo que sempre existira dentro dele, esperando.  

    Ele caiu através de camadas de escuridão, cada uma mais densa que a anterior, até que, de repente — impacto.  

    Não no sentido físico. Não havia chão, nem paredes, nem teto. Mas havia algo. Um espaço que não era espaço, um lugar que existia fora das leis do mundo que ele conhecia. E então, as vozes.  

    Aqueles mesmos sussurros que haviam invadido sua mente antes, agora ecoavam claramente, como se estivessem sempre lá, apenas silenciados. Eles não vinham de nenhuma direção específica, porque neste lugar, direção não existia. Eram simplesmente parte dele.  

    — Você voltou.

    A voz era sua e, ao mesmo tempo, não era. Era mais profunda, mais antiga, como se fosse a essência de algo que ele já fora, mas que havia sido esquecido, apagado.  

    Leonard tentou falar, mas não tinha boca aqui. Não tinha forma. Ele apenas era. E, mesmo assim, a resposta veio, não em palavras, mas em sensações, em impulsos que se traduziam em significado puro.  

    — O que sou?

    O silêncio que se seguiu foi carregado de algo que poderia ser interpretado como… hesitação? Apego? Luto?  

    — Você é o que sempre foi. O que sempre será. O que escolheu esquecer.

    E então, como se a própria escuridão estivesse se desfazendo, fragmentos começaram a surgir. Imagens. Cheiros. Emoções.  

    Uma floresta sob um céu roxo, onde árvores retorcidas sussurravam segredos em uma língua morta.  

    Uma mulher de olhos pretos segurando seu rosto, suas lágrimas queimando como metal fundido contra sua pele.  

    Uma faca nas suas mãos, ensanguentada, enquanto algo — alguém — gritava em agonia, e a voz era horrivelmente familiar.  

    E então, o pior de tudo: a sensação de fome. Não a fome do corpo, mas de algo mais profundo, mais primitivo. Uma necessidade que não podia ser saciada com comida ou água, mas apenas com mais, sempre mais, sempre diferente.

    Leonard tentou recuar, tentou negar, mas neste lugar, não havia para onde fugir. Ele estava encurralado pela própria história, pelas próprias escolhas que não lembrava de ter feito.  

    E então, como se respondendo a seu desespero, a voz final veio, suave como um corte de navalha:  

    — Você pediu para esquecer. Mas esquecer não apaga. Só adia.

    E de repente, ele estava de volta.  

    Seu corpo se contorceu em um espasmo violento, ar dos pulmões saindo em um jato brusco, como se tivesse sido ressuscitado. O quarto ao seu redor estava escuro, a única luz vindo da lua que filtrava pela janela, iluminando o rosto de Katherine, que estava inclinada sobre ele, seus olhos agora completamente roxos, sem vestígios do castanho de antes.  

    — Você viu. — Ela disse, não como uma pergunta, mas como uma confirmação.  

    Leonard ainda estava tremendo, suas mãos agarrando o chão como se estivesse se segurando para não cair novamente naquele abismo. Sua voz saiu rouca, quebrada, cada palavra um esforço contra o turbilhão de imagens e emoções que agora disputavam espaço em sua mente.  

    — Eu… eu não sei o que fiz… Não me lembro de nada parecido com isso… — Sua voz era um fio, quase infantil em sua confusão, como se parte dele ainda se recusasse a aceitar o que havia visto. 

    Mas a verdade estava lá, incrustada em sua alma como um estilhaço de vidro, impossível de ignorar. Ele sentia o peso daquelas memórias como uma corrente arrastando-o para o fundo, cada fragmento revelando um pouco mais de algo que ele, em algum momento, decidira enterrar.  

    E então, como um eco vindo das profundezas de sua própria consciência, uma pergunta surgiu, não em palavras, mas como um sussurro fantasmagórico que se entrelaçava com seus pensamentos:  

    “O que você fez no final disso tudo, Calius?”

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