Índice de Capítulo

    Aconteceu tudo muito rápido.

    A energia fluiu pelo braço de Anayê e ela usou toda a sua força para derrubar Arghus. No entanto, não esperava aquele resultado.

    O boneco de madeira foi lançado ao chão com tamanha violência que abriu um buraco no local onde caiu. O braço de palha e madeira se partiu em dois e um pedaço voou para longe.

    Anayê arregalou os olhos e ficou imóvel por um momento.

    — Ai, ai — Arghus gemeu massageando a cabeça com o braço bom.

    Em seguida, Anayê correu para ajudá-lo.

    — Me desculpe, você está bem? Não foi a minha intenção, eu não achei que… meu Deus, me desculpe, me desculpe mesmo. Não imaginei que fosse acontecer isso.

    — Tudo bem, tudo bem, só pare de pedir desculpas — Arghus falou de modo um pouco rude.

    Anayê assentiu e ajudou-o a se levantar.

    — Isso foi realmente inesperado — o boneco comentou.

    Chokhmáh observava a situação com seu olhar de calmaria e paciência.

    — Por favor, Chokhmáh, me perdoe. Fui inteiramente…

    Ela ergueu o braço e Anayê parou de falar. Depois caminhou até Arghus, tocou o local do ombro e fez crescer um novo braço de madeira.

    “Caramba, isso foi incrível”, Anayê pensou.

    Arghus girou o novo braço e executou alguns movimentos para se adaptar, muito embora fosse idêntico ao anterior.

    — Você realmente levou a sério seu oponente — disse Chokhmáh. — Isso resultou na sua vitória.

    — Mas acho que exagerei na dose de força — Anayê retrucou um pouco sem graça.

    — Na verdade, não — Chokhmáh comentou. — Arghus subestimou a sua força e, portanto, colocou pouca energia no braço.

    Anayê olhou para o boneco e ele retribuiu um olhar desconfiado.

    — Não achei que você pegaria o jeito de primeira — ele confessou.

    — E aprendeu uma lição valiosa também — Chokhmáh se dirigiu a ele.

    “Eu também não achei que venceria de primeira”, Anayê pensou enquanto olhava para o próprio braço. “Essa força veio de mim?”

    Chokhmáh deu por encerrado o treinamento e Arghus foi obrigado a fazer cem flexões, atividade não tão difícil para ele. Mesmo assim, vê-lo se esforçando fez Anayê sentir o gosto da vitória.

    Logo após as flexões, Chokhmáh levou Anayê para a parte de trás do grande templo sagrado onde ela se deparou com uma grande árvore com quase cinco metros de altura adornada com troncos se entrelaçando e formando uma estrutura sólida. Seus galhos também eram fortes.

    Chokhmáh pegou uma folha verdinha que caia levemente.

    — Este é o seu próximo desafio.

    Anayê franziu o cenho.

    — Pegue a sua adaga.

    A garota se deu conta de que não trouxera sua arma, mas num piscar de olhos, a lâmina apareceu em sua mão fazendo Anayê soltar um grito e largá-la no chão.

    Chokhmáh achou engraçada a reação e abriu um sorriso.

    — Me desculpe — Anayê falou capturando a adaga novamente.

    O pergaminho sagrado se aproximou e tocou a mão da garota.

    — Esta arma foi forjada para receber a sua energia espiritual, então quando você chamá-la ela vai aparecer.

    Anayê ficou impressionada com a afirmação, pois não precisaria estar com a adaga o tempo inteiro para poder invocá-la.

    — Agora vamos começar — Chokhmáh se virou para a árvore. — Seu próximo treinamento consiste em acertar as folhas que caírem da árvore antes de tocarem o chão.

    Anayê assentiu. As folhas não pareciam cair com rapidez, então poderia usar sua energia espiritual para se deslocar com velocidade e acertar as folhas.

    Arghus apareceu se dirigindo até a árvore enquanto Chokhmáh se afastou e sentou-se em um dos troncos.

    — Está pronta? — o boneco de palha perguntou.

    — Sim.

    Então Arghus tocou a mão na grande árvore e quatro folhas se desprenderam dos galhos e caíram.

    Anayê canalizou a energia do fluido para as pernas e avançou em um instante. Avistou a folha à sua frente e desferiu um corte preciso. No entanto, para sua surpresa, o movimento gerou um fluxo de ar que fez a folha girar e escapar da lâmina.

    “Porcaria”. Ela executou um novo corte, mas seu movimento rude causou o mesmo resultado. Desacreditada do próprio erro, ela desferiu um monte de cortes na certeza de atingir seu alvo, mas tudo isso foi em vão, pois a folha chegou ao chão ilesa.

    “Isso só pode ser brincadeira”, ela pensou rangendo os dentes. “Como um objeto tão pequeno é tão difícil de atingir?”

    Ela avançou para o segundo alvo, mas o fluxo de ar fez a folha voar para o lado e girar em ângulos diferentes dificultando o acerto.

    Olhando de soslaio, ela vislumbrou a terceira folha chegando ao chão.

    Então, novamente motivada pelo desespero do tempo, desferiu inúmeros golpes desastrados e desajeitados com a adaga. E, para piorar, nenhum deles foi eficiente.

    Assim, a segunda e a quarta folha também atingiram o chão.

    Anayê cruzou os braços com a cara fechada.

    — Eu… acho que não entendi bem — ela confessou.

    Chokhmáh sorriu sem abrir os lábios, mas não disse nada. Tampouco Arghus que parecia estar se divertindo com o quebra-cabeças de Anayê.

    — Está pronta para mais uma rodada?

    — Espere um segundo.

    Anayê descansou o queixo em uma das mãos e começou a pensar. Cada um de seus treinamentos não era exatamente aquilo que estava na sua frente, mas um conceito por trás do óbvio.

    Se ela só corresse sem parar, nunca ia acertar as folhas. Se ela disparasse golpes aleatórios também fracassaria. Mas se fosse lenta demais, não haveria tempo de acertar as folhas. Entre essas duas situações, ela encontraria sua resposta.

    — Estou pronta — ela falou se colocando em posição de ataque.

    Arghus levou a mão até a árvore e então mais quatro folhas se deslocaram de seus galhos e despencaram.

    Os pés de Anayê dispararam e ela se focou no fluxo de ar deixado pelos seus movimentos. Acreditava encontrar o segredo da vitória ali.

    Seu braço avançou executando o ataque com a adaga na direção da folha, mas um segundo antes de alcançá-la, o ar fez o objeto se esquivar.

    “Talvez mais delicadeza na próxima”, imaginou.

    Então deixou o braço mais relaxado e atacou novamente, prestando total atenção à corrente de ar.

    A folha se moveu outra vez, porém, com menos intensidade.

    Anayê abriu um sorriso. “Aí está!”

    Ela desferiu outro golpe com mais leveza. A lâmina da adaga fluiu e acertou a folha pouco antes de fazê-la voar para longe.

    “Consegui”, ela pensou e levou os olhos para o alvo seguinte.

    No entanto, viu a folha atingida cair no chão e um fato chamou sua atenção, o objeto não tinha sido cortado.

    Anayê se agachou e pegou-o na mão notando um pequeno risco na folha no provável lugar onde sua lâmina havia atingido.

    “Isso não é possível…”, pensou um pouco frustrada.

    — Parece que você perdeu o tempo — Arghus falou e ela percebeu todas as outras folhas no chão.

    Não importava, pois o poder real para cortar as folhas havia lhe escapado.

    Estava próxima, mas faltava algum detalhe.

    “Eu só toquei a folha, mas faltou a força para cortá-la”, concluiu apertando os lábios.

    Procurou na sua mente as falas de Chokhmáh antes do início do treinamento e relembrou algo sobre imbuir a adaga com a sua energia espiritual. Anayê fitou a arma com seus olhos grandes e roxos e entendeu o real objetivo do treinamento.

    — Pronta? — Arghus provocou.

    Ela assentiu.

    A mão do boneco de palha tocou a árvore e as folhas caíram como sempre.

    Anayê concentrou uma parte da energia nas pernas para avançar e depois de disparar na direção do primeiro alvo deixou o fluido percorrer seus braços e alcançar a lâmina.

    Neste momento, o brilho azulado da adaga se iluminou de forma breve e Anayê se sentiu segurando uma panela fumegante. Sua mão esquentou no mesmo instante e ela soltou um grito e largou a adaga.

    Ao atingir o chão, a lâmina abriu uma pequena fenda e uma enorme onda de vento evaporou em todas as direções.

    Anayê precisou cobrir os olhos com o braço durante os poucos segundos em que a corrente de ar durou. Em seguida, dirigiu um olhar assustado para Chokhmáh e Arghus.

    Chokhmáh apontou para cima e Anayê moveu o rosto para ver.

    Mais folhas estavam caindo.

    Todas cortadas em pedaços.

    É muito bom ter você aqui!
    Espero que esteja curtindo a jornada de Anayê para se tornar uma ceifadora.

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