Índice de Capítulo

    Todo corpo de Anayê ficou imóvel. Seu coração começou a disparar como uma boiada descontrolada e sua respiração se tornou o som de um trovão dentro de si.

    — Anayê!

    O grito de Nally foi um jato de água em seu rosto.

    — Me ajuda! — a menina estava se colocando de joelhos para levantar.

    O farejador emitiu um grito feroz exibindo seus dentes afiados e, em seguida, iniciou sua caminhada rumo a sua presa.

    Anayê procurou um frasco de fluido de oração e, para sua sorte, encontrou o objeto em um dos bolsos de sua calça. Tomou o conteúdo enquanto começava a correr e sentiu a energia se dispersando em seu corpo. Invocou sua adaga, embora as pernas estivessem trêmulas.

    “Não posso falhar”, pensou consigo.

    A aberração pareceu perceber seu movimento e retesou os joelhos para realizar um salto até Nally, mas Anayê notou a sua estratégia pouco antes do monstro alçar os ares. Ela disparou e pegou Nally enquanto o farejador esmagava o chão com seus punhos.

    — Você precisa sair daqui — Anayê falou; sentia o corpo da menina tremendo entre seus braços — Chame o mestre!

    Nally assentiu.

    E o instante seguinte foi aterrador.

    Anayê notou uma sombra se projetando sobre elas e soube que era a criatura. Num movimento desesperado, empurrou Nally para o lado e saltou para trás. 

    O farejador pousou um segundo depois e abriu um buraco no local.

    Nally saiu rolando pelo chão e bateu as costas na parede da casa, porém, para Anayê, o resultado foi pior.

    Ela ainda estava no ar quando a aberração moveu um dos braços com o punho fechado e acertou em cheio seu corpo que foi arremessado como uma bola de papel e caiu no lago.

    No primeiro momento, tudo se tornou em terror.

    A água entrou pela sua boca e seu nariz enquanto o ar fugia e uma dor acometia sua costela.

    Ela rangeu os dentes e forçou-se a subir.

    Alcançar a borda do lago foi um dos maiores alívios de sua vida, que foi substituído pelo medo quando ela viu Nally rastejando e o farejador mais próximo dela.

    Anayê se levantou em um salto ao mesmo tempo em que a adaga aparecia em sua mão. Se impulsionou na direção da aberração e pulou em suas costas. A distraída criatura foi pega de surpresa e berrou ao ser atingida pela adaga.

    Anayê furou as costas do monstro três vezes antes de ser lançada ao ar. Deu um giro e caiu em pé poucos metros de distância do seu alvo.

    A energia espiritual fluiu por seu braço e fez sua adaga brilhar azulada e depois avançou outra vez.

    O farejador estava virado para ela quando a rajada de vento cortante veio em sua direção. Dois cortes diagonais golpearam a criatura no peito e um esguicho de sangue verde saiu do ferimento.

    O farejador gritou novamente e bateu com os punhos no chão.

    “Ele não foi derrotado”, Anayê concluiu. Aquele ferimento só aumentara a raiva do monstro.

    Atrás dele, Nally se arrastava para longe usando toda a força.

    “Será que eu a machuquei demais quando empurrei?”

    Não havia mais tempo para pensar, pois o farejador já se preparava para um novo ataque.

    “Ao menos eu atrai a atenção dele para mim”, Anayê pensou.

    Mas ela não esperava pelo próximo ataque.

    Um bola de energia roxa se formou na boca do farejador e foi disparada em linha reta contra ela.

    Anayê esquivou para o lado, porém, o farejador virou a cabeça e a energia veio na sua direção.

    Ela voou pelo ar ao ser atingida e caiu na borda do lago. Sentiu sua cabeça queimando e embaralhando seus pensamentos, e sua vista embaçando.

    Queria se levantar, mas seus braços não respondiam.

    “O que está acontecendo comigo?”, reuniu todas as forças naquele questionamento.

    Percebeu seu corpo sendo envolvido e erguido. Depois o aperto.

    — Arghhhh!

    Rangeu os dentes quando seu braço direito se deslocou.

    O farejador estava a sua frente e a segurava como um prêmio. Os dentes tão próximos que podia sentir seu hálito fedendo a peixe podre.

    Invocou a adaga e furou como pôde, embora seus cortes não produzissem o efeito esperado, pois o farejador não largava. Pelo contrário, seus dedos apertaram ainda mais e impossibilitaram seu braço de se mover.

    “O que eu faço agora?”.

    Todo o seu ser estremeceu ao imaginar seu destino: ser devorada pelo farejador.

    “Isso não pode acontecer! Não cheguei até aqui para…”

    E então ele moveu seu braço e abriu a boca.

    — Larga ela!

    A voz estridente da menina Nally alcançou os ouvidos de Anayê enquanto o farejador adiava sua refeição para olhar os seus pés aonde uma criança sardenta batia com uma adaga.

    Anayê reconheceu a arma, pois era usada em seus treinamentos com os postes. Porém, uma adaga como aquelas não feria uma aberração.

    — Larga ela agora!

    O fervor de Nally em cada batida era acompanhado por sua respiração ofegante.

    — Não! Sai daí, Nally! — Anayê gritou com todas as suas forças. — Você precisa chamar o mestre!

    O farejador jogou Anayê contra a casa e voltou para sua presa primária.

    As costas dela protestaram quando acertaram a parede e seu braço deslocado doeu mais ainda.

    Ela tossiu sangue, mas limpou a boca e reuniu sua energia espiritual para conseguir se levantar. Depois poderia verificar o estado total dos danos, mais importante era salvar Nally.

    A menina tentou correr, porém, foi agarrada pelos dedos compridos da aberração.

    — Não! — Anayê exclamou.

    Ela avançou com a adaga e lançou apenas uma rajada de vento cortante vertical. O corte acertou o braço do farejador e abriu um buraco que se tornou uma fenda e separou o ombro do antebraço.

    Nally caiu no chão enquanto o monstro berrava de dor.

    Anayê se aproximou e a ajudou a se libertar dos dedos apertados.

    — Sai daqui depressa!

    — Me desculpa, me desculpa, eu não podia fugir e deixar você ser devorada.

    — Tudo bem, tudo bem, mas agora sai daqui.

    — Você prometeu, lembra?

    — Sim, eu vou cumprir.

    Nally assentiu e se levantou. Uma parte da perna esquerda estava machucada.

    — Vá!

    Anayê não viu o golpe vindo. Três dedos do braço restante do farejador empalaram seu peito e fizeram seu sangue esguichar.

    Ela sentiu sua visão turva e seu coração lutando para bater.

    Nally soltou um grito.

    O farejador ergueu sua rival e abriu a bocarra.

    Anayê invocou sua adaga, mas seu braço não obedeceu seu comando. Algo quente estava escorrendo por seus lábios.

    — Não!

    Até mesmo os lamentos de Nally estavam ficando distantes.

    E tudo o que a garota de olhos púrpuras conseguiu pensar antes de se entregar à escuridão era que ela havia se tornado péssima em cumprir promessas para crianças.

    É muito bom ter você aqui!
    Espero que esteja curtindo a jornada de Boyak e Anayê.

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