Capítulo 15 - Sistema De Pontos.
Okawara ser um cientista é um pouco estranho. Ele só sabe resmungar e xingar.
Não consigo enxergar ele como um cara superinteligente. Mal vejo ele com um jaleco branco enorme, igual aos que eu vi nos livros da minha mãe.
Mas a risada de cientista maluco ele pode ter.
— Enfim, continuando! Aqui temos as aulas normais, que acontecem de segunda a sexta, das 7 da manhã às 17 horas — disse ele, levantando-se da cadeira novamente. — Além disso, há os exames especiais, realizados na última semana de cada mês. Esses exames ocorrem uma vez por dia, durante cinco dias, e cada um é diferente do outro. Neles, vocês podem ganhar ou perder pontos de compra.
Ele fez uma pausa, observando minha reação.
— Esses pontos de compra podem ser usados no centro comercial ou acumulados para o Horizonte, já que eles têm valor lá também — explicou, apontando para a TV, enquanto passavam as mesmas informações que ele explicava.
Poder acumular esses tais “pontos” para usar no Horizonte é interessante. Mas isso significa que no Horizonte não se usa dinheiro, e sim pontos?
Se for o caso, então vou juntar bastante ponto.
— Mas não se preocupem muito. Quando se formarem, receberão uma quantia inicial para começar bem no Horizonte. Alguma dúvida até aqui? Posso continuar? — perguntou ele, olhando para o centro da sala como se tivesse uma turma inteira aqui.
— Tô entendendo, pode continuar — respondi, dando um ok com meu polegar.
— Ótimo. Esses exames especiais podem ser realizados em grupo, dupla, trio ou individualmente, dependendo do que o aluno VIP decidir no sorteio. O aluno VIP é aquele que ficou em primeiro lugar no ranking geral dos exames do mês anterior.
Okawara parou a explicação por alguns segundos, enquanto tomava um pouco do líquido de sua xícara. Depois, continuou:
— Mesmo em grupo, cada participante acumula pontuação individual, além da pontuação coletiva. O aluno que terminar os cinco exames no topo do ranking geral será o próximo VIP — explicou, mostrando o ranking atual na TV. — Esse título concede benefícios como decidir os tipos de exame do mês seguinte, acesso gratuito aos eventos de lazer da escola nos fins de semana e um saldo VIP para gastar no centro comercial durante o mês.
— Nossa, que incrível isso! — exclamei, sem conter a animação. Só de imaginar as possibilidades, senti meu coração acelerar.
— Não se anime muito, moleque. Você nunca será aluno VIP. HA HA HA!
Observei ele enquanto ria da minha cara, e consegui perceber o quão provocador Okawara é, tentando ao máximo me colocar para baixo com provocações.
Será que ele é assim porque é algo natural dele ou porque tem algum motivo pra isso? Algo pra eu pensar depois.
Mas não vou cair nessas provocações dele. No máximo, posso fingir que estou ficando com raiva.
— Você tá duvidando de mim de novo, é? — questionei, levantando da cadeira e batendo a mão na mesa com força.
Okawara me olhou com aquela expressão raivosa de sempre, mas, dessa vez, havia um brilho provocador nos olhos dele.
— Olha aqui, moleque. Você é abusado, e eu não suporto moleque assim! Vamos fazer uma aposta então. Se você virar um aluno VIP pelo menos uma vez no ano que vem, eu te dou meu tablet.
Meus olhos se estreitaram.
— Seu tablet?
— Isso mesmo. Os tablets dos cientistas são os únicos 100% liberados. Sem monitoramento. Dá pra assistir vídeos, jogar o que quiser e fazer coisas que nem sonha — disse ele, mostrando o tablet na mão direita.
— Mas… se você não conseguir ser VIP, vai ter que me transferir mil pontos de compra todo mês, direto pro meu perfil. E aí, aceita a aposta?
Sinceramente, eu não ligava pro tablet dele, muito menos pros pontos. O que me irritava era a forma como ele sempre me subestimava. Se eu ganhasse, ele seria obrigado a me respeitar. Era isso que eu queria.
— Tá bom, vamos fazer isso então! — respondi, firme.
— Muahahaha! Moleque burro, você é muito ingênuo — ele riu alto, como se já soubesse o desfecho.
— Mas, continuando…
Ele retomou o tom sério.
— Tem o lado negativo dos exames especiais. Se você ficar entre os 30 últimos no geral, não perderá pontos de compra, mas também não ganhará nada. Além disso, seu perfil será bloqueado. Isso significa que você não poderá receber pontos de ninguém, só gastar no centro comercial.
Ele fez uma pausa dramática, tomando um gole d’água antes de continuar:
— E as provas das matérias normais também afetam seus pontos. Por exemplo, se a média de matemática for 50 e você tirar 30, perderá 3.000 pontos. Mas, se tirar exatamente 50, ganhará metade da pontuação da média, ou seja, 2.500 pontos. Se tirar 90 de um total de 100, receberá 9.000 pontos. Entendeu?
— São muitas informações, mas… acho que sim.
— Com certeza não entendeu nada — bufou Okawara, esfregando a mão no rosto. — Mas tudo bem. Está tudo no livro virtual da escola que você baixou no seu tablet. Ah, e como você só tem sete anos, existem tarefas que não conseguirá fazer no seu quarto, especialmente na cozinha.
— Óbvio, eu não sei cozinhar, uai! — zombei.
— Cala a boca! Enfim, o fogão do seu dormitório não está ativado, apenas o micro-ondas e o micro-ondas avançado. A geladeira e o congelador estão funcionando, assim como a TV e o chuveiro. E outra coisa: nunca abra a porta do seu quarto pra ninguém. Não que vá acontecer algo, mas é uma questão de ética.
Ele terminou de falar e tomou mais um gole d’água, amassando a garrafa de plástico com as mãos.
Assim que terminou, jogou a garrafa no chão como se aqui fosse o lixão. Que desagradável!
— Pra finalizar: qualquer dúvida ou ajuda, me mande mensagem pelo tablet. Meu contato tá salvo nele. Mas se mandar gracinha, eu juro que esmago seus ossos sem piedade. Entendeu?
— Que maravilha! — murmurei, cruzando os braços. — Estava ficando legal, mas esse final aí estragou tudo. Mas eu entendi!
Ele acenou com a cabeça e me mandou embora. A aula estava terminada.
— Que ótima aula, obrigado por hoje, senhor cientista! — comentei, com um tom sarcástico.
— É mesmo? Não me importo! — respondeu ele, enquanto usava seu tablet.
Saí da sala, passando pelo corredor vazio do prédio, e fui em direção ao prédio onde ficava meu quarto. Enquanto caminhava, pensamentos começaram a se acumular na minha mente.
“E se essa tal de NOTAN descobrir que eu consigo sonhar?”
A ideia me deixou inquieto. Eu era diferente dos outros, e isso era perigoso. Meus olhos cinzas já eram incomuns, mas o fato de eu sonhar, como aqueles que têm olhos azuis, era algo que poderia causar problemas.
“Se descobrirem, o que vão fazer comigo?”
Decidi que não dormiria na cama hoje. Okawara mencionou onde estava a NOTAN, e eu não podia correr o risco.
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