Já se passaram umas duas horas desde que cheguei ao meu quarto, depois do meu primeiro dia de aula com o Okawara. Como ele me alertou sobre algo chamado “NOTAN”, decidi não dormir na cama hoje. Mas, antes de me preocupar com onde dormir, minha barriga estava roncando. Era hora de procurar algo para comer.

    Durante esse tempo, eu estava cochilando, mas o som insistente vindo do meu estômago me acordou.

    — Ai, ai, ai… Deixa eu procurar algo pra comer, porque estou morrendo de fome… Hmmm… o que será que tem pra eu comer? — murmurei, colocando o dedo na bochecha enquanto pensava nas opções.

    O professor Okawara tinha me avisado que, pela minha idade, eu não poderia usar o fogão. Por isso, ele comprou alguns suprimentos que não precisavam de fogão, apenas de micro-ondas.

    Mas hoje, sinceramente, eu não estava a fim de comer o mesmo de sempre. Então, fui até o armário à procura de algo diferente.

    Ao abrir a porta do armário, minha mente foi tomada por várias opções: biscoitos, watagashis, ramens, chocolates e… o que é isso aqui?

    Meus olhos se fixaram em um pacote que nunca tinha visto antes. Era roxo e vermelho, com listras brancas bem no meio. Curioso, peguei o pacote e olhei atentamente. A embalagem dizia, em letras simples:

    BOLINHOS DE ARROZ LOCAL

    Huh, então esses bolinhos de arroz são feitos aqui na escola? Sem pensar duas vezes, peguei o pacote para experimentar.

    Enquanto saboreava aquele bolinho de arroz delicioso, fui interrompido pelo som de vozes masculinas vindas do corredor. As vozes pareciam estar se aproximando e, como sou um pouco curioso, me aproximei da porta e tentei escutar o que diziam.

    Uma voz suave e calma dizia:

    — Ouvi dizer que colocaram alguém nesse quarto finalmente, né, Sasori?

    — Parece que sim, Fuutaro! — respondeu uma segunda voz, que soava seca, quase sem vida.

    Pelo visto, esse Sasori não é de muito papo.

    Continuei grudado na porta tentando escutar melhor, e logo a voz do tal Sasori se fez ouvir novamente. O tom era desanimado, como se ele não estivesse muito interessado no que estava acontecendo.

    — Espero… que ele não seja… esquisito — disse ele com um suspiro.

    Eu não pude deixar de achar engraçado. Será que ele pensava que eu fosse esquisito?

    — O quê? Deixa de ser bobo, Sasori! Esquisito aqui somos nós, HAHAHA! O máximo que esse garoto pode ser é igual ao antigo que ficava aí — disse a primeira voz, rindo.

    — Hmm… só você que é!

    Sasori parecia tentar se defender, mas a outra voz não deixou barato.

    — Só eu? Você deve estar esquecendo todas as vezes que você tenta…

    — Vamos bater logo na porta, já estou começando a ficar desinteressado com tudo isso — interrompeu Sasori.

    — Ahhh, até parece, né, Sasori? Você se faz de entediado, mas no fundo está animado pra ver como será esse novo menino, não é? Sasorinho, hahaha!

    — Argh? Você tá brincando comigo? Só fico animado com meus códigos, apenas! Não venha com essas histórias pro meu lado! — resmungou Sasori, completamente irritado.

    Mas, ainda assim, parecia que ele se importava mais do que queria admitir.

    — HAHA, você é tão previsível, Sasori! Vou fingir que acredito no que você tá dizendo, tá bom? Mas enfim, vamos ver como é esse garoto.

    — Finalmente!

    Sasori parecia aliviado por a conversa estar acabando.

    Assim que as vozes ficaram mais próximas, me afastei um pouco da porta e me preparei para o que viria. Mas então lembrei do que o professor Okawara dissera sobre não abrir a porta para ninguém. Uma sensação de conflito tomou conta de mim, e eu hesitei.

    Não era fácil ignorar minha curiosidade, mas o conselho do Okawara pesava na minha mente.

    No entanto, antes que pudesse decidir, ouvi um som familiar vindo da porta.

    TOC TOC TOC

    Alguém estava batendo na minha porta. Uma voz masculina soou do outro lado:

    — Oi? Você tá acordado? Somos seus vizinhos, viemos te dar as boas-vindas.

    — Uff, que patético, hein, Fuutaro! — comentou Sasori, com um tom entediado.

    — Não enche, Sasori! Até nisso você reclama? O que tem em você hoje?

    Fuutaro parecia se importar com a falta de entusiasmo de Sasori.

    TOC TOC TOC

    A batida se repetiu.

    — Ele não deve estar. Será que não chegou da escola ainda? — comentou Fuutaro.

    Eu podia ouvir claramente a preocupação na voz dele.

    — Não, impossível. Se ele for mesmo um novato, então não tá na escola. Só vai começar no ano que vem — respondeu Sasori, mais uma vez, com sua voz seca.

    — Uau, Sasori, pela primeira vez vejo você dizer uma frase tão longa e cheia de convicções. Tô impressionado com isso.

    — Não exagera, vai! Bate mais uma vez. Talvez ele só esteja dormindo — disse Sasori impaciente.

    TOC TOC TOC

    Eu não sabia o que fazer. Por um lado, queria seguir o conselho do Okawara e não abrir a porta. Por outro, minha curiosidade estava gritando pra ver quem eram essas pessoas. Senti meu coração acelerar e, finalmente, a decisão foi tomada.

    Com um suspiro, abri a porta.

    — Ahh… Olá? — disse eu, assim que abri a porta, a voz meio hesitante, ainda com a tensão de estar quebrando uma regra.

    Diante de mim estavam dois meninos, com aparências e estilos completamente diferentes.

    O menino da direita estava vestido todo de preto: uma blusa de frio, calça, e um cabelo muito longo que caía sobre os ombros, com franjas que cobriam quase até o nariz. O preto do cabelo era tão profundo que parecia sugar a luz. No pescoço, um colar dourado com um pingente de borboleta chamava atenção — um detalhe estranho para um estilo tão sombrio.

    O outro menino era o oposto: usava óculos redondos, brincos em ambas as orelhas, cabelo loiro com mechas pretas nas franjas, dividido ao meio com perfeição. Seu estilo era vibrante: blusa vermelha e branca, bermuda azul. Um anel vermelho brilhava em seu dedo esquerdo.

    — Olá! — cumprimentou Sasori, acenando com a mão de forma educada.

    O menino da direita mal me olhou, desviando os olhos como se olhar pra mim fosse um esforço. Estava entediado.

    — É… Vocês precisam de alguma coisa? — indaguei, a timidez tomando conta da minha voz.

    — Na verdade… a gente não precisa de nada não. Viemos só pra te conhecer! Ficamos sabendo que tinha um aluno novo nesse quarto, então viemos… HEHE! — respondeu Fuutaro, exibindo um sorriso largo.

    — Sim! — concordou Sasori, timidamente.

    Fiquei em silêncio por um momento, tentando processar a situação. Então, decidi me apresentar, já que eles estavam sendo tão diretos.

    — Ah, sim… É… obrigado por terem vindo aqui… Me chamo Yuki Hikaru, e vocês? — perguntei, ainda com um pouco de nervosismo.

    Eu já sabia o nome deles por ter escutado o papo por trás da porta, mas não queria que eles soubessem disso.

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