Capítulo 30 - Depósito Abandonado.
— Por que será que o sol é quente se o espaço é frio?
— Ótima pergunta, mas por que você quer saber isso?
Finalmente, depois de dias, estou sonhando novamente.
Dessa vez, estou andando de mãos dadas com essa mulher, mas o brilho do sol está me impedindo de ver seu rosto. Porém, pela voz doce e calma, sei que é a mesma mulher de antes.
Como sempre, nos sonhos, eu estou em um corpo de adulto juntamente com essa mulher. Sempre eu e ela.
Com uma sacola na mão, caminhando em uma trilha de pedras luas. O céu azul em perfeito estado, com o sol enorme no centro.
Ela usava um vestido rosa enorme com várias estrelas pequenas de cor branca, e seu cabelo rosa estava amarrado em forma de coque.
Mas a pergunta que não tem resposta: quem é ela?
Em nenhum momento dos meus sonhos ela citou seu nome. Mesmo sendo uma pessoa criada pela minha mente, eu ainda quero saber seu nome, e o motivo de ela estar sempre em meus sonhos. Sempre sendo ela.
— Você está me olhando há muito tempo, o que foi?
Eu queria falar algo, mas não controlo nada nesse sonho, nem movimentos, nem falas.
— Nada, estou admirando sua beleza.
— Hihi… para com isso, bobo. Você nunca foi disso comigo, e agora tá assim!
Mas, mesmo não controlando nada, eu consigo sentir o toque de sua mão. Essa sensação de seu toque é mesmo igual a antes, nunca muda.
— Antes eu era bobo e cego, não pensava com clareza, sabe?
Ela segurou firme minha mão e me encarou, levando sua mão direita até meu rosto.
Que sensação doce é essa…
Não durou muito. Após seu toque em meu rosto, tudo ficou branco e meus olhos despertaram. Parece que a clareza do branco me desperta.
Tenho minhas dúvidas agora. Eu sou um rank cinza, mas consigo sonhar, e sempre com a mesma pessoa. Isso me deixa em um enorme buraco sem fim, me deixa em uma prova sem respostas, e se não tenho respostas para essa questão, preciso pedir ajuda ao professor.
Como hoje é segunda-feira, então vou ter aula com o Okawara. Vou aproveitar esse momento para conversar com ele a respeito da Emi.
Mas antes, eu preciso passar em um local específico. Ontem, antes de dormir, alguém bateu na minha porta e deixou um bilhete em frente a ela.
“Caça ao tesouro! Seu tesouro foi escondido na ala sudeste, no ponto de vista oeste do prédio escolar. Vai conseguir encontrar? Tesouro esse que você protegeu das piratas. Caso não queira achar o tesouro ou comunicar à marinha sobre isso, seu tesouro sofrerá as consequências .”
Pelo que ocorreu recentemente, normalmente pensaria que, quem escreveu esse bilhete, foi uma daquelas três meninas que fazem bullying com a Itsuki.
E se o tesouro for a Itsuki, ela está em maus lençóis.
Porém, algo me diz que não foram essas três. Elas não iriam fazer algo desse nível. Não que não sejam capazes de fazer isso, mas não têm coragem.
Não posso perder tempo. Tenho que ir logo.
Após uma leve caminhada, cheguei ao prédio escolar, onde ano que vem irei estudar definitivamente.
Aqui não era o local que dizia no bilhete, e não estou aqui para contar a alguém.
Mas preciso procurar a Itsuki, para ter certeza de que não é ela o tesouro.
Procurando aos arredores da escola e sala por sala, encontrei dificuldades, claro. Até a expressão dos alunos me vendo, com cara de nojo e se distanciando de mim.
Com certeza já circulou por aí a respeito de mim.
Não me importo, quero agora encontrar a Itsuki. Isso é de suma importância.
Estou preocupado.
Mesmo assim, não a encontrei. Tentei perguntar a outras crianças, mas todas se afastavam de mim.
Minha alternativa agora é perguntar à Ayumi, aquela mulher que acompanha ela.
O problema é achar ela aqui, nesse local enorme, sem ajuda de ninguém.
— Yuki!! O que faz aqui??
Uma voz soou do meu lado direito. Ela parecia distante, por esse motivo foi em gritos que escutei.
Ao me virar, era o Fuutaro, com o Sasori ao seu lado.
Que sorte encontrá-los aqui, mas eu havia me esquecido deles. Se tivesse lembrado, poderia ter perguntado de primeira a eles.
— Oi, meninos! Antes de tudo, preciso de uma ajuda de vocês. Me ajudam??
Fuutaro olhou para Sasori, e ambos olharam de volta para mim, com uma expressão de preocupação.
— Claro, o que você precisa?
Expliquei para eles a situação e o que precisavam fazer. Eles entenderam facilmente e, depois de acenarem com a cabeça, partiram para fazer o que eu havia solicitado.
E eu fiz o mesmo, parti logo em seguida.
Espero que eles consigam fazer o que pedi. Será de muita importância que consigam.
Fui até o local que o bilhete mencionou, mas não encontrei nada fora do comum. Será que vim no local certo?
O bilhete não disse muita coisa sobre localização correta.
Fiquei andando por alguns minutos nesse lugar, um lugar meio que solitário. Além de árvores, havia apenas uma construção esquisita e abandonada.
Será que é o local que o bilhete mencionava?
Curioso, fui até lá.
Como informação, havia uma placa na entrada dessa construção, dizendo “Depósito”.
Aqui parece ser o antigo depósito, mas por qual motivo deixaram aqui abandonado?
Poderiam ter feito algo no lugar.
Porém, só de ficar na entrada, comecei a sentir arrepios. Como se tivesse alguém me observando. Um sentimento estranho e assustador.
Entrei lentamente no local, abrindo a porta que já estava encostada.
Mesmo com a luz do dia entrando pelas pequenas janelas, ainda havia um breu escuro. Meus olhos precisavam se acostumar com essa escuridão.
Aqui era silencioso, não se escutava nem o som das moscas, mas do piso sendo pisoteado pelos meus sapatos, isso dava para escutar.
É medonho esse sentimento. Qualquer um poderia entrar aqui e se esconder por dias. Alguém poderia até viver aqui. Será que tem alguém dormindo nesse lugar?
Como eu não sei, preciso fazer o mínimo de barulho possível. Porém, minha respiração está ofegante… será que é o medo?
Preciso ficar tranquilo, é necessário.
Respirando fundo, fiquei forçando minha vista para enxergar melhor, mesmo nessa situação dava para ver algumas coisas.
A sala, o quarto, as paredes e o chão, tudo estava abandonado, era triste ver algo assim, o eco transmitia pelos arredores o som do vento invadindo o local.
Mas o estranho, é que ao tocar as paredes para me localizar nessa escuridão, não sentia poeira.
Por ser um local abandonado, é obrigatório pela lei da natureza ter poeira. E não havia aqui.
Mesmo assim continuei a procura, cautelosamente.
A cada passo que eu dava, estava chegando ao final do depósito. Passei por cantos, por salas, mas nada demais. Tudo vazio e sendo tomado pela natureza e pelo silêncio mórbido.
Até que…
Um som de porta se fechando… a porta da entrada, que deixei aberta, foi ela que se fechou? A única porta que estava aberta era ela.
Mas por que se fechou? Foi o vento? Ou foi… alguém?
Agora meu coração dispara, a ansiedade está começando a subir. E agora?
O que eu faço?
Calma, eu preciso saber se é alguém ou se foi outra coisa. Estou desesperado à toa.
O certo é tentar me concentrar para escutar os passos.
E pelo meu azar, escutei.
Passos leves. A pessoa estava se esforçando para não fazer barulho, mas por algum motivo eu consigo escutar se me concentrar totalmente.
Ele está indo em direção ao segundo andar. Lá em cima todas as portas estão fechadas. Quando subi, tentei uma por uma, mas sem êxito.
Se for alguém que mora aqui, então, com certeza, se ele tentar abrir a porta lá em cima, vou escutar ela abrindo. Nesse caso, vou estar invadindo o lugar de alguém.
Mas, se ele vivesse aqui, por que o esforço de não fazer barulho?
Descarto então a hipótese de morador.
Minha chance de sair é agora. Aproveitar que ele está subindo cautelosamente a escada. Consigo escutar o som da madeira sendo pisoteada com carinho pela sua bota.
Pelo som grosso de terra encostando no piso, ele não veio usando a trilha de pedras da calçada. Ele estava na mata?
Mesmo pisando de leve, o som pesado de terra deixa claro que ele andou por muito tempo na terra. Uma enorme caminhada até aqui usando a mata para se camuflar. Por qual motivo?
Ele me seguiu?
Ouvi o som de maçaneta sendo girada brutalmente, mas sem sucesso. Como eu já havia tentado e estava fechado, este homem, sem sombra de dúvida, não habita esse lugar.
Meu coração está batendo bem mais rápido do que antes. Isso será um problema, que pode tirar minha concentração.
Essa pessoa sabe que eu estou aqui. Caso contrário, não estaria procurando cautelosamente.
Ou eu me escondo, ou eu saio daqui. Mas as chances de ele ter trancado a porta da frente são altas.
Se eu me esconder, ele vai me achar, por ter certeza de que eu estou aqui dentro. Ele vai procurar canto por canto até me encontrar.
Mas, espere… por que ele me quer?
Eu não fiz nada. Não tem motivos de ter alguém atrás de mim aqui. Então, o que está acontecendo?
Por que eu?
Calma, se acalma. Se eu me desesperar, vou perder minha personalidade, e não sei o que ela poderá fazer…
Pensa…Yuki…Pensa…O que fazer?
Pensei por alguns segundos e tive uma ideia.
Ele ainda está no segundo andar, e eu acho que talvez poderá funcionar o que pensei agora.
Mas, para funcionar, preciso rasgar um pedaço da minha roupa.
Um pedaço da minha calça é o suficiente. Desde que vim para cá, uso os mesmos estilos liberados pela escola: um conjunto de moletom e blusa preta com listras laterais vermelhas.
O homem conseguiu, à força, abrir uma das portas lá em cima. Ele deve ter pensado que eu a fechei.
Isso é ótimo, posso fazer o que eu preciso a tempo.
Fui até a janela próxima à porta da entrada, andando cautelosamente. Deixei também meu sapato do pé direito para trás.
A janela estava fechada, era de vidro. Perfeito para meu plano.
Meus olhos já tinham se acostumado com a escuridão desse lugar. Mesmo com o brilho do sol entrando pela janela, ele não alcançava todo o lugar.
Peguei um pedaço de pedra que estava no canto e joguei na janela, quebrando-a em pedaços. Mas tive que quebrar na parte do meio para cima, para que sobrasse um pedaço de vidro na parte de baixo, no qual deixei o pedaço que havia rasgado preso.
Ouvi os passos do homem que antes eram cautelosos, mas agora brutos. Claramente ele estava correndo desesperado.
Como ele estava fazendo barulhos fortes no segundo andar, e como o depósito era antiga e vazio, os sons ecoavam pelo local inteiro, me ajudando a abafar meus passos, enquanto eu corria para me esconder do invasor.
Fiquei olhando de canto, escondido, para ver quem era a pessoa.
E assim que o barulho se destacou na entrada, um homem com blusa de frio azul, encapuzado, e a estampa nas costas continha uma sigla meio apagada, mas que era contornada de cor dourada, tanto quanto brilhosa, ficou olhando a janela quebrada e logo em seguida abriu a porta com uma chave.
Infelizmente, não consegui ver seu rosto.
Ele pegou meu sapato, que havia deixado perto da janela, e foi embora com ele. Sem se preocupar se eu fui longe ou se fiquei aqui no depósito, ele andou como se a missão dele estivesse completa, e isso estava estranho.
Mas que foi assustador, isso eu não nego.
Meu coração não está calmo, realmente pensei que ia acontecer algo de ruim comigo.
E o pior, eu ainda não sei que tesouro é esse.
O problema é que o cara não levou nada consigo, fora meu sapato. Isso significa que o tesouro não estava aqui? Ou era blefe?
Só vou saber quando ver Fuutaro e Sasori…
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